domingo, março 30, 2008

Regresso

Regresso após o interregno de duas semanas. Parou o campeonato, e aproveitei também para me desligar de todo o circo montado pela imprensa em redor do futuro treinador do Benfica, sobre se o Rui Costa deixa mesmo de jogar ou não, se o Léo e o Rodríguez ficam, quem será contratado, etc. Interrompi o afastamento para ir à Luz ver a nossa equipa jogar, mas infelizmente parece que muitos benfiquistas resolveram manter-se afastados, já que esta noite apenas perto de 24.000 espectadores estiveram no estádio a apoiar a equipa, naquela que foi seguramente a pior assistência esta época num jogo para o campeonato.

Não se notaram grandes diferenças para o tempo do Camacho no onze escalado esta noite pelo Chalana, pelo menos nos jogadores escolhidos. Tacticamente sim, já que o Benfica joga agora em 4-4-2, com dois avançados na frente. O Benfica iniciou o jogo com boas intenções, mas a denotar alguma dificuldade em dar objectividade ao seu jogo. Quanto ao Paços, apresentou-se de uma forma muito atípica para aquilo que habitualmente costuma ser o Paços de Ferreira: muito pouco atrevidos no ataque, e preocupados sobretudo em segurar o empate. Logo no primeiro minuto de jogo, na marcação de um pontapé de baliza, começaram a queimar tempo. O jogo do Benfica foi assentando com o passar do tempo, com os dois laterais a mostrarem-se muito ofensivos (muito por culpa também do Paços, que estranhamente parecia optar por dar liberdade quase total ao Léo e ao Nélson para subirem), e aos vinte e cinco minutos apareceu o golo, com naturalidade, após um remate fabuloso do Rodríguez a uns bons trinta metros da baliza (boa recuperação de bola do Petit no início da jogada, e bom trabalho dos dois avançados a abrirem nas alas e a proporcionarem espaço para o remate).

O golo pareceu injectar confiança nos nossos jogadores, e a qualidade do nosso jogo melhorou com isso. Começaram a ver-se várias jogadas de futebol dignas desse nome, e alegria no jogo, pelo que a maldição dos jogos em casa este ano parecia estar perto de terminar. O Paços não existia ofensivamente, e pouco podia aliás incomodar porque praticamente não tinha a bola - a posse de bola do Benfica durante a primeira parte deve ter sido avassaladora. Por isso fiquei à espera do avolumar do resultado para o nosso lado. Só que perto do intervalo, num lance completamente inofensivo, o árbitro do jogo resolveu equilibrar as coisas e conseguiu ver um penálti num lance em que o jogador do Paços tropeça em si próprio. Eu estava lá em cima no terceiro piso e vi isso, tal como viu toda a gente. O árbitro estava a cinco metros e viu uma coisa completamente diferente, ou então viu o que quis muito bem ver e pronto (na jogada anterior também não quis ver um possível penálti a nosso favor, por isso não se percebe bem o excesso de zelo demonstrado na área contrária). Ainda amarelou o Rui Costa e o Nuno Gomes, e o Paços, sem saber ler nem escrever, lá se viu novamente empatado, o que foi uma benesse caída do céu para um equipa que após ter perdido a situação de empate ficou sem saber o que fazer. Nós até podemos estar a fazer uma época horrível, termos o campeonato perdido e termos que sujeitar-nos à infâmia de disputar o segundo lugar para, vá lá, salvar minimamente a época. Mas é vil tentarem pisar-nos quando já estamos em baixo. E foi isso que aquele senhor madeirense fez naquele momento, foi o que eu senti, e fiquei com a sensação que foi aquilo que os nossos jogadores sentiram também. Mais: aquela vilania teve o condão de aproximar ainda mais o público da equipa. Por isso, de alguma forma, fiquei confiante que iríamos dar a volta à situação, e até vencer folgadamente. Aliás, o Benfica ainda conseguiu estar perto de marcar no par de minutos que decorreram até ao intervalo, mas o cabeceamento do Cardozo passou ao lado do poste.

De orgulho ferido, o Benfica iniciou a segunda parte na mesma toada da primeira, pressionando o Paços, que defendia o empate com unhas e dentes. Foram vários os cantos consecutivos conquistados, mas o Paços defendia-se com onze e o problema estava em conseguir furar novamente aquela muralha defensiva (e desejar que nalgum lance fortuito o Paços não voltasse a marcar). Foi preciso esperar vinte cinco minutos para que tal acontecesse, e de uma forma fortuita, já que o remate do Cardozo acabou por tabelar num membro da tal muralha defensiva e trair o guarda-redes Peçanha. A partir daqui as coisas ficaram mais fáceis, já que o Paços teve que abrir e sair lá detrás. O guarda-redes deles passou a ser capaz de chutar a bola para a frente (até então tinha precisado sempre da ajuda de um defesa), os seus jogadores passaram a correr para sair do campo quando eram substituídos, as bolas eram repostas em jogo mais rapidamente, etc. E mais fácil ainda ficou quando o Rui Costa, aproveitando a única falta assinalada sobre o Cardozo nas imediações da área durante todo o jogo, marcou o respectivo livre de forma exemplar, levando a bola a entrar junto ao poste. Com um quarto de hora a faltar para o final, restava saber quantos mais marcaria o Benfica. Ficou-se por um, um raríssimo golo de cabeça do nosso Rui após centro do Rodríguez e um grande frango do Peçanha. Dois golos no dia seguinte ao seu 36º aniversário parece-me ser uma bela prenda para o nosso maestro. No final, um merecido aplauso para a equipa por parte do público presente, que esta noite acabou de certa forma por fazer jus ao adágio de 'poucos mas bons'.

Melhores no Benfica: Rui Costa (claro), Léo (mais um dos suspeitos do costume) e Rodríguez, com este último a realizar uma exibição ao nível das melhores que lhe vi fazer pouco tempo depois de ter chegado ao Benfica, tendo sido essas exibições que lhe permitiram conquistar imediatamente a admiração dos adeptos. Hoje nem faltou aquela garra e vontade de disputar cada bola como se fosse a última que lhe são tão características. Já agora, e porque eu normalmente nunca perco uma oportunidade para bater no rapaz, tenho que ser justo e dizer que o Edcarlos fez uma exibição bastante positiva. Não lhe vi nenhum daqueles erros de palmatória que me costumam deixar de cabelos em pé, e fez ainda vários bons cortes, jogando muitas vezes em antecipação. No plano negativo, continuo a não perceber muito bem as funções e a utilidade do Maxi em campo. O Nuno Gomes também não teve uma noite para recordar.

Esta noite foi no fundo o regresso à normalidade. O Benfica vencer o Paços folgadamente na Luz é o que é normal, e espero que isto possa significar o fim das anormalidades que tivemos que suportar nos últimos jogos. Gostei da atitude da equipa, mesmo quando a tentaram derrubar de uma forma infame. E já que falo nisto, eu sei que como o Benfica até ganhou folgadamente de certeza que pouco ou nada se vai falar do que o madeirense fez esta noite na Luz, porque é muito mais importante, sei lá, o penálti da Amadora há quatro ou cinco meses. Mas é preciso não deixar que coisas destas caiam no esquecimento. Eu não tenho dúvidas que, assegurado que está o campeão, haja muito interesse em afastar-nos do segundo lugar. E pelo que o Chalana disse no final do jogo, parece-me que o próprio plantel terá noção disso.

quarta-feira, março 19, 2008

Dúvidas

Hoje fui surpreendido com notícias nos desportivos que dão conta de um eventual interesse do Benfica no Jorge Ribeiro. Sinceramente, não percebo como é que esta hipótese pode ser sequer considerada. Tendo em conta a forma como o Jorge Ribeiro saiu, tendo em conta a forma como ele e o seu mano lagarto se referiram ao Benfica depois disso (e basta lembrarmo-nos da forma como festejou o seu golo na Luz este ano para termos mais uma confirmação do respeito que tem ao nosso clube), o Jorge Ribeiro deveria ser considerado persona non grata no Benfica, e o seu regresso uma ideia que apenas poderia ser considerada por alguém que não tenha a mais pálida ideia dos valores que o Benfica deve representar. Por melhor jogador que seja, admitir o seu regresso seria, para mim, uma machadada na nossa própria identidade e orgulho. O que se poderia seguir a isto? Um regresso do Paulo Sousa ao clube, para ensinar ao jovens o que é a importância de vestir a camisola do Benfica e a lealdade que isso deverá implicar?

Outra coisa que continua a deixar-me perplexo é a popularidade que a ideia de um eventual ingresso do Humberto Coelho como treinador parece ter entre os benfiquistas. O Humberto Coelho é um histórico do Benfica, que me merece o maior respeito, e que eu gostaria muito de ver regressar ao clube. Mas noutras funções, não como treinador. Do Humberto Coelho como treinador não tenho uma opinião muito positiva. Lembro-me de presenças muito modestas aos comandos do Salgueiros e, salvo o erro, do Braga. E se uma das discussões mais em voga entre benfiquistas nos últimos anos é sobre se devemos jogar com um ou com dois pontas-de-lança, com o Humberto haveria a probabilidade de se adicionar um terceiro ponto a essa discussão: é que na Selecção Nacional ele foi o inventor da táctica sem ponta-de-lança algum, jogando quase sempre com o Sá Rafeiro e o JVP na frente. Depois o Rafeiro lesionou-se no Euro 2000 e saiu-nos a sorte grande, porque teve que jogar o Nuno Gomes e Portugal passou a ter finalmente um ponta-de-lança. Tentou também a sua sorte na Coreia do Sul, recém semi-finalista no Mundial, de onde saiu passados poucos jogos, sem honra nem glória, e após um empate humilhante contra as Maldivas do Prof.Neca. De onde terá aparecido, portanto, esta recente aura de salvador que envolve o Humberto treinador? E aproveito para dizer que não me agrada nada a forma como ele próprio se tem recentemente insinuado ao posto. Para entrar o Humberto Coelho mais valia manter o Chalana, ou promover o João Alves (este último, diga-se de passagem, já deu mais e melhores provas como treinador do que o Humberto Coelho).

domingo, março 16, 2008

Dicotomia

Uma diferença abismal separa as duas metades do jogo de hoje. Se, por um lado, me sinto satisfeito com o que vi na primeira parte, por outro só me posso sentir aborrecido com o que vi na segunda parte, e com o resultado final - que dada essa segunda parte, durante longos minutos foi o mais que previsível desfecho, muito antes mesmo do golo adversário.

Foi uma semi-revolução aquela que o Chalana operou na equipa que iniciou o jogo. Apostando talvez em mais músculo do que arte, o Benfica regressou ao 4-2-3-1, apresentando um meio-campo reforçado e de trabalho. Binya, Petit, Luís Filipe e Sepsi (portanto, jogando praticamente com dois defesas laterais de cada lado, o que acabou por dar alguma liberdade extra aos laterais para subirem), ficando a criatividade entregue ao Rodríguez, e o Cardozo como único avançado. A surpresa maior terá mesmo sido a relegação do Rui Costa para o banco de suplentes, e foi também de certa forma surpreendente a ida do Di María para a bancada, ficando o júnior Carvalhas no banco. A verdade é que a equipa pareceu reagir bem a estas alterações, e exceptuando algumas hesitações nos primeiros minutos, mostrámos uma atitude muito mais positiva. Se calhar são os meus critérios que andam muito por baixo, dada a falta de qualidade evidenciada nos últimos jogos, mas fiquei agradavelmente surpreendido por ver garra nos jogadores, ver entreajuda, pressão sobre o adversário, e trocas de bola muitas vezes a toda a largura do campo. Chegámos ao golo a meio desta primeira parte, numa insistência do lado direito, com o cruzamento do Sepsi a encontrar o Cardozo, para uma finalização simples de cabeça. Depois do golo, foi bom constatar a forma como o Benfica continuou a controlar o jogo com facilidade, mantendo sempre o Marítimo bem longe da nossa área, pelo que a vantagem ao intervalo se justificava plenamente.

Findo o intervalo, e por alguma razão incompreensível, o Benfica da primeira parte já não voltou dos balneários. A diferença foi enorme. Agora era o Marítimo quem tinha a bola, e passava o tempo todo no nosso meio-campo, sendo que nós parecíamos ser incapazes de incomodar minimamente os nossos adversários. Deixámos de construir jogadas, de circular a bola, de conseguir desarmar os adversários logo à entrada do nosso meio-campo, enfim, foi como se outra equipa tivesse voltado para jogar a segunda parte. Foram várias as vezes que disse para mim mesmo que assim seria inevitável que o empate surgisse, e acabou por aparecer mesmo a um quarto de hora do final. Com o pormenor irritante de (e já não é a primeira vez que isto acontece esta época) a vencermos, e faltando relativamente pouco tempo para o final, termos conseguido sofrer um golo num lance de contra-ataque. E um contra-ataque conduzido apenas por um jogador isolado. O Edcarlos deixa fugir o avançado, e depois este, com um ângulo bastante reduzido, consegue rematar cruzado para o golo - e não percebo muito bem como é que a bola passa pelo Quim num remate deste tipo, porque em princípio não seria uma tarefa por aí além conseguir tapar a baliza toda quando o avançado tem um ângulo de remate tão reduzido. Parecia que o Quim estava mais preocupado com a possibilidade de o avançado rematar ao poste, tal o afinco com que ele o defendeu (e o acompanhamento do Edcarlos ao lance também foi tudo menos exemplar). Até final, só mesmo num livre do Cardozo estivemos perto de marcar, e o empate é um castigo para uma segunda parte tão má (castigo esse que, se fosse ainda mais pesado, não seria escândalo nenhum).

Não vou destacar melhores nem piores. Acho que a equipa foi um bloco sólido e num nível agradável durante a primeira parte, e na segunda parte foi um grupo de onze rapazes que se apresentou em campo com a melhor das intenções em aguentar uma vantagem justamente conquistada pela referida equipa da primeira parte. Começo no entanto a ficar preocupado com a percepção da realidade do Chalana. É que depois das declarações a seguir ao jogo em Getafe, o que ele disse hoje sobre o jogo só se justificaria se ele tivesse deixado de ver o jogo ao intervalo. Se calhar também ficou nos balneários ao intervalo, juntamente com o Benfica da primeira parte, e no seu lugar veio um sósia.

Espero bem que os jogadores do Benfica resolvam acordar para a realidade, e que se lembrem que a qualificação para a Champions League não lhes vai cair no colo. Se jogarem mais como na primeira parte de hoje, ainda há uma luzinha ao fundo do túnel. Se for como na segunda, então o melhor é começarem a preocuparem-se em lutar pelo acesso à UEFA.

quarta-feira, março 12, 2008

Triste

Foi um triste adeus às competições europeias desta época. Duplamente derrotados por uma equipa que é, vá lá, o Estrela da Amadora do país vizinho. E deixámos uma péssima imagem nesta eliminatória, a imagem de uma equipa sem garra, sem chama, sem vontade de jogar futebol, completamente à deriva. No fundo, uma grande falta de classe. A chicotada psicológica até pareceu não ter acontecido, já que esta noite não se notou diferença nenhuma. E não falo em termos de qualidade de jogo, já que seria utópico pensar que em três dias algo pudesse mudar nesse aspecto. Falo sim em termos de atitude. O Nuno Gomes pode vir dizer as vezes que quiser que aos jogadores não falta atitude, que essa lacuna é precisamente a primeira coisa que salta aos olhos de qualquer um. Quando temos uma necessidade absoluta de vencer um jogo, e depois vemos jogadores a passo e a arrastarem-se pelo campo, como se fizessem um frete em estar ali, está tudo dito.

Em termos tácticos, talvez a única diferença tenha sido o 4-4-2, com dois avançados fixos. Mas cedo, muito cedo mesmo, deu para perceber que não estávamos naquele campo para lutar pela vitória. Ainda deu para ficar com alguma esperança, quando o Benfica entrou bem no jogo, e ter um sobressalto quando logo no início o Makukula enviou a bola ao poste, mas depois disso tudo esmoreceu. A bola estava quase sempre em nosso poder, mas a lentidão de processos e a muita falta de inspiração mostravam ser quase impossível criar perigo. Remates à baliza, nem vê-los. Aliás, dadas as estupendas exibições da dupla de avançados do Benfica, provavelmente amanhã ainda poderíamos lá estar a tentar marcar um golo. O jogo foi tão mal jogado que por várias vezes eu olhei para o cronómetro e fiquei surpreendido por tão pouco tempo ter passado: a sensação com que fiquei foi que este jogo demorou duas ou três vezes mais do que uma partida de futebol normal, de tão penosa que foi de assistir. O Getafe limitou-se a fazer o jogo que lhe interessava, ou seja, deixar que o Benfica tivesse a bola, defender com segurança, e tentar sair para o contra-ataque. A ausência de golos ao intervalo só poderia surpreender quem não tivesse visto o jogo.

A segunda parte foi apenas um prolongamento da primeira. Foi exasperante ver a nossa incapacidade para conseguir criar perigo, e ainda mais irritante ver a atitude de alguns dos jogadores em campo. Andavam por ali a passear, como se estivessem a assistir ao jogo e aquilo não fosse nada com eles. E eu ia olhando para o tempo de jogo, e juro que cheguei a pensar que o relógio tinha parado, porque aquilo arrastava-se sem nunca mais ter um fim. É que se calhar pela primeira vez desde que me recordo, eu não tinha qualquer réstia de esperança que o Benfica marcasse sequer um golo, quanto mais virar a eliminatória, por isso só queria era que o suplício acabasse. A cerca de vinte minutos do final o Chalana resolveu arriscar tudo
(não me custa nada acreditar que ver aquele Benfica em campo lhe devia estar a cortar o coração), e passou a jogar com apenas três defesas, retirando o Edcarlos do campo. O nosso fantástico defesa (que na primeira parte bem tentou animar as coisas, recorrendo ao seu saudável hábito de oferecer um golo ao adversário em todos os jogos) ainda por cima pareceu ter saído chateado, já que nem se deu ao trabalho de cumprimentar o jogador que o substituiu (Sepsi). Não se verificaram grandes melhorias no nosso jogo, mas o que se viu sim foi cada vez mais espaço para o contra-ataque do Getafe, que inevitavelmente acabou por marcar dessa forma. Eles até nem pareciam ter muita vontade de ganhar o jogo, de tão satisfeitos que mostravam estar com o nulo, mas já que insistimos tanto, eles fizeram-nos a vontade. Um único lance digno de registo na segunda parte: um remate do Rui Costa de fora da área. Se calhar foi mesmo a única defesa que o guarda-redes adversário teve que fazer durante todo o jogo. No final, derrota e eliminação justíssimas.

Se calhar os menos maus do Benfica esta noite foram os dois laterais, Nélson e Léo. Pelo menos foram os únicos que eu vi a movimentarem-se mais, subir no terreno, e a tentar construir jogadas de ataque com os colegas. O Katsouranis também foi fazendo o que podia na defesa, e teve vários cortes providenciais, mas no lance do golo já não conseguiu chegar a tempo. No plano mais negativo, as exibições dos nossos avançados, que foram uma nulidade completa. Maxi Pereira inenarrável, Petit uma sombra de si próprio (a jogar assim o Binya é dono e senhor do lugar), e até o Rui Costa esteve desinspirado.

Há ali muitos jogadores que não foram dignos de envergar a camisola do Benfica. E não falo sequer da falta de jeito; eu consigo aceitar que um cepo vista a nossa camisola se vir que ele a sua, e que tenta dar o melhor que tem. O que eu não consigo aceitar é que haja jogadores que não parecem esforçar-se minimamente, e que não pareçam ter a menor motivação em vestir aquela camisola. Para estarem lá esses, mais valia perdermos por mais e terem lá estado alguns dos nossos putos das camadas jovens. A esses de certeza que não faltaria motivação. O ponto mais positivo desta eliminação é apenas e só o de nos ter deixado a salvo de jogarmos contra um equipa como o Bayern. Porque nem quero imaginar o que aconteceria nesse caso.

domingo, março 09, 2008

Vergonhoso

É vergonhoso que nem ao último classificado consigamos ganhar em casa. O que é que se pode escrever sobre isto? Eu até tento ser optimista (algo que contraria a minha própria maneira de ser) mas esta equipa do Benfica insiste em esfrangalhar qualquer ponta de optimismo ou confiança que eu tente ter.

Não estou a exagerar: nem sei o que escrever sobre o jogo de hoje. Com uma equipa meio de recurso, defrontámos o (destacadíssimo) último classificado, e mais uma vez o nosso jogo foi um deserto de ideias. As ausências não podem justificar que joguemos tão mal. Há uns meses o problema era criarmos inúmeras oportunidades, rematarmos muito, e não marcarmos golos. Agora parece que regredimos, porque já nem sequer oportunidades conseguimos criar. Durante toda a primeira parte, julgo que o melhor que conseguimos foi um remate de meia distância do Rodríguez, que ainda roçou a barra da baliza. De resto vi muita atrapalhação, jogadores com medo de arriscar, e uma grande falta de inspiração. Como castigo para tanta inoperância, o Leiria colocou-se em vantagem mesmo a fechar o primeiro tempo, conseguindo construir o golo num lance simples de futebol. Às vezes fico perplexo quando vejo que as outras equipas acabam por conseguir trocar melhor a bola e construir lances com princípio meio e fim, enquanto que do nosso lado tudo parece ser feito aos repelões.

Na segunda parte o Benfica pareceu entrar mais decidido, e no intervalo de apenas cinco minutos deu a volta ao resultado. Primeiro após um bom lance do Rui Costa na esquerda, com o Zoro depois a aproveitar um ressalto para marcar de cabeça. Depois através de um livre exemplar do Cardozo. Parecia que o mais difícil estava feito, mas o Benfica aguentou o ritmo durante apenas mais alguns minutos após este segundo golo, tendo depois regressado ao ritmo de passeio habitual. E para completar isto, nada melhor do que um golo anedótico para recolocar o Leiria em igualdade. Não percebo porque razão estando um único jogador do Leiria a disputar a bola com dois defesas do Benfica o Quim (típico guarda-redes de matraquilhos, que precisa de um abaixo-assinado para sair da baliza) resolve vir até fora da área para disputar a bola. Na confusão que se seguiu a bola sobrou para o avançado do Leiria, que se limitou a empurrar a bola para a baliza deserta. Como bónus, no lance o Zoro ainda ficou lesionado e teve que ser substituído. Até final, foi apenas muita confusão, e mais coração do que cabeça. A melhor oportunidade para voltarmos a marcar foi num grande remate do Rui Costa, que foi correspondido com uma também grande defesa do guarda-redes adversário, mas digo sinceramente que nunca acreditei grandemente que conseguíssemos voltar a marcar.

Num jogo tão fraco da nossa parte é difícil estar a eleger os melhores. Os do costume estiveram a um nível aceitável, e a um nível inenarrável estiveram também aqueles que são useiros e vezeiros nisso, e que na minha opinião não têm categoria nem classe para envergarem a camisola do Benfica. Não vale a pena citar nomes, acho que todos sabem a quem me refiro.

Se as coisas continuarem assim, não sei se o Benfica acabará sequer num lugar de qualificação europeia. Os Vitórias neste momento estão a jogar mais e melhor, e provavelmente merecem esses postos mais do que esta nossa equipa.

P.S.- Acabei de saber que o Camacho pediu a demissão. Fico triste, mas não posso senão pensar que era uma conclusão inevitável. Como homem digno que ele é, não seria possível aguentar esta situação por muito mais tempo. As palavras que deixou também parecem deitar algumas culpas nos jogadores, cuja reacção em campo na verdade eu também sempre achei estranha. Foram raras as vezes em que eu vi a nossa equipa jogar 'à Camacho'. Mantenho a minha estima e admiração pelo espanhol, mesmo tendo as coisas corrido mal nesta segunda passagem dele pelo clube. Agora resta-me esperar que quem o vier substituir saiba explorar eficazmente o muito talento que me parece existir neste plantel.

quinta-feira, março 06, 2008

Infelicidade

Estou obviamente desiludido com a derrota, ainda para mais frente a uma equipa como o Getafe, que mostrou não ser propriamente um portento. Mas não consigo ficar furioso com a equipa, que acabou por tentar lutar como pôde contra várias adversidades: começar o jogo com praticamente meia equipa indísponível, ficar reduzida a dez quando ainda não eram decorridos dez minutos, sofrer um golo de ressalto, e ver ainda o Luisão sair lesionado. Muita infelicidade junta, a que se juntaram erros por culpa própria, e que ajudam a explicar o resultado negativo.

O Benfica, fiel ao 4-2-3-1 de Camacho, começou o jogo com o Sepsi no lado esquerdo, cabendo ao Rodríguez e ao Di María, alternadamente, apoiar o avançado. Ainda mal tinha dado para ver qual seria a tendência do jogo quando o Cardozo, numa atitude estúpida, conseguiu ser expulso antes da passagem dos dez minutos. O lance era inofensivo, já que a bola se encaminhava para o guarda-redes, pelo que não percebo o motivo pelo qual, na tentativa de ir pressioná-lo, o Cardozo utilizou os cotovelos para se libertar do defesa adversário. Foi expulso, e esta expulsão foi um choque muito grande para a nossa equipa. Mas parece-me que as repercussões tácticas desta expulsão acabaram por ser ainda mais nefastas para o Benfica do que a inferioridade numérica. Não sei se isto foi reflexo de apenas ter o Mantorras no banco como opção atacante, e de o angolano eventualmente não ter condições de aguentar um jogo quase inteiro, mas a verdade é que, surpreendentemente (para mim), após perder o único avançado que tinha em campo, o Camacho não optou por fazer imediatamente entrar um novo avançado. Para mim a solução mais lógica seria fazer isto, reorganizando a equipa em 4-4-1.

Em vez disso a opção passou por jogar com o Rodríguez e o Di María soltos na frente, a fazer as vezes de avançados, jogando-se numa espécie de 4-3-2. Só que nenhum dos dois sul-americanos é avançado, de forma que continuaram a ter tendência para se colarem às linhas, jogando numa posição que não era carne nem peixe: nem actuavam como avançados, nem ajudavam nas tarefas defensivas do meio-campo, sendo que muitas vezes iam até à linha e depois quando se olhava para a área não havia lá ninguém, já que o trio do meio campo não aparecia na área a tempo, pois não são jogadores que primem propriamente pela velocidade ou mesmo mobilidade. Ao suposto 4-3-2 acrescento um zero: 4-3-2-0, já que não havia mesmo ninguém na zona final do campo para receber a bola. Para além disso, quando se joga em inferioridade numérica, o mais importante é mesmo conseguir manter a equipa num bloco sólido, com os jogadores próximos uns dos outros, de forma a que as compensações possam ser feitas eficazmente. Para todos os efeitos,
o Di María e o Rodríguez acabaram por ficar um pouco à parte do jogo, quase sempre meio perdidos em termos de posicionamento. O resultado foi uma superioridade quase avassaladora na zona do meio-campo, que o Getafe explorou inteligentemente, fazendo a bola circular entre os seus jogadores e trocando-a sempre que possível ao primeiro toque e em triangulações. Não compreendi mesmo a atitude do Camacho ao deixar a equipa sem um avançado durante tantos minutos, ainda para mais vendo o que se estava a passar em campo. O golo do Getafe acabou assim por chegar aos 25 minutos, sem grande surpresa, isto apesar de ter surgido até numa fase em que o Benfica parecia melhor. Acabou por ser um golo feliz, já que a bola tabela no Edcarlos e passa por cima do Quim, mas tendo em conta a facilidade com que eles conseguiam sempre encontrar um jogador solto nas imediações da nossa área, mais cedo ou mais tarde o golo acabaria por acontecer. Depois disto os espanhóis, como que deslumbrados com o que se estava a passar, optaram por um futebol de contenção, sem arriscarem muito no ataque, tendo segurado a vantagem mínima até ao intervalo sem grande dificuldade.

Na segunda parte os nossos jogadores resolveram fazer das tripas coração, e tentaram ir para cima dos espanhóis. Mas estes foram quase sempre muito inteligentes na gestão do jogo, e em contra-ataques bem desenhados iam sempre ameaçando chegar ao segundo golo, que apareceu mesmo, já numa altura em que o Mantorras estava finalmente em campo, e através de um remate cruzado relativamente frouxo, mas bem colocado. Logo na resposta, o Edcarlos falha um golo incrível de baliza aberta, enviando a bola à trave (acho que deve ter chutado com a canela). E a treze minutos do final, o Mantorras optou pela simplicidade de processos, recebendo a bola ainda longe da área e optando pelo remate, que resultou em golo, aparentemente com algumas culpas para o guarda-redes adversário, já que a bola entra a meio da baliza. O grande mérito do Mantorras foi mesmo ter rematado, já que por diversas vezes os nossos jogadores poderiam tê-lo feito nas imediações da área, mas optavam sempre por mais um passe, mais uma lateralização, e o lance perdia-se. A partir daqui, e da parte do Benfica, o jogo foi uma autêntica pelada. Muitos dos jogadores, já sem pernas para correrem mais, subiam para o ataque e depois já não recuavam quando a bola era perdida (Rui Costa e Léo os casos mais flagrantes). Felizmente para nós o Getafe não soube aproveitar os enormes espaços deixados na nossa defesa, já que se atemorizou um pouco com o empolgamento do Benfica resultante do golo, e optou por encolher-se no seu meio-campo, segurando uma vantagem preciosa.

Os melhores no Benfica: Rui Costa e Léo, que apesar de serem os mais velhos em campo foram quem mais correu. Chegou a ser impressionante ver o esforço do Rui Costa em tarefas defensivas. Claro que isto teve um preço, e nos minutos finais eles já não recuperavam defensivamente, sendo nessa altura o Edcarlos mais defesa esquerdo do que central. Bom jogo também do Zoro, entrado a substituir o Luisão: teve vários cortes providenciais, muitos deles em antecipação, e esteve em geral seguro. Não é um portento técnico, como já sabemos, e alguns dos cortes foram mesmo para onde estava virado, mas o que interessa é que foi eficaz. Quanto ao pior, Cardozo, claro. As explicações são desnecessárias.

Agora a receita é simples: é irmos ganhar a Espanha por dois a zero. Mesmo sem o Cardozo, não me custa acreditar que isso é possível. Difícil, claro, mas ao nosso alcance.

Sorriso

Quando o apito final soou ontem no Estádio do Dragão, não consegui evitar sorrir. Confesso que, durante muitos anos, sempre fiquei satisfeito quando o Porto conseguia bons resultados na Europa (o Sportém já é outra história, mas isso até é irrelevante porque 'Sportém' e 'bons resultados na Europa' são duas coisas que raramente aparecem mencionadas no mesmo contexto). E isto aconteceu até há bem pouco tempo - ainda em 2003, lembro-me perfeitamente de, sozinho num quarto de hotel em Mainz, sofrer e alegrar-me com a vitória deles na Taça UEFA contra o Celtic (as camisolas do Celtic também não ajudavam a que sentisse grande simpatia por eles). Esta atitude já não é a que tenho hoje em dia. E o que é que me fez mudar de opinião? Não, não foi o facto de saber que eles festejam as nossas derrotas - isso já eu sei há muito tempo, mais propriamente desde que, no ano a seguir a ter festejado a vitória deles na Taça dos Campeões contra o Bayern, os vi na Avenida dos Aliados a celebrarem a nossa derrota contra o PSV na final da mesma competição. O que fez mesmo mudar a minha opinião foi o Apito Dourado.

Não foi o processo Apito Dourado em si que me alterou a opinião, foram sim as tácticas usadas pelos spin doctors lacaios do sistema para encobrirem os factos do processo. Ser bem sucedido na Europa deixou de ser um simples motivo de orgulho, ou um feito de realce, para passar a ser uma justificação para uma eventual não validade do processo em si. A ideia que tentam impingir é mais ou menos 'Não houve corrupção porque o Porto não precisava disso, já que é tão forte. Não vêem como os resultados europeus mostram isso?'. Pondo de parte a cretinice deste argumento por si só (aliás, basta pensarmos que a Juventus ou o Milan também, por esta ordem de ideias, não precisariam de quaisquer ajudas, já que os seus resultados europeus falam por si; no entanto, tal não impediu que recorressem a métodos subterrâneos, que fossem apanhados, e exemplarmente punidos, como é normal em qualquer país que não seja uma república não das bananas, mas da fruta em geral), a verdade é que exceptuando o factor Furacão Mourinho, esses tais brilhantes resultados europeus acabam por parecer-me mais uma espécie de banha da cobra, que os referidos spin doctors nos tentam vender por caviar.

E é por isso que eu não consigo evitar sorrir quando coisas como a de ontem acontecem. E nem sorrio por qualquer espécie de prazer sádico em relação ao Porto ou à maioria dos seus adeptos; o que me faz sorrir é mesmo ver os jornaleiros, comentadeiros e opinadeiros, quais baratas a afogarem-se num ralo que se escoa, a tentarem justificar porque é que coisas daquelas acontecem. Desde que o Schalke caiu em sorte ao Porto que cheguei a pensar que nem sequer seria necessário jogar, tal a convicção com que me asseguravam que a passagem aos quartos-de-final estava garantida. Mesmo depois da derrota na primeira mão, os ânimos não serenaram, antes pelo contrário. Ainda ontem lia (mais) um artigo de louvor ao Porto, em que despudoradamente se escrevia que eles estavam já com um pé na próxima eliminatória. Favas contadas. Aliás, os elogios foram tantos que eu, sinceramente, pensei que esta equipa do Porto e o seu incompetente treinador (sim, é incompetente na minha opinião, e adoro o facto de ele ter passado a ser 'Professor', e o melhor e mais experiente treinador português desde que saiu de um certo clube, fenómeno este que se verifica com muita frequência) seriam a oitava maravilha do mundo, e que uma autêntica passadeira vermelha se estendia até ao palco da final em Moscovo.

Depois acontecem coisas como as de ontem, que são normalíssimas em futebol, e é um prazer vê-los, aos comentadeiros, a afogarem-se. 'Ai o azar!', 'Ai o guarda-redes deles!', 'Ai a injustiça!', 'Ai o árbitro!', e por aí fora. Desde que o Porto foi eliminado, já perdi a conta ao número de vezes que ouvi ou li que 'O Real Madrid e o Milan também foram eliminados', a acompanhar a notícia da eliminação do Porto. Como se o facto dos dois colossos terem caído fosse, por si só, uma atenuante da eliminação dos nortenhos às mãos do Schalke, e uma expressão do seu valor. O árbitro, esse, teve o despudor de expulsar um jogador do Porto no Dragão (onde é que já se viu isto?) porque ele, veja-se lá, lembrou-se de entrar com os pitons na coxa de um adversário quando a bola estava junto ao relvado (sobre a não expulsão do Hélton, nem uma palavra, está bom de ver). Então ele não sabe que aqui em Portugal a regra é que para os jogadores do Porto a canela adversária vai até ao pescoço? Perguntem ao Bruno Alves. E o que dizer do sacana do guarda-redes adversário que se lembrou de fazer o trabalho dele, e defender tudo o que havia a defender? Nunca viu o Taborda a jogar para saber como é que se faz?

Ainda hoje, em mais um dos incontáveis editoriais
do Vitor Serpa n'A Bola que não passam de um notável exercício de brown nosing aos suspeitos do costume, ele afirma sem pudor que 'nenhuma outra equipa portuguesa estaria em condições de jogar ao mesmo nível'. OK, reality check: O Porto foi eliminado pela pior equipa que estará presente nos quartos-de-final da prova, e provavelmente até a pior que passou à segunda fase. A 'brilhante' carreira europeia dos portistas foi terem-se superiorizado aos colossos Marselha e Besiktas, já que assim que apanharam um adversário a sério no grupo, o Liverpool, foram copiosamente batidos. Apesar das brilhantes campanhas europeias, que deveriam exigir que no mínimo os adeptos dos outros clubes portugueses lhes cantassem um salmo de louvor antes das suas equipas disputarem qualquer encontro europeu, nos últimos três anos foi o Benfica quem contribuiu com mais pontos para o ranking português na UEFA (vamos ver se o Benfica ultrapassa ou não o Getafe, pois caso isso aconteça então pelo quarto ano consecutivo contribuirá com mais pontos do que o brilhante Porto), e no início da próxima época seremos o clube português melhor classificado no ranking das equipas, com uma vantagem confortável sobre a segunda melhor equipa. Mas o Porto é que deve ser louvado.

Esta noite o nosso Benfica, desfalcado de meia equipa, qual parente pobre do futebol português, lá terá que se bater contra o Getafe e fazer pela vida. E se as coisas por acaso correrem mal, não há cá azares, ou guarda-redes adversários, ou árbitros que nos valham. Que o Benfica tem obrigação de fazer muito mais do que o suficiente para que estes factores não entrem em conta. Se tal não conseguirem, cá estarão os opinadeiros do costume, serenos na sua imparcialidade, para nos chamarem à pedra e apontarem a dedo as nossas lacunas.

segunda-feira, março 03, 2008

Frustração

Sinto-me frustrado. Porque não vencemos um jogo que estava perfeitamente ao nosso alcance, aproveitando para atirar os nossos adversários de hoje para fora da discussão do segundo lugar. É verdade que lhes faltou o arrumador dos supermercados e o Rónhónhó, mas nós também jogámos sem Luisão, David Luiz e Petit (para não falar no Nuno Assis). E conforme eu previ no meu último post, como não ganharam, de quem é a culpa? Pois, daquele em quem nunca falam. Nunca.

Esquema do costume do nosso lado, ou seja, 4-2-3-1 com o Cardozo na frente e o Maxi ao lado do Binya como médio mais recuado. A lesão do Nuno Assis no aquecimento significou a entrada do Di María no onze, indo colocar-se sobre o lado direito. Foi um início de jogo muito mau da nossa parte (ou muito forte da lagartagem, depende do ponto de vista). Mas a principal lacuna foi mesmo o desastre que o nosso lado direito foi durante os primeiros vinte e cinco minutos de jogo. O Di María não fez nada em termos defensivos, o que deu total liberdade ao lateral adversário para subir. No meio-campo, o Maxi Pereira, que era quem deveria ajudar a fechar esse lado, também andava alheio do jogo, e na defesa quer o Nélson quer o Edcarlos estavam desastrados. Isto quando o adversário atacava quase exclusivamente por aquele lado, criando diversas situações de 2 x 1. Além disso, toda a equipa parecia atrapalhada com a pressão alta do adversário, sendo o Binya o único que parecia ir mostrando alguma lucidez no meio daquele naufrágio. Não surpreendeu portanto o golo deles, num lance em que os nossos dois centrais ficaram muito mal na foto (no estádio fiquei perfeitamente convencido que tinha sido um autogolo do Edcarlos, tal foi a forma pouco ortodoxa como se fez ao lance).

Só após esses primeiros vinte e cinco minutos terríveis o Benfica conseguiu reagir, em particular após a troca de flancos entre o Di María e o Rodríguez. O sinal foi dado pelo Rui Costa, num remate bem defendido pelo guarda-redes para canto. A partir desse momento passámos a conseguir manter o adversário longe da nossa baliza, e assumimos o controlo do jogo. O golo esteve perto de acontecer, quando o Rodríguez, em posição frontal e praticamente á vontade, rematou rasteiro ao lado da baliza adversária. Minutos depois chegou mesmo, na sequência de um canto marcado pelo Rui Costa, com a bola a viajar direitinha à cabeça do Cardozo, que correspondeu com um cabeceamento exemplar (e dá-me vontade de rir quando me lembro da quantidade de 'peritos' que quando ele chegou se fartaram de dizer que o paraguaio era mau de cabeça - hoje deve ter ganho a grande maioria dos lances pelo ar aos centrais adversários). O Benfica continuou a ter ascendente no jogo até ao intervalo, mas o resultado não mais se alterou, sendo o empate uma expressão certa dos dois períodos distintos de domínio de cada equipa durante os primeiros quarenta e cinco minutos.

Ao intervalo comentava para os meus colegas de bancada que aquilo estava a ser um derby atípico, porque até então a lagartagem ainda não tinha berrado por nenhum penálti, nem tinha exigido a expulsão de nenhum jogador do Benfica. A segunda parte veio confirmar que há hábitos que não se perdem. Infelizmente para nós, esta segunda parte não se iniciou na mesma toada com que tinha terminado a primeira. Mais uma vez os nossos adversários entraram melhor (embora sem conseguirem uma supremacia tão marcada como na primeira parte), enquanto que o Benfica se encolheu. Após os primeiros minutos, voltámos a conseguir libertar-nos da pressão adversária e a reequilibrar o jogo, mas depois começou a tradicional choraminguice do Lumiar. Arranjaram um penálti para reclamar (mas sobre a falta que o Léo sofre no início desse mesmo lance, que lhes permite recuperar a bola perto da nossa área, nem um pio), houve muito rebolanço no relvado e urro nas bancadas, e finalmente conseguiram que o Nélson fosse expulso. Esta expulsão significa que nas últimas quatro épocas o Benfica não conseguiu acabar os seus jogos em Alvalade com onze jogadores em campo. Nem o FC Porto, nos seus tempos áureos, e a jogar nas Antas, conseguiu tal desempenho contra o Benfica.

O Benfica sentiu a expulsão, e cedeu o domínio territorial ao adversário. No entanto, mesmo a jogar contra dez, eles nunca conseguiram causar qualquer tipo de sufoco, e nunca cheguei a ter a sensação de que uma derrota pudesse estar iminente. Foram aliás nossas as duas melhores situações para marcar, num remate de longa distância do Cardozo, e num livre do Rui Costa mesmo a fechar o encontro. Do lado de lá, o melhor que se arranjou foi uma queda patética daquele cepo sérvio na área, e mais um festival de urros nas bancadas. No final, e só para chatear, entrou o Luís Filipe, de forma a que acabássemos o encontro com o Luís Filipe, o Zoro, o Edcarlos e o Maxi Pereira simultaneamente em campo. E mesmo assim não conseguiram incomodar-nos. Já agora, se eu passei a maior parte desta crónica da segunda parte a falar das palhaçadas dos artistas do Lumiar, é mesmo porque futebol digno de registo houve pouquíssimo, já que o encontro foi em geral mal jogado, com muita luta e pouco futebol.

Melhor do Benfica, para mim, Binya (que teve direito ao cada vez mais habitual amarelo ridículo, qual chupeta para calar os chorões do Lumiar). Mesmo na pior fase do Benfica (aquela primeira metade da primeira parte) manteve sempre a calma, recuperou inúmeras bolas, e distribuiu bem o jogo. O Binya é tudo menos um jogador tosco: raramente entra na destruição pura de jogo, e no chutão para a frente; em vez disso ele recupera a bola e distribui jogo, ou deixa a bola jogável nos pés de um colega. Neste momento, o Binya é aquilo que era o Petit quando chegou ao Benfica. Muito bem também o Rui Costa, assim que se soltou da pressão do adversário e começou a encontrar espaços para jogar. Bons jogos também do Cardozo (ganhou imensos lances no ar, trabalhou muito sozinho na frente, e marcou mais um golo) e do Quim, que não teve hipóteses no golo (o cabeceamento do Vukcevic é muito bem colocado) mas respondeu sempre bem nas outras ocasiões em que foi chamado.

O segundo lugar está à nossa disposição, mas tal como disse, sinto-me frustrado porque creio que desperdiçámos uma excelente oportunidade para vencer em Alvalade. Tendo em conta os jogadores que estavam a aquecer, tenho quase a certeza que caso o Nélson não tem sido expulso, o Camacho iria apostar na entrada de mais um avançado para tentarmos vencer o jogo. Agora vamos ver se na próxima jornada, contra o (mais que ) último classificado, conseguimos finalmente vencer em casa na segunda volta, para não voltarmos a deitar fora o bom trabalho feito fora.