sábado, abril 26, 2008

Obrigação

O melhor é mesmo saborearmos a vitória desta noite. É que vitórias, ainda por cima em casa, têm sido coisa rara esta época. Não foi uma vitória fácil, ou não fosse o nosso adversário uma das equipas em melhor forma no campeonato, mas julgo que os nossos jogadores fizeram o suficiente para justificá-la, mesmo tendo passado por períodos de algum aperto.

A primeira nota vai para a presença de mais de 33.000 espectadores nas bancadas. Surpreendeu-me, porque esperava um divórcio mais radical dos adeptos com a equipa face às últimas exibições e resultados. As ausências do Petit (lesão), Binya e Maxi (castigados) significaram o avanço do Katsouranis para a posição de trinco, regressando o Edcarlos à defesa para o lado do Luisão, e entrando o Nuno Assis para o lado direito do meio campo. O Benfica teve uma entrada agradável no jogo, rápida e dinâmica, o que aliás não tem sido raro nos últimos jogos. O pior costuma vir depois. E a verdade é que cheguei a ter essa sensação hoje, porque a nossa dinâmica pareceu esmorecer ao fim de quinze minutos, sendo então o Belenenses quem se instalou no nosso meio campo e passou a mandar no jogo. Mas um livre do Cardozo, que levou a bola a bater na barreira e a passar muito perto da baliza, pareceu voltar a acordar a equipa, que mais uma vez voltou a pressionar o adversário. O Cardozo voltou a estar perto de marcar, mas o guarda-redes do Belenenses conseguiu sair da baliza e fazer bem a mancha. Já perto do intervalo, o golo chegou mesmo, quando na sequência de um canto um mau alívio da defesa belenense fez a bola cair à frente do Luisão, ainda dentro da área, tendo este finalizado com um remate de primeira para um bom golo. Apesar de faltar pouco para o intervalo, ainda houve tempo para um grande susto, sendo necessária uma boa intervenção do Quim para evitar o golo do empate. A vantagem mínima ao intervalo era aceitável, mas acima de tudo achei que até aí foi um jogo bastante interessante de seguir, disputado a uma boa velocidade e com muito poucas interrupções (quanto menos se dá pela presença do árbitro, melhor).

Em relação à segunda parte, entrámos muito mal. Foi mesmo o nosso pior período em todo o jogo, durante o qual o Belenenses mandou em campo e parecia estar iminente o empate. Logo no início foi uma intervenção providencial do Nélson sobre o Zé Pedro a evitá-lo. Fomos também, e felizmente, protegidos pela sorte, já que numa jogada do Belenenses vimos mesmo a bola embater no poste da nossa baliza por duas vezes. Era necessário dar um abanão ao jogo, caso contrário as coisas certamente não nos seriam favoráveis, e isso aconteceu quando o Chalana se decidiu por retirar um apagadíssimo Nuno Gomes do campo para dar lugar ao Di María. Na primeira vez que o argentino tocou na bola, sofreu falta, dando origem a um livre bem ao jeito do Cardozo. E este não decepcionou, marcando-o de uma forma exemplar e aumentando a nossa vantagem. O Cardozo daquela zona é mais ou menos o equivalente ao que era o Van Hooijdonk do lado oposto: um livre dali já é quase meio golo. Com a vantagem alargada, o Benfica acalmou, e o Belenenses acabou por se suicidar com a expulsão do Hugo Alcântara. Apesar de não terem baixado os braços, a verdade é que com o Zé Pedro a fazer de central improvisado abriram-se muitos espaços para os contra-ataques do Benfica, e foi só por muita falta de calma que não conseguimos aproveitá-los e ampliar a vantagem (que, sinceramente, seria excessiva para aquilo que se passou em campo).

Quando se ganha é sempre mais fácil dizer-se que está tudo bem. Podia elogiar mais uma vez o Rodríguez, por tudo aquilo que trabalha enquanto está em campo. Podia também elogiar as melhorias do Luisão, sem dúvida motivado pelo golo que marcou. Mas prefiro destacar dois dos jogadores mais mal-amados pelos adeptos. Por isso digo que gostei, e fiquei mesmo surpreendido com o Edcarlos. Acho que fez um jogo bastante positivo, com desarmes em antecipação e várias intercepções por estar colocado no sítio certo (quando o posicionamento dele em campo costuma ser uma das coisas que mais me leva a criticá-lo). Gostei também do jogo do Nélson. Apoiou sempre o ataque e, sobretudo, por diversas vezes dobrou os centrais na perfeição, mostrando-se sempre muito atento na defesa. No pólo oposto, e conforme referi antes, o Nuno Gomes teve um jogo para esquecer. Notou-se aliás a diferença quando entrou o Di María para o lugar dele. Mesmo estando ainda 'verde', e perdendo jogadas por precipitação, a verdade é que ele deu muito mais trabalho à defesa adversária. Parece-me que seria sensato, até para proteger o próprio jogador, dar-lhe algum tempo no banco.

Cumpriu-se a obrigação de vencer. Agora resta-nos esperar por aquilo que os nossos adversários directos conseguirão fazer.

P.S.- Achei indecente que as nossas cheerleaders não tivessem aparecido hoje. Será que já acabou o contrato com a Axe?

domingo, abril 20, 2008

Cinzento

Terceira derrota consecutiva, e não conseguimos aproveitar o deslize do Guimarães em Coimbra e o trambolhão da lagartagem em Leiria. Parece-me que agora o segundo lugar só muito dificilmente estará ao nosso alcance, até porque não me admiraria nada que o fóculporto resolvesse fazer alguma 'gestão de esforço' do plantel na próxima jornada.

Com um onze muito semelhante aos apresentados recentemente, entrámos no jogo praticamente a perder, devido a um golo igual a tantos outros que o Lisandro já marcou esta época. Quando o deixam à vontade para receber a bola à entrada da área, o resultado é o esperado. Depois do golo o que se viu foi um jogo com um ritmo bastante pausado, e o Benfica a ter surpreendentemente bastante liberdade para jogar. Mas o que sobressaiu foi mesmo a incapacidade para criarmos jogadas de perigo, mesmo quando nos era permitido ter a bola durante bastante tempo. Trocávamos a bola, entrávamos no meio campo adversário, mas depois furar a defesa adversária é que nada feito. Excepção feita a um cruzamento do Nélson que foi ter com o Rui Costa, raramente tive a sensação de que poderíamos chegar ao empate. Desta vez nem vou dizer que foi falta de atitude dos jogadores, porque vontade não lhes parecia faltar. Foi sim incapacidade para conseguirem ameaçar seriamente a baliza adversária - além disso, nas poucas ocasiões em que conseguiam criar espaço para rematar, optavam sempre por mais um toque ou mais um passe e obviamente acabava por cair-lhes um adversário em cima.

Na segunda parte o fóculporto apareceu a jogar de uma forma mais rápida do que o tinha feito na primeira, e a mostrar maior agressividade, o que lhes permitiu empurrarem-nos para dentro do nosso meio campo. O Benfica já não conseguia construir jogadas, principalmente porque era quase incapaz de manter a posse da bola. No ataque o Di María teve um jogo para esquecer, praticamente não conseguindo segurar a bola uma única vez durante toda o segundo tempo.
As entradas do Cardozo e do Makukula nada alteraram, até porque o Benfica era incapaz de fazer a bola lá chegar. O adversário pareceu estar sempre mais perto do segundo golo, que acabou por surgir mesmo, e mais uma vez da mesma forma que tinha surgido o primeiro. Um passe para a entrada da área onde apareceu mais uma vez o Lisandro livre de marcação, e com uma autêntica clareira à frente para poder escolher para que lado queria rematar, frente a um desamparado Quim. Ainda antes do final, e porque as tradições são muito bonitas e por isso devem ser mantidas, o Binya foi expulso para que o Benfica não acabasse com onze em casa do fóculporto, como manda a cada vez mais enraizada tradição.

Não vou destacar ou cascar seja em quem for. Acho que toda a equipa esteve, de uma forma geral, a um nível bastante sofrível. Não estiveram desastrosos, mas também não me conseguiram entusiasmar por aí além, e a verdade é que nunca me pareceram estar em condições de ameaçarem sequer discutir a partida. Foi tudo muito cinzento, como cinzento também tem sido este penoso final de época para todos os benfiquistas.

sexta-feira, abril 18, 2008

Bruxas

"Primeiro, tira-se quem está e depois logo se vê"

Esta frase é brilhante. Num tão parco conjunto de palavras o seu autor conseguiu resumir, de uma forma tão eloquente, qual a mentalidade e racionalidade por detrás de uma iniciativa deste tipo e das pessoas que a ela se juntam. Nem o mais fervoroso apoiante do LFV conseguiria apresentar-me um argumento tão convincente para não apoiar isto (e não, eu não sou um fervoroso apoiante do LFV, apenas tenho um péssimo hábito de gostar de respeitar as regras com que me comprometi de livre vontade, e de me manter fiel à minha palavra). Acho que é o mais elementar direito das pessoas poderem manifestar-se quando se sentem insatisfeitas. Eu estou naturalmente insatisfeito, e muito. Mas há regras e formas para o fazerem, e que se calhar serão até mais eficazes e mais facilmente levadas a sério. Uma frase assassina como a que dá o mote a este post é um sério rombo (pelo menos para mim) na credibilidade desta acção. Até porque isto provoca-me sensações de déjà vu, vindo-me à memória o ano de 1997 e o que daí resultou.

Com adeptos imbuídos de tão revigorante lucidez, e desejosos de determinar o futuro do nosso clube, só posso sentir-me esfuziantemente confiante. Bravo!

P.S.- Lamento, mas de cada vez que penso neste tipo de acções só consigo mesmo lembrar-me desta multidão. Com a importante diferença que a situação real não tem piada nenhuma. A seguir a queimarmos esta 'bruxa', de certeza que encontraremos outra.

quarta-feira, abril 16, 2008

Indignidade

Senhores jogadores do Benfica, a coisa põe-se de uma forma muito simples: vós não sois dignos da camisola que envergam. Vós não mereceis os adeptos que têm. Cinco dias depois de uma derrota copiosa em casa, com uma equipa claramente inferior, o que é que esses adeptos fazem? Respondem ao apelo do amor que sentem pelo seu clube, acorrem em massa a um jogo decisivo, e enchem uma bancada inteira do estádio adversário. E qual é a vossa resposta? Cospem-lhes na cara, e enchem-nos de vergonha. Não, não é vergonha de sermos Benfiquistas. É vergonha por nos vermos, e ao nosso clube, tão indignamente representados em campo. Esta noite todos vocês, jogadores e equipa técnica, fizeram questão de entregar de mão beijada ao adversário um jogo que estava objectivamente ganho.

Foi uma primeira parte de supremacia quase completa do Benfica. Jogaram como uma equipa, marcaram dois golos, e mais poderiam ter marcado contra uma equipa que tremia como varas verdes sempre que era minimamente pressionada no seu meio-campo. Os dois golos de desvantagem ao intervalo eram até lisonjeiros para um adversário que nada conseguia fazer, e que parecia completamente desorientado com a presença de um Di María solto na frente de ataque. E na segunda parte, inexplicavelmente, resolveram controlar o resultado da pior maneira possível, ou seja, a deixarem o adversário jogar à vontade, com ausência de qualquer pressão, como se mais nada fosse necessário fazer. E se as primeiras indicações da segunda parte já não eram famosas, quando saiu o Di María - sim, era necessário que entrasse alguém para reforçar o nosso lado esquerdo, mas não era o Di María quem deveria ter saído, porque estavam em campo candidatos óbvios à saída. Mas esses são intocáveis, não se tiram do campo, só saem mesmo quando pedem para sair, não é?

Depois da saída do Di María foi um descalabro, e em alguns minutos o resultado estava invertido, parecendo a nossa equipa quase amorfa e sem capacidade para reagir. Mesmo assim, bastou voltar a pressionar a defesa adversária para que o erro voltasse a surgir, e um improvável (para a atitude que a equipa mostrava em campo) empate surgiu. Mas como um dos intocáveis, apesar das sucessivas asneiras que vinha fazendo em campo (para não falar das que tem feito em jogos anteriores) continuava em campo, depois de tantas ameaças lá conseguiu acabar por perder a bola em zona proibida, e com tanto azar que o remate adversário ressalta no Luisão e torna-se indefensável para o Quim. Depois, talvez consciente da(s) asneira(s) que tinha feito, o Sr.Petit lá se apercebeu que não deveria estar em campo e pediu para sair. Mesmo assim não entrou o jogador que, como era óbvio para qualquer um de nós naquela bancada desde o início da segunda parte, deveria ter entrado. Entrou o Cardozo e o Binya lá continuou a aquecer, sem chegar a entrar. Deu portanto para sofrermos ainda mais um golo, para conseguirmos o feito de conceder cinco golos em menos de meia hora e perder uma meia-final que estava ganha.

Como avaliar jogadores que tiveram uma prestação tão dicotómica de uma parte para a outra? Quase todos excelentes na primeira parte, disparatadamente maus na segunda? Aliás, na segunda parte talvez só mesmo o Rodríguez tenha destoado dos outros, por parecer ser o único a continuar a acreditar e a lutar. É melhor mandarem-no embora, para não envergonhar os outros. O Katsouranis fez um bom jogo na primeira parte, mas qualquer membro de uma defesa que sofre cinco golos não pode ser destacado. Grandes responsáveis pela derrota foram o Petit, o Rui Costa e o Chalana. O nosso meio campo deu um estoiro físico monumental, obviamente porque estes dois senhores já não podiam mais. Foi por aí que começámos a perder o jogo. Mas o Chalana teimou em mantê-los em campo. O Petit então é um caso perdido. Está muito, muito longe do seu melhor e, tal como disse no jogo passado, nas condições actuais não tem lugar a titular no Benfica. Infelizmente, só depois de enterrar completamente é que resolveu dar o braço a torcer e sair do campo.

Agora acabou-se. Um por um, esta equipa foi perdendo todo e qualquer objectivo para esta época. Por mim, e até ao final, se colocassem os juniores a jogar não me importaria nada. De certeza que falhariam bastante, mas suspeito que pelo menos mostrariam uma atitude em campo muito mais condigna com o clube que representam. Hoje perdi a última réstia de respeito que ainda tinha pelos nossos jogadores.

sábado, abril 12, 2008

Brilhante

Um jogo brilhante. Tacticamente perfeitos, uma defesa sólida com grande espírito de entreajuda entre os seus jogadores, uma terrível eficácia no aproveitamento dos erros adversários e um grande guarda-redes em noite inspirada. Como é óbvio, estou a referir-me à Briosa. Não posso falar muito sobre o meu Benfica porque, sinceramente, não sei por onde é que ele anda. Esta noite apareceu ali no relvado do Estádio da Luz um bando de rapazes equipados de vermelho que pretenderam passar pelo Benfica, mas a mim não me enganam, porque eu já vejo futebol e o Benfica há muitos anos e não reconheci ali Benfica nenhum. Aliás, alguns daqueles rapazes até pareciam estar a jogar à bola pela primeira vez na vida, e como tal foram convincentemente vencidos sem apelo nem agravo pela Académica.

E as crianças, senhores, pensem nas crianças! Num jogo em que os menores de dezoito anos entravam sem pagar, quantas das crianças presentes hoje no estádio vão ficar traumatizadas para o resto da vida com a caricatura do Benfica que viram ali hoje? Eu até acho que os nossos jogadores tentaram que as coisas corressem melhor, mas francamente, alguns deles jogaram mesmo muito, muito mal. Também o próprio treinador errou, na minha opinião. Não me pareceu uma boa solução iniciar o jogo com o Binya do lado direito. Desse erro ele ainda se apercebeu, mas depois voltou a errar ao retirar o camaronês do campo e ao manter o Petit, que como todos sabemos tem lugar cativo mesmo que se ande a arrastar pelo campo. Não ajudou nada termos começado o jogo a perder. Logo aos três minutos o Luisão faz um atraso para o Quim que sai com pouca força, e resulta numa assistência para o primeiro golo da Briosa. Mas também devo dizer que eu, na bancada, logo no princípio do lance, apercebi-me que o Luisão iria atrasar a bola. O jogador da Académica também, e por isso é que começou logo a correr para interceptar a bola. Acho que quase toda a gente no estádio se apercebeu disso. Com excepção do Quim, que estava no seu lugar do costume quando o atraso é feito, ou seja, quase dentro da baliza (a linha da pequena área parece ser-lhe uma barreira intransponível). Bem, se calhar ele até se apercebeu que o atraso ia acontecer. O problema é aquele varão que o atravessa lateralmente à altura da cintura e que o impede de sair da baliza, permitindo-lhe apenas a movimentação lateral sobre a linha de golo. Foi por isso que ele lá estava quando o Luisão fez o passe, e foi por isso que mesmo depois do passe ele continuou na pequena área (fez que saía, mas depressa voltou para trás).

A perder desde o início o Benfica mostrou vontade de reagir, mas para além da inspiração do regressado Luisão (não foi só o lance do primeiro golo da Académica, ele hoje esteve tão disparatado que houve alturas em que, confesso muito envergonhadamente, cheguei a sentir saudades do Edcarlos) esta noite contámos com uma dupla atacante inspiradíssima. Só à conta do Cardozo deve ter sido uma mão cheia de oportunidades de golo desperdiçadas. Mas o disparate não terminou por aí. A meio da primeira parte até o Léo, que é daqueles que raramente falha, resolveu inventar em zona proibida, perdeu a bola e fez falta, daí resultando um livre lateral a favor da Académica. Da marcação deste, e de uma forma bizarra, um defesa da Académica conseguiu marcar golo quase deitado de costas em cima do seu marcador directo (acho que era o Nuno Gomes, que não me admiraria nada que estivesse a cometer penálti naquele lance). Pelo meio, já o Pedro Roma tinha negado o golo a um cabeceamento do Luisão, e o Cardozo tinha falhado escandalosamente na pequena área após um cruzamento do Nélson. O Chalana entretanto lá retirou o Binya do campo, fez entrar o Di María, e pouco tempo depois de entrar em campo o argentino colocou a bola no poste com um grande remate. Mais um indício que era uma noite aziaga.

Após o intervalo, sem alterações, esperava-se um Benfica mais concentrado e a carregar desde o início, mas qual quê. Foi ainda pior. Ainda se criaram algumas boas oportunidades de golo, mas aquilo que a defesa da Académica não resolvia, resolvia-o o Pedro Roma. O Chalana resolveu recorrer ao talismã Mantorras, retirando o Nuno Gomes do campo. Mais um erro. Sem um jogador em campo para deitar as mãos à cabeça e bater palmas aos companheiros depois de não conseguir chegar a um passe deles (não sei se estou enganado, mas esta pareceu-me ser a função principal dele em campo) a equipa desorientou-se. Para além disso, o Mantorras foi juntar-se ao acampamento montado nas costas da defesa academista, onde o Cardozo parecia estar confortavelmente instalado, não fossem os irritantes apitos e acenar de bandeirolas que o incomodavam de cada vez que a bola seguia na sua direcção. A desorientação foi tal que em mais um contra-ataque da Académica o Petit resolveu chutar a bola contra o Katsouranis, sobrando o ressalto para um jogador da Académica que fez golo facilmente. A parte mais ridícula do lance é que foram três(!) jogadores do Benfica para cima do jogador adversário que levava a bola, sobrando esta para o outro adversário que naturalmente ficou completamente solto na área. Com três golos de desvantagem, entra um terceiro avançado (Makukula) e sai o Léo. Tendo em conta os buracos que isto abriu cá atrás, e ainda o facto de mais de metade da equipa já não se incomodar em recuar, esta medida pareceu-me ser um incentivo extra ao avolumar do resultado para a Académica. Devido à boa vontade sobretudo do Katsouranis tal não aconteceu, ficando o 3-0 no marcador e ficando muito bem.

Num naufrágio como o desta noite, o que é que se pode dizer sobre melhores ou piores? Salvaram-se talvez o Katsouranis, que foi dos mais lúcidos na defesa, sacrificando-se ainda a tapar o lado esquerdo depois da saída do Léo, e o Rodríguez, a quem as coisas não saíram muito bem, mas que correu, esforçou-se, rematou, centrou e lutou até não poder mais. Curiosamente, estou a falar de dois jogadores que nos arriscamos a não ver no Benfica na próxima época. Piores foram os outros todos, mas destaco o péssimo jogo do Luisão, não só pelo golo oferecido mas também por um chorrilho de jogadas disparatadas, e destaco também pela negativa o Cardozo, que hoje parecia ser incapaz de acertar com a baliza, chutando para todo o lado menos para onde devia. Não sei se saiu lesionado do campo ou não, mas de qualquer forma não gostei nada de o ver sair daquela maneira. Digo também que o Petit, na forma actual, não tem lugar no onze titular do Benfica. Está lento e complicativo, e com um raio de acção muito mais reduzido que o habitual, pelo que a sua acção recuperadora de bolas quase não se vê. Digo também que continua a causar-me estranheza que um jogador que sai do Benfica para ir jogar pela sua selecção olímpica, marca quatro golos em três jogos e é elogiado pela qualidade do que fez nesses três jogos, depois volte ao clube e desde então não tenha lugar sequer nos dezoito convocados.

De todas as equipas com quem o Benfica possa perder, a Académica é aquela que menos me incomoda. Os três pontos far-lhe-ão muita falta na luta pela manutenção, e são merecidos. Quanto ao Benfica, pergunto-me se estaremos assim tão interessados no segundo lugar, porque às vezes não parece. Uma equipa que persegue um objectivo não pode jogar tão desconcentrada como hoje.

domingo, abril 06, 2008

Injustiça

Uma tremenda injustiça. O Benfica tudo fez esta noite, no Bessa, para conquistar os três pontos. Mas uma conjugação de falta de sorte, aselhice, inspiração do guarda-redes do Boavista, e influências externas acabaram por ditar um nulo que nos deixa uma sabor muito amargo na boca. Houve alturas deste jogo em que à memória só me vinha o malfadado jogo contra este mesmo Boavista o ano passado na Luz.

O nosso treinador Chalana afinal optou por não mudar nada em relação à equipa que no passado fim-de-semana venceu o Paços de Ferreira. Apesar de recuperado, o Luisão sentou-se no banco. E o Benfica começou o jogo a mostrar que está em franca recuperação. Jogámos um futebol alegre, claramente de ataque, com os jogadores a desmarcarem-se abrindo várias opções de passe, saindo e trocando de posição frequentemente. O Boavista só ao fim de cerca de quinze minutos pareceu começar a acertar com o nosso jogo, conseguindo então equilibrar as coisas e passando a aparecer também com algum perigo no nosso meio campo. E foi durante esse período (cerca dos vinte e cinco minutos de jogo) que dispôs mesmo de uma oportunidade soberana para marcar, beneficiando de um penálti claro cometido pelo Edcarlos. Só que o Quim defendeu o remate do Jorge Ribeiro, e isto acabou por dar o mote para que o Benfica voltasse a melhorar o seu jogo, construindo algumas oportunidades que foram desperdiçadas (estou-me a lembrar por exemplo de uma do Nuno Gomes logo na resposta ao penálti) e que de alguma forma começaram a dar o mote para aquilo que seria a segunda parte do jogo.

Na segunda parte, sem quaisquer alterações, o Benfica entrou ainda mais ao ataque. Remates do Cardozo e do Rui Costa puseram à prova o inspirado Jehle. E após quinze minutos, o Chalana recorreu à mesma substituição da semana passada, retirando o apagado Maxi para entrar o Di María. E, tal como a semana passada, o Benfica transfigurou-se. Se até aí o domínio do Benfica no jogo tinha sido claro, a partir desse momento tornou-se avassalador, com o Boavista praticamente a não conseguir sair do seu meio campo e, inclusivamente, a passar por muitos períodos em que nem sequer conseguia sair da sua área. As oportunidades de golo para o Benfica começaram a suceder-se, mas a bola teimava em não entrar, com o guarda-redes adversário a revelar estar numa noite inspirada. Durante esta meia hora final, vi o Benfica jogar e fazer coisas como há muito tempo não o via fazer, e a vitória parecia ser não só o corolário lógico mas também justo para tudo aquilo que os nossos jogadores faziam em campo. Só que mesmo quando parecia impossível não ser golo, havia sempre um pé, um poste, uma defesa de último recurso, e o nulo foi-se arrastando até final. Não merecíamos isto.

Não consigo estar a escolher os melhores ou os piores neste jogo. Fiquei tão entusiasmado e irritado com aquilo que se ia passando que deixei de conseguir ver o jogo de uma forma muito racional. Só via o nosso assalto à baliza adversária, vaga atrás de vaga, e a bola a não entrar. Acho que toda a equipa merece um aplauso, incluindo a equipa técnica, por ter-me deixado ver o Benfica jogar à Benfica.

A semana passada foi evidente que nos estão a querer tirar do segundo lugar seja por que meios for. O Chalana deixou-se de discursos politicamente correctos e disse isso mesmo. A nomeação do inevitável Lucílio Baptista para este jogo já fazia antever a continuação do 'trabalhinho', e o Lucílio não desiludiu quem decidiu nomeá-lo. Já foram muitas as situações em que ele mostrou todo o seu valor a arbitrar-nos (as mais flagrantes foram no jogo do título do sportém, que o Sabry estragou, e na final da Taça de Portugal de luta livre, contra o fóculporto do Mourinho), e talvez por isso continuem a nomeá-lo. Hoje foi mais uma para a história. Se depois do serviço do Elmano a semana passada ainda subsistiam algumas dúvidas sobre aquilo que o Chalana disse, julgo que estarão dissipadas hoje. Olhem para a posição do Lucílio em relação à jogada nos dois lances de que o Benfica se queixa. Era impossível não ver o que se passou estando na posição em que está. Se não marcou foi porque não quis. Ou porque saber que alguém não queria. Mas de certeza que não se falará muito nisto. Como de costume, é mais fácil dizer que a culpa é do Benfica, que falhou aqueles golos todos.

Isto um dia acaba mal. Muito mal.