domingo, abril 30, 2017

Alívio

Quando o árbitro apitou para assinalar o final da partida, antes de sentir alegria, ou até mesmo satisfação, a sensação mais imediata foi mesmo a de alívio. Por ver finalmente terminar com uma vitória um jogo tremendamente difícil no qual tivemos uma exibição longe do melhor que esta equipa sabe e pode fazer, com um período de apagão completo absolutamente inaceitável.


O regresso do Jonas ao onze significou a saída do Rafa. Uma alteração em relação ao jogos mais recentes, já que com o Jonas em campo até tinha sido o Rafa a escolha para o lado esquerdo, mas desta vez foi o Cervi a jogar. O jogo foi complicado desde o início, muito por nossa culpa, mas também por culpa do Estoril. Uma equipa muito bem organizada, que esteve longe de estacionar o autocarro - duas linhas quase sempre bastante juntas, mas subidas no terreno, a procurar pressionar logo à entrada do seu meio campo, e com jogadores que me pareceram muito fortes fisicamente, e que sistematicamente chegavam um pouco antes às bolas e ganhavam quase tudo o que eram lances divididos. A nossa culpa foi muito pela falta de velocidade e acutilância no nosso jogo. Grandes dificuldades para fazer a bola circular com a rapidez necessária para desposicionar a equipa do Estoril, demasiadas lateralizações, e incapacidade para conseguir colocar a bola entre as linhas do Estoril. Apesar de mais posse de bola, praticamente zero ocasiões de perigo, com o primeiro remate digno desse nome a surgir perto da meia hora de jogo. E esse remate deu golo, porque foi do Jonas na conversão de um penálti a castigar uma falta indiscutível do Licá sobre o Nélson Semedo - um dos poucos jogadores que ia de vez em quando tentando dar um safanão no jogo, e com o Salvio a realizar mais uma exibição na linha daquilo que nos tem vindo a habituar, fazia o trabalho de dois pelo lado direito. Depois deste golo o jogo não mudou muito, mas talvez por o Estoril ter arriscado um pouco mais o Benfica ainda conseguiu algumas situações de contra-ataque em que apanhou o adversário desprevenido. E ainda sem criar ocasiões em catadupa, poderia facilmente ter chegado ao intervalo com uma vantagem bem mais confortável, porque desperdiçámos um par de ocasiões soberanas para marcar. Na primeira o Cervi, servido de cabeça pelo Mitroglou, atirou de pé direito para a bancada quando estava junto ao poste e se calhar a um ou dois metros da baliza. Na segunda, mesmo a acabar a primeira parte, o passe do Nélson Semedo deixou o Salvio dentro da área completamente à vontade para marcar, mas por alguma razão que me escapa o argentino resolveu puxar a bola para o pior pé (o esquerdo) e depois fez um remate rasteiro para fora.


A exibição não tinha sido brilhante na primeira parte, mas o Benfica tinha sido claramente a melhor equipa em campo e merecia a vantagem. Por isso mesmo nada poderia fazer prever aquilo que se passou durante o primeiro quarto de hora da segunda parte. Acho que só posso descrevê-lo como descontrolo total da nossa equipa. O Estoril voltou do balneário a jogar de forma bastante agressiva e efectivamente massacrou-nos durante esse período. Vários cantos, remates perigosos (acertaram duas vezes nos ferros da baliza), o Ederson a ter que se aplicar, inclusivamente segurando uma bola quando o adversário lhe apareceu isolado à frente, e a dúvida já nem era se o Estoril chegaria ao empate, mas sim quando é que o faria. Da parte do Benfica, uma incapacidade total para pelo menos acalmar o jogo, manter a posse da bola durante algum tempo para permitir que as ideias se organizassem naquelas cabeças. Incapacidade também de reacção ou leitura do jogo da parte do nosso banco. Era por demais evidente a enorme superioridade do Estoril no centro do terreno. Entre a nossa linha de defesa e o meio campo havia um vazio enorme - porque perante a inferioridade no centro, o Fejsa frequentemente adiantava-se para tentar equilibrar a luta, e entretanto um dos avançados do Estoril (normalmente o Carlinhos, mas também o Kléber) recuavam para o espaço vazio e recebiam quase sempre a bola à vontade. Exigia-se a entrada de mais um médio, mas por algum motivo o nosso treinador não partilhava dessa opinião. E o golo do Estoril apareceu mesmo, e nessa altura julgo que não deve ter surpreendido a enorme maioria dos quase sessenta mil espectadores que encheram a Luz neste final de tarde. O golo nasce numa incursão do lateral esquerdo do Estoril, que flecte para o centro, deixa o Pizzi para trás com facilidade, coloca a bola para a desmarcação do Kléber, e este ganha em velocidade ao Lindelöf e aproveita ainda o escorregão do Ederson quando tentou sair para lhe meter a bola entre as pernas. Empate no marcador e, face ao que se tinha visto desde o início da segunda parte, perspectivas nada animadoras. Felizmente surgiu o génio do Jonas a resolver, apenas seis minutos depois. Na sequência de uma boa troca de bola entre ele, o Cervi e o Grimaldo, um potente e colocadíssimo remate de fora da área não deu qualquer possibilidade de defesa ao Moreira. O golo acalmou um pouco a nossa equipa e quebrou também o ímpeto ao Estoril. Mas o jogo só passou a estar mais controlado quando finalmente entrou o médio adicional que o jogo pedia há vários minutos. Depois da entrada do Filipe Augusto (preparava-se para entrar quando o Estoril marcou, e então acabou por entrar o Carrillo) o Benfica até conseguiu criar um par de ocasiões para descansar os adeptos, mas na primeira o Jiménez, estorvado por um defesa, foi incapaz de ao segundo poste desviar para a baliza com força suficiente o grande cruzamento do Nélson Semedo, acabando por fazer um passe para as mãos do Moreira, e na segunda o Grimaldo rematou para a bancada depois de entrar na área completamente solto pela esquerda. Nesta fase o Estoril já não conseguia criar perigo, e recorria apenas aos livres que os seus jogadores não se cansavam de tentar cavar para despejar bolas para a área. Sem sucesso.


O Jonas é obviamente o homem do jogo, e mais explicações são desnecessárias. Para além dele, consigo apenas destacar o Nélson Semedo - não é por acaso que esteve envolvido na maior parte dos lances de perigo que o Benfica conseguiu criar no jogo. Uma menção também para a atitude competitiva do Cervi. De resto, acho que mais ninguém conseguiu escapar à mediania ou até mesmo à mediocridade. O Lindelöf, depois do grande jogo da última jornada, revelou hoje enormes dificuldades para travar o Kléber. O Mitroglou foi uma sombra em campo. Até o Grimaldo não esteve bem, com algumas perdas de bola e passes errados que não são nada habituais. Sobreo Salvio, já nem vale a pena dizer nada.

Uma vez mais o verdadeiramente importante, que são os três pontos, foi conseguido. Temos agora menos uma jornada a separar-nos do nosso objectivo, e em vez de dez faltam agora conquistar sete pontos. Mas os próximos dois jogos serão contra duas das equipas que melhor futebol estão a praticar neste momento no nosso campeonato, orientadas por dois excelentes treinadores. Vai ser preciso estarmos ao nosso melhor - portanto, bastante melhor do que aquilo que vimos hoje - para não termos dissabores nesses jogos. A margem para erro é ínfima, e não podemos facilitar.

segunda-feira, abril 24, 2017

Estofo

O futebol tem coisas assim. O Benfica, essa equipa em queda acentuada, forte contra os fracos, fraco contra os fortes, vai a casa da equipa que joga 'o melhor futebol do campeonato' (não é surpresa, eles jogam sempre o melhor futebol do campeonato há umas três décadas consecutivas, no mínimo), que possui a 'melhor dupla de avançados do futebol português', orientados por aquele que desde há dois anos a esta parte passou a ser o melhor treinador português, e quase que é possível ouvir o ruído dos milhares de mãos a esfregarem-se de satisfação perante a quase certeza (mais uma vez) de que é desta que caímos do primeiro lugar. Começamos o jogo a perder por causa de um erro grosseiro do nosso guarda-redes, temos motivos de queixa de um período de desorientação completa por parte da arbitragem, e mesmo assim a nossa equipa nunca perdeu o rumo, mostrou sempre uma frieza admirável, jogou em Alvalade como se estivesse a jogar noutro campo qualquer (OK, também seria difícil sentir-se intimidado quando estava a jogar num campo rodeado de panos com fábulas como 22 títulos de campeão, maior potência desportiva nacional e outras mentiras que eles gostam de repetir na esperança que alguém os leve a sério, e onde a equipa da casa é apresentada de óculos escuros, numa espécie de mau espectáculo burlesco) e foi buscar o resultado que lhe permite manter-se isolada no topo da classificação. A isto chama-se estofo de (tri)campeão.


Não foi possível ao nosso treinador apresentar o mesmo onze inicial pela terceira jornada consecutiva, uma vez que o Jonas não recuperou a tempo e nem no banco se sentou. Para o onze entrou o Cervi, que durante o jogo foi alternando de posição e de funções com o Rafa, variando ambos entre extremo e segundo avançado. Era difícil que o jogo tivesse começado de maneira pior. O Sporting entrou a pressionar, andou perto da nossa área logo nos instantes iniciais e viu um par de tentativas de remate serem bloqueadas pelos nossos defesas, mas aos quatro minutos uma asneira do Ederson, que recepcionou mal um bola com os pés e depois quando a tentou chutar já só encontrou o pé do Bas Dost, resultou num penálti evidente contra nós. Verifiquei também que não são apenas os adeptos, mas também os próprios jogadores do Sporting que desconhecem as regras do jogo, já que por algum motivo resolveram pressionar o árbitro para que expulsasse o Ederson, o que não faria qualquer sentido. Com o penálti convertido pelo Adrien, tudo indicaria que o cenário que os mais fervorosos antibenfiquistas tinham andado a imaginar e a prometer estaria montado. Nada de mais errado. O Benfica não acusou o toque e partiu para um exibição personalizada e tranquila, procurando chegar ao golo de forma sóbria. O jogo foi muito táctico, disputado na zona do meio campo e a bola andou quase sempre afastada de ambas as balizas, mas o Benfica parecia conseguir ganhar alguma superioridade no centro e manter mais posse de bola, enquanto mantinha as tentativas do Sporting de sair rapidamente para o ataque controladas. Ocasiões de golo a seguir ao penálti foram quase inexistentes - o Benfica ainda conseguiu um par de cruzamentos promissores, mas o Coates apareceu sempre bem colocado a evitar que a bola chegasse ao Mitroglou. A única situação de maior perigo surgiu já perto do intervalo, num livre directo marcado pelo Grimaldo ao qual o Rui Patrício correspondeu com uma boa defesa. Foi também nos últimos minutos da primeira parte que a equipa de arbitragem teve um período extremamente infeliz, durante o qual conseguiu, em série, ajuizar três lances dentro da área do Sporting sempre em desfavor do Benfica. Se no terceiro deles, entre o William e o Rafa, ainda consigo dar o benefício da dúvida, nos outros dois já é mais difícil. No primeiro, do Schelotto sobre o Grimaldo, a posição do árbitro permitiu-lhe ver perfeitamente o que aconteceu. E o segundo, do Bruno César sobre o Lindelöf, foi de tal forma evidente que pelo menos o auxiliar daquele lado tinha a obrigação de ter visto e assinalado, porque o gorducho chegou ao Lindelöf já bem tarde e quando o nosso jogador já estava completamente no ar, não tendo sequer saltado para disputar a bola. Foi um empurrão, puro e simples.


Na entrada para a segunda parte, o Sporting voltou a estar mais perigoso. O perigo vinha sobretudo das incursões do Gelson pela esquerda da nossa defesa, onde o Grimaldo revelava dificuldades para o travar, e subsequentes cruzamentos para o Bas Dost. Foi assim que o Sporting construiu uma grande ocasião para ampliar a vantagem, mas o holandês, que se apanhou completamente sozinho em frente ao Ederson após receber o passe do Gelson, acertou mal na bola e o remate saiu rasteiro e enrolado ao lado da baliza. A primeira alteração no Benfica teve bons resultados tácticos. O Jiménez entrou para o lugar do Rafa e foi dar mais companhia ao Mitroglou na frente, ocupando com maior frequência o espaço à frente da linha de defesa do Sporting. Isto obrigou o William Carvalho a ter que se preocupar mais com a presença de um jogador nessa zona, e a ficar mais fixo junto à linha defensiva, o que teve como consequência vermos o Adrien frequentemente muito mais só no meio campo perante os nossos jogadores. E por isso mesmo voltámos a ganhar superioridade nessa zona, o Pizzi beneficiou bastante da liberdade adicional e estabilizamos novamente o nosso jogo, acabando com os sucessivos contragolpes do Sporting da fase inicial da segunda parte. Mas as ocasiões de golo ainda continuavam a ser muito escassas, e apenas por uma vez o Mitroglou conseguiu libertar-se e rematar à baliza, mas fê-lo de forma fraca e sem causar grandes problemas ao Patrício. Quando os jogos estão assim, muitas vezes acabam por ser as bolas paradas a decidir, e este jogo não foi excepção. O Benfica beneficiou de um livre mais ou menos na mesma posição daquele que no final da primeira parte tinha proporcionado ao Grimaldo a ocasião para marcar, ou seja, perto da área e descaído para o lado esquerdo. O Grimaldo e o Lindelöf estavam perto da bola, mas surpreendentemente foi o sueco quem arrancou um pontapé fenomenal que não deu qualquer possibilidade de defesa ao Patrício. Já no livre da primeira parte ele estava perto da bola, mas não estava mesmo à espera que ele o marcasse. É uma qualidade que lhe desconhecia. A partir daqui o jogo teve pouca história, porque continuou na mesma toada de equilíbrio, quase sem ocasiões ou remates a qualquer uma das balizas. O empate era um resultado que se adequava perfeitamente aos nossos objectivos, e sem forçar absolutamente nada controlámos o resultado até final.


Na minha opinião os destaques maiores na equipa do Benfica vão para a dupla de centrais, o Fejsa e o Pizzi. Seria fácil destacar o Lindelöf simplesmente pelo golo, mas independentemente disso ele fez um jogo sem mácula, sempre bem posicionado, com vários cortes e recuperações de bola decisivos, e ao lado do Luisão anularam perfeitamente 'a melhor dupla de avançados em Portugal'. Fora de brincadeiras, apanharam pela frente o melhor marcador do campeonato, com larga vantagem, e conseguiram evitar que ele nos criasse muitos problemas, o que é de realçar. O Fejsa foi a presença habitual importante no meio campo defensivo, e um dos jogadores que mais bolas recuperou. O Pizzi foi um jogador renovado neste jogo, longe daquele jogador que nas últimas semanas parecia estar no limite da sua condição física. Foi o motor do nosso meio campo e travou uma luta enorme com aquele que foi um dos melhores jogadores do adversário, o Adrien. Grande, grande exibição. No geral, toda a equipa teve uma atitude muito boa, que é o mínimo que se pode exigir aos nossos jogadores num jogo destes.


Volto a repetir o que já escrevi após outros jogos: foi apenas mais um pequeno passo na direcção certa, rumo ao objectivo que estabelecemos no início da época. O tetracampeonato está agora mais perto, mas ao mesmo tempo continua ainda muito longe. De nada servirá a manutenção da liderança após o último jogo 'grande' (já agora, com este resultado o Benfica assegurou a vitória do chamado 'campeonato dos grandes', não tendo perdido um único jogo, o que não é nada mau para uma equipa dita 'fraca contra os fortes') se depois a perdermos em casa contra o Estoril, porque esse jogo tem os mesmos três pontos em disputa. Estoril que, como já mostrou no jogo para a taça, está uma equipa transfigurada desde que o Pedro Emanuel tomou conta dela. Todo o cuidado é pouco, e vamos precisar de manter a concentração máxima para os jogos que faltam - até porque o desespero para os outros lados continua a aumentar e consequentemente também o tom dos ataques desvairados vai aumentar.


P.S.- Hoje em dia é muito fácil escolher viver dentro de uma espécie de bolha, na qual apenas se tem acesso às opiniões com as quais concordamos ou em que queremos acreditar, e sem qualquer contacto com o contraditório. Ao fim de algum tempo as pessoas que vivem assim acabam por convencer-se que essa realidade virtual alternativa corresponde à realidade. É fácil identificar adeptos do Sporting nessa condição. Normalmente congregam-se em redor de sítios como uma Tasca do Cherba ou um Mister do Café, entre outros do mesmo quilate, que não passam de verdadeiros asilos de lunáticos virtuais, onde partilham as suas visões retorcidas da realidade. Onde o presidente do clube deles é um paladino da luta pela verdade no futebol e pela pacificação do mesmo. Onde o Benfica só ganha jogos porque os árbitros estão comprados por vouchers, ou porque as equipas adversárias facilitam, ou então porque qualquer jogador que tenha alguma vez passado de táxi em frente ao Estádio da Luz, quando defronta o Benfica, propositadamente prejudica a sua carreira e a sua própria equipa marcando autogolos ou cometendo penáltis intencionalmente (isto, já agora, é válido para todas as modalidades, em todos os escalões etários, masculinos ou femininos). Por outro lado, o Sporting é uma potência mundial que só não é campeão em Portugal por causa das manobras do Benfica e não é campeão europeu por causa da manobras da Doyen e da Gazprom. Se não fossem os 'factores externos', como não se têm cansado de repetir, estariam a lutar pelo título, e vão mostrar isso mesmo neste jogo humilhando o Benfica. Depois vão para estes jogos convencidos que são favas contadas, e a única dúvida naquelas cabeças é por quantos é que o Sporting vai golear e quantos golos vai marcar o Bas Dost. Começa o jogo e em vez de aparecer uma equipa que 'não joga nada' e que sem ajudas estaria provavelmente a lutar para não descer, apanham com um Benfica que apesar de um enorme contratempo logo a começar não está minimamente impressionado ou afectado com o 'poderio incomparável' da equipa deles, joga olhos nos olhos, e todos os erros de arbitragem que se podem apontar (que é a desculpa a que normalmente nestas situações se agarram sempre de forma desesperada, quais náufragos numa tempestade agarrados a uma tábua) foram em prejuízo clamoroso do Benfica. Isso deveria abalar seriamente algumas convicções. A resposta é a que se esperaria de um cão raivoso que pretende desviar as atenções o mais rapidamente e da forma mais rafeira possível. É ler os devaneios escritos hoje pela criatura que preside o Sporting e pelo homúnculo que lambe o chão que ele pisa para ver o melhor exemplo disso. E sem dúvida que a turba que os segue de forma quase religiosa continuará a aplaudir freneticamente.

sábado, abril 15, 2017

Confortável

Vitória confortável contra um adversário teoricamente complicado, mas que acabou por ser uma desilusão. O Marítimo apresentou-se na Luz apostado apenas em jogar um futebol negativo e a partir do momento em que ficou em desvantagem deixou de ter objectivo no jogo. A nota artística não foi a melhor, mas perante um adversário a jogar desta forma era difícil fazer muito melhor, e não fosse o nosso desacerto na conclusão de diversas jogadas o jogo poderia ter acabado com um resultado bem mais desnivelado.


Entrámos em campo com exactamente o mesmo onze que tinha defrontado o Moreirense. E ficou evidente, desde o apito inicial, ao que o Marítimo vinha. Confesso que fiquei um pouco desiludido, porque esperava mais de uma equipa que tem sido uma das revelações da prova desde a mudança de treinador. Logo no primeiro pontapé de baliza do jogo, o guarda-redes começou a queimar tempo. Toda a equipa do Marítimo acantonou-se em frente à sua área, com o trinco a recuar para o meio dos centrais para formar um trio, e montando duas linhas de defesa muito juntas, tentando deixar o mínimo de espaço possível para o Benfica jogar. Saídas para o contra-ataque eram inexistentes. Um dos seus jogadores, o Raúl Silva, parecia estar em campo com algum tipo de missão ou encomenda em relação ao Jonas. Passou o tempo todo a provocá-lo e a tentar armar algum tipo de confusão. A única situação de algum perigo que o Marítimo criou surgiu num disparate do Ederson, que tentou fintar um adversário e quase que perdeu a bola. Quanto ao Benfica, revelou dificuldades para ultrapassar a estratégia do Marítimo. O jogo pelas alas não estava a funcionar, pelo que começámos progressivamente a insistir mais pelo meio. Mas na fase inicial do jogo até o Jonas parecia não estar em dia de muito acerto. Por quatro vezes conseguimos fazer a bola entrar entre as duas linhas do Marítimo e chegar aos pés dele, em posição frontal, mas os remates nunca saíram com a direcção ou a força desejadas - iam quase sempre à figura do guarda-redes. Depois de muito insistir, o Benfica acabou por marcar dois golos de rajada, a partir do trigésimo quarto minuto. O primeiro surgiu após uma boa iniciativa do Rafa pela esquerda, que depois cruzou rasteiro para a boca da baliza. O guarda-redes não chegou à bola, o Mitroglou estava preparado para empurrar, mas um defesa antecipou-se de carrinho e marcou na própria baliza (já antes o Marítimo estivera perto de fazer um autogolo, valendo-lhe o tempo de reacção do seu guarda-redes, inversamente proporcional à velocidade com que repunha a bola em jogo). Dois minutos depois, nova investida do Rafa pela esquerda, passe para o Pizzi à entrada da área, e novo passe para o Jonas desta vez rematar colocadíssimo, fazendo a bola entrar literalmente pelo buraco da agulha, juntinho à base do poste. E só não surgiu um terceiro golo de rajada porque o Mitroglou conseguiu falhar um golo cantado, depois do Nélson Semedo lhe colocar a bola à frente dos pés em posição frontal. Mas o Marítimo não se livrou de ir para o intervalo com três golos de desvantagem: na última jogada da primeira parte, canto marcado pelo Grimaldo na esquerda, o Luisão ganhou nas alturas, e o Jonas surgiu ao segundo poste para, à segunda tentativa, fazer o golo.


Com o jogo praticamente resolvido ao intervalo era expectável que a segunda parte pudesse ser pouco interessante, e isso verificou-se. O futebol jogado não foi da melhor qualidade, até porque o Benfica não tinha qualquer interesse em estar a aumentar o ritmo. Conseguimos controlar o adversário e gerir o jogo na perfeição, sem qualquer tipo de sobressalto - a única ocasião de algum perigo que o Marítimo criou foi mesmo a acabar o jogo, mas nem sequer conseguiu fazer um remate à baliza nessa ocasião, já que o seu jogador pareceu embrulhar-se com a bola dentro da pequena área. O Marítimo lá tentou sair um pouco lá de trás e, naturalmente, começou a abrir autênticas avenidas para serem exploradas pelos nossos jogadores. Que mesmo sem forçar, e quase em ritmo de passeio, construiram situações mais do que suficientes para pelo menos conseguirmos igualar o resultado que tínhamos conseguido frente a esta mesma equipa no jogo para a Taça. Só mesmo muita falta de inspiração na hora de finalizar ou definir as jogadas é que explicam que não tenhamos conseguido marcar um único golo durante a segunda parte. Que o Salvio faça disparates, nesta fase já quase que dou isso como um dado adquirido. Mas hoje até o Mitroglou estava em dia não, e durante o jogo desperdiçou ocasiões que não é nada habitual vê-lo falhar. O jogo deu para fazermos uma gestão tranquila do esforço, poupar o Jonas (saiu tocado; esperemos que não seja nada de grave) e o Pizzi (que evitou o amarelo, embora se considerarmos que o árbitro cometeu a proeza de conseguir não mostrar um único amarelo aos jogadores do Marítimo, apesar das sucessivas faltas que cometeram, seria demasiado 'azar' o Pizzi ser admoestado) e acabar o jogo em clima de festa, com as mais de 57.000 pessoas nas bancadas em comunhão com a equipa.


O Jonas merece o destaque que os dois golos que marcou lhe conferem, embora pudesse ter feito ainda mais. Achei também que ele me pareceu ficar demasiado nervoso com as provocações constantes do Raúl Silva. Eu sei que uma pessoa não é de ferro, mas ele é um jogador demasiado experiente para se deixar afectar por coisas destas - esteve bem o Luisão quando num determinado momento o foi afastar e pedir calma. O Rafa desta vez fez um jogo bastante melhor, esteve envolvido nos dois primeiros golos e no geral foi um dos jogadores mais activos e perigosos do nosso ataque - brilhante aquele contra-ataque que conduziu sozinho de uma área à outra, para depois deixar o Salvio sozinho na cara do guarda-redes (não deu golo, porque era o Salvio). O Lindelöf, Luisão e Fejsa estiveram num bom nível, mas uma das notas mais agradáveis foi mesmo verificar que o Grimaldo já se mostrou a um nível bem mais elevado. Esteva tão activo pelo seu lado que o Nélson Semedo por vezes quase pareceu um lateral contido no apoio ao ataque. Quanto ao menos bom, houve uma feroz concorrência entre o Salvio e o Mitroglou por essa distinção. Como não consigo desempatá-los, levam-na ex aequo.

Foi um bom resultado e um jogo que correu da melhor maneira possível, parecendo não exigir demasiado esforço físico ou psicológico dos nossos jogadores. Com isto garantimos o primeiro lugar por mais uma jornada, e agora faltam apenas cinco. O caminho para o título vai ficando cada vez mais curto.

segunda-feira, abril 10, 2017

Sofrimento

Mais um jogo de sofrimento, como tenho a certeza que serão todos daqui até final. E mais uma vez, o melhor foi mesmo o resultado, uma vitória pela margem mínima que nos permite somar mais três pontos e a manutenção do primeiro lugar. O Moreirense comeu a relva, ou não fossem eles treinados pelo Petit, aproveitou também o mau jogo que fizemos, e criou-nos dificuldades - não fosse a falta de jeito dos seus jogadores na altura de finalizar e poderíamos estar agora a lamentar o resultado.


A maior nota de destaque são os regressos do Fejsa e do Grimaldo ao onze titular. É bom termos mais estas opções para o ataque à fase final da época, mas verdade seja dita que hoje não se notou grandemente a sua influência. No resto da equipa, a aposta nas alas manteve-se no Salvio e no Rafa, o que logo à partida me fez torcer o nariz. Num campo pequeno, onde o espaço não abunda, e perante uma equipa que certamente cerraria fileiras atrás, optar por dois jogadores que fazem da velocidade a sua principal arma em detrimento de dois alas mais tecnicistas e com capacidade para resolver em espaços mais curtos, como o são o Cervi e o Zivkovic, não me pareceu a melhor ideia. Mas adiante. Sobre o jogo propriamente dito nem há muito para escrever, porque para mim foi quase um deserto de ideias. Honestamente, neste momento quando vejo o Benfica jogar fico com a sensação de que regredimos ao tipo de futebol praticado durante os primeiros meses após a chegada do Rui Vitória. Muita posse de bola completamente estéril, fazendo-a andar de um lado para o outro, mas ocasiões de golo quase nenhumas, e nem sequer a perspectiva de aparecerem. A sério que quando nos vejo jogar assim, simplesmente não consigo vislumbrar sequer a possibilidade de conseguirmos construir uma jogada de golo. O golo que decidiu o jogo, surgiu quase que inevitavelmente de uma bola parada. Livre apontado na direita pelo Pizzi e o Mitroglou saltou nas costas do defesa para fazer o cabeceamento vitorioso, já quase sobre o intervalo. Honestamente, não me consigo recordar de muitas mais ocasiões de perigo flagrante criadas pela nossa equipa, pelo que a vantagem ao intervalo me parecia um resultado generoso - o jogo a que assistia às vezes parecia mais entre dois aflitos na fuga à despromoção do que entre primeiro e antepenúltimo classificados.


Mas se já não estava muito agradado com o jogo na primeira parte, pelo menos durante esse período nós conseguimos tê-lo relativamente controlado. A segunda parte foi muito pior. Durante vários períodos fomos uma equipa completamente desgarrada, cujo objectivo no jogo me era impossível de perceber. Nem pressionávamos em busca de um segundo golo que nos desse tranquilidade, nem geríamos o resultado mantendo uma posse de bola mais ou menos controlada. Num campo tão pequeno, só via os nossos jogadores demasiado dispersos, a jogar demasiado longe uns dos outros, e a proporcionar demasiado espaço para o Moreirense explorar o contra-ataque. Se não estamos com capacidade para o fazer, jogar com as linhas tão adiantadas e com ambos os laterais a tentar apoiar o ataque é um risco. E por mais de uma vez vimos o Moreirense a sair para o contra-ataque praticamente em igualdade numérica, perante apenas os nossos centrais e o Fejsa, conseguindo criar situações de verdadeiro perigo para a nossa baliza - mas o Ederson não deve ter feito sequer uma defesa digna desse nome, porque conforme disse, a falta de qualidade na finalização significou que o Moreirense atirou praticamente todas as bolas para fora, e na ocasião em que foi mesmo à baliza, foi o Lindelöf a evitar o golo. As coisas só melhoraram um pouco quando o nosso treinador decidiu mexer na equipa, e trocou mesmo os dois alas pelo Cervi e o Zivkovic, e sobretudo quando o Samaris entrou para o lugar do Jonas. Não é que tacticamente esta mudança tenha alterado grande coisa, porque o Pizzi foi encostar-se à direita e o Zivkovic passou a fazer de Jonas, mas o Samaris colocou-se numa posição mais recuada, auxiliando o Fejsa a preencher aquela zona do terreno - antes disso havia por ali um vazio enorme, porque quando o Benfica perdia a bola no ataque na maioria das vezes o Pizzi não tinha capacidade para recuar rapidamente e recuperar a posição. Conseguimos assim segurar a vantagem preciosa, mas muito provavelmente teremos o Samaris suspenso porque no meio de uma confusão já em período de descontos, antes da marcação de um livre, ele agrediu um adversário. Não sei o que passa pela cabeça de um jogador experiente para, sabendo que tudo está a ser filmado e que ainda por cima há uma particular predilecção para esmiuçar todos os segundos dos jogos do Benfica à procura do que quer que seja, fazer um disparate daqueles.


O melhor do Benfica foram os benfiquistas. Aliás, são sempre. Hoje encheram mais uma vez o estádio da equipa adversária e fizeram com que o Benfica jogasse em casa. Mesmo quando a equipa nos presenteou com períodos de futebol muito pobre nunca deixaram de acreditar, e apoiaram-na no primeiro ao último segundo. Os três pontos que conquistámos também se devem, e muito, a todos eles.

Falta menos um jogo, mas os que faltam até final parecem uma eternidade. Teremos que subir a qualidade do nosso futebol para conseguirmos atingir os nossos objectivos. Hoje foi contra uma das equipas pior classificadas e vimos o quão difícil foi vencer o jogo. É apenas uma amostra daquilo que nos espera, sobretudo à medida que o número de jogos que restam for diminuindo e o desespero dos nossos adversários for aumentando. Só dependemos de nós, somos os únicos nessa condição, e não podemos de forma alguma abrir mão dela. É que ao contrário dos nossos adversários, não podemos ficar à espera que outros façam o nosso trabalho por nós.

quarta-feira, abril 05, 2017

Nervos

A vantagem trazida da primeira mão e o facto deste jogo se disputar em nossa casa poderiam fazer-nos esperar por uma noite tranquila, mas acabámos com os nervos em franja. O melhor: estamos na final da Taça de Portugal, mesmo com as várias limitações que tínhamos para este jogo. O pior: um jogo inaceitavelmente mau da nossa parte, com falhas gritantes quer no ataque, quer na defesa. A equipa menos rotinada que alinhou não serve exclusivamente de desculpa, porque aqueles jogadores têm a obrigação de fazer melhor frente a uma equipa como o Estoril. Passámos no limite, mas não é um jogo que me tenha deixado particularmente satisfeito - pelo contrário, quando os noventa minutos terminaram estava bastante irritado, e estive à espera até agora para me acalmar antes de escrever alguma coisa.


Houve uma verdadeira revolução na equipa inicial, que deixou apenas três 'sobreviventes' do onze que alinhou contra o Porto: Lindelöf,  Samaris e Rafa. Pelo que soubemos, o jogo contra o Porto terá deixado algumas mazelas e obrigou o nosso treinador a mexer talvez mais na equipa do que desejaria. Assim, entrámos com quatro jogadores muito móveis na frente e sem um avançado fixo - Carrillo, Zivkovic, Cervi e Rafa. Na defesa, dois dos jogadores que entraram, Grimaldo e Lisandro, estavam com muita falta de ritmo, pois há vários meses que estavam afastados da competição. O início do jogo nem foi mau da parte do Benfica. entrámos a dominar e a desperdiçar ocasiões flagrantes de golo, com a inevitável participação do Rafa neste capítulo. Sobre a capacidade de finalização do Rafa acho que já escrevi aqui vezes suficientes. Direi apenas que nesta fase quando vejo o Rafa isolado à frente do guarda-redes já nem sequer fico entusiasmado. Depois aconteceu o habitual, ou seja, com tanto golo falhado, assim que o Estoril rematou pela primeira vez, marcou. Foi preciso esperar meia hora para que isso acontecesse, mas o que é certo é que assim que conseguiram lá chegar, meteram a bola na nossa baliza, e nem foi precisa uma jogada de golo tão evidente como aquelas que nós andámos alegremente a desperdiçar. Devo dizer que antes do remate sair já eu estava a adivinhar o golo, devido à irritante mania que os nossos defesas têm de marcar os adversários com os olhos (neste caso foi o Lindelöf). Quando se dá tempo e espaço ao avançado para, colocado à entrada da área, controlar a bola, levantar a cabeça e armar o remate sem sequer esboçar um movimento de cair em cima dele o resultado mais provável é sofrer um golo - e foi um grande golo mesmo, com a bola a entrar ao ângulo. Felizmente que empatámos quase na resposta, com o Carrillo a aproveitar um erro grosseiro do guarda-redes do Estoril quando tentou socar uma bola. Ela ressaltou no Samaris e caiu aos pés do peruano, que rematou de primeira para o golo. Saída para intervalo em vantagem na eliminatória, mas o Estoril estava a um golo de empatá-la. 


E o André Almeida fez o favor de, logo no pontapé de saída, de uma forma perfeitamente displicente oferecer-lhes isso mesmo. A resposta do Benfica foi boa em termos de atitude, mas péssima na execução: logo nos minutos seguintes o Cervi e o Zivkovic falharam o golo do empate de forma escandalosa. Até se pode elogiar o guarda-redes do Estoril pelas defesas, mas aquilo foi mais tiro ao boneco, porque foram sobretudo os nossos jogadores a rematar na direcção dele. Mas a pressão continuou e poucos minutos depois o Zivkovic redimiu-se do falhanço com um grande golo, num remate em arco, de pé esquerdo e de fora da área, que levou a bola ao ângulo. Depois foi o Carrillo a ficar muito perto de terceiro, num chapéu ao guarda-redes que terminou com a bola na barra. Nesta fase já se começava a notar a falta de ritmo dos jogadores escolhidos para esta noite. A nossa equipa estava cada vez mais partida, e quando falhávamos na frente o Estoril contra-atacava quase em igualdade numérica com os nossos defesas, ameaçando seriamente a nossa baliza - o terceiro golo só não surgiu porque o Júlio César, numa dupla defesa, o impediu. O Filipe Augusto já tinha sido obrigado a sair, lesionado (nem neste jogo conseguimos poupar o Pizzi) e depois também acabou por se dar a entrada previsível do Jonas. Jonas que, quase no primeiro toque que deu na bola, marcou o terceiro golo, a passe do Cervi. Faltavam dezoito minutos para o final e parecia que estava tudo resolvido, mas muito pelo contrário. O Benfica nos minutos finais já não era uma equipa de futebol, era um grupo de amigos que se tinha juntado para uma peladinha e a qualidade do jogo não era muito diferente daquilo que se vê nos distritais. Preocupações tácticas não existiam. Metade da equipa atacava e a outra metade defendia, sem qualquer ligação entre os sectores. E a metade que defendia, fazia-o mal, com erros grosseiros a roçar a displicência. O Estoril chegou ao empate em mais um desses erros - o Lindelöf fez um bom corte que impediu a bola de chegar ao avançado, a bola subiu dentro da área, e o Lisandro, completamente à vontade sem qualquer tipo de pressão sobre ele, fez um cabeceamento ridículo que deixou a bola nos pés de um adversário. Depois o mesmo Lisandro juntou-se ao André Almeida para ficarem os dois a assistir, impávidos e serenos, ao jogador do Estoril a passar calmamente por eles e a passar para a finalização de um colega à boca da baliza. com treze minutos para jogar, foi necessário cerrar fileiras e esperar em sofrimento o apito final que confirmou a presença no Jamor (ainda deu para ter um calafrio perto do final, em que nos valeu o Grimaldo para evitar um cabeceamento do Kleber que muito provavelmente daria golo).


Mesmo tentando conter-me para não bater demasiado nos nossos jogadores, é-me impossível não classificar as exibições do Lisandro e do André Almeida como inadmissivelmente más. O Lisandro ainda tem a desculpa do regresso após lesão, mas o André Almeida nem isso. Aquele espaço entre os dois não foi um buraco, foi uma cratera de dimensão semelhante à que foi criada pelo asteróide responsável pela extinção dos dinossauros, e foi explorado até à exaustão pelo Estoril. E peço desde já desculpa aos mais sensíveis nestas questões de críticas aos nossos jogadores, mas continuo com uma dúvida persistente desde o final de Janeiro: o que é que o Filipe Augusto está a fazer no Benfica? É que do que eu já conhecia do jogador antes e do que vi dele até agora no Benfica, tenho a firme convicção de que temos na equipa B quem faça tanto ou até melhor do que ele. Isto para não falar no André Horta, cujo eclipse ainda não consegui perceber. Ou está ali uma pérola muito escondida que ainda me vai surpreender, ou então parece-me que a época vai acabar e a dúvida vai permanecer.

Espero que os jogadores que estão diminuídos fisicamente possam recuperar rapidamente, e que possamos jogar muito mais e melhor no sábado em Moreira de Cónegos. Temos mesmo que jogar muito mais e melhor do que jogámos hoje. A situação na Liga não permite qualquer tipo de descuido ou escorregadela, nem os erros displicentes a que assistimos hoje.

segunda-feira, abril 03, 2017

Pouco

No final, soube-me a pouco. Fiquei com a nítida sensação, como julgo que também terão ficado os milhares de benfiquistas que lotaram a Luz, de que perdemos uma grande oportunidade para dar um golpe quase decisivo no campeonato. Fomos a melhor equipa em campo, e fugiu-nos a possibilidade de vencer o jogo e deixar para trás o nosso adversário directo na luta pelo título.


Até fiquei um pouco surpreendido com a entrada do Benfica no jogo. Olhando para os onzes das duas equipas, a presença do Rafa nas nossas escolhas iniciais e a opção do Porto por um meio campo reforçado, abdicando de jogar com dois avançados fazia crer que assistíssemos a um cenário em que o Benfica entregaria mais a iniciativa de jogo ao adversário, para depois partir rápido para o ataque quando recuperasse a bola, enquanto que o Porto privilegiaria a posse de bola e um jogo mais seguro. Mas o Benfica entrou forte e caiu em cima do adversário desde o apito inicial. Para isso contribuiu muito quer as frequentes movimentações do Salvio e do Rafa para o meio, que nos davam equilíbrio e até superioridade numérica nessa zona e abriam espaço para a subida dos laterais - em particular do Nélson Semedo, já que o eliseu não arricou tanto - e ainda um Jonas muito activo, com um raio de acção muito alargado em que vinha frequentemente buscar jogo até à linha do meio campo. Durante este período inicial praticamente só deu Benfica, e o resultado disso foi imediato. Aos sete minutos o Salvio ultrapassou dois adversários pelo centro do terreno e deixou a bola no Jonas, que foi derrubado dentro da área. Encarregue da conversão, o aniversariante não falhou e colocou-nos em vantagem no marcador. Após isto o Benfica foi progressivamente acalmando o ritmo, e ao fim de mais alguns minutos o jogo caiu então no cenário que me parecia ser mais provável. Baixámos e juntámos as linhas, permitindo ao Porto ter mais bola, e depois tentávamos as saídas rápidas para o ataque, sobretudo através das faixas. E na verdade, fizemos o nosso trabalho muito bem feito. É que apesar de ter mais bola, o Porto nada mais conseguia fazer com ela a não ser circulá-la lateralmente até que eventualmente chegasse aos pés do Brahimi, que tentava então alguma iniciativa individual. Tanto assim foi que apenas consigo lembrar-me de uma ocasião de perigo para o Porto durante toda a primeira parte, naquele que terá sido também o único remate que fez. E este surgiu através de um livre cavado pelo Brahimi à entrada da área, marcado pelo mesmo e que obrigou o Ederson a uma grande defesa, evitando que a bola entrasse junto à base do poste. Da nossa parte, o maior lamento veio de uma jogada em que o Rafa mostrou ter o dobro da velocidade do Maxi, mas para não variar quando chegou à área definiu mal a jogada e não conseguiu colocar a bola no meio, onde tinha o Jonas e o Mitroglou completamente à vontade. Ao intervalo, o jogo parecia estar calmamente controlado.


Infelizmente para nós a reentrada no jogo acabou por deitar tudo a perder. Houve algum descontrolo e o Porto conseguiu alcançar o empate logo nos minutos iniciais. Tudo começou num disparate do Pizzi, que tentou sair a jogar com a bola nos pés e acabou por perdê-la para um adversário. A partir daí a bola chegou até ao Brahimi, que no 1x1 desequilibrou e depois numa jogada confusa em que na minha opinião houve demasiada apatia para afastar decisivamente a bola da área, ao fim de algumas recargas o Maxi acabou por empatar. Talvez se pudesse temer algum descontrolo do Benfica depois do golo, mas nada disso se passou. O Porto, obtido o empate, pareceu encantado com a sua sorte e pouco ou nada mais procurou do jogo - estranhei, já que quem ouvisse os especialistas ao longo destas últimas semanas ficaria convencido que o Porto era imparável e a vitória na Luz eram favas contadas. Já o Benfica, apoiado pela Luz, reagiu e foi à procura do segundo golo. E o maior motivo de queixa para não o termos conseguido é a falta de eficácia. O Porto em todo o resto da segunda parte apenas numa ocasião conseguiu assustar, numa bola metida para as costas da nossa defesa que obrigou o Ederson a sair aos pés do Soares. Quanto a nós, passámos outra vez a ter muito mais bola, e construímos ocasiões soberanas para marcar que, quando se falham, pagam-se. Foram pelo menos quatro situações claras que nos deveriam ter dado o golo e os três pontos. Pelo Jonas, assistido pelo Salvio após uma das melhores jogadas do jogo, quase toda ao primeiro toque, à qual o Casillas correspondeu com uma grande defesa. Depois foi novamente o Casillas a negar o golo ao Mitroglou, e logo a seguir ao Jonas na recarga (pelo menos pareceu-me que foi ele, mas pode ter sido algum jogador do Porto a cortar quase em cima da linha). E novamente o Jonas, no seguimento de um canto, surgiu completamente solto ao segundo poste e cabeceou um pouco ao lado da baliza. Nos minutos finais então o Porto já nem disfarçava, e o Casillas queimava deliberadamente tempo sempre que podia enquanto fazia gestos provocatórios para a bancada - imagino que aqueles que tanto se abespinharam com perdas de tempo num jogo que teve doze minutos de descontos já tenham entretanto mudado de opinião. No final a festa do Porto foi elucidativa do quanto queriam o empate, e da fé que colocam na outra metade da santa aliança antibenfica para fazer o resto do trabalho. No final veremos se justificada - é que o ano passado o pessoal do Lumiar nem sequer conseguiu fazer o trabalho para seu próprio benefício, portanto esperar que o façam em benefício de outros este ano pode ser um bocado optimista.


Na minha opinião, e até confesso a minha surpresa por isto, o Samaris foi um dos melhores jogadores do Benfica neste jogo. Aproveitou bem o espaço adicional de que beneficiou pelo facto dos médios do porto andarem excessivamente preocupados com o Jonas e o Pizzi para jogar um pouco mais adiantado no terreno e assumir até mais protagonismo na organização de jogo do que o próprio Pizzi. Em termos defensivos esteve mais disciplinado do que é habitual em termos posicionais, e até ganhou vários lances em antecipação, muito ao estilo do que o Fejsa costuma fazer. O Jonas fez também um bom jogo, mas infelizmente foi demasiado perdulário. A vitória do Benfica neste jogo perdeu-se nos pés (e na cabeça) dele. Luisão (meteu o Soares completamente no bolso, não o deixando usar a única arma que tem, que é o físico) e Nélson Semedo também num bom nível. O Salvio voltou a fazer muita asneira, mas esteve na jogada do golo e ainda ofereceu o segundo ao Jonas. Mas de qualquer forma pareceu-me acertada a sua substituição. Continuo é com dificuldade em perceber porque motivo o Cervi não joga mais.

Esquecendo a frustração pelo empate e olhando as coisas pelo lado positivo, mantemo-nos no primeiro lugar e somos a única equipa dependente apenas de si própria. A situação em que nos encontramos não difere muito daquela que enfrentámos a época passada, e que conseguimos superar com distinção. A receita é simples, temos sete finais pela frente e temos que as ganhar todas. Não me parece que o calendário do Porto seja particularmente mais fácil do que o nosso, e a exibição neste jogo deixa-me confiante para o que resta do campeonato, saiba a nossa equipa manter a atitude demonstrada. Além disso poderemos ter os 'reforços' Fejsa e Grimaldo para esta fase final, o que significará um plantel na máxima força para proporcionar todas as opções ao nosso treinador. Nunca como agora precisámos tanto de nos unir e empurrar a nossa equipa. Temos ao nosso alcance um objectivo histórico, e para lá chegarmos temos que começar já por pintar Moreira de Cónegos de vermelho no próximo fim-de-semana.