Mercado
Passamos nós a época inteira a ver os jornais venderem metade do nosso plantel, e ainda mal abriu o período de transferências e do Porto já saiu o Anderson, enquanto que na lagartagem, apesar das sucessivas parangonas nos mesmos jornais que todos os dias nos vendem jogadores a anunciarem que as 'jóias' ficavam todas, o Nani já foi vendido (aquela novela da renovação só dava mesmo para adivinhar que devia haver algo por trás) e o Tello (maior compra da história do clube) pirou-se a custo zero. No caso do Nani até admito que deve ter sido um bom negócio, dado que ele já só tinha mais um ano de contrato, e se o Man Utd fizer por ele o que fez pelo Ronaldo, quem lucra é a selecção. Como benfiquista, só posso ficar satisfeito quando vejo os rivais perderem bons jogadores. E por enquanto vou desejando que do nosso clube não saia ninguém.
Já agora, deixo a minha opinião sobre os nossos reforços conhecidos até agora. Sobre o Zoro, acho que é sobretudo uma contratação útil. Dos poucos jogos que vi do Messina, não me pareceu que ele fosse nenhum fora de série. Mas vem para uma posição em que estamos necessitados de opções, é jovem, tem bastante experiência do futebol italiano, e para o nosso campeonato é bastante mais do que o suficiente. Claro que se o Nandinho não o meter a jogar daqui a seis meses provavelmente passará a ser considerado um peso morto no plantel, sem categoria para o onze. Quanto ao Coentrão, confesso que estou muito pouco impressionado. Nem sequer tem a ver com as declarações dele sobre a vinda para o Benfica. Parece-me que um jogador indisciplinado, que no Rio Ave de vez em quando decide faltar a treinos só porque lhe apetece não é propriamente o tipo de jogador que eu deseje ver com a nossa camisola vestida. Veremos se a mudança para cá lhe melhora o profissionalismo, ou se ele será apenas mais um que se perdeu, e daqui a um ano já andará emprestado ao Estrela da Amadora.
Na realidade
É preciso gostar-se muito do Benfica para se ficar acordado até praticamente às três da manhã para ver um jogo de final de época, contra um adversário quase desconhecido, mesmo sabendo que grande parte dos titulares não jogariam. Pior ainda é manter-me estoicamente acordado e insistir em ver o jogo até ao fim, mesmo quando o futebol apresentado é asustadoramente mau - se disser que o melhor jogador do Benfica é capaz de ter sido o Beto, está quase tudo dito. Mas pelo menos sempre deu para ver o Moreira na nossa baliza, já que esse prazer me foi negado durante esta época. Entretanto hoje, depois de ontem ter sido bombardeado durante a transmissão do jogo com anúncios da grande entrevista do Nandinho à SportTV, foi com alguma curiosidade que me sentei à frente da televisão para assistir a essa peça jornalística, e ouvir da boca do responsável pela nossa equipa de futebol as explicações para os resultados que provocaram a tristeza geral dos benfiquistas.
A entrevista pouco ou nada me surpreendeu, já que o Nandinho, salvo algumas excepções, disse aquilo que já esperava. Teve a honestidade de se assumir como o responsável máximo pelos resultados desta época, mas compensou essa atitude nobre com o desfiar de um sem número de desculpas e justificações para o que se passou. Além disso sabemos que para ele a época não pode ser considerada negativa, por isso ele no fundo está a assumir responsabilidade não por algo negativo, mas sim por algo supostamente positivo. Assim é fácil. Entretando tenho a expressão 'na realidade' a ecoar-me incessantemente nos ouvidos - já repararam no número de vezes que o Nandinho diz isto de cada vez que fala?
Fiquei a saber que o Benfica perdeu a época no primeiro terço do campeonato (que surpresa). E porquê? Bem, as razões são variadíssimas. Foram os jogadores que estiveram no Mundial que se apresentaram tarde (porque nos outros clubes isso claro que não aconteceu), foi o Micle que também veio tarde, depois foram os jogos de preparação em que ele teve de meter esses jogadores que chegaram tarde a jogar quase sem preparação, resultando isso em derrotas pesadas que afectaram a equipa (e será que, tendo ele sido contratado no final de Maio, não teve nada a dizer no planeamento da pré-época?). Depois houve o grande problema, uma situação com que nenhum treinador gostaria de se deparar: ele não contava que o Simão ficasse. Compreende-se que um treinador que, de súbito, se veja confrontado com um 'reforço' de última hora da qualidade do Simão se veja em palpos de aranha. Isto dá cabo de qualquer estratégia.
Mas para mim a justificação mais cretina (lamento, mas é mesmo a única palavra que encontro para descrever isto) foi a do adiamento do jogo com o Belenenses. Não fazia ideia do quão devastadora esta decisão tinha sido. Aparentemente isto condicionou a época toda do Benfica até Dezembro, porque pelos vistos as pessoas olhavam para a tabela classificativa e só viam o Benfica com três pontos a menos, e não reparavam no jogo em atraso. Isto fez logo com que a equipa entrasse nervosíssima no Bessa, com uma necessidade imperiosa de vencer (quem sabe na ânsia que aquele jogo valesse seis pontos e assim compensasse o tal jogo em atraso, que pelos vistos era encarado como três pontos que nunca mais seriam recuperados). Eu sabia que havia um motivo muito forte para aquela exibição miserável logo a abrir o campeonato. Para quem não gostar desta explicação para o facto de termos perdido o campeonato é só escolher outra, porque há muitas: lesões de alguns jogadores, suspensão do Nuno Assis, etc.
Depois há algumas contradições curiosas. O Nandinho diz, por exemplo, que se apercebeu logo nos treinos da qualidade do David Luiz. Mas pouco depois acaba por nos esclarecer que só mesmo uma sequência de acontecimentos infelizes acabaram por permitir que pudéssemos vê-lo jogar com a nossa camisola esta época: a lesão do Luisão e a indisposição do Katsouranis. Porque se o Katsouranis não se tivesse sentido indisposto e ficado de fora do jogo em Paris, seria ele a ocupar a vaga do Luisão. O David Luiz, esse, presumo que seria apenas mais um jovem 'lançado' pelo Nandinho (ele vangloriou-se de ser um dos treinadores que lançou mais jovens em Portugal) para jogar um ou dois minutos no final dos jogos, ao estilo do jovem João Coimbra. Queixa-se ainda o Nandinho do plantel ser curto. Diz que não rodou o plantel porque jogadores como o Manú, o Paulo Jorge ou o Miguelito têm qualidade e margem de progressão, mas ainda não estão habituados a estas andanças do futebol ao nível de um clube como o Benfica. E como é que ganharão essa habituação? Será passando uma época quase inteira a aquecer o banco? Não percebo.
Para mim acabou por ser uma entrevista banal, em que o que vi foi o nosso treinador assumir a responsabilidade pelo que se passou esta época, mas logo a seguir passou o tempo todo a enumerar desculpas para o que se passou, e a tentar dourar a pílula, explicando que afinal as coisas até nem tinham sido assim tão más. Eu ter-me-ia rido, se não fosse tão triste, na parte em que ele de uma forma muito convicta e quase até orgulhosa explicou ao jornalista que a fase final do campeonato do Benfica não tinha sido muito má, porque 'só perdemos um ponto para o Porto'. Nandinho, se ainda não percebestes isto eu explico devagarinho: o Benfica chegou a essa fase final com um ponto de atraso em relação ao Porto. Se nesses últimos sete jogos o Benfica ainda perdeu mais um ponto, isso significa que acabámos dois pontos atrás deles. Como resultado, eles foram campeões e nós não. O objectivo era ganharmos-lhes dois pontos nesses últimos sete jogos, não perder 'apenas um ponto'. Se o Porto fez uma má fase final do campeonato, isso não faz com que a nossa tenha sido menos má. Pelo contrário, isso só mostra que a nossa foi ainda pior. Por isso creio que não se deve apresentar esse facto como se se tratasse de algum feito de monta.
A única 'anormalidade' da entrevista foi mesmo a afirmação que o Nandinho fez que o Benfica será campeão. Eu e todos os benfiquistas esperarão que sim. Vamos lá ver é se para o ano (já que parece que a permanência do Nandinho é inevitável), caso quando se fizerem as contas no final isto não aconteça, não iremos assistir a mais um desfiar de desculpas e a uma fuga às responsabilidades.
Jantar - Parte V
Pronto, já podem parar com as reclamações. O próximo jantar da blogosfera benfiquista está marcado. Após muita discussão entre os membros da 'comissão organizadora' (ou seja, eu, o S.L.B. e o Pedro F.F.), e obtida a fundamental concordância do Gwaihir - por norma o cromo mais difícil - decidimo-nos pelo dia 23 de Junho. É daqui a um mês, por isso têm todo este tempo para assinalarem a data nas vossas agendas, desmarcarem os compromissos irrelevantes, ou arranjarem as desculpas necessárias para justificar a quem de direito a ausência nesta noite de Sábado. Contamos com a presença de todos (mesmo de cinquentões, Johnny) os que quiserem passar horas a falar sobre o nosso Benfica. Por essa altura já devem ter sido anunciadas nos jornais 1342 contratações para a nova época, pelo que não faltarão temas de conversa. O local é o do costume, ou seja, a Catedral da Cerveja, com vista para o relvado.
Quem estiver interessado em ir, basta que envie um e-mail ao S.L.B. para naosemencioneoexcremento@hotmail.com.
Fim
E pronto, chegou ao fim mais uma época, para mim completamente decepcionante, embora pelos vistos haja quem considere que uma época em branco no Benfica não se pode considerar negativa. Enfim, não surpreende, já que é o gosto do costume que certas pessoas parecem ter pela mediocridade. E para fechar a época em beleza, nada melhor que um jogo com futebol típico de fim de época, em que a nossa equipa decidiu muito cedo ficar-se pelo q.b. para vencer o jogo.
Não há muito para dizer. O jogo foi relativamente mal jogado durante grande parte do tempo, com alguns jogadores mais empenhados, mas com outros já a meio caminho das férias. Jogou a equipa esperada (a única dúvida era entre o Paulo Jorge e o Manú, e jogou o primeiro), que durante a apresentação da sua constituição recebu os assobios do costume para o Derlei e para o Nandinho. A entrada do Benfica no jogo nem foi má de todo. Tentou-se jogar com alguma velocidade e chegar cedo ao golo, o que acabou por acontecer cerca dos dez minutos de jogo. Após um remate do Karagounis o Derlei enganou-se, fez uma espécie de remate na recarga, e a bola lá acabou por rolar, devagarinho, para além da linha de golo. Este golo foi festejado pelo autor como se valesse um campeonato. Entretanto, pela minha cabeça e pela de muitos outros benfiquistas passou o mesmo pensamento: "Que este golo não signifique que teremos que o aturar cá para o ano".
Após o golo, o Benfica baixou o ritmo. Ou melhor, alguns jogadores pareceram fazê-lo, enquanto que outros continuavam a tentar jogar rápido e procurar o golo, embora nem sempre as coisas lhes saíssem bem - casos do Karagounis, Miccoli ou Rui Costa. O jogo começou assim a entrar no ritmo que acabou por pautar o resto do tempo. Demasiadas iniciativas individuais, pouco jogo em equipa, enfim, mais parecia por vezes uma peladinha entre solteiros e casados. A académica foi-se acercando da nossa área, e ameaçava chegar ao golo, valendo-nos então o Quim com algumas boas intervenções. As notícias dos outros campos diziam-nos que a lagartagem já ia vencendo confortavelmente (com alguma da já tradicional colaboração do Marco Aurélio), enquanto que o Porto ia empatando com o Aves, pelo que o resultado do nosso jogo ia perdendo importância. Seria de esperar que pelo menos os jogadores, libertos de qualquer pressão (com a Académica passava-se o mesmo, já que o resultado deste jogo em nada influenciaria a sua posição na tabela classificativa) pelo menos se dedicassem a jogar decentemente à bola, oferecendo um bom espectáculo e deixando uma boa imagem na despedida da época, mas pelo contrário, cada vez se jogava pior. Um único sobressalto, num livre do Karagounis correspondido com uma grande defesa do Pedro Roma, mas pouco mais.
Ao intervalo entrou o Manú para o lugar do desinspirado Paulo Jorge - não sei o que se passou com ele, mas parecia sempre que não sabia o que fazer à bola sempre que a recebia. O Manú trouxe pelo menos alguma velocidade extra, embora também não tenha estado particularmente inspirado. A qualidade do futebol ia piorando cada vez mais, e o Benfica era cada vez mais uma equipa completamente partida em dois blocos. Não havia uma tendência clara no jogo; quer o Benfica, quer a Académica poderiam marcar, ou então até podia ficar tudo na mesma (o mais provável). Pouco importava. O Porto já ia vencendo o seu jogo e a lagartagem, depois da mafiosice de atrasarem o recomeço do jogo, continuava em vantagem. A quinze minutos do fim o Nandinho substituiu o Miccoli pelo Mantorras, e o italiano foi aplaudido de pé enquanto os adeptos cantaram o seu nome. Aliás, tenho a impressão que esta tarde quase que se gritou mais pelo Miccoli do que pelo Benfica. Entretanto o Mantorras aproveitou e poucos minutos após a sua entrada, a passe do Katsouranis, fez o segundo golo e colocou um ponto final no jogo. Daí até final deu para se voltar a cantar o nome do Miccoli, deu para mais uma grande defesa do Quim, a negar o golo de honra à Académica, deu para o Nandinho, mesmo sendo o último jogo da época e o resultado não interessar para nada, gozar mais uma vez com o João Coimbra, metendo-o a um minuto do final (eu acho que a esta hora já teria dado um tabefe no treinador que passasse a época inteira a fazer uma brincadeira destas), e deu para assistirmos ao ridículo de um aparato de segurança enorme para prevenir uma eventual invasão de campo. Provavelmente deviam recear que houvesse muita gente a entrar em campo para obter o casaco do Nandinho, ou algo do género. Eu por mim contentar-me-ia em ir até lá ajudá-lo a apertar o nó da gravata.
Foi, conforme disse, um jogo de fim de época que não foi muito bem jogado. Gostei pelo menos da atitude de alguns jogadores, como o Karagounis ou o Rui Costa (embora se tenha agarrado demasiado à bola), gostei da vontade do Miccoli em marcar, achei que o Quim fez um bom jogo, e também o David Luiz. O Katsouranis também disfarça um pouco melhor a má forma física quando joga numa posição mais recuada, como hoje, e até conseguiu uma assistência.
O último fim-de-semana da Liga foi o que se esperava. Os três candidatos ganharam, o Marco Aurélio frangou em Alvalade, como de costume, o Manuel Machado queixou-se da arbitragem no final de um jogo contra o Benfica, também como de costume, o Nandinho guiou a sua equipa até ao terceiro lugar, como de costume e, igualmente como de costume, ficou satisfeito com isso porque pelo menos fez mais pontos que o Janos Biri, e que o Lajos Barotti, e até que o Toni. Não se esqueçam de lhe agradecer esse feito. Para o ano há mais. Infelizmente, parece que deverá ser mais do mesmo.
Triste
Foi uma vitória justa, julgo que sem grande contestação, mas difícil de alcançar. Porque apesar do domínio quase total no jogo, a verdade é que estivemos longe de jogar bem, e felizmente apareceu o talento do Miccoli a resolver pelo quarto jogo consecutivo, pois caso contrário arriscávamo-nos a sair do Bonfim com um empate frente àquela que deve ser provavelmente a pior equipa da Liga. Este é um daqueles jogos em que, mesmo após o termos ganho, nem me apetece escrever sobre ele, de tal forma fiquei triste com a qualidade do nosso jogo.
O Benfica apresentou-se com o mesmo onze que a semana passada venceu dificilmente a Naval. Lá vou eu bater mais no ceguinho, mas tenho que dizer que na minha opinião, continuar a insistir na titularidade do Derlei é quase uma ofensa aos benfiquistas. É verdade que as opções são quase nenhumas, mas o Derlei tem sido uma fracasso completo, e de cada vez que há uma oportunidade de golo para o Benfica, basta aperceber-me que é o Derlei quem tem a bola para já não ficar à espera de nada. Quanto ao jogo em si, e à primeira parte em particular, nem tenho muito a dizer. Foi mal jogada, aliás, bastante mal jogada, e os pontapés na monotonia aconteceram nas oportunidades falhadas pelo Derlei. Chegava a ser irritante quando, sabendo que o Porto estava a perder, não conseguia ver nos nossos jogadores nenhuma vontade especial para vencer. Iam deixando o jogo arrastar-se, e iam procurando meter a bola no Rui Costa para ver se ele inventava alguma coisa. O nulo ao intervalo não me surpreendia, e estava com bastante receio que se pudesse manter até ao fim.
A segunda parte foi, felizmente, um bocadinho melhor. Mas só mesmo um bocadinho. Notou-se pelo menos um pouco mais de velocidade e agressividade e, sobretudo, o Miccoli começou a aparecer mais no jogo. Foi por isso nele que passei a depositar as minhas esperanças para que conseguíssemos vencer o jogo. Depois de ameaçar por algumas vezes (e até falhar de uma forma que nem é muito habitual nele), acabou por ser num contra-ataque, após uma das raríssimas vezes que o V.Setúbal foi à nossa área durante a segunda parte, que o italiano marcou mais uma vez o golo decisivo. Eu sinceramente não percebi muito bem o empenho tão grande do Setúbal em manter o empate, porque na situação em que estão esse empate de pouco ou nada serviria, mas enfim. O certo é que o golo colocou alguma justiça no resultado, dando a vitória à única equipa que a procurou, e permitiu-nos ganhar dois pontos ao Porto - portanto agora o Nandinho pode sempre pelo menos dizer que lutámos pelo título até à última jornada.
Confesso que neste momento, sem o Luisão e o Simão, quando vejo os jogos do Benfica tenho apenas dois motivos de particular satisfação. Um chama-se Rui Costa, e outro chama-se Fabrizio Miccoli. Se quanto ao primeiro, ainda vou poder pelo menos apreciar o seu futebol durante a próxima época, quanto ao italiano já não sei. Ele é o tipo de jogador que me faz gostar de ir ao futebol. Não só pela qualidade indiscutível que possui, mas também pela empatia que ele tem com os adeptos. Gostava que o Benfica ficasse com ele. São jogadores destes que trazem os adeptos ao estádio, e que os fazem comprar kits e cativos. É caro? Como diz o Scolari, o que é ruim é que é caro. Caro é pagar dois milhões e meio pelo Marcel. Caro é pagar quatrocentos mil pelos seis meses que o Derlei cá andou a dar-nos cabo do juízo. Três milhões pelo Miccoli é uma pechincha. Ele gosta do clube, gosta dos adeptos, como foi possível ouvir hoje no final do jogo, e o sentimento é recíproco. Depois de nas últimas épocas ter visto sair do clube jogadores como o Tiago, o Miguel e o Manuel Fernandes, perder o Miccoli seria uma enorme tristeza para mim.
Vamos assim para a última jornada com tudo por decidir (se bem que as possibilidades do Benfica conquistar o título são meramente académicas). Campeonatos com finais destes são raros - em 2004/05 também o campeonato se decidiu a nosso favor na última jornada, mas aí a lagartagem já estava arredada. É frustrante pensar que este ano era tão fácil sermos campeões, mas aquele péssimo início de época acabou por ser fatal. E a verdade é que apesar do Nandinho insistir que fez mais pontos do que este ou aquele treinador, que está na luta pelo título, e que não perdemos há vinte jornadas, o que é certo é que é bastante provável que acabemos o campeonato em terceiro lugar. E o que eu noto é que os benfiquistas estão tristes com a sua equipa. Pouco mais de seis mil espectadores no Bonfim não é senão um sinal evidente dessa tristeza.
Tangente
Foi à tangente. Mas foi também completamente escusado o sofrimento a que fomos obrigados, porque fomos nitidamente superiores ao nosso adversário, e podíamos e devíamos ter sido capazes de resolver o jogo mais cedo, tirando quaisquer veleidades à Naval. Mas a cada vez mais 'falta de felicidade' na finalização, e um período de algum adormecimento por parte da equipa acabaram por criar a imagem de um jogo difícil de vencer, quando a verdade é que a vitória do Benfica nem merecia ter sido posta em causa.
Com o Nandinho raramente há surpresas nos onze iniciais. Com a ausência forçada de tantos jogadores habitualmente titulares, jogaram os que estavam disponíveis, e a única dúvida que haveria seria a escolha entre o Manú e o Paulo Jorge. O Manú foi o escolhido. E vimos uma entrada forte do Benfica no jogo. Sem deslumbrar, sem grande exuberância, mas mais que suficiente para controlar e dominar completamente o jogo, sendo que a Naval, perdendo por completo a luta no centro do terreno, praticamente nem conseguia passar da linha do meio-campo. Não supreendeu por isso que o Benfica chegasse cedo ao golo, após uma insistência do Derlei, que soltou a bola na esquerda para o Miccoli, e depois o talento do italiano fez o resto, culminando com uma assistência para um golo relativamente fácil do Petit, que apareceu a finalizar numa zona que até lhe é pouco habitual.
O Benfica continuou a insistir, e talvez por efeito da presença do Manú no onze fazia-o quase sempre pelo lado direito, onde para além dele apareciam o Nélson e o Karagounis com frequência. Os remates iam surgindo, e o segundo golo devia ter aparecido quando, após um centro do Rui Costa, o Derlei conseguiu falhar de cabeça quando o mais fácil parecia ser marcar. Era por demais evidente o controlo das operações por parte do Benfica, pelo que a Naval procedeu mesmo a uma alteração logo à meia-hora, reforçando o meio-campo defensivo com a entrada do Delfim. Esta alteração, aliada ao que me pareceu ser um certo relaxamento por parte da nossa equipa, permitiu pelo menos que o desequilíbrio se atenuasse, e que o Benfica já não chegasse tão frequentemente com perigo à baliza adversária. Do nosso lado o Quim continuava a ser pouco mais do que um espectador privilegiado do jogo, já que a Naval raramente criava perigo.
Após o intervalo, e sem alterações na equipa, voltámos a entrar bem no jogo, de uma forma semelhante ao que tinha acontecido no início. Apesar da Naval ter criado a sua primeira oportunidade logo aos cinco minutos, em que os seus jogadores falharam o remate após um cruzamento bastante perigoso, era o Benfica quem parecia mais perto de marcar. E até chegou mesmo a fazê-lo, só que o lance foi anulado por fora-de-jogo que, sinceramente, fiquei com a sensação de não ter existido. Mas como o lance foi muito rápido, é compreensível um eventual erro do auxiliar. À passagem da hora de jogo, mais uma boa iniciativa do Karagounis (foi para mim o melhor do Benfica na segunda parte) culminou com mais uma perdida escandalosa do Derlei, que sem o guarda-redes na baliza conseguiu acertar no defesa da Naval. A partir daqui o Derlei ficou sem espaço de manobra, e foi assobiado de cada vez que tocava na bola. Confesso que achei este tratamento, face ao jogo de ontem, algo injusto. É verdade que ele não jogou bem, mas até já vi outros jogos dele em que ele foi menos interventivo e jogou bastante pior. Só que ontem ele falhou duas oportunidades escandalosas, e juntando isso ao acumular de exibições fracas noutros jogos acabou por dar naquilo. Não sou admirador do Derlei, toda a gente o sabe, mas fico sempre triste quando jogadores nossos são assobiados na sua própria casa.
Esse falhanço do Derlei marcou o início de um período de intranquilidade por parte do Benfica, e que foi sem dúvida o pior que atravessámos durante todo o jogo. Durante cerca de 15-20 minutos a Naval conseguiu finalmente chegar consistentemente com mais perigo à nossa baliza, e efectuar bastantes remates - aliás, se calhar deve ter efectuado uns 90% de todos os seus remates durante essa altura. No Benfica saiu o Manú para entrar o Mantorras e, como os adeptos desejavam a saída do Derlei, isto resultou num coro de assobios. O Derlei acabou mesmo por sair passados cinco minutos, dando o lugar ao João Coimbra (debaixo de mais uma assobiadela enorme), mas isto não alterou o pendor do jogo, continuando a Naval a ameaçar o empate. Que acabou por conseguir, quando já faltava menos que um quarto-de-hora para o final, numa jogada rápida em que o nosso meio-campo se 'esqueceu' de acompanhar o jogador da Naval que rematou para o golo. Foi aliás visível em mais do que uma ocasião durante o jogo os nossos centrais reclamarem com este comportamento por parte dos nossos médios. Naquela ocasião, acabou por resultar o pior.
As coisas agora estavam feias. O empate era uma consequência esperada face ao que se tinha passado durante os últimos minutos, mas era também um resultado injusto tendo em conta que o Benfica já deveria ter posto o resultado para além de qualquer discussão naquela altura. A equipa tentou reagir, mas sem grande lucidez. Com a entrada do João Coimbra para o lado direito do losango, o Karagounis mudou-se para o outro lado, e era ele o jogador quem parecia ter mais capacidade para pensar o nosso jogo ofensivo, mas agora era difícil entrar na área adversária. Por isso iam-se tentando remates de longe, mas quase sempre sem a direcção pretendida. No banco, um Nandinho desorientado faz a substiuição incompreensível do Nélson pelo Paulo Jorge, indo este último desempenhar exactamente as mesmas funções do Nélson - com o pormenor de, no pouco tempo que esteve em campo, ter subido e apoiado o ataque ainda menos do que o Nélson. Foi por isso um pequeno milagre quando, já no último minuto, o Miccoli recebeu a bola dentro da área, trabalhou bem e, num remate cruzado feliz que passou entre as pernas do defesa que o marcava, acabou por nos dar a vitória, colocar alguma justiça no resultado, e salvar o Nandinho de uma contestação mais acentuada.
Melhores no Benfica foram, para mim, o Katsouranis, que foi o líder na defesa - ali consegue disfarçar melhor as limitações físicas de que padece nste final de temporada, o Karagounis, que sobretudo na segunda parte foi quem mais jogo transportou para o ataque, e quem revelou maior lucidez para jogar futebol, e o Miccoli, que foi simplesmente decisivo, fazendo a assistência para o primeiro golo e marcando o segundo. O Petit, enquanto durou, também esteve num bom nível, mas apagou-se muito na fase final do jogo.
Foi uma vitória mais difícil do que deveria ter sido. A contestação ao Nandinho desta vez já se fez ouvir, e se ele vai continuar para a próxima época tenho quase a certeza que a sua margem de manobra é zero. Ao primeiro deslize que tiver, os sócios cair-lhe-ão em cima. Desta vez, tal como tem acontecido nos últimos jogos, foi o Miccoli quem o salvou. Resta saber se para o ano este 'salvador' ainda vai andar por cá.
P.S.- Julgo que ontem à noite terá sido a pior assistência da época, não se chegando aos 30.000 espectadores. Já foi por aqui comentado por muitas pessoas que o efeito mais nefasto da presença e continuidade do Nandinho no seu cargo será precisamente o progressivo desmoralizar dos benfiquistas, e consequente afastamento e alheamento deles. Para mim o que se passou ontem já foi um provável sintoma do que poderá vir a acontecer no futuro.
Capitão
Andou a treinar sem limitações. Era presença certa no derby e fez parte dos convocados. Na manhã do jogo acabou por fazer um último teste, em que após as queixas do jogador, lá se decidiu que não jogava. No dia a seguir ao jogo, é operado e acaba a época. Parece mentira, mas não é. Infelizmente, não passa de apenas mais um exemplo do que tem sido a época no Benfica.