Desilusão
Não tenho grande vontade de escrever este post. Apesar de já ter deixado passar algum tempo, a verdade é que a irritação que ainda sinto em relação ao jogo desta noite persiste, e tira-me a vontade de escrever. E não estou apenas irritado com o jogo em si, estou também irritado com os nossos jogadores e com o nosso treinador. Se há coisa que me irrita quando vejo futebol é burrice por parte dos seus intervenientes. Mais um empate, o quarto em seis jornadas, e mais uma desilusão pela falta de coragem demonstrada. Este não é o Camacho que eu conheço, e este não é o Benfica em que eu me revejo.
Esta noite, e para surpreender, mais uma vez houve um 'baralha e volta a dar' no nosso meio-campo. Há quatro jogadores que embora sejam titulares regularmente, em cada jogo trocam de posição entre eles. Esta noite calhou ao Pereira ficar ao lado do trinco, enquanto que o Rui Costa avançou para as costas do avançado, o Di María encostou-se à direita, e o Rodríguez foi para a esquerda. Na defesa, regressos do Luisão e Nélson. Não começou mal o Benfica, que conseguiu pegar no jogo durante os minutos iniciais, e criar dificuldades ao adversário. Debaixo de uma chuva torrencial, o futebol de passe curto e rápido ao primeiro toque e a toda a largura do campo parecia ser difícil de contrariar, e nesta fase os nossos adversários praticamente limitaram-se a ir afastando a bola das imediações da área. Este início de jogo até me surpreendeu, porque sei que normalmente o clube do Lumiar é perito em adormecer os adversários logo de início, mas nesta fase não pareciam capazes de fazê-lo.
Depois dos vinte minutos, foi-se a chuva, e foi-se com ela o Benfica. E veio a minha irritação. Não percebi, por mais que tentasse, o motivo para uma alteração tão radical na forma de jogar da nossa equipa. As trocas de bola desapareceram, a pressão no meio-campo adversário também, e em vez de sairmos a jogar a bola a partir da nossa área, a jogada mais praticada pelo Benfica eram pontapés do Quim para o meio-campo adversário, onde um desamparado Nuno Gomes via-se e desejava-se para tentar ganhar alguma dessas bolas aos centrais adversários. Incompreensível. A lagartagem raramente joga pelas alas, prefere acumular jogadores no centro do terreno e afogar o adversário aí. Na fase inicial do encontro, enquanto explorámos as faixas laterais, com boas combinações entre os laterais e os médios-ala, obrigámos os jogadores deles a afastarem-se do centro, e por isso jogadores como o Rui Costa ou o Katsouranis conseguiam libertar-se e aparecer frequentemente sem marcação nessa zona. Depois desatámos a optar pelo chuto para a frente e a fazer exactamente o que eles queriam. Claro que com isto qualquer sombra de protagonismo no jogo da nossa parte esfumou-se, e o adversário conseguiu então segurar o jogo como pretendia.
Na segunda parte, o Benfica voltou a entrar bem (mas nada que se comparasse ao início do jogo), e durante o primeiro quarto-de-hora conseguimos criar duas boas oportunidades de golo. Primeiro foi um remate do Rui Costa (tendo em conta que o guarda-redes do Lumiar parece ter alguma dificuldade em remates de longe, acho que poderíamos ter tentado explorar um pouco mais este aspecto) que o Stojkovic defendeu para a frente, tendo depois surgido o Nuno Gomes na recarga a rematar ao lado. No estádio, assim que vi o lance, fiquei convencido que o guarda-redes teria feito alguma defesa miraculosa. Recusei-me a acreditar que o Nuno Gomes não tivesse sequer acertado na baliza. Foi preciso que os meus colegas de bancada me assegurassem que não senhor, o Nuno Gomes tinha mesmo falhado aquilo. Enfim. Logo a seguir, num contra-ataque, o Di María foge à defesa adversária, isola-se descaído sobre a direita, entra na área, e quando eu estava à espera do remate e já preparado para gritar golo, ele resolve tentar assistir o Nuno Gomes e a bola foi cortada. Este lance fez-me perder a tramontana e já não consegui apreciar o resto do jogo, porque continuava a revê-lo na cabeça, e a irritar-me de cada vez que o fazia. Ainda por cima já contra a Naval ele tinha tido um lance praticamente igual, em que entrou sozinho na área e depois tentou assistir o Nuno Gomes, perdendo-se a jogada. Di María, um conselho: quando entrares na área isolado, tenta o golo. Mesmo que chutes ao lado ou o guarda-redes defenda, é preferível a tentares assistir um colega que está marcado. Especialmente se esse colega for o Nuno Gomes.
No resto da segunda parte o jogo foi repartido entre as duas equipas, nunca me parecendo que uma delas conseguisse sobrepor-se claramente à outra. Já na fase final do encontro, após as entradas do Cardozo (porquê a troca de pontas-de-lança, Camacho? Porque não arriscar finalmente colocar dois avançados? Porquê essa cobardia atípica?) e do Adu, o Benfica conseguiu voltar a aproximar-se da baliza adversária, mas sem grandes resultados. Refiro apenas isto porque pelo menos pareceu-me que os jogadores voltaram a mostrar alguma vontade de vencer, após passarem longos minutos a darem a ideia de que estavam mais ou menos conformados com o empate. O empate ficou, e julgo que os dois treinadores devem ter ficado muito satisfeitos com ele, já que durante a maior parte do jogo me pareceu que era o que queriam. Se no caso do Paulo Bento é compreensível, no caso do Camacho já tenho muita dificuldade em aceitá-lo.
Não sei quem jogou melhor ou pior na nossa equipa esta noite. Passei a maior parte da segunda parte num estado de irritação demasiado grande para conseguir discernir alguma coisa concreta. Podia sempre refugiar-me no óbvio e referir o Rui Costa, já que ele nunca joga mal, mas hoje acho até que não houve ninguém que se destacasse muito, quer pela positiva, quer pela negativa. Estou irritado, estou até mesmo triste com o Camacho. Não percebo a falta de coragem. O Benfica não pode insistir em jogar apenas com um avançado, ainda para mais se a esse avançado único não é dado quase nenhum apoio. Tal como já vimos em jogos anteriores, hoje voltou a passar-se o mesmo: o avançando por vezes desloca-se para terrenos laterais ou mais recuados, eu olho para a área, e só lá está o Rui Costa no meio de quatro ou cinco adversários. Assim é muito difícil marcar. Dois golos nos últimos quatro jogos não é produção ofensiva apresentável para o Benfica.
Há muito tempo que não me irritava tanto num jogo. Antes do jogo, enquanto conversava com o Quetzal Guzman e o J G, que encontrei à entrada para o estádio, já estava com um mau pressentimento, e discutimos precisamente a questão do avançado único no Benfica, e a falta de oportunidades que daí parece resultar. Depois, durante o jogo, não só voltámos a assistir a isto, como ainda por cima o Camacho troca avançado por avançado. Porra, eu prefiro perder a tentar ganhar do que empatar por medo de o fazer! Agora já são oito os pontos de atraso para o líder, e começa a ser uma desvantagem demasiado pesada. É que à sexta jornada do campeonato, conseguimos já não depender exclusivamente de nós próprios para sermos campeões. É triste.
P.S.- Para os que esperavam uma opinião sobre os lances polémicos do jogo lamento, mas não vou fazê-lo. Tenho a minha visão dos lances em questão, e vou guardá-la para mim. Em todos os derbies é a mesma coisa: chega-se ao final e discutem-se mais os lances polémicos do que o futebol jogado. Estou farto disso.