Desoladora
Mais uma actuação desoladora e mais um resultado negativo para juntar à série que teima em prolongar-se. Neste momento parece-me que os adeptos já não acreditam muito que a situação possa voltar a endireitar-se, mas o mais preocupante para mim é que os jogadores ainda parecem acreditar menos do que os adeptos.
Mudanças no onze para este jogo: Weigl e Rafa para o banco, entram Chiquinho e Cervi. Meio campo composto pelo Samaris e o Taarabt, com o Chiquinho no apoio ao Vinícius e as alas entregues ao Pizzi e ao Cervi. Declaração de interesses: não gosto do Vitória de Setúbal. Nunca gostei, e para mim nem deviam ter lugar na primeira liga dado que há anos e anos que furam as regras da concorrência, acumulando dívidas a jogadores que lhes deveriam valer a despromoção, mas de alguma forma vão continuando a fintar tudo e todos. Depois há aquele pormenor de há décadas abrirem declaradamente as pernas nos jogos contra o Porto. E hoje voltaram a ser uma equipa enervante, em que cada jogador rebolava três vezes no chão de cada vez que sofria um sopro, na esperança de arrancar cartões aos jogadores do Benfica. Objectivamente não jogam um caracol, limitaram-se a defender o tempo quase todo e fizeram para aí dois remates durante o jogo todo. Infelizmente, face ao momento que o Benfica atravessa, isso chegou para arrancarem um empate e poderem ir mais uma vez abanar a cauda orgulhosamente para o pé dos amigos do norte. Sim, porque a actuação do Benfica foi mais uma vez demasiado abaixo do exigível, sobretudo durante a primeira parte, em que atingiu níveis capazes de levar ao exaspero qualquer adepto fiel. Não foi só o deserto de ideias da equipa, incapaz de arranjar formas de ultrapassar a muralha defensiva do adversário. Até percebo que se tenha tentado trocar a bola na tentativa de fazer o adversário sair da sua área, mas eles estavam mesmo empenhados em agradar ao patrão do norte e não saíam lá de trás de maneira nenhuma. Mas o ritmo imprimido foi demasiado pausado e por vezes quase parecia haver menor empenho dos jogadores. Se o adversário não saía da defesa de maneira nenhuma, a jogar naquele ritmo é que não iríamos conseguir desposicioná-los de maneira nenhuma. O Benfica na primeira parte quase não criou ocasiões de perigo, tendo resolvido que a melhor solução eram pontapés para as costas da defesa adversária. Pontapés e não passes, porque na maior parte das ocasiões essas bolas nem sequer levaram a direcção aproximada de um jogador do Benfica.
Se esperávamos algumas melhorias na segunda parte, esta começou com o golo do Setúbal. Uma bola metida no espaço entre o Rúben e o Tomás Tavares, e finalização fácil já no interior da área. Como sempre, não é necessário o nosso adversário atacar muito para marcar; basta ir lá uma ou duas vezes. Até houve reacção do Benfica ao golo. Não tanto em termos de qualidade, mas pelo menos vi mais vontade nos jogadores, em contraste com a paupérrima primeira parte. O melhor que podia acontecer foi termos chegado ao empate poucos minutos depois. Um penálti sobre o Rúben Dias na sequência de um pontapé de canto (assinalado pelo VAR) foi convertido pelo Pizzi e tínhamos agora mais quarenta minutos para chegar à vantagem. E tentámos lá chegar, de forma mais ou menos sôfrega e atabalhoada. Entrou o Rafa para o lugar do Chiquinho, depois inevitavelmente acabou por entrar o Dyego e o Benfica continuou a pressionar um Setúbal que se encafuou na área e defendia o empate como se as suas vidas disso dependessem. Pouco depois de entrar o Dyego até ofereceu um golo de mão beijada ao Pizzi. Depois de fugir pela esquerda, fez um passe atrasado que encontrou o Pizzi completamente solto dentro da área, em posição frontal. O Pizzi deu sequência ao lance rematando de forma desastrada e sem grande convicção por cima da baliza. A quinze minutos do final, ocasião soberana para nos colocarmos em vantagem: novo penálti a nosso favor, por mão clara depois de um remate do Grimaldo. Chamado à conversão, o Pizzi repetiu a graça da passada segunda-feira e nem acertou na baliza. Três penáltis falhados em quatro tentativas já me parece um exagero. Mesmo a jogar mais com o coração do que com a cabeça, e já com o Weigl em campo para evitar que o Samaris fosse para a rua (já tinha amarelo e a intensidade dos mergulhos, cambalhotas e gritaria dos jogadores do Setúbal de cada vez que o Samaris se aproximava deles dava para perceber que queriam a todo o custo provocar a sua expulsão) voltámos a ter uma grande ocasião para golo, e desta vez foi o guarda-redes a corresponder a um remate do Grimaldo com uma grande defesa. Depois foi um cabeceamento do Dyego Sousa que saiu à figura do guarda-redes quando a situação exigia melhor finalização. Mesmo a jogar mal o Benfica produziu ocasiões mais do que suficientes para vencer este jogo, mas quando as coisas não estão bem e a confiança não abunda, acaba por correr tudo mal.
Não consigo fazer destaques. A primeira parte foi tão confrangedora que não me sai da cabeça. Não se pode dizer que algum jogador tenha actuado sequer a um nível minimamente próximo da sua valia. O Pizzi voltou a ser um desastre. Compreendo que as coisas não saiam bem, mas tenho muita dificuldade em aceitar desânimo. Não gosto de ver jogadores a recuar a passo ou de cabeça caída, e muito menos quando envergam a braçadeira de capitão - o capitão deve liderar como exemplo, ser uma voz de comando, motivar e empurrar a equipa para a frente. Não vi nada disso no Pizzi. Fazer uma gracinha de vez em quando não serve para apagar 80 minutos apagadíssimos. Ponham a braçadeira no Rúben Dias, por favor.
Foram dois jogos seguidos que deveríamos ter ganho e empatámos, e que caso tivéssemos ganho nos deixariam agora no comando com três pontos de vantagem sobre o segundo. O sentimento de desperdício é absolutamente frustrante. Esta equipa pode e sabe fazer muito melhor, como nos mostrou durante um ano inteiro. Não há explicação lógica para tamanha descrença e quebra de qualidade e produtividade no futebol jogado.