quarta-feira, dezembro 29, 2004

Reforços

Tem-se falado insistentemente na contratação de 'três ou quatro reforços de qualidade' pelo Benfica nesta reabertura de mercado. Estou bastante céptico em relação à efectiva qualidade destes reforços, até porque o Benfica não tem condições financeiras para adquirir grandes jogadores. A qualidade paga-se. Neste momento já estou à espera de ser surpreendido com mais um Dos Santos, ou Everson, que até ver não vieram acrescentar muito ao nosso plantel.

O único eventual 'reforço' de Inverno até agora parece-me ser o Roger. Eu considero que o Roger é um jogador que pode ser muito útil ao Benfica (sei que uma grande parte dos adeptos do Benfica não partilham desta opinião). Fico frustrado por pensar que não conseguimos tirar o máximo partido das qualidades do Roger que, a meu ver, são únicas. Não existe nenhum jogador no plantel do Benfica com a mesma capacidade técnica, e características para assumir o papel de distribuidor de jogo. Infelizmente, como me parece que a regresso do jogador é feito a contragosto (quer do clube, quer do próprio Roger), custa-me acreditar que seja desta vez que consigamos finalmente rentabilizar o investimento feito neste jogador.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Martírio



O martírio que é ver este Benfica de Trapattoni jogar continua. Ontem foi contra a AD Oliveirense, uma equipa que milita na 3ª Divisão. Acho que há uma frase do treinador do Benfica, proferida nos dias que antecederam o jogo, que não podia ser mais eloquente na forma como demonstra porque é que ele não é a pessoa certa para o cargo que ocupa presentemente. A 'pérola' é esta:

"Tenho de ver o DVD do último jogo da Oliveirense para ver se podemos jogar com dois pontas-de-lança"

Não, não é nenhuma anedota. Trappatoni disse mesmo isto. Confesso que tive que reler esta frase mais do que uma vez, para me convencer que isto era verdade, e ainda confirmar no calendário que não era dia 1 de Abril, para ter a certeza que isto não era apenas uma brincadeira. Mas o Benfica jogou ontem em casa contra a AD Oliveirense, da 3ª Divisão portuguesa, ou contra uma equipa candidata à vitória na Champions League? Claro que a já conhecida falta de audácia do treinador italiano levou a melhor, e entrámos em campo com apenas um avançado centro. 15 minutos após o início do jogo, o Sokota já estava a aquecer. Aos 25 minutos estávamos a queimar uma substituição para corrigir o erro inicial do treinador. Parece que lhe terão mostrado o DVD errado...


A exibição do Benfica ontem foi, mais uma vez, e na linha daquilo que já se tornou um hábito nos últimos meses, vergonhosa. Continuo a não conseguir encontrar um fio de jogo naquela equipa. Os jogadores entram em campo, e cada um joga sozinho, enquanto os outros 10 assistem impávidos. As grandes excepções ontem foram o Carlitos e o Manuel Fernandes (sobretudo). O Carlitos foi sempre o nosso jogador mais perigoso enquanto esteve em campo, e ganhou dois penalties na primeira parte. Quanto ao Manuel Fernandes, ele aos 18 anos não sabe jogar mal, e demonstra sempre a mesma atitude competitiva em campo, independentemente de quem for o adversário. Os mais velhos bem podiam aprender com ele. Para além disso, gostei da frontalidade dele na conferência de imprensa:

"Nós é que criámos as nossas dificuldades, podíamos ter tornado o jogo muito mais fácil e resolvido o resultado mais cedo [...] Faltou-nos atitude"

Não vou comentar quem foi o defesa-central do Benfica que se deixou antecipar no centro da grande-área no lance do golo adversário.

O jogo de ontem teve a particularidade de, para gáudio de todos os anti-benfiquistas, ter tido três penalties assinalados a nosso favor. Ainda não tive a oportunidade de ver os lances na televisão. Em relação à terceira grande penalidade, o lance passou-se no lado oposto do campo, por isso não posso comentar. Mas as duas que foram cometidas sobre o Carlitos passaram-se a não mais de 10 metros à minha frente (nos jogos da taça a direcção fecha o 3º Piso, por isso não posso ocupar o meu lugar habitual, e tenho que ficar mais junto do campo), e pareceram-me claras. Para além disso, pelo que tive a oportunidade de ver na imprensa desportiva de hoje (A Bola e Record), ambos consideram que o árbitro ajuizou bem os referidos lances, por isso diverte-me ver o fervor com que se agitam as hostes adversárias em relação a um jogo e lances que, muito provavelmente, nem sequer viram. Nem sequer da parte dos jogadores e responsáveis da Oliveirense vi qualquer tipo de contestação, por isso acho muito bem que os anti-benfiquistas tenham a atenção de serem eles próprios a indignarem-se, para pouparem esse trabalho aos nossos adversários de ontem.

Voltando ao jogo em si, a verdade é que a jogar em casa com uma equipa praticamente titular (só o Petit ficou no banco), contra uma equipa da 3ª Divisão, beneficiando de três grandes penalidades, e ainda de uma expulsão de um jogador adversário, o Benfica foi incapaz de vencer no tempo regulamentar. Por sorte não se assistiu a um 'Gondomar - Parte II', mas confesso que cheguei a pensar nessa possibilidade. Se isto não é sinal que algo está muito errado, não sei o que será.

domingo, dezembro 19, 2004

Medíocre

Vencemos o Penafiel ontem por 1-0. Salvou-se o resultado, porque a exibição, uma vez mais, deixou muito a desejar. O golo foi marcado pelo meu odiozinho de estimação, que até terá sido, provavelmente, o melhor jogador do Benfica em campo, o que atesta bem a qualidade da exibição da equipa. A primeira parte ainda foi razoável, e notou-se que os jogadores estavam um pouco mais empenhados do que nos últimos jogos (sobretudo o Geovanni), mas na segunda parte voltaram os medos, os retraimentos, e a quase exclusiva ausência de uma jogada com princípio, meio, e fim. O futebol do Benfica é hoje jogado aos repelões, e a equipa parece entrar em campo sem um objectivo concreto que não seja, eventualmente, o de defender com unhas e dentes a vantagem mínima assim que a consegue. Mentalidade de equipa pequena, portanto. Nos últimos três jogos em casa, contra Rio Ave, Estoril, e Penafiel (esses colossos do futebol...), acabámos sempre com o coração nas mãos. Há muito tempo que não me lembro de ver o Benfica jogar assim.



Em relação à estreia de Alcides, apesar de um jogo não servir de muito para avaliar um jogador, gostei de ver a velocidade dele (é mesmo muito rápido para um defesa-central), e parece gostar de sair a jogar com a bola nos pés, em vez de despachá-la para a frente de qualquer maneira. Pareceu-me também que falhou algumas vezes no tempo de salto. É um jogador ainda jovem (19 anos), e estas primeiras indicações parecem mostrar que poderá ser uma opção válida para o centro da defesa no futuro, especialmente se se confirmar a venda de Luisão no final da época.




Fiquei surpreendido com a troca do Moreira pelo Quim, e ainda mais depois de ouvir a explicação de Trapattoni para isto. Segundo ele, depois de termos sofrido vários golos nos últimos jogos, embora sem culpa do guarda-redes, era muito importante para a equipa em termos psicológicos fazer a troca de guarda-redes agora. Quer dizer, nos últimos 4 jogos sofremos 9 golos, sem culpas para o guarda-redes (palavras do próprio Trapattoni), e por isso é importante trocá-lo. E a um jogador que tem responsabilidade directa na maioria desses golos sofridos (Argel), é-lhe dada oportunidade atrás de oportunidade. Acho que não vou tentar compreender esta lógica. Acho apenas que é uma má decisão trocar de guarda-redes após um jogo em que ele sofreu 4 golos sem culpa alguma, e ainda terá evitado outros tantos. Assim está a passar a mensagem que, de alguma forma, responsabiliza o Moreira pelo que aconteceu no Restelo. Ao contrário de Trapattoni, acho que o timing para esta troca é completamente errado.

sábado, dezembro 18, 2004

Castigo



Segundo notícia do Record, o árbitro assistente Luís Tavares foi rejeitado pela FIFA, e retirado da lista de árbitros assistentes internacionais daquele organismo. Esta decisão vem na sequência de um protesto formal apresentado pelo Benfica (embora não se possa afirmar que seja uma consequência directa do mesmo) junto da FIFA, devido à desastrosa actuação do senhor Luís Tavares no último Benfica x FC Porto jogado no Estádio da Luz.

Não posso deixar de sorrir perante a ironia desta decisão, quando confrontada com as sucessivas declarações do Conselho de Arbitragem, em que elogiavam as decisões tomadas por este árbitro assistente no referido jogo. Teorias da conspiração e 'sistemas' aparte, apraz-me verificar que, neste caso, a incompetência acabou por ser justamente castigada.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Surpresa



Giovanni Trapattoni anunciou a convocatória para o jogo de amanhã à noite com o Penafiel. A grande surpresa foi a inclusão de Pedro Mantorras na lista de convocados. Como fã incondicional do futebol de Mantorras, isto é para mim uma muito agradável surpresa. Espero que ele esteja mesmo em condições de regressar a 100%, de forma a que possamos voltar a contar regularmente com um jogador que nos faz muita falta. Ao menos tenho uma razão para sorrir no meio de tantas contrariedades com lesionados no Benfica. Força Pedro!

CSKA

O sorteio da Taça UEFA ditou o CSKA de Moscovo como adversário do Benfica. Tendo em conta os possíveis adversários, acho que não nos podemos queixar da sorte. Pelo menos, baseando-me nos jogos que vi desta equipa contra o FC Porto, parece-me estar ao nosso alcance, se jogarmos a um nível melhor do que o dos últimos jogos, e os jogadores lesionados estiverem recuperados.

Contra a Corrente

Uma inspiração, todas as quintas-feiras.

O meu onze ideal

Decidi eleger aquele que considero ser o onze ideal do Benfica, considerando apenas os jogadores que eu vi jogar pelo clube. Isto significa que vou apenas considerar jogadores que alinharam pelo Benfica desde mais ou menos 1986. A minha primeira recordação nítida do Benfica até é anterior a essa data... é a de uma final da Taça de Portugal ganha ao FC Porto por 3-1, com um hat-trick do Néné (que por causa disso era o meu ídolo de infância), em que o treinador era o Lajos Baroti. Isto foi em 1981, quando tinha 8 anos. Acho que aos 8 anos é difícil ter alguma capacidade crítica acerca da qualidade de um jogador - para mim, se jogava no Benfica, tinha que ser um dos melhores jogadores do mundo - por isso é melhor não incluir jogadores da primeira metade da década de 80 nestas escolhas.

Esta é a minha primeira escolha.

Guarda-redes

Michel Preud'Homme


Acho que não tive muitas dúvidas nesta escolha. A única outra hipótese que considerei foi o Bento, mas as recordações que tenho dele são sobretudo da fase final da sua carreira (e antes disso, as memórias que ficaram foram principalmente das grandes asneiras dele, como a do frango contra o Liverpool, ou a agressão ao Manuel Fernandes e respectiva expulsão que ditou a nossa derrota num derby - essas são sempre mais fáceis de fixar).

O Michel Preud'Homme foi uma das poucas contratações de classe feitas por Artur Jorge. Chegou ao Benfica no início da época de 1994/95 com o título de melhor guarda-redes do recente Mundial dos EUA. Julgo que a sua intenção seria a de vir fazer os últimos anos da sua carreira num clube que lhe permitisse enriquecer o currículo com títulos, sem ter muito trabalho durante os jogos. Para azar dele, apanhou o início do pior período desportivo de sempre na história do nosso clube. Aquilo que se antevia uma 'reforma' descansada acabou por revelar-se ser um pequeno inferno, com trabalhos reforçados na maior parte dos jogos, e um único título festejado: a Taça de Portugal da época de 1995/96.

Ficou no Benfica durante 5 épocas, durante a maioria das quais, a par do JVP, foi a única fonte de classe nos plantéis do clube. Se muitas vezes não saímos vergados ao peso de derrotas mais embaraçosas, foi graças às exibições memoráveis do Michel. Chegava a dar-me pena vê-lo sofrer golos, dado o empenho que eu o via pôr em cada jogo. Para além da classe pura que exibia na baliza, era também um exemplo de fair-play em campo, respeitado por colegas e adversários. Merecia ter tido melhor sorte no Benfica.

Déja vu

Ao que tudo indica, no próximo Sábado vamos ter mais uma vez o Argel a organizar estoicamente o ataque do nosso adversário. Palavra de honra que não compreendo... por mais provas que ele dê, semana após semana, que é um factor de insegurança para a nossa defesa, continuam sempre a dar-lhe uma nova oportunidade. Ao menos emoção é capaz de não faltar no próximo jogo...

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Bilhetes



Acabei de pagar 40€ para poder ir ver o Benfica a Alvalade no próximo dia 9 de Janeiro. O fim-de-semana passado, o bilhete mais barato para o Belenenses x Benfica custou-me 30€. Parece que todos os clubes aproveitam para encher um bocado mais os cofres à custa do Benfica. Se os bilhetes fossem um pouco menos caros, não teria estado mais gente no Restelo a assistir ao jogo, e a receita não teria sido aproximadamente a mesma? Ficava a ganhar o futebol. Acho que, conforme já se vem reclamando há muito tempo, estava na altura da Liga regulamentar os preços dos bilhetes. Mas será que há interesse dos próprios clubes em que isso aconteça?

Dispensas

O jornal 'O Jogo' noticia na sua edição de hoje a possibilidade da dispensa, já em Janeiro, dos jogadores Zahovic, Argel, Paulo Almeida, e Yannick.



No caso dos dois primeiros, a minha opinião é 'Já não era sem tempo!'. Aliás, nunca percebi a súbita renovação de contrato com o Argel por mais dois anos, quando a certo ponto da época anterior parecia um dado assumido que ele seria dispensado no final da época, quando o seu contrato terminasse. As asneiras que o referido jogador tem feito esta época não são diferentes daquelas que ele já tinha feito a época passada. Não se podia esperar que de uma época para a seguinte houvesse um súbito acréscimo de qualidade, sobretudo num jogador na casa dos 30 anos. Quanto ao Zahovic, foi infelizmente um dos maiores erros desportivos desta direcção. Custou-nos muito dinheiro, e um jogador jovem e bom (Marchena). O Zahovic que nós conhecíamos dos tempos do FC Porto teria sido um grande reforço, mas não podíamos prever que o jogador que se nos deparou estava muito longe desse Zahovic. Além de que o relação qualidade/custo do esloveno sempre me pareceu ser um potencial foco de instabilidade. É difícil aceitar que, por exemplo, um jogador com a utilidade do Ricardo Rocha seja um dos mais mal pagos do plantel, e o Zahovic esteja no extremo oposto da folha de ordenados.



Em relação aos dois últimos, só posso intepretar a sua eventual dispensa uns curtos 6 meses após a sua contratação como uma pequena admissão da errada política de contratações seguida para esta época. Em princípio, o objectivo dessa política seria manter a base da equipa do ano passado (o que foi conseguido, tendo saído, do núcleo forte da equipa, apenas o Tiago), e contratar jogadores que fossem opções válidas na luta pela titularidade. Nenhum destes dois jogadores o é. A contratação do Yannick motivou, aliás, um comentário bastante negativo da parte do Jose Antonio Camacho ainda a época passada ('se isso é verdade, quem o contratou devia demitir-se'). Quanto ao Paulo Almeida, foi um falhanço brutal. Não colocando em causa a qualidade ou não do jogador, o que me parece é que ele não tem a mentalidade certa para o futebol europeu. É um jogador com um raio de acção muito reduzido, sem velocidade, e sem grande visão ofensiva. Quando recupera a bola, normalmente livra-se dela rapidamente para os lados ou para trás, sendo rara a ocasião que aproveita para tentar lançar um contra-ataque. O facto de nós benfiquistas termos como termo de comparação para aquela posição jogadores como o Petit, Tiago, ou Manuel Fernandes, todos eles mais agressivos e rápidos, também não o ajuda.

Numa altura em que o nosso plantel parece reduzido face à onda de lesões, no caso de se confirmarem estas saídas fico na expectativa sobre quem entrará para os seus lugares. Serão, como promete José Veiga, jogadores para entrarem 'de caras' na equipa, ou passaremos a apostar mais na equipa B, uma vez que nenhum destes quatro jogadores é o que se possa chamar uma primeira opção?

Comentadores (II)

Ainda sobre o tema comentadores, não posso deixar de fazer uma menção ao meu ódio de estimação nesta àrea. Não, não é o Gabriel Alves. Para mim o Gabriel Alves já faz parte do anedotário do comentarismo desportivo em Portugal há vários anos (lembro-me perfeitamente d'O Independente lhe ter justamente atribuido o prémio 'Açaimo de Ouro' após o Mundial de Itália em 1990), e por isso acabo por divertir-me com as suas divagações. Mas no meio de uma das suas análises mais profundas, fico sempre a pensar que seria um prazer perverso vê-lo sentado no banco de uma equipa de futebol, para podermos avaliar o quão válidas são as suas críticas aos treinadores dos jogos que comenta.

Também não é o José Nicolau de Melo, porventura o comentador mais tendencioso/faccioso que alguma vez povoou os feixes hertzianos portugueses. Mas como já está afastado destas lides do comentarismo há muitos anos, não chega a poder ser considerado um ódio de estimação.

Como benfiquista, o meu ódio de estimação é o suposto jornalista/comentarista da SportTv José Marinho. Digo suposto porque eu sempre pensei que alguém numa posição como a dele deveria ter uma postura isenta tanto quanto o possível, o que não é o caso. Não tenho uma foto do senhor em questão, mas uma imagem aproximada é a de uma cegonha a quem vestiram um blazer, ao qual se esqueceram de tirar o cabide das costas. Este senhor não perde uma oportunidade para cuspir o ódio que parece nutrir pelo Benfica. Entre as suas afirmações mais disparatadas, estão 'pérolas' como estas, reveladas quando comentava um jogo entre o Nacional e o Benfica: 'É caso para dizer: O que é Nacional é bom, o que é Benfica é frouxo', ou 'Do meio-campo para a frente o Benfica luta pelo título, do meio-campo para trás luta para não descer'. Entre diversas outras afirmações azedas sobre injustiças quando o Benfica se colocou na frente do marcador no referido jogo. Pessoas destas não deveriam ter permissão para comentar jogos de futebol.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Comentadores


Gosto de ver futebol ao vivo. Gosto do cheiro da relva, do barulho das multidões, e de me rir com os comentários dos diversos treinadores de bancada que me rodeiam (e eu obviamente sou um desses treinadores de bancada, e espero conseguir fazer rir alguns dos que ouvem os meus comentários sempre que perco a cabeça a ver um jogo). Sempre que essa opção me é possível, deixo o conforto da minha sala, e submeto-me aos elementos para poder estar num estádio, a ver futebol como eu gosto.

Ver futebol ao vivo tem outra grande vantagem. É que permite libertar-me da 'ditadura' da televisão. No estádio posso ver o jogo como eu quero, e não como um realizador mo quer mostrar. Posso ver a disposição de toda uma equipa no terreno, e posso ver as movimentações dos jogadores quando estão longe da zona de acção do momento (ou seja, longe da bola). Apanhei este vício a ver, durante anos, jogos a partir do 3ºAnel da antiga Luz, e hoje em dia faz-me confusão ver jogos sem ser de um plano mais elevado (acho aliás que os treinadores de futebol teriam grande vantagem se pudessem acompanhar um jogo com esta perspectiva do campo, em vez de estarem ao nível do terreno). Mas a maior vantagem de todas no futebol ao vivo é estar liberto dos comentadores de futebol.





Há uns anos, um jogo de futebol que passasse na televisão tinha apenas um 'relator', que nos ia informando os nomes dos jogadores portadores da bola, e soltava o eventual comentário. Depois estes 'relatores' começaram a ficar mais sofisticados, e emitir cada vez mais comentários sobre a sua apreciação ao jogo, e os desenvolvimentos 'técnico-tácticos' do mesmo (o xamã deste estilo de relatos não pode ser outro senão o grande Gabriel Alves). Isto acabou por descambar numa situação em que os originais relatores passaram a dar lições e conselhos tácticos, em directo para milhões de espectadores, aos verdadeiros treinadores que se sentam nos bancos das equipas. Claro que uma pessoa apenas passou a ser pouco para dar conta do recado, porque no meio de tanta consideração técnica e análise desportiva, não sobrava tempo para fazerem a sua função original de relatores do jogo. Eis que é introduzido o posto formal de 'comentador', para fazer equipa com o relator (o Gabriel Alves foi imediatamente promovido a este novo posto).



Como seria de esperar, os relatores não devem ter gostado desta perda de responsabilidades, e não aceitaram de bom grado esta redução de funções. Por isso, embora de forma mais discreta, continuaram a fazer as suas análises pessoais aos jogos que era suposto relatarem, agora com a vantagem de terem, dentro da própria cabine de comentários, a sua pequena audiência privada, constituida pelo comentador. O espectador de futebol na televisão passou então a poder ouvi-los a comentar ao desafio, cada um a puxar pelo outro, e a ver quem consegue fazer a análise mais profunda, e mostrar aos telespectadores quais os erros tácticos crassos que aprendizes como um Fabio Capello, ou um Alex Ferguson estão a cometer, erros esses que são facilmente detectados pelas nossas sumidades comentaristas.

Estas diatribes das equipas destacadas para acompanharem uma transmissão televisiva atingiram tal ponto que agora, quando vejo um jogo na televisão, por vezes tenho dificuldade em conseguir concentrar-me no jogo em si, dado que raramente se consegue ter uns segundos de descanso entre comentários. Os comentadores parecem ter uma predilecção particular pelo som das suas vozes, e mesmo quando tento não prestar atenção ao que dizem, por vezes o ruído de fundo é insuportável. Não vou dizer que faço como o Artur Jorge, que dizia gostar de ver jogos ao som de música clássica (embora comece a compreender porque razão ele o faz), mas por vezes já cheguei a desligar o som da televisão, para conseguir ver os jogos mais sossegado.



A minha crítica aos comentadores centra-se sobretudo no facto de eu achar que eles são capazes de, com os seus comentários, influenciar fortemente a opinião e a forma de ver um jogo. Diversas vezes eu já voltei de um estádio, e ao falar com pessoas que viram o jogo na televisão descubro que têm uma opinião sobre o mesmo que é completamente distinta da minha. Por vezes parece que não vimos o mesmo jogo (e não estou a falar de discussões com adeptos de equipas rivais, porque nesse caso as opiniões normalmente são sempre diametralmente opostas). Jogadores que eu considero que fizeram um bom jogo são acusados de terem sido os piores em campo, isto porque um dos hábitos dos comentadores é começarem a embirrar com um jogador, e passarem o resto do jogo a cascar nele, dando ênfase ao que de mal fazem, e convenientemente ignorando as partes positivas. O oposto também é verdade: jogadores que eu penso terem feito exibições banais são considerados pelos telespectadores do mesmo jogo como tendo feito exibições de encher o olho, isto porque os comentadores apaixonam-se por eles e passam os 90 minutos a cantar as suas virtudes, por exemplo apelidando de 'mágico' o mais pequeno toque que dão na bola.

Quero no entanto dizer que nesta história dos comentadores há excepções. Normalmente quando colocam treinadores de futebol 'a sério' nessas posições, eu respeito as considerações deles, porque sei que sabem muito mais sobre futebol do que eu alguma vez saberei na vida. Até podem não ter jeito para a função específica de comentador, mas pelo menos sabem do que estão a falar (com alguns eventuais acidentes de percurso, como foi o caso do espectáculo degradante do Manuel Fernandes a comentar o recente 'derby' entre a sua antiga equipa e o FC Porto). O exemplo do José Mourinho a comentar o Portugal x Espanha no último Europeu deveria ter enchido de vergonha muitos dos nossos comentadores, e fazê-los desistir da carreira. É a diferença entre alguém que sabe mesmo do que é que está a falar, e alguém que está a tentar fazer as pessoas acreditar que sabe. O mal da maioria dos comentadores é que não lhes reconheço méritos para poderem estar a criticar abertamente perante milhões de espectadores alguém que teve muito trabalho, e que teve que dar provas para lhe entregarem o banco de uma equipa de futebol. Na maioria dos casos estes comentadores nunca tiveram nenhuma ligação concreta ao futebol.



Comecei a gostar do Jose Antonio Camacho ainda antes dele vir para o Benfica. Durante o Mundial de 2002, estava em Barcelona, e assisti meio incrédulo a uma conferência de imprensa em que o Camacho se revoltou contra os jornalistas, e os acusou directamente de perceberem muito pouco sobre futebol a sério. Disse-lhes ele que a maior parte deles nunca tinha pisado um terreno de futebol, e que só estavam ali para 'joder' a selecção. Na altura comentei com amigos que um treinador daqueles era o que o Benfica precisava.

No fundo, o que é que eu quero dizer com este post (que já vai longo), em relação aos comentadores de futebol? Calem-se um bocado, e deixem-me ver a bola!

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Catástrofe



O senhor Giovanni Trapattoni afirmou, no rescaldo da derrota com o Belenenses, que 'perder um jogo assim não é uma catástrofe'. É um ponto de vista possível, e analisando as coisas sob uma certa relatividade, até pode ser verdade.

De facto, quando o treinador do Sport Lisboa e Benfica tenta transmitir uma imagem de uma certa naturalidade e normalidade, após a sua equipa ter soçobrado de forma tão evidente contra uma equipa teoricamente mais fraca, e consentindo três golos no espaço de 10 minutos, à luz das possíveis 'catástrofes' que se podem imaginar ser possíveis mantendo esta atitude, o resultado de ontem pode muito bem não ter sido a pior das humilhações que sofremos esta época.

P.S.- Uma palavra de agradecimento para o
Rui Silva pela sua menção a este blog logo no seu primeiro dia de vida.

Carlitos



Já que o mencionei no post anterior, mais algumas palavras. A par do Manuel Fernandes, este jogador era aquele em quem eu no início da época mais esperanças depositava para ser uma das revelações da equipa. Se no caso do Manuel Fernandes, ele tem estado progressivamente a confirmar aquilo que eu esperava dele, o Carlitos tem sido fustigado por lesões sucessivas, que o têm impedido de dar um contributo válido à equipa.

Acompanhei com alguma atenção a carreira deste jogador o ano passado na Liga de Honra, ao serviço do Estoril, uma vez que já há algum tempo se falava da sua possível contratação pelo SLB. Depois vi-o na fase final do Europeu de Esperanças, sabendo já que a sua contratação era um dado adquirido, e fiquei ainda mais entusiasmado. Dada a minha predilecção por extremos puros, fiquei convencido que o Carlitos poderia ser de uma grande utilidade ao Benfica.

Exceptuando os três anos em que tivemos o privilégio de ver o Karel Poborski com a camisola do Benfica, nunca conseguimos encontrar um sucessor válido para o Vitor Paneira, que foi o último grande extremo-direito que o Benfica teve. Tenho esperanças que o Carlitos possa ser esse jogador. É pena que já tenha perdido metade da época, mas se se mantiver afastado das lesões, pode ser que ainda venha a constituir uma boa surpresa. Para já, no meio do descalabro que foi o jogo de ontem, conseguiu fazer uma assistência um minuto depois de entrar em campo. Não foi mau de todo.

Extremos



Uma das maiores críticas que tenho a apontar ao futebol que o Benfica pratica hoje em dia é a quase ausência de extremos, pelo menos considerando o que é um extremo clássico.

Confesso, sou adepto de um jogo com extremos. Normalmente, são os jogadores mais habilidosos da equipa, aqueles de quem se espera o inesperado. Acho que o futebol, idealmente, deve ser jogado a toda a largura do campo, com variações frequentes de flancos. Um jogo 'largo' obriga a equipa adversária a estender mais os defensores, e a afastar jogadores da frente da baliza. Quando se tenta entrar pelo meio, a bola está mais perto de mais jogadores, e é sempre mais fácil aparecer alguém para fazer uma dobra, ou para esticar a perna para fazer um corte. Pelo contrário, quando um extremo progride com a bola junto à linha, normalmente consegue situações de 1x1 com o lateral adversário. Caso o consiga bater, o mais natural é que saia um jogador do centro (muitas vezes o central) para vir fazer a dobra. Isto abre espaços extra para os avançados, ou para as entradas de médios. Para além de que uma bola centrada junto da linha de fundo apanha os avançados de frente para a baliza, com a bola à sua frente. A utilização de extremos permite ainda limitar muito a acção ofensiva dos laterais adversários, porque estes passam a ter preocupações extra caso percam a bola numa subida ao meio-campo adversário.


Mas aparentemente os extremos estão a cair em desuso. O mal não é só do Benfica, parece ser geral no nosso futebol. Os nossos vizinhos da 2ª Circular não têm sequer um único extremo de raíz no plantel, enquanto que nos rivais do norte os dois extremos que têm (Quaresma e Peixoto) são mal-amados pelo treinador, que raramente lhes entrega a titularidade. Este mal parece ter começado há uns anos, quando alguma luminária teve a brilhante inovação táctica de trocar os extremos de lados durante um jogo (isto hoje em dia parece ser um fenómeno muito típico da escola de treinadores lusitana). Para quê? Bem, isto permite ao jogador 'flectir para o interior do terreno', para assim usar o seu pé mais forte para chutar à baliza. Claro que o pormenor de o centro do terreno ser a zona mais povoada do campo, onde um jogador habilidoso tem muito menos espaço e tempo para tirar partido da técnica, que é o seu maior trunfo, parece passar despercebido aos nossos treinadores. Agora já quase nem é preciso pôr o extremo a jogar do lado contrário, porque na maioria das vezes eles nem jogam, ou quando jogam parecem ter uma estranha atracção pelo interior do terreno, e consequente repulsa pelas linhas laterais.



Passando ao caso específico do Benfica. Temos dois extremos puros no plantel: o Simão, e o Carlitos. O Carlitos tem estado lesionado praticamente desde o início da época, por isso não posso falar muito dele. Mas quanto ao Simão, ele de forma alguma joga como extremo. São raríssimas as vezes em que ele ataca a linha de fundo, para daí centrar a bola. Quase invariavelmente, ele acaba por flectir para o centro, e tornar-se mais um avançado. Este ano o Benfica até ganhou algum poder no jogo aéreo, com a entrada do Karadas. Porque razão passamos jogos inteiros sem fazer uma jogada em que o extremo vai à linha centrar para os avançados? Do lado direito é a mesma coisa. O Geovanni passa os jogos perdido algures no centro do terreno, esquecendo-se daquelas que deveriam ser as suas funções originais. Dói-me ver aquelas zonas do campo junto às linhas laterais da grande área praticamente ao abandono durante os nossos jogos.

Será que é coincidência que a qualidade de jogo do Benfica sofra tanto com a ausência do Miguel? Não me parece. A verdade é que o Miguel (um extremo convertido a lateral-direito) é dos poucos jogadores que exploram as faixas laterais, e ataca com vontade a linha de fundo. O que eu vejo na maioria dos casos é que os adversários do Benfica 'dão' a lateral aos nossos jogadores, que mesmo com o caminho aberto para a linha de fundo preferem começar imediatamente a fazer a diagonal para o centro, em velocidade mais reduzida porque aí há muito mais oposição. O Miguel é a excepção. Aproveita o caminho livre para ir rapidamente à linha de fundo, e por isso parece jogar a uma rotação mais elevada do que o resto da equipa.



Um exemplo mais concreto, passado ontem no descalabro do Restelo. Aos 74 minutos o Carlitos entrou em campo. Imediatamente colocou-se no seu lugar natural, encostado à lateral direita. Um minuto depois recebeu a bola, foi até à linha de fundo, centrou e o Sokota marcou um golo fácil. Simples, não? Aparentemente não, porque logo depois o Trapattoni correu com ele para o flanco esquerdo, por troca com o Simão. Em teoria, porque na prática o que aconteceu foi que o Benfica ficou com três jogadores à deriva (Carlitos, Simão, e Geovanni), que pareciam não saber a sua posição em campo. Todos corriam para o centro, e perseguiam a bola como se de um vulgar jogo entre solteiros e casados se tratasse. Eu não consigo compreender a não exploração dos flancos por uma equipa como o Benfica, que joga quase sempre contra adversários que se fecham na defesa. Jogar contra equipas destas tentando entrar pelo centro, e despejando bolas compridas para a área é apenas dar mais trunfos ao adversário.

Camacho



Mas alguém duvida que com este senhor ao leme, dobraríamos a primeira volta do campeonato confortavelmente instalados no primeiro lugar?

Por esta altura, a época passada, e com a mesma equipa (excepto o Tiago), tínhamos mais 5 pontos do que esta época.

Isto vai mal...

Começo este meu primeiro blog público numa nota negativa. Estive há poucas horas no Restelo, onde vi o Benfica ser goleado por 4-1 pelo Belenenses, após mais uma exibição absolutamente patética. Há sempre a atenuante de faltar meia equipa por estar lesionada ou suspensa (Miguel, Luisão, Ricardo Rocha, Manuel Fernandes, Nuno Gomes... para não mencionar o Mantorras), mas que raio, o Benfica se quer ser candidato a alguma coisa, tem que ter um plantel condizente com esse estatuto.

Este resultado não me surpreende. Vem na sequência de uma série de maus jogos da nossa equipa, série essa que começou praticamente no início da temporada. Sempre torci o nariz à presença do senhor Giovanni Trapattoni aos comandos do SLB, porque o acho um treinador com cariz marcadamente defensivo. O Benfica não pode ter um treinador assim. Os primeiros resultados (positivos), acalmaram-me um pouco, mas sempre achei que a nossa equipa estava esticada ao máximo. Na ausência de um fio de jogo consistente, as individualidades iam resolvendo. Mas assim que essas individualidades começassem a falhar...

E a falhar começaram mesmo. Assim que perdemos o Miguel e o Petit, as fragilidades da equipa (que não passam de um reflexo do treinador) foram postas a nu. Desde então, tem sido um descalabro total. Aliás, um reflexo da falta de confiança da equipa é, para mim, quando comecei a reparar no Trapattoni a mencionar o golo não validado ao Petit contra o porto à primeira oportunidade, mesmo passados que estão meses sobre o acontecimento. Aquilo não pode servir de desculpa para a mediocridade que grassa nos jogos da nossa equipa. E o principal responsável (não o único...) por essa mediocridade é o treinador da equipa!


Em relação ao jogo desta noite, destaco três figuras:


Il Buono (O Bom)






Bem, algo tem que estar mesmo mal para uma equipa sofrer quatro golos, e o guarda-redes ser o melhor em campo. Mas é verdade, se não fosse o Moreira, o resultado poderia ter sido ainda mais escandaloso. O Belenenses atacou pouco, mas de cada vez que conseguiu rematar à nossa baliza, fê-lo com muito perigo. O Moreira apanhou as que conseguiu, mas ninguém faz milagres. Quando, após o quarto golo, o vi mesmo à minha frente desesperado aos gritos com a defesa e quase aos pontapés aos placards de publicidade, veio-me à cabeça a imagem de um desamparado Michel Preud'Homme há uns anos, a ter que jogar atrás de umas duplas do género King e Paredão, ou Paulo Pereira e Paulão, e fazer o que podia para evitar males maiores.


Il Brutto (O Mau)*






OK, o senhor esforça-se... mas não tem talento para mais. De cada vez que ele é titular, eu fico com o credo na boca, e sei que é muito difícil não sofrermos golos. Pior, o que mais me irrita neste jogador é a regularidade com que faz asneiras... e depois, quando por acaso não sofremos um golo (do género, quando o Moreira faz uma defesa impossível, ou o Luisão ou o Ricardo Rocha fazem a dobra) abre os braços como que a dizer 'Calma! Está tudo sob controlo!'. Para além disso, passa a maior parte do tempo a mandar vir com os colegas, quando ele é a maior fonte de instabilidade naquela defesa.

Durante cada jogo tenta cerca de 50 passes em profundidade, dos quais em média 1 atinge o objectivo desejado, 25 vão para uma zona em que só estão jogadores adversários, e 24 vão directamente para fora. Mas ele insiste em ser o organizador de jogo. Como se isto tudo não bastasse, parece ter um pacto com o Diabo. É verdade, sempre que ele vai sair da equipa, há sempre um dos centrais que se lesiona, ou que é expulso, ou que vê o 5º cartão amarelo. Como resultado, lá o temos a comandar o ataque adversário na jornada seguinte. O meu comentário é: chega! Há jogadores que infelizmente não têm valor suficiente para serem titulares do SLB, e o Argel é um dos casos mais flagrantes. Ser apenas esforçado não chega.

*(Eu sei que 'brutto' quer dizer 'feio', e não 'mau', mas prefiro utilizar a versão portuguesa do título)


Il Cattivo (O Vilão)






Este senhor, no espaço de 6 meses, parece ter conseguido destruir completamente todo o trabalho que o Jose Antonio Camacho fez durante um ano e meio. Onde antes eu via união, vejo agora cada um a puxar para o seu lado. Onde antes eu via entrosamento, vejo agora anarquia. Costuma-se dizer que no caso dos treinadores de futebol, os títulos são o melhor cartão de visita. Pois bem, neste caso os títulos parecem ser uma boa identidade falsa. Este senhor tem uma mentalidade completamente ultrapassada. Sobretudo, uma mentalidade de todo inadequada ao Benfica.

Senhor Trapattoni: uma equipa de um clube como o Benfica tem que ter um instinto assassino. Quando o adversário está atordoado, temos que cair em cima deles e atirá-los ao tapete! Nunca, como o senhor defende, dar-lhes um murro, e depois recuar para lhes dar tempo de respirar e recompor-se. Não considero que seja um acaso que após vários anos à frente de uma selecção italiana recheada de estrelas nunca tenha conseguido pô-la a jogar decentemente, ou ganho qualquer título de nomeada. O catenaccio é bom para equipas com falta de talento, ou de argumentos para poderem jogar olhos nos olhos com os adversários. Se hoje em dia tentar incutir essa mentalidade num grupo de jogadores habituado a ser dono da iniciativa do jogo, os resultados só podem ser desastrosos. É por isso que vejo uma equipa à deriva em campo, em que cada jogador parece jogar sozinho enquanto os outros 10 ficam parados a assistir.

Por bem menos do que aquilo que já vi esta época, já vi treinadores serem postos fora do SLB. Mas o senhor Trapattoni tem a seu favor um trunfo forte com a direcção. É que o senhor não levanta ondas. Aceita tudo aquilo que lhe impõem sem refilar. Ao contrário do Camacho. Alguma vez o Camacho aceitaria certas contratações disparatadas como as desta época? Por isso tenho muitas dúvidas que o senhor Trapattoni seja posto a andar, e ainda mais que o Camacho possa regressar. A não ser que seja o José Veiga a sair.

Confesso no entanto que me surpreende a passividade com que nós, adeptos benfiquistas, vamos suportando as asneiras do senhor Trapattoni, e da nossa direcção em matéria desportiva. Parece-me que o conformismo do senhor Trapattoni foi transmitido à equipa, que por sua vez o passou para nós...