domingo, novembro 28, 2010

Confiança

Vitória importante num terreno difícil, e que não me parece poder ter qualquer contestação. O Benfica foi claramente a melhor equipa em campo, e aproveitou da melhor maneira o regresso do seu goleador para somar três pontos, que nos isolam no segundo lugar e aproximam ligeiramente do primeiro.

Com a ausência do Aimar, avançou naturalmente o Carlos Martins para a sua posição. Mais importante, foi o Rúben Amorim o escolhido para ocupar o lado direito do meio campo. Desde a saída do Ramires que defendo que é ele o jogador que no plantel tem as melhores características para o substituir. Na frente, o Cardozo ocupou o 'seu' lugar, regressando o Kardec para o banco. A entrada do Benfica no jogo foi a todo o gás. Não sei se esta época já tinha visto o Benfica dominar de forma tão clara e avassaladora como durante a primeira meia hora deste jogo. O Beira Mar foi completamente impedido de jogar, porque não conseguia ter a bola o tempo suficiente para fazer três ou quatro passes seguidos, fruto da pressão dos nossos jogadores e do facto deles se anteciparem quase sempre aos adversários. A má onda (ou azar) que tem acompanhado a equipa também se fez sentir: o Saviola quase marcava, mas o guarda-redes fez uma defesa por instinto que levou a bola a bater na trave e a ressaltar quase para cima da linha de golo. E houve um penálti claro por assinalar a nosso favor, por mão na bola de um jogador do Beira Mar. Finda esta primeira meia hora, o Benfica abrandou um pouco a pressão, o que permitiu ao Beira Mar respirar um pouco e até ensaiar alguns tímidos remates. Mas já sobre o final, a justiça no marcador foi dada através de um penálti convertido pelo Cardozo, a castigar uma falta que ele próprio sofreu na marcação de um canto.

Na segunda parte, e apesar de não termos tido nem metade do caudal ofensivo da primeira, acabámos por marcar dois golos e resolver a questão. O Beira Mar até entrou bastante decidido, tendo o seu melhor período no jogo e criando duas boas ocasiões de golo, levando mesmo a bola ao poste da nossa baliza - mas a verdade é que o Benfica não esteve encolhido durante este período, e até podia ter resolvido as coisas mais cedo, pois logo na reentrada viu o Cardozo falhar o segundo de uma forma incrível, após cruzamento do Rúben Amorim (que estava, no entanto, em fora-de-jogo no início da jogada). Mas o mesmo Cardozo, com um golo fantástico - remate cruzado da direita, a levar a bola a entrar junto ao poste mais distante - acabou por arrumar mesmo a questão quando se completava o primeiro quarto de hora. Sete minutos depois, foi altura do Saviola regressar aos golos (finalmente!), e podemos agradecer este golo mais uma vez ao Cardozo, que fez a 'sua' finta (eu acho que é a única finta que o Cardozo sabe fazer, mas a verdade é que quando a tenta, a faz quase sempre bem) para se libertar de um defesa e ganhar a linha de fundo, e depois centrou rasteiro e atrasado para a finalização fácil do Saviola. Depois deste golo o Benfica limitou-se a gerir o resultado, e o Beira Mar foi à procura do golo de honra, que conseguiu a cinco minutos do final, aproveitando um corte incompleto do Luisão.

O homem do jogo é obviamente o Cardozo, com dois golos e uma assistência. Bem ou mal amado por alguns, é um jogador fundamental nesta equipa, e agora que regressou é que se calhar reparamos na falta que fez este tempo todo. Gostei também muito do jogo que o Rúben Amorim fez, e mantenho a convicção de que será ele a opção mais correcta para ocupar aquela posição na nossa equipa. Além disso, sendo ele benfiquista como é, dá-me sempre um prazer especial ver a forma como sente a camisola, e festeja cada golo como se fosse mais um adepto na bancada. Jogo muito bom também do Luisão, e o Maxi parece estar lentamente a subir de forma. Mesmo no jogo de má memória de Israel, já tinha ficado com essa ideia.

Talvez os nossos jogadores se sintam neste momento revoltados pelo exagero dos ataques de que têm sido alvo na comunicação social, sempre sedenta de sangue quando se fala do Benfica, e que aproveita qualquer mau momento para tentar deitar ainda mais abaixo.
O que eu sei é que gostei mesmo muito de ver a resposta da equipa às críticas que sofreram após a derrota em Israel, e a forma como eles festejaram os golos. Vi união e entreajuda dentro do campo, vi vontade de dar um pontapé no mau momento, e isso dá-me confiança para o futuro próximo.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Atroz

Nem sei se vale a pena estar a escrever sobre o jogo em Israel. As opiniões já estarão há muito formadas: o Benfica perdeu vergonhosamente por três a zero contra uma equipa muito inferior, e daí pode-se desde logo inferir que jogámos muito mal, que os jogadores não prestam, ou que o treinador não percebe nada disto. Eu por acaso discordo de alguns destes 'factos' - apesar de concordar plenamente com o quão vergonhoso o resultado foi - e provavelmente serei acusado de estar a tentar branquear qualquer coisa por discordar. Mas paciência, escrevo sempre sobre aquilo que vi, e eu não nos vi jogar assim tão mal como o resultado pode fazer crer.

Só um resultado servia ao Benfica esta noite: a vitória. E o onze que entrou em campo estava orientado para a procura desse resultado, sendo bastante ofensivo, com Salvio, Aimar e Gaitán no meio campo, tal como acontecera frente à Naval. Apesar de recuperado da lesão, o Cardozo manteve-se no banco, mantendo o Kardec a titularidade. A atitude da equipa foi também consentânea com a imposição do resultado a conquistar: partimos à procura da vitória desde o primeiro minuto. Nem sempre fazendo as coisas da melhor maneira, é certo, mas julgo que para quem quer que estivesse a ver o jogo a superioridade do Benfica no mesmo era evidente. Evidente começou também logo a parecer a nossa falta de eficácia no ataque, pois cedo começou o desperdício. Nem vale a pena enumerar as oportunidades falhadas, tantas foram. Os israelitas ficavam-se no seu meio campo, jogando com bastantes cautelas, mas como tantas vezes acontece em jogos destes, da primeira vez que foram à nossa baliza, marcaram. Primeiro ameaçaram com um remate ao lado, e logo de seguida, no seguimento de um livre, uma bola cabeceada ressaltou no David Luiz e acabou no fundo da nossa baliza, isto com vinte e quatro minutos decorridos. E nada mais fizeram em termos ofensivos durante a primeira parte, que passou a ser simplesmente o cerco do Benfica à área adversária, e um desfilar de oportunidades desperdiçadas. A resposta imediata do Benfica ao golo foi, aliás, bastante positiva: logo a seguir ao golo Kardec, isolado pelo Gaitán, não conseguiu sequer acertar na baliza; e à meia hora de jogo o Benfica marcou mesmo, pelo Saviola, mas o golo foi mal invalidado por um fora-de-jogo inexistente assinalado ao Kardec.

Ao intervalo o Saviola ficou nos balneários para dar o seu lugar ao Cardozo - julgo que a intenção do nosso treinador seria a de dar mais algum poder aéreo ao nosso ataque, já que da quantidade absolutamente incrível de cantos (julgo que foram dezasseis) e livres laterais de que dispusemos na primeira parte não resultou praticamente uma ocasião de perigo. Mas
a segunda parte foi mais do mesmo. Pressão constante do Benfica na procura do golo, e oportunidades falhadas umas a seguir às outras. Bolas cortadas em cima da linha, remates mal feitos pelos nossos jogadores, de tudo um pouco menos o mais importante, que era meter a bola na baliza. E quando na Champions se falha tanto no ataque, e a isso se junta desconcentração na defesa, estamos sujeitos a sofrer as consequências, mesmo quando o adversário se chama Hapoel. Para que tenhamos uma ideia do quão dominado estava a ser o Hapoel neste jogo, o primeiro remate que fizeram na segunda parte foi aos sessenta e nove minutos de jogo. Antes disso, tinham rematado quando marcaram o golo, o que significa que passaram quarenta e cinco minutos seguidos - metade de um jogo - sem conseguirem fazer sequer um remate.

Mas a estatística não conta para nada nestas coisas, o que contam são os golos, e no segundo remate feito na direcção da baliza, os israelitas marcaram outra vez. Foi um golo muito difícil de aceitar, pois na sequência de um canto (nós em vinte não criamos perigo, e eles no primeiro ou segundo que têm marcam logo) é o David Luiz quem corta na direcção da baliza, e depois a bola atinge o Javi García, que fica estranhamente apático enquanto um adversário aproveita para marcar. Este segundo golo, obtido a quinze minutos do final, marcou na prática o final do jogo para nós, pois a equipa acusou-o demasiado. Apesar de continuarem a tentar, as coisas passaram a ser feitas de forma ainda mais atabalhoada, com a agravante de termos a equipa praticamente partida em dois, pois após o golo deu-se a saída do Javi, e quem atacava já não defendia. O terceiro golo do Hapoel, portanto, não surpreendeu, já que nesta fase eram muitos os espaços dados na defesa para que eles pudessem explorar o contra-ataque.

Não consigo nem quero eleger melhores ou piores esta noite, porque poderia parecer que estava a arranjar bodes expiatórios para a derrota. Ganhamos todos e perdemos todos, e hoje esteve tão mal o ataque ao falhar aquelas oportunidades como esteve a defesa ao consentir os golos que consentiu.

O resultado é pesadíssimo e vergonhoso, porque se já seria sempre uma vergonha para o Benfica perder como o Hapoel, quanto mais será perder por estes números. Não consigo, honestamente, condenar a atitude da equipa, ou dizer que jogaram muito mal, porque não foi isso que eu vi. Não tivemos, claramente, a sorte do jogo, e por cima disso cometemos erros que não se podem cometer na Champions League, independentemente do nome do adversário - se eles lá estão é porque algum valor terão. Se calhar o que estes três jogos fora para a Champions nos permitem concluir é que a nossa equipa não tem ainda 'calo' para isto. Antes desta noite, já o jogo com o Schalke tinha sido muito mal perdido, e é pardoxal que chegue ao final de um jogo em que fomos derrotados por três golos sem resposta com uma sensação de injustiça atroz. Mas esta injustiça não acontece apenas por acaso; acontece também porque nós demos condições para que ela ocorresse. A continuidade na Champions está definitivamente posta de parte, e resta-nos agora a qualificação para a Liga Europa (que ainda não está garantida), onde teremos que tentar limpar um pouco a imagem.

domingo, novembro 14, 2010

Expressiva

Vitória por números expressivos num jogo em que, durante a primeira parte, a Naval se bateu olhos nos olhos com o Benfica, e criou-nos problemas sérios. Ainda assim, e a espaços, o Benfica acabou por mostrar pormenores e jogadas bastante interessantes, construindo ocasiões de golo em número suficiente para justificar o resultado dilatado. Mas pelo que a Naval, julgo que mereceria não sair da Luz a zero.

Muitas alterações no onze inicial, devido às diversas indisponibilidades para este jogo. Maxi, Carlos Martins e Luisão suspensos, Javi Garcia lesionado. Para os seus lugares avançaram as escolhas óbvias: Rúben Amorim, Salvio, Sídnei e Airton. O jogo mostrou logo, desde o apito inicial, uma Naval muito atrevida e apostada em causar problemas. Os jogadores rápidos que tinha no ataque conseguiam libertar-se com alguma facilidade dos nossos defesas, e praticamente na primeira jogada do encontro criaram um lance de perigo. Aos sete minutos já o Roberto era obrigado à defesa da noite, impedindo que a Naval se colocasse em vantagem. Por outro lado, o atrevimento ofensivo também abria espaços atrás e dava alguma liberdade aos nossos jogadores no ataque, pelo que o Benfica também ia criando oportunidades, o que resultou num jogo bastante aberto e interessante de seguir, com os golos a parecerem poder surgir em qualquer uma das balizas. O Benfica foi mais eficaz e marcou cedo, logo à passagem dos dez minutos. Depois de uma boa iniciativa do Salvio, este desmarcou o Saviola na direita, que à segunda tentativa fez um centro rasteiro para o Kardec encostar.

Ao golo seguiu-se um bom período do Benfica, em que criámos ocasiões para dilatar a vantagem, o que só não aconteceu por acção do guarda-redes da Naval, que conseguiu negar o golo ao Aimar e ao Saviola, quando estes lhe apareceram isolados pela frente. A resposta da Naval foi atirar a primeira bola ao poste, na sequência de um livre, e a partir daqui o jogo entrou num período em que ambas as equipas conseguiam criar perigo de cada vez que atacavam. Houve mais oportunidades de parte a parte, mas no período final da primeira parte o Benfica pareceu acusar um pouco a aparente inferioridade física do Kardec, que aparentemente não recuperou por completo de um lance em que se lesionou sozinho (ao falhar uma oportunidade flagrante, não acertando na bola quando tinha tudo para marcar). A Naval voltou a atirar uma bola ao poste, aproveitando alguma passividade do sector recuado da nossa equipa, que permitia que os jogadores adversários progredissem no terreno sem que lhe fosse movida grande oposição. A vantagem mínima ao intervalo aceitava-se, mas até se aceitaria um resultado com mais golos de parte a parte, e não escandalizaria se a Naval saísse em vantagem.

A segunda parte foi diferente. O Benfica resolveu a questão da incerteza no marcador logo a abrir, com um grande golo do Gaitán, aproveitando a recarga a um remate do Aimar (sendo que esse lance já poderia ter dado golo). Pouco depois o inferiorizado Kardec foi substituído pelo Jara, e este facto veio ajudar também a melhorar o nosso jogo, já que a mobilidade e combatividade do Jara vieram causar à defesa da Naval problemas que o Kardec não lhes tinha criado. As oportunidades começaram a a suceder-se para o nosso lado, e a Naval, apesar de continuar sempre a tentar, já não conseguia criar o perigo que tinha criado na primeira parte (também por algum maior acerto dos nossos jogadores mais recuados). O terceiro golo apareceu pouco depois do primeiro quarto de hora desta segunda parte, novamente pelo Gaitán, que apareceu solto no segundo poste a finalizar de primeira um centro do Salvio do lado direito. E a sensação que tínhamos era de que mais golos poderiam acontecer, porque o Benfica continuava a criar oportunidades de golo. O Aimar ainda acertou no poste (e bem merecia esse golo), mas só mesmo perto do final da partida é que o marcador voltou a funcionar, num dos momentos altos da noite. O recém-entrado Nuno Gomes disputou uma bola já fora da área com o guarda-redes da Naval, e depois de ganha a bola, já em dificuldade (tenho a certeza que sofreu falta) e de um ângulo apertado, fez o golo. Foi o final ideal para este jogo.

O melhor jogador do Benfica esta noite foi, para mim, o Aimar. É um privilégio poder ver a camisola do Benfica envergada por um jogador com esta qualidade. Nota-se imediatamente a diferença quando a bola lhe chega aos pés, porque o nosso futebol é logo pensado com outra qualidade. Na primeira parte a Naval ainda tentou limitar-lhe as acções durante uma boa parte do tempo, mas na segunda parte já não conseguiu fazê-lo e ele aproveitou para encher o campo. Bom jogo também do Salvio. Sempre muito combativo, deu profundidade ao nosso jogo pela direita, esteve em dois golos, e deu uma preciosa ajuda a defender. Só precisa de controlar algum excesso de voluntarismo, que o leva a complicar ou falhar algumas jogadas por querer fazer demasiado. Menção também para o Roberto, que fez um jogo sem falhas.

Era importante uma vitória dilatada, após a jornada negra do fim-de-semana passado, e isso foi conseguido, mesmo com praticamente meia equipa ausente. Escusados eram os sobressaltos da primeira parte, em que só graças ao Roberto e aos postes é que não sofremos golos. O que temos que fazer agora é ir pensando jogo a jogo, e cumprir a nossa obrigação de vencer. Estamos no segundo lugar (apesar da campanha individual do Pasquim para estabelecer a sua própria classificação da Liga), não queremos largá-lo, e quanto ao resto logo se vê.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Desastre

Jorge Jesus juntou-se, por mérito próprio, a uma longa galeria de notáveis treinadores do Benfica que, chegando a um jogo importante, resolvem inovar tacticamente. E falham rotundamente. Sim, escrevo estas linhas com a plena noção de que é muito fácil falar e criticar depois do desastre ter acontecido, mas não tenho grandes dúvidas que a maior parte dos benfiquistas terá, tal como eu, começado logo a torcer o nariz assim que soube qual seria o onze inicial.

E este onze incial foi quase que uma fotocópia do pior que vimos no tempo do Quique Flores, com David Luiz a lateral esquerdo ou Aimar como segundo avançado. No início da época perdemos a Supertaça para este mesmo adversário, num jogo em que fomos surpreendidos pelo avanço do Coentrão no terreno. Hoje isto voltou a acontecer. Dá para nos interrogarmos de que serve termos um dos melhores laterais esquerdos do futebol actual se, quando chega um jogo mais difícil, a primeira opção parece ser retirá-lo do seu lugar. Depois há a questão do Aimar. Sim, quer o Aimar, quer o Carlos Martins estão num bom momento de forma. Mas isto não significa que tenham obrigatoriamente que jogar sempre os dois, e há que escolher. O treinador optou pela solução mais fácil, que foi não ter que fazer uma escolha. Empurrou o Aimar para a posição onde conseguiu passar a sua primeira época em Portugal quase despercebido, e retirou da equipa o Saviola. Que está, sabemo-lo, em má forma. Mas é, na minha opinião, muito importante em toda a manobra ofensiva. E a sua experiência e sangue frio seriam, sem dúvida, importantes num jogo destes.

O resultado das alterações tácticas começou a ver-se logo ao fim de dez minutos, quando após uma incursão precisamente pelo lado esquerdo da nossa defesa, o porto marcou praticamente no primeiro ataque que fez, com o Varela, à vontade no meio da área, a empurrar para a baliza vazia após um centro do Hulk, que passou com facilidade pelo David Luiz. E não foi certamente por acaso que o porto continuou a criar perigo sempre por aquele lado. A opção do David Luiz para tentar travar o Hulk causou mais problemas que soluções. Uma das maiores armas do Hulk é a velocidade, e não é certamente o David Luiz que tem velocidade para o acompanhar. Por isso mesmo, acabou por demonstrar excessiva preocupação com o seu adversário directo, e mover-lhe uma marcação praticamente ao homem, subindo mesmo no terreno para o acompanhar sempre que ele recuava, e deixando uma auto-estrada nas suas costas. Auto-estrada que foi aproveitada, com uma eficácia terrível, pelo porto, que em mais duas jogadas por esse lado fez mais dois golos. Ambos pelo Falcao, aproveitando centros do Belluschi, que era quem explorava o espaço deixado nas costas do lateral. Antes da meia hora de jogo, o Benfica tinha o jogo perdido. No ataque, as coisas não funcionavam melhor: à tal meia hora de jogo, o Benfica tinha tantos remates quantos os do adversário (seis), sem nada para mostrar, e apesar de ter beneficiado de uma série de cantos e alguns livres, viu o Carlos Martins marcá-los praticamente todos mal.

Na segunda parte pouco restaria ao Benfica senão minimizar os estragos. A opção inicial foi revertida com a entrada do Gaitán para o lugar do Sidnei, e o jogo foi decorrendo de forma algo monótona, animado esporadicamente pelos golfistas de bancada que abundam naquele estádio. O Benfica não demonstrava - aliás, nunca demonstrou - capacidade para criar perigo (acho que me lembro apenas de uma oportunidade de golo, num remate do David Luiz após um canto - por acaso não marcado pelo Carlos Martins - que foi defendido com algum aparato pelo Hélton) e o porto não precisava sequer de se esforçar, pois tinha a certeza de que o jogo estava mais do que ganho, restando apenas saber por quantos. Como se as coisas não estivessem a correr suficientemente mal, até o nosso capitão e jogador mais experiente em campo perdeu a cabeça e foi justamente expulso, após dar uma cotovelada num adversário. E nos dez minutos finais foi construída a goleada, primeiro após um erro do Coentrão que permitiu ao Hulk arrancar um penálti, e depois num grande remate de fora da área do mesmo jogador.

Depois de um jogo destes não há forma de escolher melhores ou piores; todos estiveram mal. Mas critico a atitude do Luisão que lhe valeu a expulsão porque nunca a esperaria vinda dele. Nunca dele. É o nosso capitão, é um símbolo actual do clube, e mesmo considerando as circunstâncias à volta do jogo, e a forma como ele nos estava a correr, não consigo aceitá-la pacificamente.

Não é tanto o facto do Jorge Jesus ter decidido 'inventar' que me desilude. O que me desilude é a natureza dessa 'invenção'. Porque, pela primeira vez desde que ele chegou ao nosso clube, adivinhei-lhe medo nas suas acções. E isso é algo que, para mim, não pode existir no Benfica. Aceitaria melhor que o Benfica fosse goleado tentando ganhar o jogo, do que sê-lo tentando não perder. A reconquista da Liga ficou agora muito longe do nosso alcance. Mas temos dois terços do campeonato para disputar, e a obrigação de dar e fazer o nosso melhor. Que é mais, muito mais do que aquilo que eu vi esta noite. Após uma das páginas mais negras da minha vida de benfiquista, resta-me levantar a cabeça, ocupar o meu lugar no próximo jogo na Luz, e gritar ainda mais alto pelo meu Benfica. Nem admito outra opção.

terça-feira, novembro 02, 2010

Importante

Podia ter sido uma noite histórica, a assinalar o 125º aniversário do nascimento daquele que foi um dos nossos fundadores e um dos maiores benfiquistas de sempre. Infelizmente, borrámos um bocado a pintura no último quarto de hora, e assim acabamos por nos alegrar 'apenas' com a importante vitória alcançada frente ao Lyon, que nos permite continuar a pensar no apuramento para a próxima fase, já que continuamos dependentes apenas de nós próprios.

A surpresa no onze foi dada pela ausência de última hora do Aimar, saltando o Salvio para a equipa inicial. Este foi jogar encostado à direita, cabendo ao Carlos Martins o papel de organizador. Na esquerda, desta vez o Coentrão jogou a lateral esquerdo, cabendo ao Peixoto a função de médio. O jogo começou equilibrado, e com o Benfica a jogar com alguma velocidade, sobretudo pelo lado direito através do Salvio. O Lyon mostrava ser capaz de criar perigo, e das duas primeiras vezes que rematou, introduziu mesmo a bola na nossa baliza, mas ambos os lances foram anulados por fora-de-jogo. A resposta do Benfica foi dada primeiro com remates do Salvio e do Coentrão, e aos vinte minutos marcámos o primeiro. Foi um livre na esquerda, marcado pelo Carlos Martins, ao qual o Kardec deu o melhor seguimento, cabeceando para o fundo das redes. O jogo continuava a mostrar algum equilíbrio na posse de bola, mas era o Benfica quem conseguia criar maior perigo, sobretudo por conseguir sair com velocidade para o ataque quando recuperava a bola, através sobretudo do Salvio e do Coentrão.

Foi numa destas saídas, após uma recuperação da bola no meio campo defensivo, que surgiu o segundo golo. O Benfica construiu uma situação de superioridade numérica, e o Coentrão, descaído para a esquerda da área, correspondeu ao passe do Carlos Martins com um remate de primeira que só parou no fundo da baliza. O Benfica ganhava uma vantagem de dois golos pouco depois da meia hora de jogo, o que parecia ser ideal para enfrentar o resto do jogo com alguma tranquilidade. Este segundo golo pouco alterou o pendor do jogo. O Lyon mostrava-se incapaz de furar a nossa defesa, e o Benfica continuava a criar perigo através de transições rápidas. O Salvio voltou a estar perto de marcar, mas o guarda-redes Lloris negou-lhe o golo com uma boa defesa, para depois o Peixoto falhar a recarga de forma incrível, não acertando na bola. Mas não foi preciso esperarmos muito para que o marcador voltasse a funcionar a noss favor. Dois minutos depois (quando faltavam apenas três minutos para o intervalo), canto do Carlos Martins e o Javi García, aproveitando a desconcentração da defesa francesa, apareceu à vontade na pequena área para marcar um golo aparentemente fácil. Três a zero ao intervalo, e o jogo parecia estar mais do que resolvido.

A segunda parte começou como nos convinha: muito morna. O Lyon tinha agora ainda mais posse de bola, até porque o Benfica parecia estar mais na expectativa, mas continuava a mostrar-se incapaz de causar perigo no ataque. O Benfica limitava-se a esperar por alguma oportunidade para voltar a criar perigo em contra-ataque, e acabou por chegar mesmo ao quarto golo desta forma. Novamente o Salvio a sair com a bola, colocando-a nos pés do Carlos Martins, e este, com a quarta assistência da noite, deixou o Fábio Coentrão isolado, aproveitando este a saída do Lloris para batê-lo com um chapéu. Com quatro golos de vantagem e a vinte minutos do final, fez-se a natural poupança de alguns jogadores, mas a equipa pareceu acusar demasiado as trocas e não voltou a ser a mesma. Sem estar a culpabilizar directamente os jogadores em questão, a verdade é que sabemos que no plantel há jogadores que dão perfeitamente para consumo interno, mas para a Champions já é outra história, e o último quarto de hora foi penoso de assistir. Até porque a equipa pareceu também ceder um pouco em termos físicos. O Lyon marcou três golos: primeiro pelo Gourcuff, a quinze minutos do final, rematando um centro rasteiro vindo do lado esquerdo da nossa defesa; depois pelo Gomis, a cinco minutos do final, na sequência de um canto e aproveitando um desvio ao primeiro poste; e finalmente pelo Lovren, na última jogada do encontro, tirando o melhor partido de uma saída desastrada do Roberto a um livre despejado para a área, desentendendo-se com o Javi.

A escolha das figuras do jogo é óbvia: Carlos Martins e Coentrão. O primeiro conseguiu fazer as assistências para os quatro golos. Fazer quatro assistências num jogo já é obra, e duvido que muitos jogadores se possam gabar de o ter feito num jogo da Champions. Cumpriu na perfeição o papel de organizador de jogo, e quando saiu, esgotado, a equipa acusou bastante a sua ausência. Quanto ao Coentrão, jogou a lateral esquerdo, conseguiu marcar dois golos e ser um dos jogadores mais perigosos da equipa. Se anda muita gente interessada nele, então depois deste jogo no palco da Champions, a sua cotação deve ter subido ainda mais. É justo também mencionar o bom jogo do Salvio, sempre muito activo do lado direito, e com contribuição importante em dois dos golos.

Foi pena aqueles quinze minutos finais e os golos sofridos, porque desperdiçámos a possibilidade de ficarmos em vantagem sobre o Lyon no confronto directo. Mas o mais importante, a vitória, foi conseguido, e a velocidade nas saídas para o ataque e eficácia demonstradas nos primeiros setenta e cinco minutos são de realçar. Não deixa de ser algo preocupante a aparente quebra física nos minutos finais, mas também é verdade que os nossos jogadores foram obrigados a correr muito para se superiorizarem ao Lyon daquela forma.