domingo, agosto 30, 2015

Ferros

Vitória arrancada a ferros sobre o Moreirense, num jogo em que mais uma vez jogámos muito mal durante a maior parte dele, para depois começar a resolver o problema que nos criámos a nós próprios outra vez a partir do minuto setenta e quatro. Acabou por ser um jogo bastante semelhante ao do Estoril, mas com duas diferenças: o resultado foi menos desequilibrado e, ao contrário desse jogo, desta vez quem o ganhou foi mais o querer e a qualidade individual dos jogadores e não tanto a equipa como um todo.


Desta vez o Victor Andrade foi titular no lado direito do ataque, sendo esta a única alteração ao onze que tinha iniciado o jogo frente ao Arouca. Quanto ao jogo jogado, infelizmente vi mais do mesmo. Ou até menos do que o mesmo a que me tenho vindo a habituar, porque sinceramente achei que hoje até jogámos pior do que nos jogos anteriores. Jogo muito mastigado, previsivelmente lento, e portanto uma presa demasiado fácil para um Moreirense que, sem surpresas, se acantonou à frente da sua área na defesa do empate. A ideia subjacente ao tipo de futebol que o Rui Vitória pretende implementar no Benfica é dar mais 'conforto' aos jogadores, ou seja, um futebol de maior posse de bola e menos correrias. O problema é que até agora isto resulta num estilo de jogo extremamente lento e previsível, e que definitivamente não parece ser a fórmula mais eficaz para ultrapassar a forma como a maioria das equipas se apresenta frente ao Benfica. A mim parece-me que transições rápidas, em que fazemos a bola e vários jogadores chegar a zonas de finalização o mais rapidamente possível e em que apanhamos o adversário desorganizado, dá melhores resultados do que ataques organizados lentamente a partir de trás, com toda a equipa a avançar em bloco, e que quando chegamos à frente apanhamos com os defensores todos posicionados e organizados, acabando nós a batalhar contra uma muralha e a tentar furá-la sobretudo pelo meio. Mas isto é apenas uma opinião minha, eu não tenho cursos de treinador e estou longe de ser um entendido na matéria. Falo apenas daquilo que eu gosto ou não de ver dentro do campo. O que é certo é que mais uma vez o que quer que tenhamos tentado fazer na primeira parte não resultou, ficámos sobretudo dependentes de acções individuais para tentar criar algum perigo e, pior ainda, o Moreirense colocou-se em vantagem assim que conseguiu fazer um remate à nossa baliza. Só depois disso é que vi o Benfica criar uma flagrante ocasião de golo, mas o Jonas conseguiu fazer o mais difícil e rematou ao lado quando tinha tudo para marcar. Quanto ao Moreirense, se já vinha jogar para o empate e tinha começado logo desde o início a praticar antijogo (aos cinco minutos já o guarda-redes estava a pedir assistência), ao apanhar-se a ganhar tornou a coisa ainda pior e mais flagrante. Foi vê-los a cair como moscas, e o jogo a arrastar-se penosamente até ao intervalo.


Contra o Estoril foram as alterações após uma hora de jogo que começaram a mudar o seu rumo. Desta vez o Rui Vitória decidiu não esperar tanto tempo e fez logo duas substituições ao intervalo, deixando o Pizzi e o Victor Andrade no balneário e trocando-os pelo Talisca e o Gonçalo Guedes. O Talisca até trouxe mais alguma verticalidade ao nosso jogo e o Guedes mais alguma agressividade ao flanco direito, mas no geral pouco mudou e continuámos a revelar imensas dificuldades para criar grandes embaraços à defesa do Moreirense. No ataque o Mitroglou ainda parece estar demasiado lento e preso de movimentos, mas tem presença física e hoje conseguiu por algumas vezes segurar a bola e abrir espaços para os colegas. Foi assim que proporcionou a segunda grande ocasião de golo ao Jonas, que desta vez rematou por cima da baliza. Instantes depois foi o próprio Mitroglou a desperdiçar uma grande ocasião, vendo o guarda-redes defender um cabeceamento seu para a barra da baliza (poderia ter finalizado bem melhor). O tempo continuava a escoar-se e o resultado não se alterava, o que levou o Rui Vitória a recorrer basicamente à mesma alteração que tinha tentado contra o Arouca. Fez entrar um terceiro avançado (Jiménez) trocando-o pelo Eliseu, e colocando um extremo a lateral esquerdo. Desta vez foi o Gaitán, contra o Arouca tinha sido o Carcela. A alteração foi feliz, pois um minuto após a entrada em campo o Jiménez cabeceou de forma irrepreensível um cruzamento do Gaitán para empatar a partida. E ainda o público nem se tinha acabado de sentar todo após os festejos do primeiro golo quando o Samaris, num remate de fora da área depois de um bom trabalho do Mitroglou, colocava o Benfica em vantagem. Parecia mesmo um déjà vu do jogo contra o Estoril, mas desta vez pareceu-me que nos retraímos após a obtenção da vantagem. Como tínhamos em campo uma equipa muito descompensada, com três avançados e com o Gaitán a lateral, defender a magra vantagem seria sempre uma estratégia que envolvia riscos. Infelizmente o Moreirense voltou mesmo a marcar, no segundo remate que fez à baliza em todo o jogo. É certo que o golo foi precedido de um fora de jogo tão evidente que custa (ou se calhar não) perceber como foi possível validá-lo, mas o que é certo é que foi mesmo validado e agora víamo-nos empatados em casa com apenas cinco minutos para jogar. Felizmente não foi preciso sofrer muito, porque um novo cruzamento certeiro do Gaitán permitiu tirar o máximo partido da presença dos três avançados em campo, com o Jiménez a arrastar o defesa e o Jonas a surgir sozinho no interior da área para rematar de primeira e voltar a colocar o Benfica em vantagem (parecendo depois pedir desculpa pelas duas ocasiões falhadas). Vantagem que conseguimos então controlar até final sem sobressaltos.


O homem do jogo para mim foi o Gaitán, que já soma quatro assistências para golo nos jogos disputados esta época. Vão ser dois dias muito longos até ao fecho da janela de transferências, porque na minha opinião a sua saída será praticamente impossível de colmatar com a mesma qualidade. Os miúdos Victo Andrade e Nélson Semedo não estiveram tão bem hoje, pecando por excesso de individualismo. Mas neste momento a minha maior preocupação começa a ser a forma do Luisão. Para mim é talvez o jogador mais importante do Benfica, mas esta época ainda está longe do nível a que nos habituou. Para além de erros individuais, vistos também na pré-época, vejo-o muitas vezes em situações onde se encontra completamente desposicionado, o que não é nada habitual nele. Espero que volte o quanto antes ao nível a que nos habituou.

O resultado foi a vitória, mas ele não faz com que eu esqueça aquilo que vi esta noite. De uma forma sucinta, a opinião que tenho é que ganhámos este jogo sobretudo porque temos melhores jogadores do que o Moreirense. Porque em termos de equipa propriamente dita, o que eu vejo é ainda muita balbúrdia e indefinição dentro do campo. A justiça da vitória é incontestável e todas as estatísticas do jogo mostrarão que o Benfica fez muito mais do que o Moreirense para o ganhar, mas há muito que trabalhar e há muito que melhorar para atingirmos o nível que esperamos do futebol do Benfica. Nem sempre o talento individual dos nossos jogadores ou um lance fortuito mais bem conseguido conseguirá resolver um jogo no qual oferecemos demasiado tempo ao adversário. Como contra o Arouca.

segunda-feira, agosto 24, 2015

Desperdício

Tínhamos uma grande oportunidade para nos isolarmos no topo da tabela, aproveitando o empate do Porto na Madeira para ganharmos já uma vantagem pontual sobre eles. Mas infelizmente conseguimos fazer ainda pior, e registar uma inédita derrota frente ao Arouca jogando numa casa emprestada que foi praticamente nossa.


Apresentando um onze com uma única alteração em relação ao da primeira jornada (Samaris no lugar do Fejsa), o jogo acabou por ficar marcado e decidido pela má entrada que tivemos. A defender de forma desastrada, sofremos um golo logo aos dois minutos e andámos praticamente aos papéis nos minutos que se seguiram, só não vendo a desvantagem aumentar devido a uma boa intervenção do Júlio César. Depois, aos poucos, fomos melhorando e empurrando o Arouca para trás, remetendo-os a defender a sua área e a recorrer cada vez mais frequentemente às faltas para travar os nossos jogadores. Mas não soubemos tirar partido de nenhum dos livres daí resultantes. A segunda metade da primeira parte foi praticamente um assalto constante à baliza do Arouca, mas de uma maneira ou de outra aparecia sempre o guarda-redes ou um outro jogador adversário para fazer a defesa ou o corte no limite e impedir um golo que por vezes parecia certo. Quando não era isso a acontecer, era a falta de pontaria na finalização dos nossos jogadores a encarregar-se de manter o Arouca em vantagem no marcador até ao intervalo, um resultado que me parecia francamente injusto. Mas à saída para os balneários eu pensava que se o Benfica continuasse a jogar daquela forma e com aquele pendor ofensivo, o golo seria inevitável.

Infelizmente não foi isso que vi na segunda parte, para a qual regressou o Victor Andrade no lugar do Ola John (para variar até nem estava desagradado com o jogo do holandês). Continuámos sempre por cima do jogo, é certo, mas a produção ofensiva não foi a mesma. Para começar, a velocidade com que jogámos foi inferior, e mais uma vez se viu aquilo que tínhamos visto no jogo com o Estoril. Contra uma equipa que se fecha toda junto da sua área, se demoramos uma eternidade a fazer a bola chegar ao ataque apanhamo-los todos posicionados na defesa e depois torna-se muito complicado desmontar aquela fortaleza. Pareceu-me também que fomos insistindo cada vez mais pelo centro em vez de explorar mais as alas, facilitando assim a tarefa aos jogadores do Arouca - contra o Estoril foi pelas alas que conseguimos resolver o problema. Por diversas vezes vi os jogadores das alas a receber a bola e a virem para dentro para tentar o remate, que invariavelmente acabava por esbarrar em algum jogador adversário. Na fase final então acabámos a jogar com três avançados, quase numa de 'tudo à molhada' na área para ver se dali saí alguma coisa, mas já era tudo feito mais em desespero de causa do que com a cabeça, pelo que a probabilidade de sucesso era baixíssima. No cômputo final o Benfica fez mais do que o suficiente para ganhar este jogo, sobretudo durante a primeira parte, mas pagou bem caro uma entrada desconcentradíssima no jogo e uma segunda parte que não conseguiu acompanhar o que de melhor chegou a fazer durante a primeira parte, sobretudo por (pareceu-me) ter jogado com uma intensidade menor.

Num jogo que acabou por me deixar a imagem de demasiado confuso não consigo escolher jogadores que se tenham destacado claramente. Elogio o Júlio César pelo trabalho que fez, conseguindo evitar que o Arouca chegasse cedo a uma vantagem mais confortável e gostei dos passes do Pizzi no ataque durante a primeira parte. Mas acho que os jogadores estiveram todos num nível mais ou menos semelhante.

A primeira derrota acabou por surgir à segunda jornada, e que sabe ainda pior por causa do desperdício da oportunidade para nos distanciarmos do rival. Face ao início de campeonato teoricamente fácil que temos, teria sido muito importante somar doze pontos nas quatro primeiras jornadas e ainda melhor ir a seguir ao Porto com vantagem pontual. Mas já se sabe que se há uma forma mais fácil de fazer as coisas, normalmente não é essa a que escolhemos.

segunda-feira, agosto 17, 2015

Estreia

Na estreia do Estádio da Luz esta época, primeira vitória com o novo treinador. Foi um jogo no qual vimos duas faces do Benfica: a primeira, que durou um pouco mais de uma hora, foi aquela que tínhamos visto durante os jogos da pré-época e na Supertaça; a segunda, dos vinte e cinco minutos finais, foi completamente diferente para muito melhor. Espero que essa face tenha vindo para ficar.


O onze escolhido para iniciar o campeonato não apresentou muitas novidades. O Nélson Semedo manteve a titularidade que tinha conquistado no jogo da Supertaça, tal como o Ola John à sua frente. A alteração principal foi a presença do Mitroglou como homem mais avançado, o que permitiu libertar o Jonas para as funções que ele tão bem sabe desempenhar. Alguma surpresa apenas pela escolha do Fejsa para actuar como médio mais recuado, pois esperaria que fosse o Samaris a jogar. A primeira parte do Benfica foi, conforme disse já, bastante fraca. Muitas dificuldades para sair para o ataque, muita lentidão e futebol muito confuso. Demorámos mais de vinte minutos até conseguir fazer o primeiro remate no jogo, o que espelha bem a pouca eficácia atacante da equipa. Iam-se destacando o Nélson Semedo e o Gaitán pelas iniciativas individuais, a que na maior parte dos casos eram mesmo forçados porque simplesmente não tinham colegas a quem passar a bola. O Estoril apresentou-se muito fechado junto à sua área e a jogar com bastante agressividade na disputa da bola, o que em nada facilitou a nossa tarefa. O que mais me preocupou foi a lentidão de processos na saída para o ataque, expressa em excessiva posse de bola e demasiados passes em zonas perigosas. Quando finalmente chegávamos à frente, já apanhávamos toda a equipa do Estoril posicionada e a dar muito pouco espaço. O Mitroglou teve uma boa ocasião para marcar, após centro do Jonas, mas o remate saiu para a bandeirola de canto, e para além disso apenas numa outra ocasião estivemos muito perto de marcar, e já perto do intervalo, quando após um canto o Gaitán assistiu de cabeça o Luisão para este rematar à barra. Mas o mesmo Luisão, já no período de descontos, marcou um livre a nosso favor de forma disparatada e acabou por ser o Júlio César a evitar o pior, ao defender o remate do adversário que se tinha isolado.


A forma como se iniciou a segunda parte não deixava antever grandes melhorias. Começou praticamente como tinha acabado a primeira, com o Estoril quase a chegar ao golo, valendo-nos uma vez mais o Júlio César com uma defesa por instinto a negar um golo praticamente feito. O jogo começou a mudar apenas quando, findo o primeiro quarto de hora, o nosso treinador fez duas substituições de uma assentada, trocando o Ola John e o Pizzi pelo estreante Victor Andrade e pelo Talisca. Acertou em cheio. Os dois jogadores que saíram estavam a ser das unidades com maior influência directa na lentidão dos processos ofensivos do Benfica. O Talisca acabou por ser fundamental para virar o jogo a nosso favor, e o Andrade foi o complemento ideal para o Semedo na direita. Pouco depois o Mitroglou falhou mais uma boa oportunidade, quando novamente a passe do Jonas rematou para a bancada. Mas à terceira foi de vez, e aos setenta e três minutos inaugurou mesmo o marcador. Fundamental na jogada a acção do Talisca, que com um passe para a esquerda desmarcou o Eliseu e permitiu finalmente uma transição rápida para o ataque. A bola seguiu para o Gaitán, que depois colocou a bola à mercê do cabeceamento certeiro do grego. Acho que o suspiro de alívio da equipa deve ter sido audível nas bancadas - diga-se que, indiferente a todo o ruído que se vai tentando fazer, os benfiquistas acorreram à Luz (mais de cinquenta e três mil espectadores) e apoiaram a equipa do princípio ao fim. Como que liberta da pressão de marcar o primeiro golo, a nossa equipa soltou-se e aproveitou também da melhor forma o facto do Estoril finalmente ter que arriscar um pouco mais, partindo para uma exibição muito agradável nos últimos minutos e construindo uma goleada que ao intervalo era de todo imprevisível. Até porque o segundo golo surgiu logo quatro minutos após o primeiro, num penálti do Jonas e novamente com intervenção decisiva do Talisca, autor do remate de primeira que foi cortado com a mão. E, decorridos mais quatro minutos, mais um golo, surgido numa combinação entre o Nélson Semedo e o Victor Andrade pela direita, com centro do brasileiro para a cabeçada colocada do Jonas. Mesmo para o final, estava reservado um momento alto, que foi o quarto golo a concluir uma bonita jogada de equipa. Novamente o Nélson e o Andrade na jogada (foram muitos jogos juntos na equipa B...) desmarcação do Gaitán e passe de calcanhar para o Nélson receber com o pé direito e rematar cruzado com o esquerdo. Golo mais do que merecido para um dos jogadores em destaque esta noite.


Alguns jogadores merecem destaque neste jogo. Começando pela baliza, onde o Júlio César teve pouco trabalho mas o que teve foi de altíssima qualidade, e a ele devemos o facto de o Estoril não ter chegado à vantagem antes de nós. O Nélson Semedo fez um jogo muito bom e sobretudo bastante desinibido para um jogador que se estava a estrear como titular no Benfica na Luz. Culminou a boa exibição com um bonito golo, mas ainda tem que corrigir alguns aspectos do posicionamento defensivo. Algo que a experiência seguramente trará. O Gaitán voltou a mostrar ser simplesmente o mais genial jogador do campeonato português. Hoje fez duas assistências e teve inúmeros pormenores de classe absoluta. Nos piores períodos da equipa por vezes exagerou nas iniciativas individuais, talvez devido a alguma frustração, e perdeu algumas bolas, mas sempre que isso aconteceu ele foi o primeiro a lutar pela sua recuperação. O Jonas somou dois golos e mais uma exibição de qualidade - com um bocado mais de pontaria do seu colega de ataque, teria somado outras tantas assistências. Gostei também do Lisandro, e conforme disse, o Talisca e o Victor Andrade entraram muito bem no jogo.

Chegou a parecer complicado, mas no final saímos da Luz a sorrir. Mérito para o Rui Vitória na forma como leu bem o jogo e fez duas alterações que acabaram por se revelar decisivas. Espero que esta vitória retire alguma da pressão sobre a equipa e lhe permita continuar a evoluir com maior tranquilidade. Temos umas primeiras jornadas da Liga teoricamente fáceis, o que é o ideal para assentar ideias e acumular vitórias que dêem confiança. Havendo isso, tudo o resto virá de forma mais fácil.