segunda-feira, dezembro 21, 2009

Equipa

Tendo em conta que já ando por aqui na blogosfera a escrever umas coisas sobre os jogos do nosso Benfica há cinco anos (tudo começou numa fria noite de Dezembro de 2004, após uma noite desastrosa no Restelo) devem saber que, por norma, não tenho o hábito de utilizar excessos de linguagem nestas crónicas e, apesar do meu mais que natural facciosismo, tento analisar os acontecimentos dos nossos jogos de uma forma minimamente objectiva. Tendo isto em conta, fazendo então uso do máximo de objectividade que me é possível para falar deste jogo, o que me apetece escrever é:


INCHEM PORCOS!

OK, agora que já deitei isto cá para fora: é isto? É só isto que a maravilha futebolística do fóculporto, na sua máxima força, em plena recuperação e na mó de cima para este jogo, como não se cansaram de nos martelar, tem para apresentar? É por isto que me querem impingir que o Super Escarreta vale 100 milhões? Fomos melhores sem o Aimar, fomos melhores sem o Di María, sem o Coentrão, ou sem o Amorim. Fomos ainda melhores mais tarde, sem o Ramires. Fomos melhores com o Carlos Martins, com o Weldon, com o Luís Filipe, e tenho a certeza de que esta noite seríamos melhores mesmo que fosse necessário ir buscar o Balboa. Fomos melhores porque esta noite fomos uma equipa sólida, coesa, organizada e com garra e vontade de vencer. E do outro lado, o pessoal que não sabia quem era o Saviola e o Cardozo, que tinha a certeza que iria passar o ano na liderança, e que nem se preocupava connosco apresentou uma equipa medrosa na primeira parte, e que quando precisou de correr atrás do resultado a melhor jogada que conseguiu imaginar foi despejar livres assinalados perto da linha do meio campo para dentro da área.

Para este jogo, como sabíamos, tínhamos o extremo titular (Di María) suspenso. A opção óbvia para o substituir (Coentrão) também. Foram desenhados todos os cenários e mais alguns face a isto. David Luiz na esquerda, subindo o Peixoto, Menezes, etc. Temos mais um extremo no plantel, chama-se Urretavizcaya, e foi ele quem jogou. E bem. Conforme esperava, o Ramires recuperou e ocupou o seu lugar, e face à indisponibilidade do Aimar, avançou o Carlos Martins. Do outro lado, o receio do costume do Juju ficou desde logo expresso com a presença do insípido Guarín no onze. Deve ser a tradicional corrente de pensamento que defende que em campos em mau estado só mesmo jogadores brutos ou toscos é que conseguem jogar (basta vermos o sucesso que a equipa do sportém, recheada de toscos, brutos, ou ambos tem nos jogos em casa que esta teoria desmorona-se imediatamente).

A primeira parte resume-se à superioridade do Benfica. Primeiro, porque ganhámos claramente a luta do meio campo. O Javi foi o monstro do costume naquela zona, mas foi muito bem auxiliado nas suas tarefas pelo Carlos Martins e pelo Ramires, enquanto que o Urreta substituiu muito bem o Di María na tarefas de saída rápida para o ataque. Ganha esta luta, o Benfica subiu as linhas de pressão, tendo eu hoje visto aquela pressão sobre o jogador adversário portador da bola ainda no seu meio campo, a exemplo do que vimos tantas vezes no início da época. Juntando a isto a forma como soubemos ocupar os espaços e cortar linhas de passe, o resultado foram várias recuperações de bola logo sobre a linha do meio campo, ou mesmo ainda no meio campo adversário, sendo que estes praticamente não conseguiam sair para o ataque de uma forma minimamente organizada - a quantidade de passes errados dos andrades deve ter sido brutal. Em termos práticos, isto fica evidente num simples facto: durante a primeira parte, os andrades fizeram um remate, remate esse feito aos dois minutos de jogo, na sequência de um livre, e que o Homem dos 100 Milhões se encarregou de fazer passar, sem exagero, uns quinze metros acima da baliza (OK, houve outro remate, mas considerar aquilo que o
Homem dos 100 Milhões fez, levando a bola a sair pela linha lateral, um remate parece-me um exagero). O nosso golo resulta aliás de mais uma recuperação de bola ainda no meio campo andrade. Com alguma felicidade, é certo, o corte do David Luíz apanhou a defesa adversária em contra pé, e fez a bola ir ter com o Saviola. Depois a frieza do argentino, com um simples toque na bola, fez o resto. Já agora, gostaria de saber quanto se terá que pagar para podermos sentarmo-nos confortavelmente e ver um golo do Benfica no lugar privilegiado que o Maxi ocupou.

A vantagem ao intervalo era mais que justa, e a segunda parte trouxe um Benfica um pouco mais retraído, sem no entanto perder o controlo. Os andrades, naturalmente, tinham que forçar para chegar ao golo, e deixaram o Guarín no balneário, entrando o Varela para o seu lugar, e passando o
Homem dos 100 Milhões para o lado do Falcao. Durante os primeiros quinze minutos não se passou nada de extraordinário, mas depois começou a ser visível que jogadores com menor ritmo competitivo, como o Carlos Martins e o Urreta, estavam a perder gás, e isto permitiu aos andrades subirem um pouco mais, e ter os seus dois melhores momentos no jogo: um remate do Pereira que o Quim defendeu, e um outro do Meireles que tabelou num jogador nosso e acabou por passar pouco ao lado. O Jorge Jesus viu bem e mexeu bem na equipa. As entradas do Weldon (foi encostar-se à esquerda) e do Luís Filipe (para médio direito, passando o Ramires para o centro - depois o Luís Filipe acabou por trocar com com o Maxi), quando faltavam cerca de vinte e cinco minutos para o final, acabaram com quaisquer veleidades do nosso adversário. Infelizmente o Ramires lesionou-se pouco depois, e teve que ser substituído pelo Menezes. O certo é que depois das substituições o Benfica voltou a ter o jogo na mão, e raramente o nosso adversário deu ideia de poder discutir o resultado, já que nesta fase já optava quase exclusivamente pelo pontapé para a frente. Segurámos a justíssima vitória, que até poderia ter sido mais dilatada, sobretudo se um penálti absolutamente incrível cometido pela Meretriz Uruguaia tem sido assinalado. Há lances que são duvidosos, e que muitas vezes até depois das repetições em câmara lenta se continua com dúvidas. Mas aquilo? Alguém pode ter ficado com dúvidas? Acho que só em Portugal, e só aquele clube é que se safaria de ter aquele penálti assinalado contra. Ah, e para os amantes de estatísticas que pululam na comunicação social, sugiro que vão verificar quantos jogos da Liga o fóculporto conseguiu vencer depois do adversário marcar primeiro.

Já o disse antes: vencemos esta noite sobretudo por termos jogado como um equipa. Não quero cometer injustiças ao destacar este ou aquele jogador. Mas quero mencionar o óptimo jogo feito pelo miúdo Urreta enquanto teve pernas. Não sei como seria o jogo se tivesse jogado o Di María ou o Coentrão, mas o Urreta fez com que não ficássemos com saudades deles. Depois, e porque nem sempre sou muito simpático com ele, quero também elogiar o Carlos Martins. Foi importantíssimo na organização de jogo, e uma ajuda fundamental na luta do meio campo. Também, enquanto teve pernas. A defesa esteve bem num todo, mas o David Luiz esteve ao nível do costume, ou seja simplesmente imperial. O Javi foi um monstro no meio campo, e que dizer do Ramires? Esteve lesionado e em dúvida para este jogo? Não se notou nada, porque em campo foi o guerreiro do costume, e só foi pena ter saído lesionado.

O jogo de hoje mostrou, claramente, quem é a melhor equipa.
Os nossos jogadores estão de parabéns. Foi uma vitória à campeão, conquistada à custa de muita luta, e de todos terem trabalhado em prol da equipa. Sinto-me muito, muito orgulhoso da nossa equipa. Tem piada que os nossos adversários e inimigos gostam de acusar a comunicação social de nos ser simpática, e sobrevalorizar a nossa equipa e jogadores. Depois do que eu vi esta noite, não só fiquei sem dúvidas sobre qual é a melhor equipa, mas fiquei também sem muitas dúvidas sobre quem é que andará a ser sobrevalorizado.

sábado, dezembro 19, 2009

Diz-me com quem andas...

A 'paixão' do presidente do fóculporto pela cidade de Lisboa é sobejamente conhecida. Claro que o motivo principal desta paixão é, sobretudo, o facto do Sport Lisboa e Benfica ter nascido e estar sediado nesta cidade. Mas Pinto da Costa, fazendo alarde da sua reconhecida generosidade, não poderia restringir o seu ódio (algo que o presidente dos andrades é mestre em semear e cultivar) apenas ao nosso clube e, consequentemente, deixa-o espraiar-se sobre a nossa capital num todo. Seja em declarações bacocamente regionalistas, em iniciativas meritórias como a do famoso lema 'Nós só queremos Lisboa a arder!', em incursões pela política, o que é certo é que situações não faltam para exemplificar o respeito e amor que tão obscura personagem nutre pela nossa cidade.

Dito isto, não posso deixar de manifestar a minha surpresa ao me chegar aos ouvidos a informação de que o presidente da nossa edilidade resolveu comparecer a um jantar, que se realizará hoje na casa do fóculporto em Lisboa, e que contará com a presença do mais famoso conselheiro matrimonial português. Não tenho dúvidas que o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr.Rui Rio, não seria apanhado em tal situação. Mas pelos vistos o Dr.António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, já não tem quaisquer pruridos em sentar-se à mesa com esta sinistra personagem. Já não basta os deputados da nossa nação receberem-no e oferecerem-lhe almoços de homenagem em plena Assembleia da República, mas agora a cereja no topo do bolo é o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa juntar-se ao beija-mão que este Padrinho de tantas iniciativas louváveis inspira. Para além de benfiquista, como cidadão e eleitor da cidade de Lisboa, revolta-me que o representante máximo da minha cidade ignore todas as barbaridades e o ódio que o presidente do fóculporto vomita regularmente sobre a minha cidade, e aceite sentar-se à mesa com ele.

P.S.- Por suposição, alguém consegue imaginar o que o Grande Conselheiro Matrimonial (e os seus acólitos espalhados pela comunicação social) diriam ou escreveriam se, por exemplo, o Dr.Rui Rio se deslocasse à Casa do Benfica no Porto para partilhar um repasto com Luís Filipe Vieira? E isto quando ao nosso presidente, que eu saiba, não se lhe conhecem quaisquer afirmações aviltantes sobre a cidade do Porto, muito menos ao nível daquilo que já ouvimos ao presidente do fóculporto dizer sobre Lisboa, ou sobre ele pendem os anátemas criminais por demais conhecidos da opinião pública sobre o referido senhor de Contumil.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Normal

A nossa segunda linha chegou e sobrou para cumprir o dever de obter uma vitória normal e esperada no último jogo da fase de grupos da Liga Europa, frente ao adversário que nos impediu de fazer o pleno de vitórias. Era um jogo sem qualquer importância para a competição, e cujo interesse residia apenas na possibilidade de ver em acção vários jogadores menos utilizados.

E oportunidades para isso não faltaram, já que o Benfica mudou quase por completo, apresentando no onze inicial apenas o Di María e o Coentrão do grupo de jogadores mais utilizados. De resto, uma defesa nova, com o Luís Filipe e o Shaffer nas laterais, os dois miúdos Miguel Vítor e Roderick no centro. Meio campo com Carlos Martins, Coentrão, Menezes e Di María, e a dupla de avançados constituída pelo Nuno Gomes e o Weldon. Um factor interessante para mim foi ver o Carlos Martins jogar na posição mais recuada do meio campo. Obviamente, não podia ser um recuperador de bolas ou sequer ser uma grande ajuda aos centrais, como normalmente faz o Javi. Acabou por ser um distribuidor de jogo numa posição mais recuada, tirando partido da boa capacidade de passe que tem, e não se saiu mal nesse papel. Como resultado disto, o médio à sua frente ficou liberto de grande parte da responsabilidade de organizar o jogo, tendo maior liberdade para se movimentar no campo e juntar-se ao ataque. Os três médios mais ofensivos alternaram frequentemente de posição durante a primeira parte, acabando por fixar-se o Menezes no centro.

O jogo até se iniciou numa velocidade interessante, com o Benfica a criar uma oportunidade logo no primeiro minuto, e a beneficiar de um penálti aos doze. Chamado a marcá-lo, o Felipe Menezes atirou ao poste. A partir daqui, a qualidade do jogo caiu, e tornou-se mais desinteressante. Muitos passes falhados, más decisões na altura da finalização, e erros individuais eram as características dominantes. O Benfica ia mantendo um certo ascendente, mas o nosso jogo ficava marcado pela insistência do Di María em iniciativas individuais sem resultados práticos, e pelo jogo muito mau do Felipe Menezes, talvez marcado pelo penálti falhado. O AEK apenas por uma vez assustou, num remate defendido pelo Júlio César que ainda levou a bola ao poste. E quando já se esperava pelo intervalo, o Di María, entretanto regressado à direita, flectiu para o centro e com um bom remate cruzado fez o primeiro golo do jogo. Este golo serviu também para reconciliá-lo com os adeptos, já que até então não se podia dizer que o argentino estivesse a ser particularmente feliz nas suas intervenções.

Para a segunda parte o Benfica deixou o Coentrão no balneário - que na minha opinião estava a ser um dos melhores na primeira parte - regressando o Peixoto no seu lugar. Depois de algum equilíbrio no início, o Di María, ainda do lado direito, mostrou ser o jogador com maior capacidade para desequilibrar, já que fugia com facilidade à marcação e aparecia solto nas costas da defesa grega. Esteve perto de marcar mais um golo quando, isolado, tentou um chapéu 'à Saviola', mas a bola bateu na barra. O jogo foi-se desenrolando numa toada equilibrada, sem grandes oportunidades de golo, e as coisas só animaram quando o Di María voltou a desequilibrar. Solicitado pelo Carlos Martins, ultrapassou um adversário e, de letra, marcou o segundo golo. Faltava pouco mais de um quarto de hora para o final, e o jogo parecia estar resolvido. Mas a nossa equipa deu um estoiro enorme em termos físicos, e o AEK conseguiu então encostar-nos à nossa área e ameaçar marcar. Começou por fazê-lo num remate ao poste, e isto deu o mote para uns últimos dez minutos de grande pressão dos gregos. Acabaram por conseguir chegar ao golo após uma perda de bola desnecessária do Di María, aproveitando depois uma falha do Miguel Vítor. Os minutos finais foram uma espécie de déjà vu Trapattoniano, já que praticamente não deixámos que se jogasse, gastando a maior parte do tempo de compensação junto à bandeirola de canto.

O Di María é o jogador que fica obviamente na história do jogo. Era o único titular habitual presente no onze, e foi decisivo, marcando os nossos dois golos, o segundo deles excelente. Mas não posso esquecer que teve uma primeira parte bastante fraca. Primeira parte em que gostei bastante do Coentrão. O Roderick, sem surpresas, não tremeu na estreia e fez um óptimo jogo, durante o qual não lhe contei nenhuma falha. Vendo a calma e autoridade com que joga, é difícil acreditar que ainda tem idade de júnior. O Miguel Vítor estava a acompanhá-lo até ter aquela falha no golo do AEK (e logo a seguir, se calhar ainda afectado pela falha, teve um mau passe que poderia ter tido más consequências). O Carlos Martins não se saiu mal na posição mais recuada do meio campo, mas acabou, tal como outros dos seus colegas, o jogo de rastos. Ao contrário do habitual, hoje não gostei de ver o Felipe Menezes. Se calhar foi reflexo pelo penálti falhado, mas na minha opinião fez uma primeira parte desastrada, com muitos passes falhados e iniciativas individuais disparatadas. Melhorou na segunda parte, mas o saldo geral é negativo. Também não fiquei agradado com o jogo do Weldon. Mal na finalização, mal nas combinações com os colegas, e mais outro jogador que acabou o jogo de rastos. O Shaffer, não tendo estado particularmente mal, não me convenceu com a exibição desta noite.

Vamos agora esperar por amanhã para conhecer o nosso adversário. Julgo que podemos ter aspirações legítimas a chegar longe nesta competição (pelo menos amanhã não há a possibilidade de apanharmos com uma equipa italiana). Se pudesse escolher algum adversário, era o Fulham.

domingo, dezembro 13, 2009

Horrível

Esperávamos esta noite uma exibição categórica do Benfica e uma vitória, de forma a passarmos a pressão para o lado dos adversários e garantirmos pelo menos três pontos de avanço na recepção aos andrades para a semana. Em vez disso o Benfica 'presenteou-nos' com aquela que terá sido talvez a pior exibição da época, que terminou com um empate arrancado a ferros e, pior ainda, como um mal nunca vem só nos deixou perante um cenário muito complicado no que diz respeito a ausências de jogadores-chave para a referida recepção aos andrades.

O pormenor mais importante na equipa que alinhou de início esta noite foi, obviamente, a ausência do Aimar. E as opções que foram tomadas para o substituir. No onze, entrou o Fábio Coentrão. No campo, a primeira aposta para aquelas funções foi o Di María, e depois o Ramires. Ambas falhadas. No caso do Ramires, com os resultados que já se viram anteriormente, porque ele não parece sair-se bem em funções que lhe exijam maior creatividade. Quanto ao Di María, tentou fazer ali aquilo que está habituado a fazer nas alas, ou seja, transportar a bola rapidamente para a frente, através de acções individuais. Não funcionou, porque no meio apanha muitos mais adversários pela frente, e por isso acabou por perder inúmeras bolas, precisamente por se agarrar demasiado à bola e não a fazer circular. Passou depois para a direita, onde também esteve mal - aliás, nos últimos jogos ele tem passado por ali em diversas ocasiões, e em quase todas elas tem-se saído mal. Quanto ao jogo em si, iniciou-se mostrando um mau futebol. Alguma velocidade, mas muitos passes falhados, e muita luta por bolas divididas. Depois, para complicar o cenário, o Olhanense colocou-se na frente logo aos nove minutos, naquele que foi o primeiro remate à nossa baliza. Livre do lado direito da nossa defesa, e o Maxi Pereira a fazer um corte de cabeça defeituoso e perigosíssimo para o segundo poste, onde apareceu um adversário completamente à vontade a cabecear para o golo, perante a passividade do César Peixoto. Sabemos que, esta época, o Benfica ainda não conseguiu vencer nenhum dos jogos em que o seu adversário se colocou em vantagem. A reacção ao golo, no entanto, não foi má de todo. Conseguimos organizar-nos, começar a exercer algum controlo, e a construir, finalmente, algumas boas jogadas de ataque.

As perspectivas melhoraram quando, cerca dos vinte e cinco minutos de jogo, o Olhanense ficou reduzido a dez. Como sempre, num jogo contra o Benfica, os nossos adversários pareceram estar demasiado nervosos e alterados, interessadíssimos em arranjar discussões e confusão. Desta saiu um amarelo para o Cardozo, e um vermelho para o jogador que estupidamente agrediu o Coentrão quando este estava no chão. E quase de seguida, ainda antes da meia hora de jogo, as perspectivas tornaram-se ainda mais animadoras quando o Saviola, no sítio do costume (ao segundo poste), aproveitou um canto para empatar o jogo. Com vantagem numérica, o jogo empatado, e ainda tanto tempo para jogar, era legítimo aspirarmos a uma vitória. Puro engano. Não contava com tiros no próprio pé. Cinco minutos depois conseguimos dar o primeiro, consentindo o segundo golo do Olhanense. Depois do César Peixoto ter cometido uma falta escusada na esquerda, o cruzamento foi encontrar um jogador do Olhanense escandalosamente à vontade, entre o Javi e o David Luiz, que cabeceou para fazer o segundo golo do Olhanense noutros tantos remates à nossa baliza. Sinceramente, confesso que este lance me convenceu que hoje não venceríamos o jogo. Sei que ainda faltava muito tempo, mas conceder dois golos daquela forma, especialmente o segundo, era prova mais do que suficiente de que havia algo horrivelmente errado com a nossa equipa. E como que para confirmar isto, antes do intervalo o Di María juntou a uma exibição perfeitamente inconsequente um vermelho que só posso classificar de perfeitamente parvo (entretanto já o Saviola tinha falhado uma oportunidade que normalmente não desperdiçaria). E se isto não era já suficiente, o Ramires ainda se lesionou com aparente gravidade, tendo que abandonar o jogo.

Para a segunda parte, já com Felipe Menezes no lugar do Ramires, o Olhanense pareceu pura e simplesmente abdicar do ataque. Isto justifica que, apesar da exibição horrível, o Benfica tenha conseguido passar o tempo quase todo no último terço do campo, onde se acantonavam os dez jogadores adversários. Mas apesar de toda a posse de bola e do domínio territorial, a desinspiração era quase total, e as únicas jogadas em que os nossos jogadores insistiam era fazerem cruzamentos sucessivos para a área, invariavelmente condenados ao insucesso. Quase não se viam tabelas entre jogadores, não havia movimentações para fugir às marcações, e a bola andava ali a rondar de um lado para o outro do campo sem que criássemos oportunidades para marcar. Perante tamanho domínio territorial, a opção táctica foi óbvia, ou seja, retirar um jogador da defesa - ficámos apenas com três defesas - para lançar o Weldon no ataque. Não resultou, e a falta de ideias continuava a revelar-se de forma extremamente irritante. O Menezes, que supostamente terá entrado para trazer alguma clarividência e criatividade na organização de jogadas de ataque, rapidamente se afundou na mediania colectiva. Nos últimos minutos ainda entrou mais um avançado (Nuno Gomes) para o tudo por tudo. E só no período de compensação, quando o Olhanense já estava reduzido a nove e o Luisão já actuava a ponta-de-lança, chegámos ao empate, com o Nuno Gomes a aproveitar uma assistência de cabeça (precisamente do Luisão) para marcar. Mesmo assim, e como que para nos dar uma derradeira demonstração do quão má foi a noite, o Olhanense, no único remate que acabou por fazer em toda a segunda parte, ainda poderia ter chegado à vitória mesmo a fechar o jogo.

Pela positiva hoje não destaco ninguém. Hoje foi a equipa num todo a desiludir-me e a irritar-me. Não sei como foi possível consentir um golo como aquele segundo do Olhanense. E não sei o que foi feito de toda a criatividade e alegria no ataque com que esta equipa já nos presenteou diversas vezes esta época. Mas se não consigo escolher alguém para destacar positivamente, já no plano oposto, e apesar da mediania geral da equipa, não tenho qualquer dificuldade em apontar o dedo à exibição do Di María. Enquanto esteve em campo, produziu muito pouco. E depois borrou tudo com uma expulsão perfeitamente estúpida, que não só anulou a vantagem numérica da sua equipa neste jogo, como ainda o deixa de fora para o importante jogo da próxima jornada. Não há qualquer justificação para aquela atitude.

Face aos números puros e duros, podemos dizer que o empate não é um resultado injusto para o Benfica. Mas olhando à qualidade do futebol que apresentámos, julgo que podemos considerarmo-nos felizes por o termos obtido nos instantes finais do jogo. Porque julgo que não será necessário puxarmos muito pela memória para nos lembrarmos de jogos em que, jogando desta forma, chegámos ao final com uma derrota. E para além dos dois pontos deixados hoje em Olhão, temos agora a preocupação acrescida da verdadeira razia que o nosso meio campo sofreu para o jogo da próxima jornada. Afigura-se o cenário de termos os nossos três médios mais ofensivos (Ramires, Di María e Aimar) indisponíveis, ao que acresce a indisponibilidade de dois dos que seriam os seus substitutos naturais (Coentrão e Amorim). Mesmo perante estas contrariedades, a minha confiança mantem-se. Mas também preciso que a nossa equipa me ajude a manter esta confiança. Porque não é com exibições como a desta noite que conseguiremos chegar ao final no primeiro lugar.

domingo, dezembro 06, 2009

Eficácia

Regresso às vitórias folgadas, num jogo em que, não havendo brilhantismo, houve uma exibição segura e uma grande eficácia, num jogo que fica também marcado pelo dilúvio que se abateu sobre o relvado da Luz, e que acabou por influenciar a qualidade do futebol jogado, em particular durante a fase final do jogo. E já que menciono o dilúvio, é de destacar o facto de nem este, nem o horário do jogo terem impedido que mais de 41.000 espectadores se tenham deslocado à Luz.

Sem o castigado Javi García (não tenho a certeza, mas julgo que terá sido o primeiro jogo oficial desta época em que o espanhol ficou de fora), a opção foi a troca directa pelo Rúben Amorim, sendo também de realçar o regresso do Luisão ao centro da defesa. De resto, os suspeitos do costume. Mesmo o aimar, que estava em dúvida, apareceu de início, e fisicamente pareceu estar muito bem. Do outro lado, surgiu uma Académica a jogar de forma bastante descomplexada, num 4-3-3 com três jogadores bem abertos na frente. Poder-se-á argumentar que o facto de se terem visto em desvantagem muito cedo terá levado a Académica a jogar desta forma mais aberta, mas mesmo antes do nosso golo já dava para observar esta atitude, e já os tinha visto antes (no Estádio do Ladrão, por exemplo) a jogar assim. Conforme disse, chegámos cedo ao golo, numa jogada em que o Saviola isolou o Cardozo nas costas da defesa, e este marcou facilmente. A Académica jogava com uma defesa em linha, subida no terreno, e isto proporcionava espaços nas suas costas, que poderiam ser explorados pelos nossos avançados. O golo madrugador provocou uma boa resposta dos nossos adversários, que durante os minutos que se seguiram teve o melhor período no jogo. Mesmo sem conseguir criar grande perigo, conseguiram ter a bola durante ba parte do tempo, jogando no nosso meio campo, enquanto que nós passámos um período extenso sem sequer rematar à baliza da Académica.

Este período terminou cerca da meia hora de jogo, e o resultado quase imediato foi o segundo golo, da autoria do Saviola. Foi um golo para levantar o estádio, em que após um passe do Maxi ele ficou solto sobre a direita e, quando se esperaria um remate cruzado, ele levantou a cabeça e fez, com muita classe (e classe é a palavra que parece sempre aplicar-se com perfeição a tudo o que o Saviola faz em campo) um chapéu perfeito ao guarda-redes. A Académica pareceu acusar bastante este golo, e não mais conseguiu voltar a ter um período tão bom no jogo como aquele que mediou os nossos dois golos. Até ao intervalo, e com o Aimar a aparecer finalmente um pouco no jogo, foi o Benfica quem tomou conta das operações, dando a impressão de que poderia ampliar a vantagem. A sensação com que cheguei ao intervalo foi a de que o Benfica vencia o jogo de uma forma muito natural, e sem ter sido necessário demasiado esforço para se colocar nesta situação.

A segunda parte iniciou como uma continuação dos minutos finais da primeira. O Benfica no comando do jogo, e ameaçando chegar a mais um golo, o que acabou mesmo por acontecer. Novamente pelo Cardozo (que momentos antes, isolado novamente pelo Saviola, tinha sido lento a rematar e foi desarmado), numa recarga de cabeça após defesa incompleta do guarda-redes a um remate cruzado do Di María. Não houve muito mais história no jogo até final. A chuva intensa foi alagando cada vez mais o relvado, dificultando a tarefa dos jogadores. O único facto de realce acabou mesmo por ser o quarto golo do Benfica, mais uma vez pelo invitável Cardozo, desta vez a finalizar de cabeça um livre marcado na direita pelo Di María. Já sem Saviola, Aimar e Cardozo em campo, a Académica acabou por aproveitar alguns livres de que dispôs no período final do jogo para enviar a bola para junto da nossa baliza, ameaçando ainda a nossa baliza, mas o Quim respondeu bem numa situação, e nas outras foi a Académica quem não conseguiu acertar no alvo.

O Cardozo marcou três golos e, só por isso, teria que ser destacado. Afinal de contas, terminou de forma fulgurante com um 'jejum' de dois jogos sem marcar (a palavra 'crise' chegou a ser empregada por alguma comunicação social). Mas ele fez mais do que 'simplesmente' marcar três golos. Foi sempre a referência que se quer no ataque, ganhando um número anormal de bolas altas, e solicitando os colegas na altura certa. Grande jogo do paraguaio, merecendo bem os aplausos de pé com que foi brindado na altura da substituição. Depois há o Saviola. Já não tenho muitos adjectivos para classificar a qualidade deste jogador. Sinceramente, acho que a Liga Portuguesa não é sequer digna de ter um jogador destes, até porque pouco se faz para proteger jogadores assim. Marcou um grande golo, fez, como habitualmente, a cabeça em água à defesa adversária, incapaz de acompanhar as suas movimentações e desmarcações, e ainda teve diversos passes de morte para os colegas (uma assistência para o primeiro golo do Cardozo, e o mesmo Cardozo e o Di María desperdiçaram dois passes que os deixaram na cara do guarda-redes). Depois da sua saída, o nosso ataque não voltou a ser o mesmo. Por falar em Di María, apesar de ter estado muito em jogo hoje, as coisas voltaram a não lhe sair muito bem. Insistiu demasiado em tentar resolver tudo sozinho, agarrando-se demasiado à bola quando as condições do campo não o aconselhavam. Ao contrário do habitual, também não gostei muito do David Luiz. Por último, uma menção ao Rúben Amorim, que teve a difícil missão de substituir o Javi García, e apesar de serem estilos completamente diferentes, julgo que cumpriu. Fez um bom jogo, quer na recuperação de bolas, quer na participação em jogadas de ataque. Acabou em inferioridade física, tendo ainda estado alguns minutos em campo apenas para fazer número, mas não aguentando até final.

Ultrapassada a crise de uma jornada sem vencer ('travados' pelo temível sportém desse mago da bola que dá pelo nome de Carvalhal e postos em sentido pelo remate do Veloso, o mais marcante e fantástico remate da história do futebol mundial), voltámos a colar-nos ao primeiro lugar. A equipa mostrou que não perdeu eficácia, e voltou a presentear-nos com uma vitória robusta, ainda que sem a exuberãncia doutras ocasiões. E os benfiquistas, ao comparecerem da forma que o fizeram esta noite, mostraram que mantêm a confiança nesta equipa. É para continuar.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Primeiro

Missão cumprida. Apuramento para a próxima fase conseguido, e primeiro lugar do grupo garantido, ainda com uma jornada para jogar, num jogo com duas partes bastante diferentes, e no qual alguns jogadores que não costumam ser primeiras escolhar mostraram que são opções válidas aos habituais titulares.

Como vem sendo habitual na Liga Europa, Júlio César na baliza. Face às indisponibilidades do Luisão e do Sídnei, jogou o Miguel Vítor ao lado do David Luiz, conforme esperado. Daí para a frente, apenas há a destacar a poupança do Aimar e do Di María, sendo os seus lugares entregues ao Felipe Menezes e ao Fábio Coentrão. O Benfica teve uma entrada agradável no jogo, mas depressa esta sensação se desvaneceu, pois o jogo entrou numa toada mais equilibrada, com a bola a alternar perto de uma e outra baliza, mas sem que se visse bom futebol. O BATE apostava em lançamentos longos para os homens da frente, enquanto que nós íamos perdendo bolas no meio campo sempre que tentávamos fazer o nosso jogo de passes mais curtos. Para além disso, cometemos diversas faltas, que o BATE aproveitava para tentar fazer a bola chegar com perigo à nossa baliza. Foi num desses livres que aconteceu a jogada mais perigosa da primeira parte, com a bola, cruzada/rematada da direita, a bater na barra da nossa baliza, tendo a recarga ainda passado perto. Fora isto, a primeira parte não nos ofereceu muitos mais motivos de interesse. Apesar da necessidade imperiosa de vencer, o BATE parecia estar algo receoso do nosso contra-ataque, e nunca arriscou em demasia, enquanto que da nossa parte não parecia haver grande interesse em aumentar o ritmo.

A segunda parte foi bastante diferente, e claro que o motivo principal para que isso acontecesse terá sido o facto de termos marcado na primeira jogada que fizemos. Foi uma boa jogada de ataque, onde o Menezes aproveitou um passe de calcanhar do Coentrão para ganhar a linha de fundo, sobre a esquerda do ataque, e depois centrar atrasado para o Saviola marcar mais um golo na Liga Europa. Este golo deu confiança à nossa equipa, que agora trocava melhor a bola e conseguia mostrar a sua superioridade. Pouco depois dos quinze minutos, o Benfica praticamente matou o jogo quando, após mais uma boa jogada de ataque, o Saviola passou a bola ao Coentrão e este, dentro da área e mais uma vez sobre a esquerda, marcou com um bom remate cruzado. O jogo teria ficado resolvido ali mesmo, mas cinco minutos depois o BATE acabou por chegar ao golo de forma feliz (um autogolo do Miguel Vítor após a bola, cabeceada por um adversário, tabelar em si e seguir para a baliza), e voltou a acreditar. O Benfica pareceu tremer um pouco com o golo, e não soube aproveitar os muitos espaços que o adversário, empolgado com o golo, ia cada vez mais dando na defesa. Mesmo com o Aimar em campo, que idealmente seria o jogador para explorar esses espaços, pareceu-me que desperdiçámos várias ocasiões de contra-ataque (o próprio Aimar acabou por ter a melhor ocasião para marcar quando, solicitado pelo Cardozo, ficou na cara do guarda-redes e acabou por acertar-lhe com a bola). Do lado do BATE havia muita vontade, mas só mesmo recorrendo a livres e cantos é que conseguiam dar alguma sensação de perigo, e foi portanto sem grandes sobressaltos que chegou o final do jogo, com a vitória a sorrir às nossas cores.

Gostei bastante de ver o Felipe Menezes hoje. E não só pela jogada do primeiro golo, já que teve diversos pormenores muito bons. É ainda jovem, está a adaptar-se ao nosso futebol, mas poderemos ter ali no futuro um substituto para o Aimar. Gostei também do jogo do Coentrão, com um bom golo e não me deixando sentir a falta do Di María.

Foi bom conseguirmos esta vitória, que fechou definitivamente as contas do apuramento no nosso grupo. Mesmo não sendo fundamental, foi importante ganharmos, porque consigo imaginar o regabofe que seria e o que se diria caso o Benfica ficasse sem vencer num terceiro jogo consecutivo. Assim alguma gente sempre pode ir recolhendo as garras e as línguas bifurcadas, guardando-as para a próxima ocasião. Liga Europa resolvida, voltemo-nos agora para a Liga Portuguesa, e para o próximo jogo frente à equipa do rapaz que teve o bom senso de deixar o sportém a ver navios. Para ver se regressamos às vitórias na nossa Liga, depois da crise provocada pelo longo interregno de uma jornada sem vencer.