Natural
Óptimo resultado obtido na Grécia, que acaba por ser algo que me parece perfeitamente natural. Como escrevi depois do frustrante empate no jogo da primeira mão, considero o Benfica muitíssimo superior a este PAOK e portanto a goleada obtida esta noite não foi mais do que a expressão normal dessa superioridade, e aquilo que já deveria ter acontecido no primeiro jogo. Levaram esta noite aqueles que já mereciam ter levado há uma semana.
O onze titular teve o regresso do Salvio e reservou-nos a novidade do Seferovic na frente de ataque. O que, face às opções disponíveis e ao sub-rendimento do Ferreyra nos últimos jogos, até acabou por não ser uma surpresa assim tão grande. A nossa entrada no jogo foi francamente má. Logo na primeira jogada um mau passe do Seferovic originou um contra-ataque que terminou com uma falta do André Almeida mesmo sobre o limite da área e um cartão amarelo. Durante os minutos iniciais a nossa equipa foi incapaz de manter a posse de bola e teve grandes dificuldades para lidar com a pressão agressiva dos jogadores do PAOK, que recuperavam rapidamente a bola e causavam perigo nas consequentes saídas para o ataque. Aos seis minutos o golo grego esteve muito próximo de acontecer, e só um desvio do Grimaldo fez com que a bola passasse ligeiramente ao lado. E aos treze, o previsível golo aconteceu mesmo, numa jogada de laboratório em que a nossa equipa foi completamente ludibriada, o que permitiu ao Prijovic limitar-se a empurrar a bola para a baliza. As coisas não pareciam nada famosas, mas num abrir e fechar de olhos tudo mudou. Aos vinte minutos o Jardel empatou num cabeceamento após canto do Pizzi, e seis minutos depois já estávamos em vantagem. O Cervi foi derrubado na área depois de um erro grosseiro do guarda-redes grego (depois da exibição inacreditável há uma semana na Luz alguma vez haveria de regressar à normalidade) e o Salvio converteu o penálti, com a bola ainda a bater no poste antes de entrar. O PAOK acusou muito estes dois golos, que fizeram muito bem à nossa equipa e lhe permitiram começar a jogar de forma bem mais confiante. Ainda passámos por um susto, quando no seguimento de um livre o Odysseas foi obrigado a uma defesa por instinto após um cabeceamento quase à queima-roupa, mas nesta fase já era o Benfica quem mandava na partida, e pouco depois o Seferovic esteve perto de marcar por duas vezes no mesmo lance. Não marcou ele, mas marcou o Pizzi logo a seguir numa das jogadas mais bonitas de todo o jogo. A combinação entre o Grimaldo e o Cervi pela esquerda foi perfeita, o passe atrasado deste último saiu teleguiado para o Pizzi à entrada da área, e este teve tempo para parar a bola e rematá-la direitinha para entrar junto do poste. Jogo e eliminatória praticamente resolvidos.
Embora no futebol nunca haja certezas, seria precisa uma hecatombe para que o Benfica não estivesse amanhã no sorteio da Champions, e logo nos primeiros minutos da segunda parte as coisas ficaram ainda mais decididas. Segundo penálti a favorecer o Benfica, desta vez a punir uma placagem do Varela sobre o Jardel (pena que cá em Portugal não punam mais vezes este tipo de lances) e mais uma vez o Salvio a converter, desta vez com um remate para o meio da baliza. A partir daqui o Benfica limitou-se a gerir com calma o resultado, ainda que aqui e ali houvesse um sobressalto - levámos com uma bola na barra, e o Odysseas ainda teve que fazer mais uma grande defesa por instinto já perto do fim. Mas da parte do Benfica o interesse era sobretudo ir deixando o tempo correr e gerir o esforço, que têm sido muitos jogos seguidos nesta fase da época, e quase sempre com os mesmos jogadores no onze. A tarefa ficou ainda mais facilitada na fase final do jogo quando o senhor Felix Brych mostrou que não só sabe assinalar penáltis a nosso favor como também é capaz de expulsar adversários do Benfica quando assim se justifica. Uma carga desnecessária sobre o Cervi valeu o segundo amarelo ao Léo Matos e o PAOK ficou reduzido a dez. Uma pena que este mesmo árbitro não tenha aplicado estes critérios naquela inacreditável final da Liga Europa em Turim, frente ao Sevilha. Pode ter-se redimido um pouco neste jogo (não fez mais do que a sua obrigação, ou seja, uma boa arbitragem) mas eu nunca mais vou conseguir esquecer aquela final. No final, uma vitória sem contestação da equipa mais forte e a importantíssima qualificação para a fase de grupos da Champions, para alegria de muitos e desespero e azia de uns quantos.
O melhor do Benfica neste jogo foi para mim o Cervi. Dá sempre o que tem, mesmo quando as coisas não lhe correm bem. Mas hoje correu-lhe quase tudo bem. Arrancou o penálti que permitiu a reviravolta, o que só foi possível por acreditar sempre no lance e fez a assistência para o terceiro golo, depois de toda uma jogada brilhante entre ele e o Grimaldo. O Grimaldo é também outro dos destaques, tendo estado bem a atacar (o que é habitual) e a defender (o que já não é tão habitual). O Fejsa tremeu um pouco naqueles péssimos minutos iniciais, tendo até feito alguns passes muito maus, mas depois acertou agulhas e foi o pêndulo a que nos habituou. Uma palavra para o Seferovic, que não era titular há muito tempo. Hoje teve a missão de sacrifício de jogar sozinho na frente e mesmo não tendo feito um jogo exuberante, cumpriu. Fez certamente mais do que aquilo que o Ferreyra tem feito nos últimos jogos, lutando com os defesas pela bola e segurando-a na frente de ataque.
Está ultrapassada esta etapa decisiva da época. Uma não qualificação poderia afectar de forma extremamente negativa toda a época, sobretudo em termos anímicos. Isto para não falar do enorme rombo em termos financeiros que o falhanço acarretaria. Agora é preciso não pensar que a missão está cumprida com o apuramento. Temos a obrigação de tentar limpar a péssima imagem deixada a época passada. O prestígio do Benfica assim o exige.