Previa-se uma deslocação complicada do Benfica até Barcelos, por tudo aquilo que antecedeu o jogo, com a tentativa bacoca de pressão por parte de um cada vez mais desesperado Lopecoiso, que contou com a ajuda de uma sempre solícita comunicação social. E também porque, apesar da má classificação do Gil Vicente, aquele não é um campo do qual tenhamos muito boas recordações nas deslocações mais recentes. A somar a isto, algumas exibições menos convincentes que o Benfica fez fora de casa esta época, sobretudo em deslocações ao Norte do país. Mas no final o jogo acabou por ser quase um passeio triunfal perante o habitual mar vermelho que empurra a nossa equipa para as vitórias.
O factor surpresa na nossa equipa foi, para mim, agradável. Em vez de jogar o Talisca numa das alas, o que se ia adivinhando perante a indisponibilidade do Salvio e a não convocação do Ola John, surgiu o Sulejmani a titular. E a aposta deu resultado, porque o sérvio assinou uma exibição positiva à qual só terá mesmo faltado um golo. Num relvado que me pareceu estar claramente demasiado alto para aquilo que é habitual, o Benfica entrou no jogo decidido a resolver o assunto cedo, como tem feito em grande parte dos jogos esta época. E desde o início que deu para perceber que seria muito improvável que as coisas corressem mal para o nosso lado, porque o Gil Vicente parecia incapaz de controlar a dinâmica ofensiva do nosso jogo e as constante deambulações do Jonas ou do Gaitán. Pela direita o Maxi também raramente tinha oposição digna desse nome, aproveitando da melhor maneira os espaços que os movimentos do Sulejmani da ala para o centro lhe proporcionavam. E no centro do terreno o Samaris e o Pizzi impuseram-se facilmente. O Benfica demorou quinze minutos até abrir o marcador, numa jogada bonita em que o Capela desmarcou o Capela, e este em frente ao guarda-redes não foi nada egoísta e fez um passe para o lado e ligeiramente atrasado que permitiu uma finalização fácil ao Capela (com o Capela também já a aparecer para finalizar). Pronto, na verdade foi o Lima a desmarcar o Sulejmani -às vezes dá jeito ter um extremo a jogar a extremo - e o passe deste permitiu o golo ao Maxi com o Jonas também em boa posição para finalizar. Mas quem tivesse ouvido o Flopecoiso esta semana provavelmente pensaria que o Gil Vicente iria defrontar onze Capelas hoje. Sete minutos depois, e com uma defesa apertada do Júlio César pelo meio a negar a melhor ocasião de golo que o Gil Vicente teve no jogo, surgiu o segundo golo. Uma jogada toda ela do Gaitán, que subiu pela esquerda, ganhou posição ao lateral e sobre a linha de fundo fez o cruzamento atrasado para uma finalização de classe e de primeira do inevitável Jonas. Percebeu-se aí que o jogo já estava resolvido. O Benfica ainda abrandou um pouco e o Gil Vicente teve mais um lance de algum perigo, numa confusão que se seguiu a um livre perigoso, mas o jogo esteve quase sempre controlado. Pena foi que antes do intervalo tenhamos ficado privados do contributo do Gaitán, que estava a ser um dos melhores, tendo entrado o Fejsa para o seu lugar (o Pizzi deslocou-se para a direita, passando o Sulejmani para a esquerda). Esperemos que a lesão não seja grave e possamos contar com ele para estes últimos jogos.
Se havia algum receio de um eventual adormecimento do Benfica na segunda parte, depressa se dissipou. Logo na saída de bola o Benfica foi directo para o ataque e conquistou um canto, e na marcação do mesmo o Pizzi colocou a bola para a entrada de cabeça do Luisão. Três a zero, com trinta e quatro segundos decorridos na segunda parte. E um minuto depois quase chegou o quarto, pois o Sulejmani isolou-se pela esquerda e permitiu a defesa ao guarda-redes quando até poderia ter optado pelo passe para o Lima, que estava bem colocado no centro. Antes de se completar o primeiro quarto de hora já a vantagem tinha voltado a aumentar, num golo quase todo fabricado pelo Jonas, que fugiu pela direita e centrou a bola para que o Lima cabeceasse à boca da baliza. O Gil Vicente, apesar da goleada, nunca baixou os braços e pareceu arriscar ainda mais no ataque, o que o deixava completamente exposto aos nossos contra-ataques. É verdade que ainda conseguiu ter uma grande oportunidade de golo, num cabeceamento que passou muito perto do poste e que eu até pensei que tinha sido mesmo golo, mas nesta fase a questão principal era apenas saber quantos golos mais conseguiria marcar o Benfica. A estratégia do Gil Vicente era de risco total (não me parece que fosse de todo possível darem a volta a um resultado tão desnivelado, mas às vezes prémios tentadores fazem as pessoas perder a cabeça) e de cada vez que recuperávamos a bola o Lima ou o Jonas tinham dezenas de metros de terreno livre à sua frente para sair para o contra-ataque, e quando se dá tanto espaço a jogadores destes o resultado é previsível. Surpresa para mim foi termos marcado apenas mais um golo, numa recarga do Maxi a um remate do Lima depois de mais uma bonita jogada de entendimento entre a nossa dupla de avançados. Ainda deu para me irritar com um fora de jogo mal tirado ao Jonas, que o deixaria completamente isolado e que poderia dar-lhe mais um golo na luta pelo título de melhor marcador. E mesmo sobre o final, o Jonas perdeu mais uma boa ocasião para somar mais um à conta pessoal, ao chegar ligeiramente atrasado a um centro do Lima. Contas feitas no final, uma goleada das antigas que até poderia ter sido mais volumosa.
Um resultado destes permite destacar praticamente toda a equipa. Mas acabo sempre por, invariavelmente, falar no Jonas. Não tenho mais elogios para fazer-lhe. A importância que ele têm na forma como a equipa ataca, o que joga e faz os colegas jogar e a qualidade que tem na finalização fazem dele, seguramente, uma das melhores contratações do Benfica nas últimas décadas, sobretudo tendo em conta que veio a custo zero. Se acabarmos por ganhar este título, ele dever-se-á, e muito, ao Jonas. Destaque natural também para o Maxi que fez um jogo soberbo. Não é todos os dias que um lateral acaba um jogo com dois golos, obtidos com finalizações na zona dos avançados, o que mostra bem a propensão ofensiva que teve e o constante apoio que deu ao ataque. O Gaitán estava a ser dos melhores enquanto esteve em campo, o Samaris e o Pizzi também fizeram um bom jogo, e por último uma menção para o Sulejmani, que regressou à titularidade passado todo este tempo e teve uma participação muito positiva.
Mais um pequeno passo dado rumo à revalidação do título, passo este que nos deixa a duas vitórias do objectivo, com dois jogos para disputar em casa. Está perto, muito perto, mas creio que estamos todos vacinados contra excessos de euforia e a nossa equipa saberá manter-se focada no objectivo e não perderá a concentração. Mesmo tendo em conta a mais que previsível tentativa de desestabilização que continuará a vir lá de cima enquanto as contas não estiverem fechadas. O próximo jogo pode ser em casa contra o último classificado, mas terá que ser encarado como foi este jogo contra o penúltimo: como o jogo do título.