domingo, novembro 29, 2009

Morno

Foi um jogo morno, que terminou com o resultado mais morno possível: uma igualdade a zero. É sempre difícil jogar contra estas equipas que agora aprenderam que a melhor maneira para tentar sacar um empate ao Benfica é atafulhar o meio campo de jogadores. Se, por um lado, o empate acaba por ser um mal menor sob um ponto de vista pragmático em termos de campeonato, e mantém os nossos adversários desta noite a onze pontos, por outro não me deixa totalmente satisfeito, porque sei que perdemos dois pontos com uma equipa que nos é inferior, tendo ficado com a sensação de que a vitória estava ali bem perto.

O Benfica apresentou um onze sem surpresas. O Maxi e o Peixoto regressaram às laterais, enquanto que no ataque o Cardozo estava de volta. Do outro lado apareceu o sportém com um meio campo de cinco jogadores, com dois trincos, deixando o esfomeado sozinho lá na frente, na esperança que ele conseguisse fazer outro dos milagres que costuma fazer contra nós. O sportém pareceu querer ter uma entrada forte, tirando partido do sobrepovoamento da zona central, que lhe permitia recuperar bolas nessa zona. Mas esta vontade ficou-se por pouco mais de cinco minutos, já que rapidamente o Benfica se organizou e equilibrou as coisas. Após pouco mais de um quarto de hora, o Benfica mudou tacticamente, de forma a equilibrar o duelo no meio campo, e abandonou o 4-1-3-2 habitual, dispondo-se em 4-4-2, com o Ramires a auxiliar mais na zona do Javi, e o Aimar a cair para a direita. O jogo entrou assim numa toada morna e equilibrada, que foi o tom geral do resto da primeira parte, embora nos últimos dez minutos o Benfica tenha crescido um pouco, tendo levado o jogo a desenrolar-se mais no meio campo adversário, mas sem que houvessem grandes sobressaltos. A qualidade do nosso jogo ofensivo sofreu com o facto do Di María ter passado praticamente ao lado do jogo durante esta primeira parte, enquanto que o Aimar, encostado à direita, também não esteve ao nível a que nos tem habituado, sendo muito menos interveniente no jogo (curiosamente, enquanto esteve na direita, o Ramires pareceu ser capaz de causar mais desequilíbrios).

A segunda parte iniciou-se com o Benfica a parecer ter ascendente no jogo, mas após cerca de dez minutos o sportém respondeu com o seu melhor período no jogo, e durante aproximadamente cinco minutos instalou-se perto da nossa área, conquistando vários cantos e culminando com um grande remate do Veloso, a proporcionar a defesa da noite ao Quim, e um remate do Moutinho para fora. O jogo pareceu depois entrar na mesma toada de equilíbrio da primeira parte, mas quando faltavam pouco mais de vinte minutos para o final o nosso treinador fez entrar o Rúben Amorim para o lugar do Aimar, o que veio alterar o equilíbrio do jogo. O Amorim foi colocar-se perto do Javi, regressando o Ramires à direita (onde voltou a criar desequilíbrios) e teve uma entrada bastante boa no jogo. Também me pareceu que os jogadores do sportém quebraram fisicamente, de forma que acabámos por ter algum ascendente sobre o nosso adversário até ao final do jogo, e desperdiçámos algumas situações que nos poderiam ter dado a vitória: uma situação em que o Di María, bastante à vontade sobre a esquerda da grande área conseguiu rematar contra o Patrício, outra em que o Amorim, desmarcado, voltou a rematar contra o Patrício quando poderia ter servido o Saviola no centro, e ainda uma oportunidade do Ramires, que de baliza aberta não conseguiu acertar bem na bola. A isto o sportém apenas conseguiu responder com um livre muito perigoso na meia lua, que foi mal marcado pelo Veloso contra a barreira. O apito final chegou, e deixou-me com a sensação de que se tivéssemos carregado um pouco mais, ou o jogo durasse mais alguns minutos, poderíamos ganhá-lo.

Os jogadores do Benfica que mais me agradaram foram o Ramires, e muito em particular quando esteve na direita, e o Saviola. A defesa esteve geralmente bem, mas também a verdade é que não teve propriamente muitas situações complicadas para resolver, já que a bola passou muito tempo na zona do meio campo, longe das áreas - durante a maior parte do jogo o esfomeado era o único adversário com que tinham de se preocupar, e conseguiram anulá-lo sem grandes dificuldades. O Di María esteve praticamente desaparecido na primeira parte, subindo de produção na segunda, mas sem grandes brilhos. O Cardozo também pouco se viu, e o Aimar, que passou quase todo o tempo encostado à direita, teve uma participação discreta no jogo.

Só no final do campeonato saberemos se isto foi ou não um bom resultado. Eu fiquei com a sensação de que poderíamos (e temos mais do que capacidade para) ter obtido um resultado melhor. É que eu senti-me quase sempre bastante tranquilo durante o jogo, porque o sportém nunca revelou capacidade para nos empurrar para a nossa baliza à procura da vitória. Pelo contrário, estive sempre com aquela sensação de que a vitória estava mesmo ali à mão, se nós quiséssemos arriscar um pouco mais para a ir buscar. O jogo raramente pareceu fugir de controlo, tacticamente estivemos sempre bem, e se havia alguém que teria que lutar desesperadamente por uma vitória, era o sportém. Não só não o fizeram, como nem pareceram ter capacidade para o fazer. Julgo que a equipa terá encarado este jogo como mais um de uma prova longa. Ou seja, uma vitória hoje, embora fosse sempre agradável, não era tão desesperadamente necessária que justificasse corrermos demasiados riscos para a obtermos.

domingo, novembro 22, 2009

Taça

Aconteceu taça esta noite na Luz. Por mérito do Vitória, que soube sempre manter-se organizado na defesa e segurar a vantagem que conseguiu obter, e por (muito) demérito do Benfica, que jogou de forma desgarrada e desorganizada durante demasiado tempo, não sabendo encontrar inspiração ou soluções para romper a muralha defensiva adversária.

A primeira parte, em particular, foi demasiado fraca. Pelo meio era difícil construir jogo, devido à sobrelotação de jogadores do Vitória nessa zona, que quando não tinha a bola deslocava o lateral esquerdo para o centro, ficando na prática com três centrais, fechando o Desmarets esse lado. Para além disso, colocou três médios a fechar o meio, contando estes ainda com a ajuda do Assis (parece que os adversários já chegaram à conclusão que a melhor forma de atrapalhar o Benfica é mesmo acumular jogadores na zona frontal da sua área). Seria necessário, para contrariar isto, insistir bastante pelas laterais, mas o Amorim pouco apoiou o ataque na primeira parte, e do outro lado o Coentrão, apesar de ter vontade, não estava inspirado. E para complicar mais as coisas, o Aimar também não esteve nos seus dias. Quanto ao ataque, se o Saviola ia fazendo os possíveis para fugir às marcações, o Keirrison fez mais um jogo para esquecer, e esteve praticamente ausente do jogo, com a excepção de um remate. Se o panorama era sombrio, pior ficou quando, como tantas vezes acaba por acontecer em jogos destes, a equipa que está a jogar para não perder de súbito acaba por se apanhar em vantagem. Apesar do golo ter acontecido aos vinte e cinco minutos, era previsível que se o Benfica não alterasse a sua forma de jogar, as coisas acabariam mal. E a verdade é que pouco mudámos. Houve a troca de lados entre o Ramires e o Di María que, na minha opinião, só contribuiu para afunilar ainda mais o jogo, e não trouxe nenhuns resultados práticos, e até ao intervalo não me consigo recordar, à excepção de um livre do Aimar, de uma ocasião flagrante de golo por nós criada.

A segunda parte pareceu trazer um Vitória ainda mais defensivo, e um Benfica com alguma vontade de imprimir mais velocidade ao jogo, mas a falta de inspiração era evidente. Em termos territoriais e de posse de bola, o domínio do Benfica terá sido claríssimo (não sei quais foram os números, mas duvido que o Vitória tenha chegado aos 40% de posse de bola). Mas foi um domínio inconsequente, já que a baliza adversária raramente era ameaçada. Só nos quinze minutos finais, já com o Di María de regresso à esquerda, a saída do inconsequente Keirrison, e as entradas sobretudo do Weldon e do Felipe Menezes (teve uma entrada em jogo muito boa, e talvez teria sido útil se tivesse entrado antes), o Benfica começou a dar maior sensação de perigo. O Weldon veio dinamizar o nosso ataque, mas também é verdade que conseguiu falhar oportunidades claras, em particular um cabeceamento quase à boca da baliza, em que bastaria encostar a cabeça à bola. Julgo que não será exagero dizer que durante os quinze minutos finais conseguimos criar mais ocasiões de golo do que durante o resto da partida - e o Vitória terá sentido o perigo, já que teve que recorrer à simulação de lesões para queimar tempo, coisa que nem sequer tinha tido que fazer até então. Mas já era tarde para emendar os erros cometidos anteriormente, e faltou-nos acerto e calma na altura de finalizar, pelo que fomos penalizados com a derrota.

A desinspiração foi geral esta noite, e quando muito poderei escolher o Saviola como um daqueles que mais tentou remar contra a maré. Não fez um grande jogo, longe disso, mas nunca deixou de tentar desorganizar a defesa, estando sempre em movimento e desmarcando-se para receber bolas. Quanto ao pior, a escolha terá que ser obviamente o Keirrison. Mostra aqui e ali um ou outro pormenor, mas parece apático e completamente falho de confiança durante quase todo o jogo. O jogo do Benfica melhorou bastante após a sua saída.

Estamos fora da Taça, e se queremos queixar-nos de alguma coisa, julgo que teremos primeiro que olhar para nós próprios. Se é verdade que houve mérito na organização defensiva do nosso adversário, a verdade é que nos faltou quase sempre inspiração para resolver os problemas que nos foram apresentados - ao contrário do jogo com a Naval, em que conseguimos, de uma forma constante, ir criando oportunidades de golo ao longo de todo o jogo, e só por infelicidade e inspiração do guarda-redes é que foi necessário esperarmos quase até ao final para festejar. Hoje estivemos numa noite não, e infelizmente esta aconteceu num jogo da Taça, pelo que as consequências são irreparáveis. Agora, a melhor forma de levantarmos a cabeça é ganharmos no Alvalixo.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Coração

Foi uma vitória arrancada a ferros. Foi preciso um enorme coração, muito sofrimento, e acreditar até ao fim. A merecidíssima recompensa que chegou no final, da cabeça do Javi García, reforça ainda mais (se possível for) a nossa crença em sermos campeões. Hoje todos, equipa e público (42.000 pessoas na Luz), sentiram o quão importante era esta vitória, e também por isso se justifica a forma como foi festejada. São jogos destes que fazem campeões.


A principal curiosidade para este jogo era ver quem ocuparia os lugares do lesionado Ramires e do castigado Cardozo. No caso do primeiro, foi o Rúben Amorim, e do segundo, a escolha caiu no Nuno Gomes. E confesso que mal soube desta escolha, torci o nariz, porque não me pareceu que fosse a escolha mais acertada para um jogo com o cariz que se adivinhava que este teria. E não foi preciso esperar muito tempo para vermos confirmadas as expectativas sobre como decorreria o jogo. Ou seja, teve sentido único, sempre para a baliza da Naval, já que os nossos adversários desta noite limitaram-se a defender durante praticamente todo o jogo, concentrando os seus onze jogadores nos últimos trinta metros do campo. E desde cedo foi possível ver que teríamos no guarda-redes da Naval uma adversário de respeito. O francês Peiser defendeu tudo aquilo que havia a defender, e levou os benfiquistas quase ao desespero. O Benfica na primeira parte, apesar do domínio total, não fez um futebol tão bonito como o habitual. A Naval dispôs-se bem tacticamente, e as investidas do Benfica, maioritariamente pelo centro e pela direita, esbarravam sempre num pé, numa perna, ou na cabeça de um jogador adversário. O Aimar estava quase sempre marcado em cima, e tinha pouco espaço e tempo para fazer o nosso jogo fluir da melhor maneira.

E depois notava-se, e bastante, a falta do Cardozo. Era necessária uma referência no ataque, e o Nuno Gomes não era capaz de ser esse jogador, já que optava por esconder-se do jogo, encostando-se ao último defesa à espera de uma oportunidade. O Cardozo é por vezes acusado de ser demasiado estático, mas julgo que foi evidente que o Nuno Gomes teve uma participação muito reduzida nas nossas jogadas de ataque, ao contrário das várias jogadas em que o Cardozo costuma aparecer a segurar a bola na frente e a soltá-la para os colegas, ou até mesmo em tabelas ao primeiro toque. Os primeiros momentos de maior perigo acabaram por surgir de bola parada, mas o guarda-redes da Naval estava lá para defender os livres do Di María e do Javi García. O Benfica nunca deixou de insistir - tendo em conta que a Naval quase nem conseguia ter a bola durante mais do que alguns segundos, era difícil que tal não sucedesse - mas o golo estava difícil de surgir. Já era difícil furar a muralha defensiva da Naval, mas quando tal acontecia ainda surgia o guarda-redes como uma última barreira quase intransponível. Após uma boa jogada do Di María, conseguimos uma rara ocasião em que Nuno Gomes ficou em boa posição para marcar, mas demorou algum tempo a rematar e foi desarmado. Já quase sobre o intervalo foi o Saviola, no sítio do costume (ao segundo poste) a acertar no ferro após um canto, e a aumentar a preocupação de que estivessemos perante um daqueles jogos em que a bola não entrava mesmo que lá ficássemos a noite toda.

Para a segunda parte, nada de novo. Apenas e só um sentido de jogo, a Naval encostada à sua baliza, e um Peiser inspirado mais alguma sorte a fazerem com que um cada vez mais injusto nulo se mantivesse no marcador. Logo a abrir, uma falhanço incrível do Nuno Gomes numa recarga a um remate do Javi dava o mote. Em relação à atitude da Naval, no entanto, parece-me que não era a sua intenção defender de forma tão pronunciada, até porque é quase suicídio deixar-se ser sufocado desta forma. Mas isto foi também resultado da pressão enorme que o Benfica e também, porque não dizê-lo, todo o Estádio da Luz exerceram sobre o adversário. Não é que eles não quisessem contra-atacar e tentar ter também posse de bola, pura e simplesmente não o conseguiram (a posse de bola do Benfica deve ter ficado próxima dos 70%). Depois, elogio o facto de a Naval não ter recorrido ao antijogo. Ao contrário do que tem sido habitual nos nossos adversários, não houve jogadores a simular lesões, houve dureza mas não violência, e não vi os nossos adversários em constantes provocações e quezílias com os nossos jogadores. A oposição que a Naval nos fez foi puramente em termos tácticos, e leal, já que lutou com as armas que tinha. Começa a ser uma raridade na nossa liga, e por isso julgo que merece ser mencionada.

O Benfica continuou a martelar sobre a muralha da Naval, mas os remates acabavam sempre por encontrar um obstáculo. O Di María, com um grande remate, fez a bola voltar a acertar nos ferros da baliza (ainda com a contibuição do guarda-redes, que toca na bola). Tentou-se de tudo, desta vez com maior predominância pela esquerda, onde o Di María, apesar de algo desastrado e mais individualista do que seria desejável, era um dos jogadores mais em foco. O nosso treinador lançou para dentro do campo os dois pontas-de-lança que tinha no banco, Keirrison e Weldon, mas o golo parecia, ainda e sempre, difícil de conseguir. Até que, a um minuto do final, o Di María sofre uma falta na esquerda do nosso ataque. Já vimos a nossa equipa marcar vários golos assim esta época, e por isso a Luz acreditou, e puxou ainda mais pela equipa (durante todo o tempo de jogo, apesar do empate persistir, apesar das coisas nem sempre sairem bem aos nossos jogadores, nunca se ouviram assobios, e o apoio à equipa foi constante - e esta tem sido uma das nossas grandes forças esta época). O Di María marcou o livre, e no centro da área surgiu o Javi García a cabecear exemplarmente e (finalmente!) de forma indefensável para o fundo da baliza. E se calhar, nenhum dos jogadores em campo merecia mais aquele golo. Foi a explosão na Luz, o libertar de toda a tensão acumulada perante aquilo que já parecia ser um golpe injusto do destino. O apito final selou uma vitória que, todos nós o sentimos, poderá ser importantíssima na caminhada para o título que desejamos.

O melhor em campo, também pelo golo, mas não apenas por isso, foi para mim o Javi 'É uma vergonha' García. Que grande jogo fez o espanhol, quer nas suas tarefas habituais de recuperação da bola e auxílio à defesa, mas também empurrando a equipa para a frente e colaborando no ataque sempre que possível, tendo arriscado o remate de longe em várias ocasiões. O Di María, apesar dos 'pecados' que lhe apontei anteriormente, foi sempre um jogador importante na dinamização do nosso ataque, nunca se escondendo do jogo e assumindo a responsabilidade de ter a bola e conduzir os ataques. Bom jogo também do David Luiz e do Coentrão a lateral, pela terceira vez consecutiva para a Liga.

Agora lá teremos que parar mais uma vez para dar lugar aos habituais dislates e disparates do Queirósz e companhia. Mas vamos para esta pausa com a tranquilidade de termos voltado a apanhar os líderes, e de termos aumentado para cinco os pontos que nos separam dos andrades. O jogo desta noite era um daqueles momentos decisivos, e a equipa mostrou ter garra, alma e coração para alcançar o sucesso. É um orgulho vermos a nossa equipa jogar assim, e com esta atitude. À Benfica.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Categórico

Após o 'soluço' em Braga, regresso à normalidade das vitórias, com uma exibição categórica, sobretudo na segunda parte. Face ao outro resultado do grupo, esta vitória deixou-nos à beirinha da qualificação, e só uma conjugação de resultados bastante improvável é que poderia colocar em causa a nossa passagem à próxima fase da competição. E foi tão bonito ouvir os adeptos benfiquistas em Goodison Park cantar 'E ninguém para o Benfica'.


Para além da já habitual troca de guarda-redes na Liga Europa, outras alterações, mais ou menos esperadas: Rúben Amorim no lugar do Maxi, David Luiz na esquerda, entrando o Sídnei para o centro da defesa, e subindo o Coentrão para o meio campo, para a saída da equipa do Aimar. Quanto ao Everton, pareceu que a goleada na Luz os fez ter mais cautelas, já que optaram por jogar com apenas um avançado, apoiado mais de perto pelo Fellaini, e colocaram mais um homem no meio campo, talvez com a intenção de evitar o jogo de passes rápidos do Benfica. A primeira parte pareceu-me ter sido geralmente mal jogada, e foi algo aborrecida de ver. A superioridade do Benfica nunca me pareceu estar em causa, mas houve demasiados passes falhados, e durante alguns períodos entrámos na onda do Everton, optando demasiado por passes longos. Esperava que fosse o Di María a opção para fazer de Aimar, mas a opção caiu preferencialmente sobre o Ramires, e geralmente sem resultados muito positivos, já que nos faltou capacidade para fazer posse de bola no meio campo adversário. Os nossos alas também estiveram discretos nesta fase, e esta primeira parte acabou por ter assim poucos motivos de interesse. Só a cerca de cinco minutos do intervalo houve um safanão na monotonia, quando o Coentrão arrancou um bom cruzamento da direita, e o Cardozo cabeceou a bola ao poste, para depois na recarga o Saviola obrigar o Howard a fazer uma boa defesa. Ainda antes do intervalo, uma preocupação com a lesão do Ramires, que foi substituído pelo Maxi.

A segunda parte foi muito diferente. O Benfica, inicialmente, pareceu estar a jogar num 4-4-2 linear, pois após a saída do Ramires o Maxi foi ocupar o seu lugar na direita da defesa, e o Rúben foi jogar praticamente ao lado do Javi. O Benfica começou a mostrar mais o seu jogo, a trocar muito melhor a bola junto à relva, e a pressionar mais alto. O Di María passou a estar muito mais em jogo, e nas saídas rápidas para o ataque a dar cabo do juízo aos jogadores do Everton. E na altura certa, o Jorge Jesus lançou Aimar para o jogo, para fazer girar o carrossel. Sinceramente, pelo que estava a ver, acho que mesmo sem o Aimar em campo o Benfica acabaria por chegar ao golo. Até porque momentos antes da entrada dele já o Di María, isolado exemplarmente pelo Cardozo, tinha conseguido não acertar na baliza. Mas após alguns momentos com o Aimar em campo, e já de regresso ao 4-1-3-2 habitual, o Benfica chegou ao golo. Após um contra-ataque conduzido pelo Di María, este combinou com o Saviola e, beneficiando de um ressalto, El Conejo fez, de pé esquerdo, o seu quinto golo em seis jogos para a Liga Europa. Faltava então pouco menos de meia hora para o final do jogo, mas após aquele golo ficou-se com a sensação de que a vitória já não fugiria, porque o jogo parecia estar completamente sob controlo. A quinze minutos do final o Cardozo, beneficiando de novo ressalto, deu a machadada final no jogo, e até final os nossos jogadores quase que se limitaram a recrear-se com a bola, sendo o único sobressalto uma grande defesa do Júlio César a um remate à queima-roupa, evitando o golo de honra dos ingleses.

A equipa esteve bem num todo, e foi por ter funcionado bem como um todo que vencemos esta noite. A defesa esteve bastante sólida, não se notando que o Sídnei estava ausente da equipa há tanto tempo, sendo também de destacar a exibição segura do Júlio César, mesmo sem ter tido muito trabalho. O Di María fez um bom jogo, que poderia ter sido muito melhor se não tem desperdiçado aquela ocasião flagrante, e o Saviola voltou a mostrar a sua classe. Mas devo mencionar também o grande jogo que o Javi García fez no meio campo defensivo, e ainda o Rúben Amorim, que foi um jogador de grande utilidade nas diversas funções que acabou por desempenhar ao longo de todo o jogo, tendo passado por três posições diferentes.

Aqueles que esperavam pelo descalabro da equipa após a jorgesousada de Braga vão ter que esperar mais um pouco. Este ano não só a equipa tem mostrado o futebol que sabemos, como tem demonstrado uma solidez mental muito grande, respondendo sempre da melhor forma a um mau resultado. Agora é prepararmo-nos para a visita à Luz de mais um antibenfiquista primário, de seu nome Inácio, na próxima segunda-feira.

domingo, novembro 01, 2009

Confiança

Peço desde já desculpa por não fazer uma crónica detalhada. Mas acabei de chegar de Braga, e sinto-me exausto, tanto física como mentalmente. A vontade e inspiração para escrever não pode, portanto, ser muita. Sinto que me falta também objectividade, porque não consegui estar sentado a ver o jogo com a atenção devida. Fui apenas mais um benfiquista na bancada, a sofrer pelo meu clube, e sem grande capacidade para estar a prestar muita atenção aos detalhes do jogo.

Perdemos pela primeira vez esta época numa competição interna. Alguma vez haveria de acontecer, e perante dois adversários fortes, a noite de hoje era uma ocasião propícia para que tal acontecesse. Um grande benfiquista uma vez disse-nos para prestarmos atenção à forma como as coisas se passavam no futebol português, e como quando a nossa equipa estava a crescer, em momentos em que poderíamos dar passos importantes e decisivos, se ergueriam sempre barreiras para nos bloquear. Hoje comprovei mais uma vez que é assim que as coisas se passam.

O Benfica entrou mal no jogo de hoje - ou poderíamos dizer que foi o Braga que entrou bem, mas a mim só me interessa o Benfica e estou-me nas tintas para as outras equipas, cuja existência ou acções são apenas olhadas de forma relativa ao Benfica. O resultado dessa má entrada foi sofrermos um golo logo aos sete minutos de jogo, resultando de um livre muito lateral sobre a linha de área. Não quero estar a apontar culpas, nem a discutir este tipo de coisas numa altura em que o mais importante é a união. Digo apenas que não gostei da forma como sofremos este golo, que me pareceu poder ser perfeitamente evitável em circunstâncias normais. A reacção da equipa ao golo foi boa. Imediatamente o Benfica carregou sobre o adversário, e entrou num período em que desenvolvemos diversas jogadas de ataque perigosas, e rematámos à baliza adversária. Numa dessas jogadas, e após uma saída idiota do Eduardo da baliza - algo que repetiu em praticamente todas as saídas a cruzamentos que efectuou durante o encontro - chegámos ao golo do empate, com alguém (lamento, mas no estádio não me consegui aperceber de quem foi)
a cabecear para a baliza vazia, mas o cabraozinho (peço desculpa pelo termo, mas neste momento isto é o mais correcto que consigo ser) do Jorge Sousa, solícito, anulou o golo por algo que ninguém no estádio pareceu conseguir ver. Este tipo só precisa que lhe seja dada uma oportunidade para nos lixar. E nós demo-la, tendo ele aproveitado para a agarrar com unhas e dentes. Não foi só por aí que a coisa correu mal. Podemos queixar-nos de nós próprios, sobretudo de alguma precipitação no ataque. Houve muitos passes finais que não saíram, ou saíram sem qualidade, o que nos levou a desperdiçar situações de potencial muito perigo. O Braga foi fazendo pela vida, defendeu como podia e sabia, e sobreviveu até ao intervalo.

À saída para o intervalo houve confusão à entrada do túnel - mais uma vez, neste jogo, vi os adversários cheios de vontade de provocar e causar picardias com os nossos jogadores (pareceu-me que tudo terá tido início numa situação em que, segundos antes, os jogadores do banco do Braga andaram a esconder a bola do Di María, que a queria para efectuar um lançamento rápido) - e no regresso descobri que o Sr.Sousa tinha mais uma vez demonstrado o seu excelente sentido de oportunidade, e excluído do jogo o melhor marcador do campeonato. Também houve alguém do Braga expulso, e com 10 de cada lado o Benfica voltou a entrar forte, encostando o Braga à sua área durante largos minutos. Mas mais uma vez, houve precipitação na finalização, e falta de qualidade no último passe. Por volta dos 70 minutos de jogo pareceu-me notório que a nossa equipa perdeu gás, e o Braga aproveitou então para se libertar da pressão e subir no terreno, vindo a marcar o segundo golo, que sentenciou o jogo, aos 77 minutos, isto num lance em que me pareceu haver demasiada passividade do lado esquerdo da nossa defesa e falta de decisão para simplesmente aliviar a bola daquela zona. Nos minutos que decorreram até final, o Braga aproveitou para controlar o jogo bem longe da sua área, e se calhar convencer-se que até tinha jogado muito bem.

O Cardozo fez uma primeira parte péssima, e para piorar foi expulso ao intervalo. A aposta no Coentrão não me pareceu bem sucedida hoje. O Saviola foi dos mais esclarecidos na primeira parte, mas foi baixando de rendimento ao longo de todo o jogo, chegando a níveis fracos na segunda parte. O Aimar esteve mal precisamente no já referido último passe. O Keirrison continua a parecer-me um corpo estranho à equipa, aparentando muita falta de confiança para rematar. O Di María e o Maxi pareceram-me dos mais empreendedores, mas tal como toda a equipa foram perdendo esclarecimento à medida que o jogo caminhava para o final.

Quando o jogo terminou, a equipa foi aplaudida por todos os adeptos presentes, e despedimo-nos dela com gritos de 'Benfica! Benfica!'. Esta derrota em nada abala a minha confiança e determinação. Perdemos um jogo. Mas vamos ser campeões.