Regresso
De regresso a casa após o assalto de que fomos vítimas em Braga, retomámos o trilho das vitórias com nova goleada, desta vez frente ao Boavista. Desde que o Bruno Lage pegou na equipa marcámos 15 golos em três jogos disputados na Luz. Já menos positivos são os cinco golos sofridos nesses mesmos jogos.
Apresentámos quase o mesmo onze que foi vigarizado em Braga, sendo a única alteração na baliza, onde regressou com naturalidade o Vlachodimos. E desde logo vimos aquilo a que começamos a habituar-nos no Benfica do Bruno Lage. Uma equipa disposta em 4-4-2, com os dois médios centro a jogar a par, com uma pressão agressiva sobre adversário ainda bem dentro do seu meio campo, e que quando tem a bola joga um futebol bastante mais vertical do que fazia quando o Rui Vitória era o treinador. A equipa tenta chegar o mais depressa possível junto à baliza adversária e está constantemente à procura do golo, em vez de andar pacientemente a trocar a bola em passes laterais à espera de uma ocasião. Claro que jogando assim também nos expomos mais, pois os passes de risco são muito mais frequentes, mas isso é largamente compensado pelas situações de golo, em quantidade e qualidade, que acabamos por criar. O jogo até poderia ter começado da pior maneira, pois logo nos primeiros minutos um mau atraso do Gabriel para o Vlachodimos deixou um adversário completamente isolado, mas o remate deste acertou na base do poste e foi para fora. Não marcaram eles, marcámos nós quase de seguida. Livre na direita do nosso ataque marcado pelo Pizzi para a zona do segundo poste, onde o João Félix voou e antecipou-se de cabeça para fuzilar a baliza. Logo a seguir, oportunidade para o VAR mostrar mais uma vez que os critérios para se assinalar penálti a favor do Benfica são muito diferentes daqueles aplicados para outros. Neste caso, fazer um carrinho com o braço levantado é considerado normal (noutros casos, por exemplo, levar com a bola no braço quando se está de costas e o remate é desferido a meio metro dá direito a penálti). O Benfica continuou a construir oportunidade umas atrás das outras, viu o Seferovic falhar isolado, viu o Rúben Dias cabecear à barra após novo livre marcado pelo Pizzi, e antes da meia hora chegou com toda a naturalidade ao segundo golo. Mais um falhanço do Seferovic isolado (grande passe de trivela do Rafa) mas o Pizzi chegou a tempo de fazer a recarga com sucesso. Depois disto o jogo acalmou um pouco, não que o Benfica tenha deixado de ter muito mais bola, mas pelo menos a ocasiões deixaram de se suceder em catadupa. E como que para acordar toda a gente, mesmo antes do intervalo e completamente contra a corrente do jogo, o Boavista reduziu a diferença. Depois de um canto a bola ficou solta no centro da área e sobrou para o Talocha rematar de primeira sem possibilidades de defesa para o nosso guarda-redes.
No início da segunda parte o Boavista apareceu um pouco mais atrevido. Nada de particularmente preocupante para nós, mas provavelmente depois de terem reduzido acreditaram que seria possível chegar ao empate e tentaram avançar um pouco mais no terreno. Depressa pagaram por esse atrevimento. Este Benfica sai de forma muito mais rápida e directa para o contra-ataque, e depois de uma tentativa de remate do Boavista, que foi interceptada, segundos depois e tendo passado por três jogadores em cinco toques, a bola estava dentro da baliza oposta. Mérito quase total para o João Félix, que pela direita e ainda sobre a linha do meio campo evitou um adversário que entrou à queima, progrediu no terreno e depois fez um passe rasteiro absolutamente perfeito para o poste mais distante, onde apareceu o Seferovic para finalizar. Estavam decorridos apenas nove minutos da segunda parte (o Benfica conseguiu marcar aos nove minutos de ambas as partes) e este golo acabava com quaisquer veleidades por parte do Boavista. Daqui para a frente foi uma vez mais um desfilar de ocasiões por parte do Benfica, e a expectativa passou a ser apenas quantos golos mais conseguiria o Benfica marcar. O quarto nasceu de mais uma transição rápida, que começa com um lançamento de linha lateral junto da nossa área. Mais uma vez o João Félix na jogada, a virar-se e a ganhar bem a posição ao marcador directo para depois deixar no Pizzi. Remate cruzado deste, defesa do guarda-redes e recarga do Seferovic já de ângulo apertado. O Benfica estava completamente à vontade no jogo e trocou dois dos jogadores em maior destaque, Pizzi e Seferovic, pelo Gedson e o Ferreyra mas nem isso alterou o pendor do jogo. Foi mesmo o Gedson a ter intervenção decisiva no lance do quinto golo, libertando-se com classe de dois adversários para depois progredir até à entrada da área, ameaçar o remate e deixar a bola no Grimaldo. Depois saiu uma bomba dos pés do espanhol que fez a bola entrar bem junto ao ângulo superior. Golaço. Antes do final, o Samaris pontapeou um adversário e cometeu um penálti indiscutível. Oportunidade para o Vlachodimos brilhar, já que com uma enorme defesa impediu que o Boavista seguisse os exemplos do Rio Ave e do Braga e saísse da luz com dois golos marcados.
Melhor do Benfica, para mim, o João Félix. Muito bem acompanhado pelo Pizzi e o Seferovic (pena que não tenha tido melhor aproveitamento nas ocasiões de que dispôs, porque poderia facilmente ter acabado o jogo com o dobro dos golos que marcou). O Gabriel começou o jogo com aquela asneira mas foi subindo de rendimento e assinalou uma exibição muito positiva. Menção também para o 'recuperado' Samaris, que de jogador praticamente dispensado passou a titular e hoje fez um bom jogo. Parece claramente mais à vontade no papel de médio centro neste 4-4-2 do que a jogar como médio mais recuado no 4-3-3. Uma última menção para o Grimaldo, quanto mais não seja pelo golaço que fechou o resultado da melhor maneira (mas voltou a ser extremamente activo e influente nas investidas pela esquerda).
Foi um bom regresso à normalidade e a confirmação daquilo que os nossos jogadores disseram no final da vergonha da pedreira. Por mais que tentem, não é com jogadas subterrâneas que conseguem vergar o espírito desta equipa. Agora é preciso manter esta atitude e encarar cada jogo como uma final, porque não há qualquer margem de manobra.