sexta-feira, dezembro 22, 2006

Generoso

Pode parecer estranho eu dizer isto após um jogo em que o Benfica ganhou folgadamente por quatro golos sem resposta, mas considero que foi uma vitória muito feliz a que conquistámos hoje. Apesar de não achar que a nossa vitória esteja em causa, tenho a nítida impressão de que ela se verificou por números bem mais expressivos do que a produção de ambas as equipas em campo justificaria. Pode-se dizer que o nosso clube teve um presente de Natal generoso.

Em equipa que ganha não se mexe, e o Benfica entrou hoje em campo com exactamente o mesmo onze que no fim-de-semana passado derrotou o V.Setúbal por 3-0. Mais precisamente, o Benfica jogou da mesma forma que jogou durante a segunda parte do referido jogo, encostando o Kikin à direita do ataque, e jogando em 4-3-3. E tal como no fim-de-semana passado, o Benfica não entrou bem no jogo. Foi sim o Belenenses quem pareceu entrar mais seguro e confiante, trocando bem a bola e segurando o Benfica, que mostrava dificuldades em conseguir chegar à baliza de um adversário que quando perdia a bola defendia com os onze jogadores atrás da linha da bola. Só que mais uma vez o Benfica acabou por marcar naquela que foi praticamente a primeira oportunidade criada, se é que se pode chamar aquela jogada de oportunidade: o Katsouranis passa a bola para o Nuno Gomes na área, que não a consegue controlar e acaba então por ser jogada com o braço pelo defesa belenense. Penalti concretizado exemplarmente pelo Simão, e Benfica em vantagem.

E não se alterou muito o cariz do jogo após este golo. Continuou a ser o Belenenses a dispor da posse de bola durante a maior parte do tempo, e sinceramente sempre me pareceu que era mais provável o empate surgir do que um segundo golo nosso. Até porque o ataque parecia estar bastante apático. Com a excepção do costume (Simão), o Nuno Gomes pratcamente não chegava a receber bolas em condições, enquanto que o Kikin, encostado ao flanco, estava a fazer um jogo muito fraco, e ao contrário da segunda parte contra o Setúbal, pouco me impressionou. Foi apenas perto do final dos primeiros quarenta e cinco minutos que o Benfica pareceu despertar um pouco, aproximando-se mais da baliza adversária e desperdiçando duas boas ocasiões de remate, após iniciativas do Nuno Assis. E acabou por chegar ao segundo golo, mais uma vez de uma forma feliz. Na sequência de um livre a bola tabela na barreira belenense e acaba por encaminhar-se para a baliza, enganado o guarda-redes Costinha (felizmente ele hoje não estava numa daquelas noites alucinadas). Eu nem sequer consegui perceber qual era a intenção do Karagounis quando marcou o livre. É que o livre era indirecto, o árbitro estava a assinalar isso claramente, e mesmo assim o grego optou pelo remate directo à baliza. Mas o que conta é que foi golo, e assim chegámos ao intervalo com dois golos de vantagem, aparentemente sem termos sequer dispendido um grande esforço para obtê-los.

Na segunda parte, mais do mesmo: uma vez mais o Belenenses a entrar com vontade de reduzir cedo a desvantagem, enquanto que o Benfica parecia mais apostado em explorar oportunidades de contra-ataque que se proporcionassem. E já depois de uma defesa excepcional do Quim, a negar o golo aos de Belém, chegámos ao terceiro golo, num dos momentos altos da noite, pois era nítido que o público hoje presente na Luz (mais de 42.000 espectadores) estava a torcer para que o mexicano finalmente acabasse com o jejum de golos. Após um centro do Karagounis na direita o Nuno Gomes assistiu de cabeça o mexicano, que, sozinho, apenas teve que mergulhar e colocar a bola de cabeça junto ao poste. A forma como a equipa festejou o golo mostrou também que eles sabiam o quanto este golo era importante para o Kikin. Daqui até final, apesar do muito tempo que faltava, foi mais do mesmo. O Belenenses continuou à procura do golo (mérito na forma como nunca baixaram os braços), que foi sendo negado pelo Quim ou pelos defesas do Benfica, e o Benfica foi-se deixando ficar na expectativa de um contra-ataque bem sucedido.

Outro momento a destacar foi quando, a vinte minutos do final, o nosso treinador decidiu trocar o Karagounis pelo Beto. Primeiro tem que se destacar o momento pela negativa: é incompreensível que, ainda por cima estando o Benfica a ganhar, haja tanta gente a assobiar o Beto mal ele entra em campo. Que raio, ele faz o que sabe, e se não sabe fazer mais pelo menos nunca o podem acusar de falta de entrega. Eu não sou fã do Beto, mas ele é um jogador humilde que dá o que tem e nunca levanta ondas. Porque raio é que hão-de assobiá-lo ainda antes dele dar qualquer toque na bola? Felizmente, alguns minutos mais tarde, houve oportunidade de remissão, quando após ser assinalado um livre a favor do Benfica ainda bastante longe da baliza adversária o estádio em peso entoou o nome do Beto e 'pediu' que fosse ele a marcá-lo. O Beto agradeceu o encorajamento e o Simão, que estava perto da bola, chamou-o para marcar o livre. Mas quando toda a gente (incluindo os jogadores do Belenenses) esperava um remate de longe do Beto, o Simão colocou a bola na área, onde surgiu o Katsouranis a colocar a bola de cabeça sobre o Costinha, para quebrar o 'enguiço' do número três. E por aqui se ficou o jogo, já que o Belelneses pareceu finalmente deixar cair os braços, enquanto que o Benfica se recreava com a bola, trocando-a entre os seus jogadores.

Mais uma vez o Simão foi um dos melhores em campo. Agora que ele parece estar a regressar ao seu lugar natural, tem estado a um nível muito alto nos últimos jogos. O Quim, naturalmente, merece destaque, porque efectuou várias defesas, algumas delas daquelas 'impossíveis', e foi um dos grandes responsáveis pelo nulo do Belenenses. Em geral gostei da defesa, mas saliento o Ricardo Rocha e o Léo, este último pelo apoio que deu sempre ao ataque (hoje o Nélson esteve mais retraído). O Katsouranis, apesar de cansado, não sabe jogar mal. eu não me canso de admirar e elogiar este jogador, que é um espectáculo ver jogar devido à inteligência que tem. Sabe sempre onde está o colega mais bem colocado para receber a bola, e raramente complica, jogando sempre a 2/3 toques. Para além disso aprece frequentemente na zona de finalização, e hoje lá somou mais um golo.

Enfim, hoje os benfiquistas tiveram uma verdadeira prenda de Natal, com uma goleada aos pastéis. Desta vez passou-se o contrário do habitual: têm sido várias as vezes que eu este ano saio do estádio com a sensação de que, mesmo com a vitória conseguida, o resultado soube a pouco, tal a quantidade de oportunidades desperdiçadas. Esta noite o Benfica aproveitou tudo o que havia a aproveitar, e à custa disso acabou por construir um resultado que me parece ser demasiado generoso para a produção da equipa. Mas soube tão bem como qualquer outra vitória, ou talvez até um bocadinho melhor após o atrevimento das declarações do Jesus antes do jogo, aliado ao facto do Belenenses ser um clube com o qual eu nunca simpatizei muito (devido aos seus laços fraternais com o clube lá de cima). Além de que, desportivamente, eles o ano passado não mostraram ter valor suficiente para disputarem a Primeira Liga este ano.

P.S.- Uma vez que o autor deste blog vai agora entrar numas curtas férias, aproveito a oportunidade para desejar aos visitantes deste espaço Boas Festas e um Feliz Natal.

domingo, dezembro 17, 2006

Calmo

Conseguimos esta noite um triunfo bastante calmo, num jogo com duas partes totalmente distintas, mas sem grandes sobressaltos e onde a nossa superioridade nunca foi posta em causa.

Perante a indisponibilidade do Miccoli, alinhámos com a dupla Nuno Gomes/Kikin na frente de ataque. O Katsouranis ocupou o lugar do Petit no vértice mais recuado do losango, passando o Karagounis para o posto de interior direito. Para o lado esquerdo regressou o Nuno Assis, ficando mais uma vez entregue ao Simão o vértice mais adiantado, com liberdade para se movimentar pela frente de ataque. E não entrou bem o Benfica. Estranhamente era o Setúbal quem tinha mais posse de bola, e quem parecia mais interessado em chegar ao golo, enquanto que o Benfica parecia bastante apático, numa atitude de quem deixa correr o jogo à espera do golo, que há-de aparecer. A verdade é que nos primeiros dez minutos o Setúbal construiu duas boas oportunidades de golo: primeiro um remate de longe do Amuneke que o Quim defendeu para canto, e na sequência do mesmo é o Léo quem evita o golo em cima da linha.

Mas a verdade é que o golo apareceu mesmo, e quase que por acaso. Numa jogada confusa, em que o Setúbal é incapaz de aliviar a bola, esta acaba por ir ter com o Nuno Gomes, que domina de peito e, isolado, marca com facilidade. Pensei que uma vez marcado o primeiro o Benfica acordasse um pouco e passasse a jogar melhor, mas pouco se alterou. O jogo continuou a mesma sonolência, e continuava a ser o Setúbal quem acabava por ter mais tempo a bola em seu poder, o que me levou até a comentar para o meu colega de bancada que esta noite estávamos a apostar numa estratégia de contra-ataque. Pareceu-me que durante os primeiros quarenta e cinco minutos houve alguma confusão por parte dos jogadores benfiquistas, em particular na dupla de avançados. É que eles não se pareciam entender sobre quem é que deveria jogar metido no meio da defesa adversária, e quem deveria vir buscar jogo mais atrás ou cair para os flancos. Vi várias vezes o Kikin e o Nuno Gomes a falarem em campo parecendo estar a decidir isto. Ao fim do que me pareceu um longo bocejo, chegou o intervalo.

Na segunda parte apareceu um Benfica transfigurado. A começar pela táctica: o Kikin foi-se encostar mais à direita, o Simão na esquerda, e alinhámos num esquema que era mais um 4-3-3 em vez do losango da primeira parte. Para além disso houve jogadores que subiram muito de rendimento após o intervalo, casos do Nuno Assis, Kikin, Nuno Gomes, Nélson ou Léo. Isto para não falar na diferença de atitude da própria equipa, que agora sim, parecia ter vontade e alegria em jogar futebol. O resultado de tudo isto foi que houve demasiado Benfica para que o Setúbal o conseguisse suster. Com um Nélson muito mais ofensivo do que na primeira parte, logo nos primeiros minutos ele mesmo ofereceu dois golos praticamente feitos, o primeiro deles desperdiçado de forma escandalosa pelo Simão, e o segundo a resultar numa boa defesa do Nélson após cabeceamento à queima-roupa do Nuno Gomes. Nesta fase o Setúbal mal conseguia passar do meio-campo, enquanto que o Benfica ia lançando ataque após ataque e sufocando o adversário cada vez mais perto da sua área.

O golo da tranquilidade acabou por surgir pouco depois, com um bom remate do Simão aproveitando um outro remate torto do Luisão, que tinha subido até ao ataque (já dava para isto) e foi solicitado pelo Kikin após uma boa jogada individual do mexicano. A segunda parte só dava Benfica, e a equipa não mostrou sinais de abrandamento após este segundo golo, continuando a carregar na procura de novo golo. A questão agora era quanto tempo iria demorar até que o conseguisse marcar. É que temos uma tradição a manter, e portanto o terceiro golo lá teria mesmo que surgir. Isto aconteceu já perto do final do jogo, quando o Manú já tinha entrado para o lugar do Kikin. Foi dele o primeiro remate, após passe do Nuno Gomes, tendo depois aproveitado o ressalto para centrar atrasado, correspondendo o Nuno Assis com um remate de primeira para um bonito golo. Até final ainda deu para o Benfica ameaçar marcar um quarto golo, e o Nuno Gomes viu mesmo um remate seu ser desviado para a trave pelo guarda-redes sadino.

Houve vários jogadores que me impressionaram favoravelmente esta noite. O Simão está mesmo num grande momento de forma, e terá sido o que conseguiu manter um nível exibicional constante, mesmo durante a fraca primeira parte. Conforme disse, houve jogadores que subiram muito na segunda parte, e que realizaram exibições muito positivas nesse período. O Nélson foi o desequilibrador do costume do lado direito, o Léo fez o mesmo do lado esquerdo, aproveitando a deslocação do Simão para a sua posição natural. O Nuno Gomes esteve muito bem neste regresso, após aquela sequência de jogos menos conseguidos. Marcou, e pareceu estar mais confiante e lutador. O Nuno Assis esteve excelente nos segundos quarenta e cinco minutos, com inúmeras recuperações de bola e sendo sempre um dos principais alimentadores do nosso ataque. Foi bem merecido o golo que marcou. Na defesa o Luisão esteve quase sempre no caminho da bola, e foram raros os lances que perdeu. Uma menção também para o Kikin, em especial à sua segunda parte: gostei. Numa altura em que se fala de um possível regresso ao México, espero que tal não suceda e que lhe dêem tempo para se adaptar ao nosso futebol (o que, obviamente, só se consegue com minutos em campo, mas como o Nandinho insiste em não o fazer mesmo quando os jogos estão resolvidos...). No geral acho que não houve nenhum jogador que tivesse estado a um nível particularmente baixo. Parece-me no entanto que os índices físicos do Katsouranis estão longe do ideal, e que esta pausa que se aproxima vem em muito boa altura para o grego.

Foi, tal como afirmei no início, um triunfo calmo, sem grandes sobressaltos, e sem margem para dúvidas. Foi um Benfica um pouco apático na primeira parte, mas que não deu hipóteses na etapa complementar. Espero que seja este segundo Benfica a entrar em campo na próxima quinta-feira para defrontar o Belenenses, que parece atravessar um bom momento de forma.

P.S.- Vi agora a notícia de que o Geovanni esteve na Luz a assistir ao jogo. Aqueles que costumam ler este espaço já devem saber da minha admiração pelo Soneca. Por isso digo apenas que ficaria muito contente se ele fosse um reforço de inverno. Eu sei que isto não deve estar a ser sequer equacionado, mas posso sempre fantasiar.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

UEFA

Saiu o Dínamo de Bucareste. E se conseguirmos ultrapassá-los, jogaremos com o vencedor do AEK x PSG. Não me parece um mau sorteio, e deixa-me confiante. Sobretudo conseguimos evitar o Sevilha, que era sem dúvida a equipa mais forte do lote de possíveis adversários. Além disso, a Roménia é uma das nossas maiores adversárias pelo 6º lugar no ranking da UEFA, pelo que uma vitória do Benfica na eliminatória será ainda mais positiva para Portugal. Agora resta-nos ver se conseguimos uma participação condigna nesta competição. Face ao sorteio, pelo menos a ida aos quartos-de-final está perfeitamente ao nosso alcance.

P.S.- Ainda me recordo de termos jogado contra este mesmo Dínamo há uns anos atrás. Perdemos a primeira mão em casa por 1-0, após um tremendo frango do Robert Enke na sequência de um livre directo, e depois fomos ganhar 2-0 à Roménia (golos do Maniche e do espanhol Chano). O treinador na altura era o Heynckes, e essa participação europeia foi a que terminou com o Celta, da infeliz forma de que nos recordamos.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Licença

Uma boa notícia para mim esta manhã foi a perda da licença de agente FIFA pelo Paulo Barbosa, na sequência de uma queixa apresentada pelo nosso clube após a 'novela' Miguel. Ainda este homem não passava de um tradutor dos russos Kulkov, Yuran e Mostovoi na Luz, e já não era bem visto pelos benfiquistas. Como empresário de jogadores especializou-se em arranjar saídas conflituosas dos clubes por parte dos jogadores que representa, como por exemplo, e só para citar alguns, Miguel, Maniche e Jorge Ribeiro no Benfica, ou Caneira no outro lado da 2ª Circular.

Será que não dava para apresentar também uma queixa que resultasse no Dias Ferreira a ser proibido de exercer advocacia? ;)

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Aniversário

Este blog entra hoje no seu terceiro ano de vida. Faz hoje dois anos que eu, completamente furioso após ter pago €30 para ir ao Restelo e assistir a uma exibição lamentável da nossa equipa, resolvi desabafar na web o que me ia na alma. Dois anos, 67.500 visitantes únicos, e 163.600 page views depois, posso dizer que o resultado está para além de tudo aquilo que eu poderia imaginar quando me sentei à frente do teclado para escrever as primeiras linhas. Nem sequer previ que este 'projecto' durasse tanto tempo. Tem sido um prazer ver este espaço desenvolver-se ao longo deste tempo, e tornar-se numa espécie de sala de convívio virtual para adeptos do nosso clube, tendo-se muitos deles tornado visitantes habituais, e até mesmo meus amigos no 'mundo real'. Queria apenas aproveitar esta 'efeméride' para vos agradecer a todos, que continuam a visitar este blog, e que assim ajudam a renovar e manter vivo o prazer que é para mim partilhar as opiniões de apenas mais um adepto benfiquista.

Mudando de assunto, acabei de reparar que algumas coisas nunca mudam. Ainda mal entrámos em Dezembro, e já começaram a comprar e a vender os nossos jogadores. Claro que o Ricardo Rocha (ainda estou para perceber a fixação que o Record tem neste jogador - nos últimos dois ou três anos já o deve ter colocado em mais de uma dúzia de clubes) é o primeiro a ser referenciado. O Kikin vai a caminho do México, onde o nosso presidente se deslocou, sem dúvida para trazer um camião de jogadores - já está um colombiano na calha. Com o campeonato a parar em breve durante quase um mês (temos um Inverno assim tão rigoroso que justifique uma pausa tão prolongada?) e a consequente falta de notícias, o melhor é começarmos a preparar-nos para o folclore habitual destas alturas. Mas pelo menos tenho um desejo: se na verdade se verificarem alterações no nosso plantel, espero que não se assemelhem ao que aconteceu o ano passado. É que não é descabido dizer que foi por aí que começámos a perder o campeonato.

domingo, dezembro 10, 2006

Nulo

Lamento não poder escrever muito sobre o jogo desta noite, mas não me foi possível vê-lo. Pelos vistos não perdi grande coisa, e uma vez que já sei que o jogo acabou num nulo no marcador, nem sequer estou com vontade de ir ver a gravação. Assinalo apenas aquilo que me parece ser, se analisarmos os números friamente, um atrasar quase irremediável do Benfica na luta pelo título. Num campeonato mais curto que o habitual ficarmos a onze pontos do líder (uma vitória no jogo em atraso deixar-nos-á a oito pontos) já nos coloca demasiado dependentes de outros, e só mesmo muita asneira por parte dos líderes actuais é que nos poderia dar alguma hipótese de os apanhar. É triste que, com os meios de que dispõe, e que nunca estiveram ao alcance dos seus antecessores no cargo, o nosso actual treinador esteja a fazer um trabalho tão fraco.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Curto

Foi pena. Do Benfica que era preciso para vencermos o Man Utd só vimos pouco mais de meia-hora. Não estou aborrecido com a nossa equipa pelo jogo de hoje, mas mais uma vez fico com a sensação de que era possível fazer mais.

O Benfica teve uma entrada óptima no jogo. Tal qual como eu desejava que acontecesse: uma equipa calma, personalizada, a manter a posse de bola e a trocá-la muito bem entre os seus jogadores, e a espreitar o contra-ataque sempre que possível. Além disso, mostrava grande solidez defensiva, evitando que o Man Utd conseguisse criar grandes oportunidades de golo. Perto da meia-hora conseguimos o mais difícil: marcar um golo em Old Trafford e colocarmo-nos em vantagem. Foi um golaço do Nélson, após uma jogada do Simão em que este centrou atrasado para o nosso lateral-direito encher o pé. Até essa altura, parecia que o plano estava a ser executado na perfeição: o adversário completamente controlado, e vantagem no marcador. As estatísticas de jogo mostravam até a superioridade benfiquista no tempo de posse de bola, o que era um reflexo da nossa forma de jogar até então.

Infelizmente após o golo a equipa começou a recuar muito, o que culminou nuns minutos finais da primeira parte de pressão intensa dos nossos adversários. Pior que o recuo da equipa, foi a mudança de mentalidade e da forma de jogar. Se até então dava gosto ver a forma como o Benfica saía das suas situações defensivas, sempre com calma e de forma organizada, durante esses últimos minutos passámos simplesmente a despejar a bola na direcção do meio-campo adversário, o que dava origem a vaga após vaga de ataque dos ingleses. Além disso começaram a surgir vários livres nas imediações da nossa área. E foi mesmo na última jogada da primeira parte, e na sequência de mais um livre, que após uma falha de marcação grotesca (os dois centrais adversários apreceram na área livres de marcação e em condições de cabecear) consentimos o golo do empate. Confesso que senti que o jogo estava perdido após este lance. Só mesmo uma super-equipa conseguiria não acusar sofrer um golo decisivo daquela forma.

A segunda parte mostrou exactamente o quanto a equipa acusou este golo. Os contra-ataques já não saíam, a equipa já não trocava a bola, e o jogo basicamente transformou-se numa espera pelo segundo golo do Man Utd. Que surgiu, mais uma vez, após uma falha de marcação terrível. Mais do que falha, foi mesmo displicência por parte do Katsouranis, que entra na área com o Giggs e depois inexplicavelmente abandona a marcação ao galês, que assim ficou completamente à vontade para matar o jogo. Ainda houve uma ténue tentativa de reacção, sempre por parte do Simão, mas em mais um lance de bola parada surgiu o terceiro golo. Não percebo bem que tipo de marcações se fazem que acabam por deixar o Nélson a marcar o calmeirão do Saha, mas o resultado foi mais um golo aparentemente fácil. Só depois deste terceiro golo é que o Benfica voltou a conseguir jogar algo melhor, e a fazer circular a bola, mas também muito por culpa do abrandamento dos nossos adversários. O resultado estava feito, e agora vamos para a Taça UEFA. O apuramento, tê-lo-emos perdido naquela derrota em casa com o nosso adversário de hoje, não foi em Old Trafford.

Julgo que o melhor da nossa equipa terá sido o Simão. Foi dos que tentaram sempre lutar contra o destino do jogo, e nunca baixou os braços. Não vou apontar más exibições individuais na equipa - acho que hoje falharam como um todo, particularmente nos momentos decisivos do encontro. Não duvido que se soubéssemos ter continuado a jogar da mesma forma como o fizemos na primeira meia-hora de jogo, poderíamos ter ganho. Mas não deu para mais. Agora espero que consigamos fazer uma boa carreira na Taça UEFA, onde temos capacidade para chegar mais longe. E deitem fora os equipamentos deslavados. Sempre que jogamos com eles sofremos três golos.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Nervos

Já me sinto nervoso quando penso no jogo de logo à noite. Nem é um nervoso associado a qualquer tipo de receio, é sim uma espécie de ansiedade. Quero que as horas passem depressa, para que possa ver o Benfica pisar o relvado de Old Trafford. Estes são os jogos que me dão gozo ver. Os jogos em que a nossa equipa é realmente posta à prova, contra adversários de grande valor. É claro que, como benfiquista, acredito na possibilidade de um surpresa. Tanto quanto o ano passado eu acreditava numa vitória em Anfield Road. Mas eu não exijo essa vitória. A única coisa que eu exijo ao Benfica é que no final dos noventa minutos de amanhã eu me sinta (ainda mais) orgulhoso por ser benfiquista. Podemos até perder, podemos sair da Champions, mas se tal acontecer, que o façamos de pé. Que o façamos tentando impor o nosso jogo. Só ficarei realmente desiludido se isto não acontecer, e se me aparecer um Benfica como em Copenhaga ou em Braga. Sempre que o Benfica tentou jogar retraído, dando a iniciativa ao adversário e quedando-se na expectativa, o resultado foi desastroso. Obviamente que não espero que o Benfica se lance desenfreadamente ao ataque, na busca de uma vitória absolutamente necessária. Teremos que saber ser pacientes, mas sem nunca abdicar de discutir o jogo.
Já o disse aqui antes: este seria o apuramento com que eu sonhava, eliminando o Man Utd (equipa de que eu não gosto particularmente) pelo segundo ano consecutivo.

De uma coisa eu tenho a certeza: depois do que se passou o ano passado, o Man Utd também está com medo, e eu tenho esperança que consigamos explorar este receio. Foi em noites como a de mais logo que se fez a história gloriosa do nosso clube.

Força Benfica!

sábado, dezembro 02, 2006

Chiu!

A crónica é comprida, é verdade. Mas há dezoito anos consecutivos que vou a Alvalade ver o Benfica. Nestes anos todos tenho a nítida sensação que foram mais as vezes que vi o Benfica lá ganhar, do que o vi perder. E cada uma dessas vitórias é sempre especial. Sobretudo porque normalmente dá para manter a lagartagem caladinha durante uma semana. Para compensar as outras cinquenta e uma em que são incapazes de parar de falar do Benfica e de nos moerem o juízo. Assim sendo, e por esta semana: Chiu!

Ainda faltavam quase três horas para o início do jogo quando decidi sair de casa e pôr-me a caminho do estádio. Já me sentia demasiadamente inquieto para aguentar estar sentado em casa à espera que os minutos passassem. Conforme já afirmei noutras ocasiões, sempre que temos que jogar contra o clube do Lumiar eu chego a sentir-me fisicamente mal disposto, só por saber que vou ter que os aturar mais perto de mim do que me é confortável. Nem sequer consegui fazer tempo para depois me encontrar com o S.L.B. antes de entrarmos, como tínhamos combinado.

A festa começou logo na paragem do autocarro. Estava lá um grupo de lagartos, que alegremente antevia por quantos é que o clube do avozinho ganharia, e quem é que marcaria os golos (a quantidade de Zandingas que são adeptos de futebol, e o quão convictamente são capazes de predizer as incidências de um jogo de futebol que ainda não aconteceu nunca deixará de me surpreender). Assim que, já no autocarro, passámos em frente ao nosso estádio, uma adepta lagarta, com uma graciosidade paquidérmica e uma finesse brejeira, voltou a prever uma derrota volumosa do Benfica, acompanhando essa previsão de um chorrilho de impropérios que me abstenho de reproduzir. O lagarto que a acompanhava sorriu alarvemente e anuiu, mostrando assim que aquele nível de humor era por ele deveras apreciado. E isto continuou até finalmente entrar no estádio. Goleadas, goleadas e goleadas. Fazendo as contas acumuladas, o Yannick marcaria cerca de 43 golos, seguido de perto pelo Liedson com 39, enquanto que o Nani ficar-se-ia por uns modestos 18 golos.

À entrada do recinto, na fila ao meu lado, um rapazito que não devia ter mais de seis anos, entulhado em parafernália da lagartagem (camisola, cachecol, gorro, cara pintada, etc) e acompanhado pelo pai orgulhoso, foi interceptado pelo segurança.

"- Atão, quantos é que vai ficar o jogo hoje?" - o rapazito estremeceu e olhou para cima com um ar confuso.
"- Quantos é que vai ficar o sportém?" - repetiu o segurança, com uma meiguice digna de um rinoceronte.
"- O sportém vai ganhar..." - respondeu timidamente o miúdo, perante o sorriso embevecido do pai. Mas isto não era suficiente para o representante das forças da ordem.
"- E vai ganhar por quantos?" - insistiu, colocando a manápula no ombro da criança.
"- Três a zero!" - retorquiu o infante. Esta era a resposta mágica, o 'Abre-te Sésamo' do recinto. A resposta pareceu satisfazer o Cérbero de fim-de-semana, que libertou finalmente o inocente das suas garras.

Abalado perante esta lavagem cerebral na via pública, pus-me a caminho do meu lugar. Ainda e sempre no meio de chuvas de golos lagartos, e com a palavra 'três' a ser frequentemente mencionada. Era uma fezada que eles tinham, pronto. Chegado ao meu lugar, fiquei um pouco mais animado ao ver algum vermelho à minha volta. Aqueles eram os lugares vendidos pela internet, e portanto sempre tinha alguns benfiquistas por perto. Mas depressa a minha disposição piorou. Já referi aqui, por mais do que uma vez, o meu ódio de estimação pelo speaker do Estádio da Luz. Pois ali, incrivelmente, consegue ser ainda pior. Para além do histérico de serviço, têm também uma megera ululante a acompanhá-lo. Metem-se então os dois a guinchar ao desafio, e juntando a isso a barulheira irritante feita por aquela espécie de tubos que oferecem aos espectadores, para baterem com um no outro, resulta daí uma cacofonia memorável. Enquanto ouvia o anúncio da constituição das equipas, pensei que a forma como o histérico e a megera o tentavam fazer (sem grande sucesso, diga-se) era boa demais para deixar passar em claro sem gozar com aquilo. Mas depressa me apercebi que nenhuma tentativa de ridicularizar a situação conseguiria ser mais ridícula do que a situação em si. Imagine-se uma tipa histérica a gritar 'ANDERSON POL...', à espera que a multidão lhe respondesse com um entusiástico 'GA!', e ficar-se-á com uma ideia aproximada.

Pouco antes do jogo começar, chegou para a fila à minha frente um pequeno grupo de adeptos rivais. Todos vinham 'equipados' a rigor, de verde e branco, menos um, um miúdo que não teria mais de dez anos, e que vinha 'à paisana'. Assim que se sentaram, o miúdo volta-se para o pai, e diz:
"- Pai, dá-me o cachecol!"
O pai abre uma mochila, tira de lá um cachecol do Benfica, e entrega-o ao rapaz. Este pega nele, olha-o por uns segundos, e devolve-o ao pai:
"- Esse não é o meu!"
O pai guarda o primeiro cachecol na mochila, e retira de lá um novo cachecol vermelho, que entrega ao filho. Este pega no novo cachecol, olha-o e, satisfeito, coloca-o ao pescoço. Olho para o cachecol e leio a inscrição:

"GRAÇAS A DEUS NÃO SOU LAGARTO!"

Não pude evitar sorrir. Ainda por cima, o miúdo procedeu imediatamente ao acto de reafirmar o seu benfiquismo. De cada vez que alguém gritava 'sportém' perto dele, ele voltava-se para a pessoa em questão, abria o cachecol, e gritava a plenos pulmões 'BENFIIIIIIICAAA!!!'.

O benfiquismo no seu estado mais puro daquele miúdo reestabeleceu a minha fé na humanidade. Se a sensação de déjà vu que as perspectivas de goleadas por parte da lagartagem não era já suficiente, aquilo de alguma forma convenceu-me que no final seria eu a sair satisfeito, e que o Benfica me daria uma óptima prenda de aniversário. A constituição das equipas também contribuiu para o meu optimismo. No Benfica, os onze esperados, com o regresso do Luisão e a presença do Miccoli a agradarem-me de sobremaneira. Na lagartagem, as inclusões do Romagnoli e do Bueno a surprenderem-me. Não sei se aquilo também foi uma questão de fé do Paulo Bento. Já que na pré-temporada o Romagnoli tinha resultado contra nós, podia ser que hoje também desse. Para ajudar à festa, o garboso capitão lagarto Custódio também fazia parte dos eleitos. Aquilo prometia. Portanto aquilo com ficámos foi com um frente-a-frente de losangos. O nosso tinha uma particularidade: a aposta do treinador foi em colocar o Simão e o Miccoli como homens mais avançados, tendo o Nuno Gomes nas suas costas, como vértice mais adiantado do losango. Houve depois diversos factores que acabaram por desequilibrar o jogo para o nosso lado, mas num deles a diferença foi estrondosa: nós temos o Simão; eles têm o Nani. E não é preciso dizer mais nada.

Eu tinha prometido a mim mesmo que iria tentar ser comedido durante o jogo e manter um low profile, já que o ambiente era um tanto ou quanto adverso. Mantive a minha promessa durante três minutos. Foi o tempo que demorou até o Ricardo Rocha voltar ao saudável hábito que tinha no Braga de marcar à lagartagem. Eu ainda fiquei quieto quando, antes do golo, o Nuno Gomes cabeceou o cruzamento do Nélson para a defesa do Ricardo para canto. Mas quando na sequência do mesmo o Ricardo Rocha voou imponente nas alturas para fuzilar de cabeça as redes da lagartagem eu não me contive. Gritei desalmadamente, e ainda mandei um sonoro 'EMBRULHA!' no final. Reparei depois que o pequeno benfiquista-feliz-por-não-ser-lagarto da fila à frente estava a olhar para mim e a sorrir. Pisquei-lhe o olho e disse-lhe 'Isto hoje é nosso!', que ele prontamente se encarregou de repetir à pequena trajada de verde a seu lado. Reparei também quando marcámos que tinha do meu lado direito mais um jovem benfiquista (que não estava identificado). Do lado esquerdo tinha uma família inteira de lagartos (diga-se em abono da verdade que o chefe de família revelou sempre um enorme fair play durante todo o jogo, e trocámos cordialmente insultos esporádicos aos nossos jogadores - eu cascava no Nuno Gomes, e ele gentilmente ripostava com um insulto ao Liedson). A lagartagem ficou meio abananada com aquela entrada no jogo do Benfica. Demorou uns bons dez minutos até dar de si, e então lançou-se na busca do empate. Mas cedo deu para verificar duas coisas: que eles não estavam numa noite particularmente insipirada (o Nani então foi uma anedota durante o jogo todo - acho que nunca vi um jogador fazer tantas fintas directamente para fora do campo), e que o Benfica estava muito sólido, com uma equipa bastante coesa em campo e grande entreajuda entre os seus jogadores. Assim sendo, fiquei à espera que recorressem à sua estratégia preferida.

Demorou pouco mais de um quarto-de-hora até que o fizessem. Foi esse o tempo que decorreu até se pedir o primeiro penalti em Alvalade. Já começava a estranhar. Pouco depois pediram outro, quando o Nélson corta uma bola com o peito dentro da área. Mas até nisto nem havia grande convicção. O Liedson já não cai como dantes, e jogadores como o Miguel Garcia não têm a mesma aptidão nestas artes. A lagartagem tentava, mas ou rematavam sem direcção, ou então faziam sempre mais um passe e nem chegavam a rematar. Os nossos dois centrais, em especial o Rocha, iam formando um muro intransponível, e para piorar as coisas até o Quim estava em noite de acerto. Estavam eles entretidos a marrar contra a nossa defesa, quando de repente o Benfica sai em contra-ataque, e com tanta felicidade que a bola foi ter aos pés do Miccoli. Este lançou o Simão na direita, e quando me apercebi que ele tinha o Custódio à frente comecei a adivinhar o que se ia passar. 'É um para um com o estúpido do Custódio, Simão! É só passares por ele que ficas isolado! Agora é só marcar! GOLO!' (eu disse mesmo estas intruções em voz alta - e tenho a certeza de que o Simão as ouviu e marcou golo por causa disso). Este golo atirou-os ao tapete.

Pouco depois, veio um momento que me deliciou. A bola é passada ao Miccoli e este remata de primeira, de fora da área. A bola descreve um arco e embate com estrondo na barra da baliza de um Ricardo já inapelavelmente batido. E foi aqui que eu vi a viragem. Foi aqui que eu olhei em volta e vi-os a todos. Aos lagartos. Lívidos. Sem palavras ou capacidade de reacção. Nos olhos deles, eu vi a forma como os seus sonhos de goleadas ao Benfica num ápice se viravam ao contrário, e se transformavam em pesadelos. Agora a ambição de golear, ou mesmo vencer o Benfica, tinha-se desvanecido. O que subsistia no seu lugar era o pavor de serem goleados em casa. Eles podem negá-lo, mas eu vi o medo nos olhos deles, e o nó nas suas gargantas. O efeito do impacto súbito de se aperceberem que se calhar, afinal, não eram tão bons como pensavam ou lhes queriam vender. O Benfica carregava no final dos primeiros quarenta e cinco minutos, em busca do terceiro golo, e eles apavoravam-se. O Ricardo nega este terceiro golo ao Nuno Gomes, com uma defesa fantástica, e o ar quente que os répteis mantinham no bucho há tanto tempo sobe-lhes à cabeça, e estas incham a olhos vistos. Como o ar quente tolda o raciocínio, assisto então a demonstrações notáveis de fair play, em que diversos adeptos de respectiva cabeça inchada se voltam para trás e começam a invectivar e a ameaçar fisicamente os adeptos benfiquistas mais exuberantes. Eles em grupo são muito valentes. São mesmo um clube diferente. O árbitro apita para o intervalo e um benfiquista atrás de mim comenta para o irmão lagarto (com quem tinha vindo a manter uma discussão bastante divertida durante a primeira parte) 'Já me tiraram o prazer de ter vindo à bola'. Eu apenas me sentia frustrado por não termos espetado o terceiro naqueles gajos. Podia ser que fizesse os lagartos com a cabeça mais inchada irem embora mais cedo.

Na segunda parte o treinador adversário redefiniu o seu losango, fazendo entrar o Yannick e o Carlos Martins para os lugares do inexistente Romagnoli e do anedótico Custódio. O Nani, que já tinha sido patético diante do Nélson, foi tentar a sua sorte para o outro lado, o Carlos Martins colocou-se na esquerda, e o Yannick atrás dos avançados. O Moutinho (que sozinho vale e trabalha pelos outros membros do losango) ficou na posição mais recuada. No nosso lado não mudou nada. E vistas as coisas, do lado deles também não. O Nani limitou-se a mudar de flanco, ou seja, foi patético na esquerda e foi ser patético na direita. O Carlos Martins assumiu a pele de Romagnoli na perfeição, e nem se viu. E o resultado prático foi que eles continuaram a marrar na nossa defesa sem grandes perspectivas de sucesso. Do nosso lado, parecia não haver grande vontade para forçar, e julgo que se começou a pensar em Manchester. Do querer sem poder de um lado, e o simplesmente não querer do outro resultou uma segunda parte pouco emotiva. O ímpeto inicial da lagartagem durou cerca de vinte minutos, e depois parecia que estava tudo à espera que o jogo acabasse. Deu para ver duas expulsões (a do Polga provocou debandada geral da lagartagem, e a do Nuno Gomes a maior explosão de alegria que eles tiveram esta noite), deu para ver o Nélson recrear-se e abusar de metade da criançada que andava lá por baixo com aquelas camisolas engraçadas a tentar jogar à bola, e deu para ver uma defesa brilhante do Quim a remate do Yannick, em cima dos noventa minutos, e naquela que foi a melhor jogada deles em todo o encontro. Ah, e deu ainda para ver a má forma do Liedson nas artes da palhaçada, quando desajeitadamente tentou transformar um encosto do Quim (que lhe toca com o braço na barriga) numa cotovelada na cara. Decididamente, o Liedson já não cai como dantes. Foi também da autoria deste artista a punch line da noite, que me fez rir com vontade. Ver o Liedson a mandar um adversário levantar-se e a reclamar que é simulação tira qualquer um do sério.

A nossa equipa esta noite foi um bloco muito sólido. Foi uma verdadeira equipa, e foi como equipa que ganhou o jogo. Se tivesse que escolher o melhor, talvez fosse o Simão. Fez um jogo fantástico, causou sempre perigo quando levava a bola controlada, e raramente foi desarmado. Fantásticos também estiveram os nossos centrais (sinto-me sempre mais seguro quando vejo o Luisão jogar), em particular o Ricardo Rocha. Marcou o importante golo inaugural, e na defesa esteve em toda a parte, cortando inúmeras bolas pelo ar e junto à relva. Outro que merece ser mencionado é o Nuno Assis, porque facilmente pode passar mais despercebido num jogo. Mas ele defendeu muito, recuperou imensas bolas, e soube segurar a bola e soltá-la sempre na altura certa. Gostei do Nélson, quanto mais não fosse pelo abuso que no final do jogo andou a dar pelo relvado (mas esteve sempre bem defensivamente, registando-se apenas uma falha no início da segunda parte, quando deixou passar uma bola que foi ter com o Bueno). E, conforme já referi antes, o Quim também tem nota positiva, sempre seguro nas vezes em que foi chamado a intervir. Do Nuno Gomes não vou falar, para que não pensem que é perseguição. Mas espero que o chamem à pedra por causa daquela expulsão sem pés nem cabeça.

A vitória para mim não é surpresa. É a expressão natural de uma qualidade superior que reconheço no nosso plantel em relação ao dos nossos adversários desta noite. O balão do Paulo Bento já andava cheio há muito tempo, e algum dia tinha que rebentar. Felizmente isso aconteceu contra nós. Tivéssemos nós um treinador que soubesse tirar o máximo dos jogadores que tem à sua disposição (o que me parece que acontece com o Paulo Bento) e se calhar não estaríamos na situação em que estamos.

P.S.- Depois de chegar a casa reparei que o Filipe Soares Drunk conseguiu o incrível feito de justificar a derrota com a arbitragem. Os bons hábitos são para se manter. Mas daqui a umas semanitas, se lhes perguntarem, eles nunca falam de arbitragens.