quinta-feira, dezembro 29, 2005

Mercado

Parece que desta vez o Benfica não está interessado em deixar chegar os últimos dias do período de transferências para reestruturar o plantel. Pelo menos temos mostrado bastante dinâmica logo nos primeiros dias da abertura do mercado.

O Manduca foi
confirmado como reforço. É um jogador que tem dado nas vistas no Marítimo nos últimos tempos, e pode ocupar a posição do Simão. Pessoalmente, confesso que não é uma contratação que me entusiasme particularmente. Acho que pode ser um jogador útil, mas não é nenhum fora-de-série. Será uma contratação ao nível da do Beto: vem dar mais opções ao treinador, mas não creio que seja um jogador para fazer a diferença.

Apesar de não estarmos necessitados de jogadores para a posição de defesa-central, o Fonte pode ser uma boa contratação. É ainda jovem, mostrou qualidade no Setúbal, e sendo agora emprestado pode ganhar mais ritmo e experiência, para que seja eventualmente integrado no plantel para a próxima época. É que pode ser difícil segurar o Anderson e o Luisão (sobretudo este) mais uma temporada. Já agora, fiquei particularmente satisfeito por o Benfica ter envolvido o Setúbal nas negociações, apesar de não ser necessário fazê-lo, e sobretudo apesar do Setúbal, dadas as relações preferenciais que nos últimos anos tem tido com o FC Porto, não ser especial merecedor de deferências. Mas é uma atitude que fica bem ao Benfica, em especial sabendo-se das dificuldades por que passa o Setúbal. Quanto à história do Moretto, sinceramente é-me indiferente. É verdade que precisamos de uma alternativa séria ao Quim, mas também não me parece que o Moretto seja assim tão bom. E em especial, não me parece que seja tão bom que justifique uma guerra com o FC Porto pela sua contratação. Esta guerra parece-me tanto mais ridícula quando penso que o FC Porto tem o Baía, que tem lugar cativo independentemente de ser o melhor guarda-redes do plantel ou não, e ainda se dá ao luxo de ter o Hélton no banco, que para mim é o melhor guarda-redes do campeonato português.

Quanto às dispensas, o meu maior susto foi quando se começou a falar na possível saída do Léo, o que felizmente não parece passar de um boato. Sou um admirador do brasileiro, que considero o melhor lateral-esquerdo que tivemos desde o Schwarz, e ficaria muito triste com a sua saída. Em relação ao Nuno Assis, acho que é um jogador útil, e não concordo com a sua dispensa. É verdade que há vários jogadores no plantel que podem fazer o lugar natural dele, atrás dos avançados, mas o Nuno Assis é um jogador bastante inteligente, e que quando inspirado pode desequilibrar. Fico contente com os empréstimos do João Pereira e do Carlitos. Em relação ao último, apesar de pouca gente concordar comigo eu continuo a ter muita fé no valor dele. Se ele puder jogar com regularidade e ganhar experiência na Primeira Liga, tenho esperanças que possamos ver o verdadeiro Carlitos em breve, e não a caricatura que parece aterrorizada de cada vez que veste a camisola do Benfica. Já o João Pereira, não sei se o empréstimo serve de alguma coisa. É que para mim o João Pereira não dá mais que aquilo, e não acredito que evolua muito mais. É um jogador que cumpre quando é chamado, é esforçado e disciplinado tacticamente, mas nunca me entusiasmou, e não me parece que seja jogador para ter lugar no plantel do Benfica. Outro empréstimo que se pode revelar útil é o do Hélio Roque, que praticamente não vinha tendo oportunidades de jogar sem ser na equipa B. Ele parece ter qualidade, e tenho curiosidade em ver o que poderá fazer no Setúbal até ao final da época.

Um pormenor que continua a impressionar-me pela positiva é o trabalho de prospecção que o Benfica tem vindo a fazer nos últimos tempos. Segundo o que consta, serão (ou já foram) contratados três jogadores para reforçar a equipa B: um avançado chileno de 20 anos (Nicolas Canales), um médio australiano de 17 anos (Kaz Patafta) e um médio chinês também de 17 anos (Zhu Yifan). O primeiro deu nas vistas durante o último Mundial de sub-20, e os outros dois foram observados no Mundial de sub-17. Já a época passada foram contratados outros dois jogadores com esta idade (Brezovacki e Jeremic). Há uns tempos atrás isto seria impensável, porque o Benfica pura e simplesmente parecia não dedicar qualquer atenção à prospecção de jogadores. O risco de contratar jogadores nestas idades é mínimo, já que o investimento é diminuto, e são vários os grandes clubes europeus que têm esta política. Mesmo que se contratem dez jogadores, basta que um deles se desenvolva num bom jogador para que o investimento saia compensado.

P.S.- Agrada-me a possibilidade do regresso do Karadas. É que não existe no plantel actual do Benfica nenhum jogador com as características dele, e há situações de jogo em que daria muito jeito contar com um avançado daquele tamanho a malhar nos defesas adversários.

sábado, dezembro 24, 2005

Baroti

Nesta altura do ano, uma notícia triste: morreu Lajos Baroti, que é o primeiro treinador de que eu me recordo no Benfica. Era ele o treinador naquele primeiro jogo que me recordo de ver do princípio ao fim a torcer pelo Benfica. Foi a final da Taça de Portugal da época de 1980/81, e o Benfica venceu o FC Porto por 3-1, com um hat trick do Néné. Tenho presentes na memória as imagens do Néné, no final, a chorar abraçado ao Baroti, que era um treinador muito querido pelos jogadores benfiquistas. Nesse ano o Benfica foi também campeão, fazendo assim a dobradinha.

E assim desaparece mais um bocadinho da nossa história viva.

Natal

Neste período pacífico, em que nem sequer há futebol para discutirmos, aproveito para deixar esta pequena mensagem de desejos de um óptimo Natal a todos.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Déjà vu

Deve haver uma regra qualquer na Liga portuguesa, de que eu não estou a par, que diz que um empate contra o Benfica vale não um, mas dez pontos.

Eu nem sequer me devia queixar, porque isto até me poupa trabalho. Dos trinta e quatro jogos que o campeonato tem, para pelo menos vinte e oito deles basta-me escrever uma única crónica, e depois fazer copy/paste para vinte e oito jornadas. O que se viu hoje foi o protótipo daquilo que é um jogo típico do Benfica para o campeonato. Apenas uma equipa a jogar declaradamente para a vitória; outra interessada em manter o empate a todo o custo, e ver se com uma pontinha de sorte lá conseguem marcar um golito em contra-ataque, para assim dar ainda mais injustiça ao resultado; um guarda-redes particularmente inspirado; e uns árbitros assistentes com extremas dificuldades em interpretar a lei do fora-de-jogo, optando por isso por levantar a bandeirola a torto e a direito. Vá lá, ao menos o Setúbal, apesar de jogar à defesa, ao contrário de muitas outras equipas, não recorre ao antijogo, e por isso tem o meu respeito.

Acho que não há muito a dizer sobre o jogo. Logo desde o princípio deu para ver como é que o resto do jogo iria decorrer. Mas o Benfica, de facto, fez uma primeira parte horrível. O Karagounis não cumpria tacticamente, e saía do lado direito para vir para o meio, enquanto que a equipa parecia nem sequer olhar para o lado esquerdo. Isto resultava no afunilar do jogo todo pelo meio, onde por exemplo o Beto se revelava um desastre total (como sempre) nas tarefas ofensivas. Mais uma vez mostrávamos uma tendência extremamente irritante para fazer lançamentos compridos da defesa ou meio-campo defensivo directamente para o ataque, o que definitivamente não resulta com o Miccoli sozinho lá à frente.

Na segunda parte mudou tudo. Primeiro com a troca de posições entre o Geovanni e o Karagounis, tendo este último, a jogar na meia-esquerda, feito um óptimo jogo, a contrastar com o desacerto total que tinha mostrado na primeira parte. Depois, há males que vêm por bem, porque a lesão do Ricardo Rocha e consequente troca pelo Dos Santos, permitiu-nos passar a contar com um jogador capaz de ganhar constantemente a linha de fundo naquele lado, e causar mais desequilíbrios. Durante este segundo tempo encostámos o Setúbal lá atrás, que tentava num esporádico contra-ataque causar algum perigo. Tivemos algumas boas oportunidades de golo, que nos foi sendo negado pelo Moretto, ou mesmo pelo desacerto dos nossos jogadores. Felizmente, já mesmo em cima do final da partida, o Geovanni com um passe brilhante 'descobriu' o Nuno Gomes desmarcado sobre a esquerda, e este com um remate de pé esquerdo marcou um golo excelente, que deixou os benfiquistas irem festejar o Natal mais contentes.

Nota muito positiva para a exibição do Karagounis na segunda parte (embora continue, por vezes, a agarrar-se muito à bola - o lance em que podia ter marcado é um exemplo disso). O Geovanni voltou a jogar bem, e provavelmente estaria com vontade de marcar um golo para dedicar ao pai. Outros jogadores que estiveram bem foram o Nuno Gomes e o Luisão, como sempre.

Enfim, foi um mês de Dezembro excelente, com cinco vitórias em outros tantos jogos. Vamos agora para férias, e preparar-nos para aturar o circo do costume em redor de futuras pseudo-contratações do Benfica.

domingo, dezembro 18, 2005

Sorte

Com alguma sorte, vencemos ontem o Nacional por 1-0, obtendo assim a quarta vitória consecutiva, num jogo extremamente difícil.

Apesar da boa forma evidenciada pelo Geovanni nos últimos dois jogos, o nosso treinador optou por colocar o Miccoli como elemento mais avançado da equipa, desviando o Geovanni para a posição ocupada pelo Nuno Assis nestes jogos, sendo este último o sacrificado a sair do onze. De resto a disposição táctica manteve-se num teórico 4-2-3-1. Quanto ao Nacional - uma das equipas mais difíceis que vi jogar este ano na Luz - jogava num esquema bastante versátil, que se encolhia num 5-4-1 quando não tinha a bola, mas que rapidamente se desdobrava num 3-4-3 quando saía para o ataque. Um dos centrais tinha por missão fazer uma marcação homem a homem ao Nuno Gomes a todo o campo.

O Benfica entrou muito bem no jogo. Por dois motivos: primeiro devido à mobilidade enorme dos membros do ataque; e segundo devido à forma excelente como conseguiam pressionar imediatamente o Nacional logo à saída da sua área, o que resultava em recuperações rápidas de bola. Nesta fase parecia-me
que o Benfica na prática apresentava em campo uma variação do sistema de três centrais que o Koeman tentou no início da época, e pelo qual foi tão criticado. Isto porque o Léo era um autêntico médio ala, e o Nuno Gomes, Geovanni, e Miccoli formavam um verdadeiro trio atacante, com trocas constantes de posição. O que se via em campo era o Benfica a jogar em 3-4-3, e os jogadores do Nacional pareciam estar com muitas dificuldades em acertarem as marcações, devido à grande mobilidade dos nossos jogadores. Infelizmente esta fase durou pouco mais que 15 minutos, porque depois o Benfica abrandou a pressão, e o Nacional pareceu finalmente acertar com as marcações assim que os nossos jogadores se fixaram mais no terreno, 'amarrando-se' ao 4-2-3-1.

A primeira parte foi assim passando, sem que o Benfica conseguisse furar o esquema defensivo do Nacional, que durante este período parecia estar sobretudo interessado em segurar o nulo. Ontem à noite deu para perceber o motivo pelo qual o Nacional apenas tinha concedido um golo como visitante neste campeonato. A equipa está muito bem organizada defensivamente. Defende sempre com os onze jogadores no seu próprio meio-campo, atrás da linha da bola, e a formarem um bloco muito compacto. Se um jogador é ultrapassado, está lá sempre outro para fazer a dobra. Para além de um eventual lance de bola parada (que já de si é difícil, porque os jogadores do Nacional têm uma envergadura física notável), a forma mais viável de lhes marcar um golo parece ser num 'contra-contra-ataque'. Como eles se desdobram muito rapidamente no contra-ataque, a equipa adversária terá que ser capaz de, no caso de recuperar a bola numa situação dessas, contra-atacar em grande velocidade antes que eles tenham tempo de se reorganizarem defensivamente. Assim que eles conseguem recolocar os onze jogadores dentro do seu meio-campo, os caminhos para o golo ficam quase todos fechados. Depois o Nacional consegue ser uma equipa extremamente 'chata', ao entupir o jogo do adversário com diversas faltas 'úteis', daquelas sem grande gravidade e feitas longe da área, aproveitando depois para ficar em cima da bola para não permitir a reposição rápida em jogo. Enfim, chegado o intervalo, o cenário era sombrio para nós.

Na segunda parte as coisas mudaram um pouco, porque o Nacional revelou-se mais atrevido, e com vontade de obter mais do que o empate. Começaram por ameaçar em lances de bola parada, onde os seus jogadores pareciam ter a possibilidade de ganhar as disputas de bola pelo ar, e os contra-ataques nacionalistas tinham cada vez mais perigo. Da parte do Benfica, as movimentações do Geovanni (a vir buscar jogo muito atrás) acabavam por ser as jogadas que causavam maior perigo. E foi já depois do Nacional ter disposto da melhor oportunidade do jogo (remate à trave) que o Benfica chegou ao golo. Na sequência de um livre sobre a esquerda do nosso ataque, a bola é cruzada para a área onde, após uma disputa entre o guarda-redes adversário e o Luisão, sobrou para o Nuno Gomes, que rematou para a baliza deserta. Ainda não vi qualquer repetição do lance, mas no estádio pareceu-me que o lance entre o Luisão e o guarda-redes do Nacional pode ter sido faltoso. A minha única dúvida prende-se com o facto de não ter a certeza se foi o guarda-redes quem provocou o contacto, saltando para cima do Luisão (algo parecido ao lance do Ricardo com o Jorge Costa o ano passado no Dragão), ou se foi o Luisão quem saltou de costas para cima do guarda-redes. Se a culpa é do Luisão, então tivémos a sorte do jogo ali, porque o normal seria o árbitro marcar falta sobre o guarda-redes. Depois do golo o jogo ficou completamente aberto, e tanto podia o Benfica ter chegado ao 2-0, como o Nacional ter empatado. O resultado acabou por não se alterar, e ainda bem para nós.

Ontem não atingimos o brilho dos dois últimos jogos, e não houve nenhum jogador a exibir-se a um nível muito acima dos restantes, porque a equipa foi bastante homogénea. No entanto, e apesar de ter perdido fulgor com a mudança de posição, o Geovanni fez um bom jogo. Também bem estiveram o Petit e o Nuno Gomes. Já agora no Nacional fiquei mais uma vez com muito boa impressão do Miguelito, mas isso não será surpresa para ninguém. Surpresa foi ele ter saído do Rio Ave para ir para o Nacional, sem que nenhum dos grandes clubes o tenha agarrado.

Falta agora vencer um V.Setúbal em crise (já sem treinador) na próxima quarta-feira para conseguirmos passar com distinção um período de jogos muito difíceis. Espero sinceramente que a ameaça de greve por parte dos jogadores sadinos não se concretize, e que haja mesmo jogo. Até porque seria sinal que a situação dos jogadores do Setúbal, de alguma forma, se teria resolvido ou aliviado.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Scousers

E o sorteio ditou o actual campeão da europa, o Liverpool. Não me desagrada o resultado. O Liverpool é obviamente o grande favorito, mas o meu medo mesmo são sempre as equipas italianas, que mesmo jogando mal parece que têm sempre a sorte do jogo. Sinto-me sempre mais confiante contra equipas inglesas. Embora, na verdade, de inglesa a equipa do Liverpool tem pouco. Quer no treinador, quer nos jogadores, quer até no estilo de jogo. Mas enfim, sempre é uma oportunidade para o Koeman provar que tem jeito para matar borregos, já que das outras vezes que jogámos com o Liverpool, fomos sempre eliminados.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Justa

O Benfica venceu hoje, de forma justa, o Boavista, obtendo assim a terceira vitória consecutiva, e mostrando mais uma vez, na ausência de diversos jogadores importantes, uma grande coesão e solidez defensiva.

Uma única novidade em relação ao jogo da passada Quarta-feira, com a entrada do Ricardo Rocha para o lugar do lesionado Luisão. quanto ao resto, os mesmos jogadores, e o mesmo esquema táctico de 4-2-3-1, com o Geovanni novamente a ocupar a posição mais adiantada no terreno. O Boavista apresentou um esquema táctico semelhante, com o ponta-de-lança Fary suportado pelo trio JVP/Diogo Valente/Manuel José, e mais atrás a dupla de trincos Tiago/Lucas. A verdade é que fiquei surpreendido pela negativa com o Boavista, porque esperava mais de uma equipa que, à partida para este jogo, estava empatada connosco na tabela classificativa. Julgo que o Boavista não conseguiu obrigar o Quim a fazer uma única defesa durante os primeiros quarenta e cinco minutos.
A primeira parte pertenceu toda ao Benfica, embora sem o brilhantismo do último jogo, e a bola rondava sempre as imediações da baliza adversária, sendo possível ver algumas boas combinações entre o Geovanni e o Nuno Gomes, e os dois laterais a integrarem-se frequentemente e bem no ataque. Beneficiámos de uma série infindável de cantos, e foi precisamente no último deles, já bem perto do intervalo, que chegámos ao golo, através do Anderson naquela movimentação que já começa a ser característica, com ele a surgir ao segundo poste a cabecear.

Na segunda parte o Boavista tentou alterar as coisas, passando cedo a jogar com um segundo ponta-de-lança, e antes disso fazendo entrar o Cafú para o lado direito, na esperança de conseguir travar as subidas do Léo. Mas, a exemplo do que se passou contra o Man Utd, o Benfica defendeu exemplarmente. O primeiro (e praticamente único) remate à nossa baliza digno desse nome foi feito aos 85 minutos de jogo (uma cabeçada do Willam Souza a que correspondeu o Quim com uma boa defesa). E o que se notava era que quando o Boavista tentava aumentar a pressão sobre o Benfica, abria avenidas na retaguarda, e o Benfica deveria ter aproveitado para matar o jogo muito antes. Foi apenas por inspiração do guarda-redes adversário, e por vezes inépcia dos nossos jogadores que tal não aconteceu. O apito final surgiu sem grandes sobressaltos, e julgo que a vitória assenta bem ao Benfica, num jogo que controlou sem grandes problemas.

Mais uma vez a equipa esteve muito sólida, e nenhum jogador esteve num plano muito abaixo do nível geral. O Nélson teve um mau período no início da segunda parte, com muitas perdas de bola infantis, mas redimiu-se na segunda metade desse período, com pormenores deliciosos a deixar a cabeça em água aos defesas boavisteiros. Os quatro elementos da defesa estiveram simplesmente perfeitos. Os laterais Léo e Alcides foram excepcionais: sempre inultrapassáveis na defesa, e a atacarem muito bem. O Anderson fez de Luisão hoje, e praticamente não perdeu um lance, tendo ainda marcado o golo da vitória. E o Ricardo Rocha esteve ao melhor nível, a jogar sempre muito bem na antecipação (e desta vez nem viu o amarelo da praxe). O Petit voltou a estar em grande, e na frente parece que temos um novo jogador, porque este Geovanni nem parece ser a mesma pessoa. Correu os noventa minutos, andou solto pela frente de ataque, combinou com o Nuno Gomes, e só lhe faltou mesmo um golo (esteve perto de o conseguir, mas o guarda-redes adversário defendeu bem o livre por ele marcado 'à Simão').

Nota ainda positiva para as mais de 50.000 pessoas que se deslocaram esta noite à Luz, e que mostraram ser evidente a reconciliação dos benfiquistas com a sua equipa. Pena, muita pena mesmo foi a quantidade dessas 50.000 pessoas que resolveram assobiar o JVP. Conforme já tinha dito no meu post anterior, não vejo quaisquer motivos para ele ser assobiado. Eu aplaudi-o, e de pé, quando ele foi substituido (e ainda vi bastantes pessoas a fazê-lo, mas os assobios eram mais). Gostava de saber qual é a razão para essas pessoas o terem assobiado. Obviamente que, sendo um jogador adversário, não estava à espera que ele fosse aplaudido ou encorajado de cada vez que tocasse na bola. Mas porquê assobiá-lo à saída? Não tenho pejo em dizê-lo: ontem senti-me envergonhado com essa atitude. Porque se há jogadores que merecem a gratidão dos benfiquistas, o JVP é definitivamente um deles.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

JVP

Agora que os assobios a jogadores adversários na Luz estão na ordem do dia, eu aproveito para dizer que no próximo Domingo, quando o JVP entrar no Estádio da Luz envergando a camisola do Boavista, eu não o vou assobiar. Pelo contrário: vou aplaudi-lo, e muito. Apesar disto não ser um assunto consensual entre os benfiquistas, por mim não tenho dúvidas. Até pode ser que ele nos dê dissabores no próximo jogo, dado que está em grande forma. Mas eu não me esqueço de tudo aquilo que ele deu ao Benfica. Não me esqueço que, durante várias épocas, o nome dele era o único que me fazia sorrir quando ouvia a constituição da equipa, e era nele que depositava quase toda a esperança para que no final do jogo estivesse feliz com o resultado. Continuo a achar que nunca deveria ter saído do Benfica, continuo a achar que, mesmo hoje, ainda nos seria um jogador útil, e continuo a achar que merecia ter acabado a carreira na Luz. Nem quando ele jogou contra nós envergando a camisola daquele clube que eu desprezo eu fui capaz de assobiá-lo. Não vai ser agora que vou começar a fazê-lo. O JVP para mim é um dos grandes símbolos do Benfica dos últimos anos.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Coração

Antes do jogo começar, tinha pedido uma vitória, mas se tal não fosse possível, queria poder sentir-me orgulhoso do esforço dos jogadores. O Benfica deu-me ambas as coisas. Hoje o Benfica foi único, foi enorme. Aqueles jogadores no relvado, mais o Estádio da Luz e as 62.000 almas que ajudaram a lotá-lo uniram-se debaixo do símbolo da águia, e ajudaram a criar um Benfica gigante, mas sempre com muita humildade. Poucas vezes a nossa divisa et pluribus unum terá feito tanto sentido.

Conforme escrevi no anterior post, hoje tudo ajudava. Por isso quando avistei o HMémnon no sector ao lado do meu, fui até lá cumprimentá-lo, e aproveitei para verificar que, de facto, ele não tinha levado o relógio para o estádio. Não sei se todos os outros cumpriram as suas obrigações, mas eu pelo menos levei comigo o 'cachecol dos 6-3', que só sai de casa em ocasiões muito importantes. Antes do jogo começar, ao ouvir a constituição das equipas não tive qualquer supresa: quer o Benfica, quer o Man Utd apresentavam os onzes esperados.

Foi ao iniciar-se o jogo que verifiquei a 'surpresa' que o Koeman reservara. Estava à espera de ver o Nuno Gomes como avançado, suportado pelo trio Geovanni/Nuno Assis/Nélson, com o Nuno Assis no apoio directo ao ponta-de-lança, e o Geovanni na esquerda. Em vez disso surgiu um Geovanni a jogar 'à Miccoli', como elemento mais avançado, tendo o Nuno Gomes nas costas. O Nuno Assis fazia o lado esquerdo, e o Nélson o direito. Quanto ao Man Utd, apresentava um 4-4-2 clássico, com dois extremos criativos e bastante ofensivos, e uma defesa em linha que parecia ser propícia para solicitações ao Geovanni nas suas costas. E o jogo começou praticamente com um enorme balde de água fria, pois o Man Utd chegou ao golo logo aos 6 minutos, num grande frango colectivo da equipa. Primeiro o Beto perdeu a bola numa posição proibitiva. O Léo seguiu o Ronaldo enquanto este veio para o centro, e o Giggs fez um passe estupendo para o lado esquerdo da nossa defesa, por onde entrou o Neville sem que ninguém o acompanhasse (o que é que andava o Nuno Assis a fazer?). Finalmente surgiu o centro para o segundo poste onde apareceu o Scholes isolado vindo de trás, mais uma vez sem que ninguém o seguisse (os médios defensivos deviam estar a dormir), a empurrar de forma atabalhoada para a baliza. Era impossível começar pior.

Mas o público reagiu de forma positiva ao golo, e começou imediatamente a puxar pela equipa. E não vi jogadores de cabeça baixa, vi sim jogadores como o Luisão, o Petit ou o Nuno Gomes a motivarem os colegas e a pedirem garra. Que se viu em campo: o Benfica partiu para cima do Manchester, e oito minutos depois o jogo estava empatado. Foi uma jogada em que a bola circulou toda a frente de ataque, com o Geovanni a variar o flanco da esquerda para a direita, onde o Nélson recebeu a bola enquanto que o Geovanni fazia a diagonal para o centro. O cruzamento do Nélson saiu perfeito (já começava a ter saudades disto...), e o Geovanni, nada dorminhoco, antecipou-se ao Neville e marcou um belo golo, cabeceando a bola num mergulho perfeito. Acho que uma das coisas que mais gostei neste golo foi que, assim que a bola saiu do pé do Nélson, olhei para a área, vi a posição do Geovanni, e comecei a gritar golo mesmo antes dela lhe chegar. Fiquei contente com este golo do Geovanni. Já disse aqui que ele é um jogador que admiro, por considerar que é dos poucos no Benfica com a capacidade de resolver um jogo por si só. Depois de momentos difíceis com o público da Luz devido a más exibições nos últimos jogos, o golo era o melhor que podia acontecer para o motivar. Até porque, mesmo antes do golo, ele já tinha mostrado que hoje o Soneca tinha ficado em casa, e tínhamos em campo um grande Geovanni. Começava aqui a 'noite dos patinhos feios'.

Com o golo voltava tudo à estaca zero. Mas o Benfica queria mais, só a vitória interessava. Por isso continuámos a pressionar os ingleses, que ainda assustaram num par de remates de longe do Scholes. Só que a noite era nossa, e pouco depois da meia-hora de jogo, após um alívio da defesa inglesa a um cruzamento do Nélson, apareceu o Beto a rematar de primeira, com a bola a tabelar num adversário e a entrar na baliza. Foi a vez do outro 'patinho feio' ser feliz (diga-se de passagem que, ao contrário do Geovanni, o Beto voltava a estar numa noite pouco inspirada, particularmente ao nível da construção de jogo, com imensos passes disparatados). O Manchester, que parecia atordoado a partir do primeiro golo do Benfica, não conseguiu reagir ao golo. Os jogadores que eu mais temia (Ronaldo, Giggs, Rooney, e sobretudo o Van Nistelrooy) não conseguiam libertar-se das marcações e ter espaço para jogar, devido à forma compacta como o Benfica defendia, sempre com os jogadores a formar um bloco muito sólido (passe a expressão, o Benfica esta noite defendeu 'à Mourinho'). No caso particular do Ronaldo, o Léo tinha instruções para o seguir por quase todo o terreno, de forma a que ele não tivesse oportunidade de se voltar para a baliza e atacá-la com a bola controlada. Nas poucas vezes em que ele conseguia uma situação de 1x1 aparecia quase sempre o Petit na ajuda ao lado esquerdo, e as jogadas perdiam-se sempre. Além disso o Ronaldo pareceu afectado pelo público da Luz, demasiado nervoso e a complicar muito as coisas. É estranho, dado que ele deveria estar habituado a ambientes adversos, porque em Inglaterra é sempre um dos alvos favoritos do público afecto aos adversários do Man Utd. Se calhar ele ainda não percebe os insultos em inglês, e quando os ouve em português custa mais ;) Com um Man Utd inoperante no ataque, o intervalo chegou assim sem grandes sobressaltos para o nosso lado.

Na segunda parte foi o sofrimento total. O Benfica encolheu-se no segurar da vantagem, e o United agradeceu a iniciativa do jogo que lhe era dada e lançou-se sobre a nossa defesa. Mas diga-se que apesar de passarem a maior parte do tempo no nosso meio campo, practicamente não criaram uma oportunidade flagrante de golo, porque o Benfica deu um verdadeiro recital de bem defender. Foi aqui que a nossa equipa demontrou um coração enorme, com os jogadores a ajudarem-se uns aos outros e a entregarem-se até à exaustão. Aliás, os três jogadores que foram substituidos (Geovanni, Nuno Assis e Léo) foram-no porque estavam completamente esgotados. As melhores oportunidades de golo acabaram inclusivamente por pertencer ao Benfica, em contra-ataques rápidos (Geovanni e João Pereira). O Benfica manteve sempre o mesmo esquema táctico de 4-2-3-1, enquanto que o Man Utd acabou por alterar para 4-3-3 após a saída do Giggs, encostando-se o Rooney ao lado esquerdo. Foram 45 minutos que nunca mais acabavam, porque tinha sempre medo de que alguma bola perdida acabasse por sobrar para o inevitável Van Nistelrooy, não porque o United criasse alguma oportunidade concreta de golo. O Estádio da Luz de súbito encheu-se de treinadores, e toda a gente gritava instruções e incitações aos jogadores das bancadas (tenho a certeza que o Anderson fez um desarme ao Van Nistelrooy porque eu o avisei da movimentação dele). Quanto mais perto do fim o jogo estava, maior era o sofrimento. Bem vistas as coisas, agora parece um bocado injustificado, porque a verdade é que à medida que o tempo passava o Man Utd parecia atacar cada vez pior e sem nexo. Mas foi com um enorme suspiro que ouvi o árbitro apitar para o final, e garantir a passagem aos oitavos-de-final.

É difícil destacar jogadores num bloco tão consistente como foi a nossa equipa hoje. Mas o Luisão foi um esteio na defesa como sempre. O Nuno Gomes foi grande, muito grande, e mereceu como nunca envergar aquela braçadeira. O Geovanni foi enorme, correu quilómetros, desmarcou-se, foi sempre o primeiro a pressionar os defesas e o guarda-redes adversários, e marcou um grande golo (foi escolhido como Man Of The Match pela UEFA). Mas para mim, brilhante mesmo esteve o Petit. Ele tapou todos os buracos que havia para tapar no centro da defesa, foi uma carraça atrás dos adversários que apareciam na sua zona, ajudou na esquerda a anular o Ronaldo, e ainda era o primeiro a pegar na equipa para lançar os ataques. Ele teve um coração enorme, suficiente para ele e para os dez colegas em campo... e se preciso fosse, para os 65.000 benfiquistas que sofriam nas bancadas. Ele muitas vezes passa discreto nos jogos, porque o trabalho dele dá pouco nas vistas, e até me irrito amiúde com ele devido aos livres e cantos mal marcados. Mas hoje ele foi Grande.

Para aqueles que, jocosamente, há um par de meses diziam que a segunda equipa do Man Utd tinha vencido o Benfica, hoje podemos dizer com orgulho que foi a nossa 'segunda equipa' (uma equipa a que faltaram Simão, Miccoli, Karagounis, Manuel Fernandes e Moreira) que venceu a equipa de elite do Man Utd, com todas as suas estrelas. O Ronaldo é um puto mimado e o Van Nistelrooy ainda deve andar à procura da saída de dentro do bolso do Anderson. E sei que esta vitória deve estar a provocar uma barulheira de ranger de dentes a uma série de adeptos que recentemente descobriram a sua paixão clubística pelo Man Utd (não Harry, não me estou a referir a ti - sei que gostas de nos atazanar o juízo, mas que não és assim mesquinho. Aliás lembrei-me de ti antes do jogo, porque o livro que levei para ler enquanto esperava o início do jogo era o 'The Third Man', que começa praticamente com o 'teu' funeral. Tomei isso como um bom augúrio ;)). Mas não os conseguimos ouvir. O barulho dos nossos festejos abafa tudo o resto.

Agora venha o Diabo e escolha. Claro que quero que o Benfica siga o mais longe possível na prova, mas para mim o mínimo exigível está conseguido. Só tenho um desejo: italianos não, por favor!

(E agora deixo-vos, que vou ver a repetição do golo do Geovanni pela 37ªvez no site da UEFA - está logo na página de entrada, e relatado em inglês dá mais gozo)

quarta-feira, dezembro 07, 2005

A caminho

Estou com uma constipação de meter medo. Mas daqui a umas horas vou tomar uns comprimidos, agasalhar-me, agarrar no cachecol, e meter-me a caminho da Luz, com esperança numa vitória. A irracionalidade de ser adepto de um clube tem destas coisas. O bom senso fica em casa. Fico à espera que outros cumpram os seus hábitos irracionais. Que o Gwaihir se lembre de deixar o cachecol bem posicionado (no canto superior esquerdo (como quem entra) da mesa da sala, dobrado em três (com o emblema para cima) e virado para a televisão). Que o S.L.B. não leve o amigo J.M. a ver a bola. Que o tma obrigue o filho a dizer onde é que escondeu o cachecol (ou que deite fora o cachecol novo). Que o HMémnon não se atreva a lembrar-se de levar o relógio para o jogo. Que o JRD, mesmo retirado da blogosfera, não se esqueça de vestir a camisa da sorte. E já agora, que alguém leve a Anita ao jogo. Hoje à noite vamos precisar de toda a ajuda sobrenatural que exista. E mesmo se as coisas não nos correrem bem, que a nossa massa associativa, que numa prova de fé clubística vai lotar a Catedral, possa sair de lá de cabeça erguida, com a sensação que os nossos honraram a camisola que trazem vestida. Força Benfica!

domingo, dezembro 04, 2005

Regresso

O Benfica regressou hoje às vitórias no campeonato, com uma exibição fraca mas q.b. para vencermos num terreno que nos é tradicionalmente difícil.

Não houve surpresas no onze titular apresentado. A única alteração em relação ao que é normal foi a entrada do Ricardo Rocha para o lugar do Anderson. Na direita, e face à não convocação do Geovanni, jogou o Alcides como lateral direito, com um Nélson mais adiantado. Pessoalmente não me agrada muito esta opção. Primeiro porque perdemos um excelente lateral, para ganhar um médio direito vulgar. Segundo porque o Alcides centra muito mal, por isso mesmo quando consegue espaço para cruzamentos, estes raramente resultam em alguma jogada de perigo. Quanto ao resto da equipa, foi a mesma que já tinha jogado contra o Belenenses.

A primeira parte do jogo foi bastante disputada, mas muito mal jogada. O Benfica foi melhor do que o adversário, que parecia estar satisfeito com o resultado, mas parecia pouco inspirado nas imediações da baliza adversária (a exemplo do que se tem passado nos últimos jogos). O mais rematador foi o Nuno Gomes, que dispôs de duas boas oportunidades, ambas defendidas pelo guarda-redes adversário. Preocupa-me a ausência de um estilo de jogo definido nesta equipa, porque me parece muito desorganizada em campo, e por vezes sem um objectivo definido. Voltámos a abusar de lançamentos compridos desde a defesa, quase todos feitos pelo Luisão, e que resultam quase sempre em bolas perdidas para o adversário, já que não temos uma equipa propriamente com grande poder aéreo.

Na segunda parte, as coisas animaram um pouco com a entrada do Mantorras. Praticamente na primeira vez em que ele tocou na bola, marcou, só que o golo foi bem anulado por fora-de-jogo. Conforme já disse, o Mantorras parece continuar a ter alguma dificuldade em compreender a Lei 11 do jogo. Mas alguns minutos mais tarde, voltou a marcar, e desta vez valeu. Foi após aproveitar da melhor maneira uma fífia monumental de um defesa adversário, colocando bem a bola rasteira ao segundo poste. Tendo em conta que o Quim não tinha feito uma única defesa digna de registro até então, fiquei relativamente convencido que, a não ser que houvesse alguma revolução no jogo, este estaria em princípio ganho. Tenho a impressão de que se o contrário se tivesse passado, ou seja, se fosse o Marítimo a marcar nalgum lance fortuito, não conseguiríamos evitar a derrota - o jogo estava a ser tão mal jogado que nenhuma das equipas parecia ter capacidade para chegar ao golo. A verdade é que apesar do Marítimo ter tentado aumentar a pressão, não conseguiu criar qualquer oportunidade de golo, pelo que o resultado ficou mesmo assim até final.

Não fiquei satisfeito ou confiante com a exibição, mas pelo menos o resultado foi agradável. Enquanto os 'artistas' estiverem lesionados, teremos que contentar-nos em ganhar jogos, mesmo que seja sem grande brilho. O melhor da nossa equipa hoje terá sido o Luisão, que mais uma vez esteve intransponível na defesa. Agora vou esperar por quarta-feira, e desejar que este resultado positivo sirva para motivar a equipa para um dos jogos mais importantes da época. Ajudava também se pelo menos o Simão e o Miccoli recuperassem totalmente até lá. Se for para jogarem a 70%, mais vale ficarem quietos.