domingo, agosto 29, 2010

União

O nosso campeonato poderá começado esta noite. Não tanto pela vitória em si, mas mais pela forma como ela foi conseguida, e nas condições em que o foi. Gostei muito de ver como a equipa se uniu para fazer face à adversidade, e ainda mais de ver o público que foi esta noite à Luz unir-se à equipa, apoiando-a do primeiro ao último minuto.

Estreia do Salvio nos convocados e no onze titular, ocupando a direita do meio campo e relegando o Rúben Amorim para o banco. Na baliza, a mais que anunciada troca de guarda-redes, surgindo o Júlio César a titular. E o Benfica começou o jogo à Benfica. Aquele Benfica da época passada. Velocidade, movimentações constantes, pressão no meio campo adversário e, para nos mantermos no registo da época passada, um golo logo a abrir. Com três minutos decorridos, o Aimar lançou o Gaitán na esquerda e este, com um cruzamento soberbo, deixou ao Cardozo a tarefa de finalizar de cabeça, o que este fez como mandam as regras: de cima para baixo, apanhando o guarda-redes em contra pé. O golo madrugador era o melhor que poderia acontecer a uma equipa que parece precisar, acima de tudo, de confiança, e lançou-nos para vinte minutos de bom futebol, quase sempre sob a batuta do maestro Aimar. Mas este período foi interrompido de forma abrupta com um raro disparate do Maxi Pereira (péssimo atraso 'à queima'), que resultou em indiscutíveis penálti contra nós e expulsão do Júlio César.

Acho que praticamente toda a gente naquele estádio acreditou que recém-entrado Roberto (o sacrificado foi o Sálvio) iria defender aquele penálti. E ele defendeu-o mesmo. Julgo que naquele momento, ficámos todos com a sensação de que não iríamos perder aquele jogo. A inferioridade numérica alterou o perfil do jogo, com o Setúbal a conseguir ter finalmente um pouco mais de bola. O Benfica, reduzido a dez, manteve a dupla atacante, fazendo o Gaitán e o Aimar - agora mais sobre a direita - juntarem-se um pouco mais ao Javi, com o Saviola a recuar esporadicamente para fechar o meio. A manutenção dos dois avançados terá talvez obrigado o Setúbal a não abdicar dos três centrais com que tinha iniciado o jogo, e apesar da superioridade a meio campo a verdade é que nunca conseguiram pressionar-nos com verdadeiro perigo. O Benfica manteve-se sempre muito organizado, e graças ao empenho dos seus jogadores nunca pareceu acusar muito ter menos um jogador em campo - exemplo disso foi o facto de conseguirmos continuar a pressionar os defesas do Setúbal, dentro do seu meio campo, quando tinham a bola. Dessa pressão resultou um canto a nosso favor, a fechar a primeira parte, e do canto marcado pelo Aimar resultou um fuzilamento de cabeça pelo Luisão para o segundo golo, reforçando a convicção de que este jogo era nosso.

A vencer por dois, ao intervalo deu-se a esperada entrada do Rúben Amorim - fez uma segunda parte muito agradável - para reforçar o meio campo, por troca com o Saviola. O jogo não se alterou muito: o Setúbal continuava a ter um pouco mais de bola, mas revelava uma total incapacidade para ameaçar a nossa baliza, tendo que recorrer a tentativas de remates de meia distância - todos mal direccionados. Um dos grandes culpados disto foi o Javi García, que na minha opinião foi um gigante nas tarefas defensivas daquele meio campo. O Benfica, quando recuperava a bola, ia levando perigo através de investidas do Maxi pela direita ou, sobretudo, do Coentrão pela esquerda, e foi pela esquerda que matou de vez o jogo. Óptima combinação entre o Gaitán e o Coentrão, com o Gaitán a centrar tenso e o Aimar a aproveitar a má intervenção do guarda-redes para, oportuno, fazer o terceiro do Benfica. Ainda tínhamos um pouco mais de meia hora de jogo até final, mas a única dúvida seria se o Benfica ainda conseguiria avolumar o resultado, porque o Setúbal, claramente, não mostrou qualquer capacidade para marcar esta noite na Luz. Ficou o três a zero no marcador, que me parece ser um desfecho justo para o jogo que vimos.

Se o Roberto pode ser apelidado de 'herói do jogo', já que a defesa do penálti foi talvez o momento mais decisivo dos noventa minutos, ao Aimar eu chamo de 'homem do jogo'. Foi o coordenador de quase todo o jogo ofensivo da equipa, e foi também incansável nos aspectos mais defensivos do jogo, sobretudo a seguir à expulsão do Júlio César. Pressionou os adversários, lutou pela recuperação da bola, e juntou a isto um golo e uma assistência. Conforme referi antes, foi também muito importante a acção do Javi García, que me pareceu hoje ter sido o Javi dos 'bons velhos tempos'. Gaitán em bom plano, com duas assistências e começando a revelar alguns entendimentos interessantes com o Coentrão. Este, diga-se, está numa espécie de estado de graça, já que parece quase incapaz de fazer alguma coisa errada. E apesar de ter borrado a pintura no lance do penálti, é com agrado que noto a subida de forma do Maxi.

Foi só uma vitória sobre o Setúbal, mas este jogo pode ter sido muito importante. Porque nos permitiu rever várias coisas que fizeram do Benfica campeão indiscutível a época passada, incluindo a união entre público e equipa. Temos agora quinze dias de paragem, que poderão permitir-nos trabalhar e integrar melhor os novos elementos, quem sabe com um pouco mais de calma.

domingo, agosto 22, 2010

Injusto

A minha opinião sobre o jogo desta noite pode resumir-se a uma palavra: injusto. Sim, o Benfica está longe do seu melhor, não fez uma exibição de encher o olho, mas para mim a derrota frente ao Nacional é claramente injusta. Fomos a melhor equipa em campo, criámos mais e melhores oportunidades, e acabamos por perder o jogo devido a pontuais erros individuais e colectivos (e para ser justo, esses erros foram cometidos quer na defesa, quer no ataque). E houve ainda o inevitável factor Proença a ajudar a empurrar a equipa ainda mais para baixo.

O Benfica, com o finalmente regressado Gaitán na esquerda, entrou bem no jogo. Os jogadores mostraram agressividade e vontade de chegar à frente no marcador, e durante os primeiros quinze minutos praticamente remeteram o Nacional ao seu meio campo. Jogadores como o Maxi ou o Amorim apareceram a um nível muito superior ao do jogo com a Académica, e foi muito pela acção destes dois jogadores no lado direito que passou a exibição mais agradável do Benfica na primeira parte. Poderíamos ter marcado ainda antes do primeiro quarto de hora quando, após mais uma investida pela direita, o Maxi deixou o Gaitán no segundo poste com tudo para fazer o golo, mas este atirou por cima com a baliza aberta. O Nacional praticamente apenas conseguia chegar ao ataque através de livres, que aproveitava para despejar para a nossa área, enquanto que o Benfica, apesar de revelar dificuldades para ultrapassar a defesa sobrepovoada do Nacional, ainda conseguiu construir mais duas boas ocasiôes de golo. Numa, o Cardozo rematou muito por cima quando estava em posição para fazer muito melhor, e na outra foi o guarda-redes do Nacional quem, com uma defesa incrível, negou o golo a um cabeceamento do Saviola. O empate ao intervalo era claramente lisonjeiro para o Nacional.

A segunda parte parecia ir ser mais do mesmo, mas começou da pior maneira possível para o Benfica. Logo aos cinco minutos, após um livre assinalado na esquerda da nossa defesa, junto à linha de fundo, o Cardozo ficou a dormir na marcação e depois foi o Roberto quem se deixou antecipar dentro da pequena área, permitindo o golo de cabeça do jogador do Nacional. Os madeirenses apanhavam-se assim na frente do marcador praticamente sem saber ler nem escrever, e os níveis de nervosismo dos nossos jogadores aumentaram. Ainda assim, parecia ser possível chegarmos ao empate, mas à nossa desinspiração juntava-se a inspiração do guarda-redes adversário. E a vinte e cinco minutos do final, tudo ficou ainda mais complicado, quando na sequência de um canto o Nacional voltou a marcar. Houve um primeiro cabeceamento, o Roberto confiou que a bola sairia por cima, e esta acabou por bater na barra, permitindo a recarga de cabeça de um adversário isolado. Os nossos jogadores acusaram bastante este golo, e só depois disso é que o Nacional conseguiu criar alguns lances de ataque que não se resumiam a despejos da bola para a área a partir de livres. Do outro lado, só mesmo a acabar a partida é que o Carlos Martins, com um bonito remate de primeira de fora da área, conseguiu finalmente bater o Bracalli.

É inevitável falar do Roberto como um dos jogadores que tiveram uma prestação negativa esta noite. Acabou por ficar ligado a esta derrota, com responsabilidades directas (embora nem sempre exclusivas) em ambos os golos sofridos. No primeiro, apesar do desleixo do Cardozo na marcação, deixou-se antecipar numa zona que é da sua responsabilidade, devendo já estar ali para interceptar a bola ainda antes do jogador do Nacional lá chegar. No segundo, confiou que a bola passaria por cima e abordou o lance de forma displicente, sendo depois surpreendido irremediavelmente pelo ressalto da bola na barra. Mas logo no primeiro dos cinquenta livres que o Nacional despejou para a nossa área durante o jogo mostrou insegurança, tendo um erro monumental, saindo à bola e falhando a intercepção, só não resultando o lance em golo porque a bola não foi na direcção da baliza. Para além do Roberto, também o Cardozo teve outro jogo muito apagado. Entre os melhores, o Coentrão (para não variar) e também mencionaria o Saviola, que foi o mais activo no ataque. Tal como disse, gostei da primeira parte do Maxi e do Amorim.

Este início de campeonato não estaria na mente nem dos mais pessimistas. Sinceramente, achei que a equipa esteve bastante melhor hoje do que tinha estado a semana passada, e lamento muito desiludir quem estaria à espera de me ver desancar tudo e todos por causa do resultado de hoje, mas volto a dizer que a derrota me pareceu um resultado bastante injusto face à produção das duas equipas. É preciso inverter esta situação o mais depressa possível, mas não há fórmulas mágicas para isso. A única solução é ganhar. O mais depressa possível.

domingo, agosto 15, 2010

Falta

Faltou algo. Não foi vontade da parte dos jogadores, não foi querer, não foi apoio dos benfiquistas (que, em número superior a 48.000, compareceram na Luz e não regatearam apoio à equipa), mas a verdade é que algo faltou para que vencêssemos este jogo. Sorte, talento ou inspiração, o que quer que fosse em falta, o que conta é que começámos a defesa do título da pior forma possível.

A primeira parte foi, literalmente, dada de avanço ao adversário. E para piorar, este avanço incluiu a oferta de um golo, após uma falha incrível de marcação por parte dos centrais num livre quase sobre a linha de meio campo, que permitiu que um adversário surgisse livre de marcação a cabecear para o golo. A segunda parte, recorrendo ao 4-3-3 com a entrada do Jara para o lugar do Peixoto, autor de uma exibição indescritivelmente pobre no primeiro tempo, correu um pouco melhor, beneficiando nós também da expulsão de um adversário. Chegámos ao empate quando ainda faltava meia hora para jogar (Jara, a cruzamento do Coentrão na esquerda), e tendo em conta o massacre a que assistíamos não seria difícil acreditar que o segundo golo chegaria. Mas este massacre, salvo alguns apontamentos de classe aqui e ali, foi quase sempre muito mais feito com o coração do que com a cabeça, e esta noite não vimos o Benfica construir jogadas de ataque com o volume e qualidade a que estamos habituados. No período de descontos, quando já muitos se conformavam com o empate, há um lance na área da Académica que, sinceramente, no estádio me pareceu de mão na bola. A equipa não recuperou defensivamente e no contra-ataque, aproveitando o adiantamento do Roberto, a Académica fez um golo incrível que lhe deu a vitória, que acaba por ser um castigo demasiado pesado para o Benfica e um prémio para o antijogo que o nosso adversário, sempre com o beneplácito da arbitragem, usou e abusou na Luz.

Seria quase escusado dizer que o pior jogador do Benfica foi o Peixoto, bem substituído ao intervalo. Mas de resto, quase toda a equipa esteve apagada, podendo-se destacar o Cardozo e o Sídnei como dois dos piores. O Maxi pareceu estar sem ritmo. Pela positiva, escolheria o Coentrão.

É imperioso sairmos rapidamente deste mau momento. Eu mantenho a minha convicção de que o pior que nos aconteceu nesta pré-época foi a lesão do Gaitán. Pode não ser o Di María, mas sem ele não temos absolutamente ninguém para aquela posição no meio campo.

sábado, agosto 07, 2010

Irreconhecível

Um Benfica irreconhecível entrou esta noite no jogo a perder e nunca mais se encontrou, perdendo consequentemente a Supertaça para o fóculporto com toda a naturalidade. Ganhou a equipa que foi melhor em campo, e a justiça desta vitória é incontestável. Devemos, isso sim, olhar para nós próprios e perceber o que falhou.

Talvez se esperasse que Jesus apostasse no 4-3-3 que vinha testando na pré-época, mas o Benfica iniciou o jogo no 4-1-3-2 habitual, alinhando o Peixoto na lateral esquerda e subindo o Coentrão para a antiga posição do Di María. Na direita, o escolhido foi o Carlos Martins, e na posição de trinco confirmaram-se as indicações da pré-época, e o Airton surgiu a titular. Conforme disse, o Benfica entrou a perder no jogo. Logo aos três minutos, após um canto, uma desconcentração defensiva incrível permitiu a um jogador adversário (Rolando) surgir na pequena área, a pouco mais de um metro da linha de golo, a cabecear à vontade. E o que se seguiu a esse golo foi um descalabro da nossa equipa. Estivemos absolutamente irreconhecíveis durante meia hora, durante a qual o fóculporto controlou o jogo à vontade. A nossa equipa raramente conseguia fazer dois passes seguidos, ao contrário do habitual, não começávamos as nossas jogadas de ataque saindo com a bola controlada da defesa, optando em vez disso pelos pontapés longos que resultavam invariavelmente na perda da bola, no meio campo perdíamos sistematicamente qualquer bola dividida ou as segundas bolas, e a habitual pressão alta nem se viu. O nosso adversário, assim que recuperava a bola, saía em contra-ataques rápidos pelas alas e levava regularmente perigo à nossa baliza. O Benfica demorou vinte minutos até fazer o primeiro remate (foi um livre do Carlos Martins), e só no último quarto de hora conseguiu dar um arzinho da sua graça, mas parecemos estar sempre longe de conseguirmos dominar claramente o jogo.

A segunda parte trouxe mais do mesmo, e da parte que me toca, achei surpreendente a insistência na mesma táctica e jogadores que tão mal tinham resultado na primeira parte. O cariz do jogo não se alterou muito em relação aos últimos quinze minutos da primeira parte: o Benfica tinha um pouco mais de bola, mas era o fóculporto, em ataques rápidos, quem ameaçava mais, e continuava a ter superioridade na luta do meio campo. E foi num desses ataques rápidos pelas alas que, aos vinte e dois minutos do segundo tempo, o jogo ficou resolvido. O Varela foi lançado na direita, ultrapassou com facilidade o Luisão, e cruzou para a entrada vitoriosa do Falcao. Apesar de faltarem mais de vinte minutos para o final, não ficaram grandes dúvidas de que o Benfica não conseguiria alterar o rumo desta final. Até porque, sinceramente, não consegui compreender as opções tomadas pelo nosso treinador. Retirar o Aimar e o Coentrão, e deixar em campo durante noventa minutos o Carlos Martins e o Peixoto que, na minha modesta opinião, ainda conseguiram destacar-se pela negativa na mediocridade geral que foi este jogo da nossa equipa, foi uma decisão que me surpreendeu. Nos minutos finais o fóculporto baixou as linhas e o Benfica teve então um período de algum ascendente, construindo talvez a única oportunidade digna desse nome durante todo o jogo, mas o Saviola, isolado, viu o seu remate ser bem defendido.

É difícil, após um jogo destes, fazer algum destaque positivo. Os referidos Peixoto e Martins estiveram bastante mal, sendo quase doloroso ver a falta de velocidade do primeiro para acompanhar os adversários directos, e a quantidade assombrosa de passes errados feitos pelo segundo (para não falar da quantidade de faltas e entradas arriscadas que fez, que lhe poderiam ter valido uma exclusão do jogo). Do outro lado da defesa, jogo muito fraco também do Amorim. O Airton hoje, sinceramente, mostrou que ainda não está ao nível do Javi, e na fase em que o meio campo do Benfica andou praticamente aos papéis foi um dos jogadores mais desnorteados. Já o disse antes que um dos aspectos em que o Javi leva vantagem é nas dobras e compensações aos colegas. Veja-se a sua movimentação no lance do segundo golo, em que o Airton deveria compensar a saída do Luisão para a direita, e perceber-se-á que ainda há trabalho a fazer neste aspecto. Não percebi também o descontrolo dos nossos jogadores em diversos períodos do jogo. Hoje poderíamos perfeitamente ter terminado o jogo sem os onze jogadores em campo, que não seria surpresa nenhuma. Dos avançados não posso falar muito: o Cardozo praticamente não teve bola, e o Saviola foi tentando o melhor que podia.

Enfim, a Supertaça está perdida, resta-nos sacudir a poeira, levantar a cabeça, e entrar com o pé direito na defesa do título que nos pertence. Hoje foi um dia mau, mas melhores dias, seguramente, se seguirão.

terça-feira, agosto 03, 2010

Tottenham

Nota prévia: Benfica, 0 - Tottenham, 1 (Bale, 55). O Benfica não jogou muito bem. Por favor, passar aos comentários.

Satisfeita a franja de leitores que se cansam mais facilmente, passemos ao post normal. O Benfica perdeu esta noite o seu primeiro troféu na pré-época, fruto de uma noite menos inspirada e de um adversário que encarou o jogo com uma atitude competitiva muito séria, e que soube defender e contrariar eficazmente o nosso futebol.

O Benfica entrou em campo com o mesmo onze que goleou o Aston Villa, dispondo-se portanto no tal esquema 'alternativo' de 4-3-3. O início do jogo prometeu, mas depressa se viu o Tottenham a fechar bem as linhas junto da sua área, e sempre que perdia a bola defendia com nove jogadores bem juntos, deixando apenas o gigante Crouch na frente. O Benfica não conseguia fazer funcionar eficazmente o futebol de tabelas rápidas, e o jogo caiu rapidamente num ritmo enfadonho, que contagiou as bancadas. Só perto da meia hora é que as coisas animaram um pouco, graças a um remate forte do Carlos Martins que foi defendido pelo guarda-redes do Tottenham, para depois o Saviola falhar a recarga. Espevitado com este lance, o Benfica acelerou um pouco e até conseguiu construir algumas boas jogadas em que ultrapassou a(s) linhas(s) defensiva(s) do Tottenham, mas sem grandes consequências porque hoje algo não funcionou, e o último passe saía mal, ou então o último jogador falhava a recepção. Mesmo sobre o apito para o intervalo, o Jara deu mais um exemplo da pouca inspiração da equipa, pois isolou-se após um lançamento longo do Airton e em vez de seguir para a baliza, acabou por complicar o lance e rematar ainda de longe para fora. A exibição na primeira parte até foi mais ou menos agradável, mas pouco acutilante para aquilo a que estamos habituados.

A segunda parte trouxe três alterações (Moreira na baliza, Javi a trinco, e Peixoto no lugar do Jara) e o regresso à fórmula original. A alteração táctica até pareceu ter feito bem ao Benfica, que iniciou o segundo período com uma grande oportunidade, mas o Cardozo, após cruzamento do Peixoto, cabeceou para as mãos do guarda-redes adversário. Voltámos a ameaçar num grande remate do Javi, mas aos dez minutos foi o Tottenham que marcou, após uma troca de bola rápida que deixou o defesa esquerdo Bale (grande jogador) nas costas da nossa defesa. Logo a seguir começaram as alterações no Benfica, com as saídas do Cardozo, Aimar e Saviola, e a qualidade do nosso jogo e discernimento diminuíram um pouco. O Benfica ainda teve mais duas boas oportunidades, primeiro numa grande iniciativa individual do Coentrão, e depois num livre do Carlos Martins, mas a vinte e cinco minutos do final, com mais três alterações que incluíram a saída do Coentrão, a equipa pareceu acusar demasiado a falta de criativos e do poder de explosão do Fábio na esquerda, pouco mais conseguindo incomodar o adversário. Os minutos finais foram mesmo de uma qualidade pouco recomendável, parecendo que o jogo nunca mais acabava.

Não foi dos melhores jogos da nossa equipa, mas há jogadores que parece que não sabem jogar mal, e o Coentrão, o David Luiz, ou o Airton parecem atravessar uma fase dessas. Hoje, em particular, o Coentrão mostrou bem o peso que tem actualmente na equipa, tendo esta acusado muito a sua saída. Em relação ao Airton, parece nesta fase estar a ganhar a luta ao Javi pela posição mais recuada do meio campo, e não me surpreenderá se entrar a titular em Aveiro no próximo Sábado.

Enfim, mérito para o Tottenham, que soube defender bem e foi eficaz no ataque, aproveitando uma das poucas oportunidades de golo que criou. Quanto ao Benfica, é aprender com este jogo, que em nada diminui a minha confiança. No próximo Sábado há mais um troféu para vencer.

domingo, agosto 01, 2010

Aston Villa

Mais uma exibição convincente, mais uma naturalíssima goleada e mais um troféu. A vítima esta noite foi o Aston Villa, que até pode agradecer o facto do Benfica ter tirado o pé do acelerador na meia hora final, pois arriscou-se a sofrer uma goleada ainda mais expressiva. Não percebo o motivo pelo qual os comentadores se referiram tantas vezes à 'preparação mais adiantada' do Benfica, e à falta de ritmo do Villa. O campeonato inglês começa exactamente no mesmo fim-de-semana do nosso, e dos principais jogadores do nosso adversário apenas não vi o Milner e o Agbonlahor. O lenhador do Richard Dunne, por exemplo, pareceu-me até já estar numa fase adiantadíssima de preparação, pois vi-o distribuir fruta com o mesmíssimo vigor com que o faz na Premier League, e até isto foi bem pensado, pois ajuda a preparar os nossos jogadores para a eventualidade de defrontarem o Bruto Alves no próximo fim-de-semana. E o Stilian Petrov não ficou a dever nada a um Raúl Maisreles.

O Benfica apresentou-se de início mais uma vez com o esquema de três avançados, com o Cardozo no meio e o Jara e o Saviola com maior liberdade para jogarem soltos, vindo atrás buscar jogo ou caindo sobre as alas. Com que então precisamos de extremos? Tomem lá um 4-3-3 e vejam se eles fazem falta. O meio campo ficou entregue ao Aimar e Carlos Martins, com o Airton nas costas. E na defesa destaque para o primeiro jogo a titular do Luisão. O jogo até começou de uma forma que poderia deixar antever algum equilíbrio, mas essa sensação depressa de dissipou. Exercendo mais uma vez uma pressão fortíssima ainda no meio campo adversário, o Benfica praticamente não deixava os ingleses jogar, dando prazer ver a quantidade de bolas recuperadas em zonas bem altas do terreno, e depois a vontade dos nossos jogadores em dar espectáculo enquanto trocavam a bola. Todos os jogadores em movimento, abrindo variadas linhas de passe para os colegas, e passes feitos por vezes quase de olhos fechados, mostrando que os jogadores sabem que vai aparecer por ali um colega.

Quando o Benfica joga assim, costuma marcar cedo, e foi isso que aconteceu mais uma vez. Foi aos dez minutos de jogo, em mais uma das cavalgadas do David Luiz, que recuperou uma bola em antecipação no círculo central, foi por ali fora e rematou ainda de muito longe, beneficiando de um desvio da bola no cepo do Dunne para fazer o primeiro da noite. O Aston Villa ainda tentou esboçar uma tímida reacção, mas pouco podia fazer, até porque das poucas vezes que conseguia levar a bola para o ataque tinha lá um rapaz a jogar à frente que se revelava particularmente burro na hora de fugir à armadilha do fora-de-jogo da nossa defesa. Foi com naturalidade que o Benfica aumentou a vantagem. Mais um remate desferido a uma grande distância da baliza, desta vez pelo Jara, e o guarda-redes do Villa apenas conseguiu sacudir a bola para a frente, surgindo então o Saviola no sítio certo para fazer a recarga. Estavam decorridos trinta e seis minutos de jogo. Seis minutos depois, livre perigoso a favorecer o Benfica, a castigar mais uma sarrafada do Dunne sobre o Jara. Esperava-se um remate directo do Cardozo, mas o Carlos Martins ainda deu um ligeiro toque para trás, a permitir então ao Cardozo fuzilar a baliza inglesa. Três a zero ao intervalo, e a promessa de que aquilo não ficaria por ali.

A segunda parte trouxe algumas substituições (Javi, Luís Filipe e Sídnei nos lugares, respectivamente, de Airton, Rúben Amorim e Luisão), mas o esquema táctico manteve-se, e a vontade de jogar também. E foram precisos apenas cinco minutos para que o marcador voltasse a funcionar. Num lance de insistência, o Jara ganhou a bola junto à linha de fundo, do lado direito da área, e passou atrasado para o Saviola, como de costume no sítio certo, voltar a marcar. E o massacre continuou: nos dois minutos que se seguiram, o Cardozo esteve perto de marcar, e depois foi o Saviola a falhar o hat trick por muito pouco, vendo o seu cabeceamento ao segundo poste embater no ferro. Só quando faltava pouco menos de meia hora para o final é que o Benfica abrandou, sobretudo após a saída do Saviola, Aimar e Cardozo, e finalmente o Villa conseguiu dar um arzinho da sua graça, jogando um pouco mais no nosso meio campo e conseguindo até o golo de honra, quando o Carew aproveitou da melhor forma uma distracção da nossa defesa, isolando-se após um alívio longo da defesa inglesa e marcando com alguma facilidade. Ainda voltaram a ameaçar por mais duas vezes os ingleses, sempre pelo Carew, mas o David Luiz primeiro, e o Roberto depois negaram-lhe o segundo golo, sendo que da parte do Benfica quem mais perto esteve de marcar foi o Gaitán, mas o seu remate de primeira saiu à figura do Friedel.

Podia falar de muitos dos suspeitos do costume (David Luiz, Saviola, Cardozo, Coentrão), até porque hoje daria para elogiar toda a gente. Mas para não falar sempre dos mesmos, o meu destaque hoje vai mesmo para o Jara, que fez a melhor exibição que lhe vi desde que chegou ao Benfica. À medida que ele se vai adaptando ao Benfica (e se calhar também às 'tareias' de pré-época do Jesus), vai demonstrando o acerto da sua contratação. E hoje até deu para ver que ele e o Saviola cabem, e bem, no mesmo onze, tendo em conta que a sua contratação sempre foi vista como uma alternativa válida ao Saviola. O espírito combativo de não dar um lance por perdido, já o tínhamos visto, e a sua acção foi fundamental para que o Benfica fizesse aquela pressão alta quase sufocante logo à saída da área adversária. Mas hoje ele acrescentou diversos pormenores de classe, e não foi por acaso que esteve directamente ligado a três dos quatro golos do Benfica: no primeiro, foi um remate seu (e ele também parece possuir um bom remate de meia distância) que permitiu a recarga do Saviola para o segundo golo, foi ele quem sofreu a falta (quando ia escapar-se para a baliza após um bom trabalho individual) de que resultou o terceiro golo, e foi dele a assistência para o quarto golo, também da autoria do Saviola. Esteve sempre em jogo, sempre em movimento, levou pancada dos ingleses até dizer chega (basta dizer que os únicos amarelos do jogo - um amigável, onde raramente se mostram cartões - foram mostrados por faltas duríssimas sobre ele) e mesmo assim
manteve um ritmo elevadíssimo do primeiro ao último minuto.

E já só falta a Eusébio Cup para mais uma pré-época 100% vitoriosa. Isto apesar de estarmos "muito mais fracos" do que a época passada, devido à saída do Di María (aquele brinca-na-areia, lembram-se?).