Comunhão
Acho que podia fazer este texto todo sem mencionar sequer o adversário que defrontámos hoje. Porque o Braga praticamente não existiu. Hoje só deu Benfica, num lindo cenário do Estádio da Luz cheio, com os adeptos em total comunhão com a equipa e tentando que a onda vermelha ajude a carregá-la até ao desejado bicampeonato. Para quem teve tanta garganta sobre tentarem vencer-nos, o Braga não conseguiu mostrar absolutamente nada. Aliás, quando nos eliminaram da taça já pouco mais tinham mostrado, mas desta vez não tiveram a mesma sorte que tinham tido nesse jogo - um guarda-redes praticamente intransponível e uma eficácia total no ataque.
Jogámos com o nosso onze mais forte e habitual neste momento, e praticamente desde o apito inicial ficou dado o mote para o jogo. Entrada muito forte do Benfica instalando-se no meio campo do Braga, que se encostou à sua área e foi tentando jogar com toda a calma do mundo nas reposições de bola, de forma a prolongar o nulo e enervar o Benfica. Também tentaram logo no primeiro minuto a rábula das quezílias, com o banco todo a saltar para tentar armar confusão assim que apanharam o Eliseu ao alcance. Mais tarde foi o anão do Agra que andou a provocar o nosso treinador quando passou pelo nosso banco para aquecer, ainda na primeira parte. Mas hoje não estávamos na pedreira, e as tácticas rascas dignas de um qualquer fóculporto dos anos noventa não deram em nada. Pareceu-me, aliás, que dentro do campo os jogadores do Braga até pareceram intimidados pelo ambiente, e portanto nem sequer se dedicaram afincadamente à táctica de distribuição de porrada avulsa que costumam empregar na pedreira como forma mais eficaz para travar o Benfica. Em jogo jogado, o Braga simplesmente andou a ver o Benfica jogar, quase sem conseguir passar do meio campo e quanto a remates, nem vê-los (julgo que conseguiram fazer um remate à nossa baliza em todo o jogo). O Benfica conseguia fazer funcionar o carrossel do seu jogo, com a bola a circular rapidamente entre os seus jogadores, muitas vezes ao primeiro toque e com trocas constantes de posição entre o Gaitán, o Lima, o Jonas, o Salvio, o Pizzi, com os dois laterais constantemente envolvidos nas jogadas de ataque e o Samaris a ganhar cada vez mais protagonismo em funções mais recuadas. Os ataques do Benfica sucediam-se uns aos outros, e foi com toda a naturalidade que chegámos ao primeiro golo com vinte minutos decorridos. Mais uma troca de bola entre o Gaitán, Lima e Jonas na zona frontal à área, com o argentino a deixar para o remate de primeira do Jonas, ainda bem de fora da área, que não deu hipóteses de defesa. Não houve qualquer reacção do Braga ao golo sofrido: continuou a carregar o Benfica, que à meia hora quase ampliou a vantagem, mas viu o Santos cortar sobre a linha uma bola rematada pelo Pizzi quando já se gritava golo. Era escasso o resultado ao intervalo.
Logo na entrada para a segunda parte não estivemos tão fortes como na primeira, e nos primeiros minutos o Braga até conseguiu fazer um remate para fora e conquistar um canto - isto acabou por ser o ponto mais alto da sua exibição esta tarde. Mas depressa o Benfica voltou a pegar nas rédeas do jogo e foi novamente para cima do Braga, em busca do golo da tranquilidade. A situação complicou-se ainda mais para o Braga quando, com ainda meia hora para jogar, ficou reduzido a dez depois do Tiago Gomes ver o segundo amarelo por uma falta grosseira e indiscutível sobre o Salvio (tinha visto o primeiro por cortar deliberadamente uma jogada com a mão, ainda na primeira parte). Na sequência do livre o Benfica só não chegou ao segundo golo porque o guarda-redes do Braga, Matheus, fez um autêntico milagre, defendendo com o pé um remate do Lima, que a uns três metros da baliza tinha tudo para marcar (e ainda na sequência dessa defesa, a recarga com desvio do Jonas quase deu golo também). Pouco depois um momento menos bom para nós, no qual o Gaitán viu um amarelo que o retira do próximo jogo, por tentar arrancar um penálti (honestamente, pareceu-me que foi bem mostrado). No meio dos ataques do Benfica em busca do segundo golo, começou então o duelo particular do Eliseu com a baliza do Braga. A primeira tentativa obrigou o guarda-redes a uma boa defesa para canto. Pouco depois a segunda tentativa fez passar a bola muito perto do ângulo superior da baliza. E à terceira foi mesmo de vez: o Samaris passou a bola para a esquerda na direcção do Gaitán, este não a conseguiu captar e ela seguiu mais para a esquerda, onde o Eliseu surgiu a rematar de primeira de fora da área sem possibilidades de defesa. Faltava então cerca de um quarto de hora para o final e o jogo ficou resolvido, pelo que o Benfica tirou o pé do acelerador e limitou-se a gerir o jogo e o esforço, retirando de campo o Gaitán, Samaris e Maxi.
O Jonas continua a ser um jogador em destaque, ajudando a decidir jogos com golos e pormenores de classe. Quase que vale a pena ver um jogo só para apreciar o toque de bola dele (o lance em que ele faz a bola 'morrer' no pé quando ela vinha a cair de grande altura é sublime). A inteligência na forma como se movimenta no campo para abrir espaços para a entrada dos colegas e dar linhas de passe é fundamental para o bom momento do Benfica. Mas para mim esta tarde o nosso melhor jogador em campo foi o Samaris. Não sei se terá feito alguma coisa errada durante todo o tempo que esteve em campo. Mais uma vez o nosso treinador está a fabricar um médio defensivo de enorme qualidade, que mostra cada vez mais uma leitura perfeita do jogo, na forma como faz as compensações aos laterais, como auxilia os centrais, ou como começa a construção das jogadas nas saídas para o ataque. Substituir o Matic não é fácil, mas o Samaris começa a mostrar que poderá ser muito capaz de o fazer.
Mais uma equipa em quem foram depositadas tantas esperanças que sai derrotada sem apelo nem agravo. Faltam cada vez menos jogos e continuamos teimosamente a ser a única equipa que depende apenas de si própria, para desespero cada vez maior de muita gente. Só temos que continuar neste registo. Quando a onda vermelha avança e puxamos todos para o mesmo lado, é quase impossível travar a nossa marcha.