domingo, janeiro 29, 2006

Mau

Mau, demasiado mau mesmo. Pouco mais se pode dizer sobre uma derrota justa, que foi um castigo mais do que merecido para aquela que terá provavelmente sido a pior exibição do Benfica esta época, e um prémio para quem mais vontade teve de vencer. Eu já estava com um mau pressentimento para este jogo, e os meus receios acabaram mesmo por confirmar-se.

A noite começou logo mal. Assim que chego ao estádio, e chega a parte de ser revistado para entrar, aparece-me à frente um armário de mogno, ou uma qualquer outra espécie de mobiliário obtuso vestido de amarelo fluorescente, que após alguns segundos a mexer-me no casaco exclama:

- 'Grunf!'
- 'Perdão?' - inquiri eu.
- 'GRUNF!' - repetiu com maus modos.

Percebi finalmente o que é que o grunhido queria dizer: 'O livro não pode entrar!'. Sim, porque quando eu vou para o estádio com uma certa antecedência gosto de levar um livro para me ajudar a passar o tempo até ao início do jogo, e era precisamente esse mesmo livro que não podia entrar no estádio. A solução era voltar para trás, enfrentar a fila para o 'bengaleiro', deixá-lo lá, voltar para a fila para ser revistado, e finalmente entrar. O que provavelmente resultaria na entrada dentro do estádio já depois do início do jogo. Convém explicar que o livro em questão não era uma edição da Enciclopædia Britannica, mas um pequeno exemplar de bolso da Penguin Books, com cerca de 100 páginas. Tentei argumentar que o perigo que eu, armado com um livro de bolso de 100 páginas, no 3ºAnel de uma bancada exclusivamente para benfiquistas, rodeado apenas de sócios benfiquistas, representava era mínimo, e que inclusivamente até já tinha levado aquele livro para um jogo da Champions, onde a segurança é mais apertada. Obtive os mesmos grunhidos como resposta: com o livro é que não entrava. Obviamente que as minhas tácticas conciliatórias não eram suficientes para enganar aquela brilhante mente anti-criminal, que detectava em mim o perigoso hooligan oculto debaixo de uma camisola Sacoor azul-bebé. Perante tamanha capacidade argumentativa perdi a cabeça e atirei com o livro para o caixote do lixo. Para mim deitar fora um livro já é difícil. Quando o livro em questão é do Graham Greene, é particularmente doloroso. Foi a primeira vez que fiz algo assim, e garanto que me deu a volta ao estômago. Enquanto me afastava do armário de mogno, já dentro do recinto do estádio e resmungando para mim mesmo que estava toda a gente doida, passou por mim um tipo com uma bandeira e respectiva haste de quatro ou cinco metros de tamanho.

Agora pergunto eu: quem será a brilhante luminária que se lembrou de decretar uma proibição da entrada de livros num estádio de futebol? Será que nos últimos anos, e sem que eu me tenha apercebido, aumentaram em flecha as entradas nas urgências de pessoas agredidas com livros? Será que as claques andam a tentar passar à socapa edições do 'Equador' do MST para dentro dos estádios? Eu até já vi muita coisa ser atirada para dentro de um relvado de futebol: rádios, telemóveis, garrafas, fruta fresca, fruta menos fresca, até uma cabeça de porco, mas garanto que nunca soube de um árbitro que tivesse escrito no relatório ao jogo 'Quando assinalei o fora-de-jogo o meu auxiliar foi atingido por uma 15ª edição d'Os Lusíadas vinda da bancada da claque benfiquista'. Eu sei que nós, adeptos de futebol, já temos o estereótipo de sermos uma cambada de iletrados que só lêem os diários desportivos. Mas era escusado estarem a querer impor esse estereótipo à força.

Bem, passemos ao jogo propriamente dito. Hm, pois... acho que houve um jogo. O Benfica jogou muito mal e perdemos. É tudo.

OK, embora não tenha vontadinha nenhuma de falar sobre o desastre desta noite, lá terei que fazê-lo. Estando eu já mal disposto com a perda do meu livro, mais mal disposto fiquei quando ouvi a constituição inicial. Era tudo ao contrário do que tinha dito que desejava no último post. O Alcides, o Beto e o Manduca de início. Depois perdemos a moeda ao ar, e tivemos que jogar ao contrário do que os nossos jogadores preferem. Finalmente bastaram apenas alguns minutos de jogo para perceber que o potencial das coisas darem para o torto era enorme. O jogo começou a ser perdido no meio-campo. Os nossos adversários colocaram quatro jogadores nessa zona, dispostos em losango, abdicando de flanqueadores e preferindo fazer os dois avançados descair para as pontas. Contra esses quatro oponentes o Benfica apresentava apenas dois jogadores, Beto e Petit. O natural para tentar contrariar isto seria abrir o jogo o mais possível, apostando em bolas para o Simão e o Geovanni, mas em vez disso o que se verificou foi um afunilamento desesperante. Até o Nélson, que costuma levar bastante jogo pelas alas, passava a maior parte do tempo encostado aos centrais. Na confusão do centro do terreno, quase invariavelmente as segundas bolas e ressaltos ficavam para eles.


Depois de um pequeno período inicial de uma certa expectativa, com intenções de suster o natural ímpeto inicial do Benfica (que, diga-se de passagem, não existiu), o adversário percebeu que o potencial para o Benfica causar perigo era praticamente nulo, e começou a controlar cada vez mais o jogo. Pouco depois do meio da primeira parte o Benfica chegou ao golo quase sem saber como, graças a um penalti idiota (vá lá que como eles ganharam até são capazes de, num acesso de grandeza de espírito, admitir que aquilo é mesmo penalti - se tivessem perdido aquilo seria obviamente um roubo de igreja). Ainda tive esperança que esta vantagem providencial tivesse um efeito positivo na equipa, mas enganei-me redondamente. Depois do golo passámos a jogar ainda pior, e o adversário tomou completamente conta do jogo. Foi apenas por felicidade e inépcia dos atacantes deles que chegámos ao intervalo à frente no marcador.


A esperança de que o intervalo fizesse bem à equipa e servisse para alterar alguma coisa depressa se desvaneceu. Mal se iniciou a segunda parte, mais do mesmo. Por acaso o nosso treinador acabou por ler bem o jogo, e ver o enorme desequilíbrio de forças que havia no meio-campo, reagindo com a entrada do Manuel Fernandes para o lugar do apagadíssimo Manduca. E durante alguns minutos as coisas pareceram equilibrar-se um pouco. O problema foi que depois veio o penalti que deu o empate ao adversário, onde o Sá Rafeiro aproveitou para mostrar porque é que eu o considero um rafeiro. Empatado, a reacção do Koeman foi voltar a desequilibrar o meio-campo: tirou o Beto (que esteve mais uma vez um desastre a passar a bola) e colocou o Marcel, voltando tudo à primeira forma. As coisas voltaram a ficar feias para nós, e em dois contra-atques, contando com a preciosa colaboração do lateral-direito Alcides, o nosso adversário matou o jogo. E até estava a ver que podiam marcar mais, porque assim que ficámos em desvantagem assistiu-se ao colapso táctico total do Benfica. Um alívio para a frente na direcção do isolado Liedson era suficiente para criar uma oportunidade de golo.


Até final deu para eles substituirem o Sá Rafeiro, que voltou a dar festival de rafeirice. Saiu do campo a festejar a conquista do campeonato do mundo, ou qualquer coisa do género, porque no estado de alucinação em que ele aparentava estar não dava para perceber muito bem o que é que se passava naquela mente tresloucada. Depois, já fora das quatro linhas e uma vez recolocado o açaimo e o colete de forças, acalmou. Mas pronto, não devemos recriminá-lo porque parece que lá para os lados do Lumiar eles gostam destas atitudes, e apelidam-nas de 'garra'. Manguitos e piretes para a assistência são sempre louváveis. Agora alguém dizer que gostava de lhes tirar um campeonato é crime imperdoável e punível apenas com a pena capital, enquanto que apontar para o braço e simular uma seringa deveria equivaler no mínimo à irradiação.


Num jogo tão mau da nossa parte, é difícil escolher um jogador que tenha sido melhorzito. Talvez o Petit mereça essa distinção, dado o empenho que colocou em campo, parecendo por vezes ser o único que tentava lutar contra a letargia que pareceu afectar o resto da equipa. Quanto aos piores, também não é uma decisão fácil, dada a abundância de escolhas possíveis. Já referi o inenarrável Beto, mas ao menos esse ainda teve uma utilidade mínima a atrapalhar no meio-campo. De qualquer forma a minha escolha recai no Alcides. No meio de uma série de péssimas exibições, ele ainda assim conseguiu destacar-se pela negativa, e ser muitíssimo pior que todos os outros. Eu já andava há semanas a reclamar aqui sobre as muitas lacunas defensivas que ele vinha demonstrando jogo após jogo, lacunas essas que não eram devidamente aproveitadas pelo adversário, e esta era a razão principal para eu rezar para que hoje a escolha do Koeman recaísse sobre o Léo. Esta noite, com um adversário inteligente como o Liedson a cair para o seu lado, ele fez questão de não só voltar a mostrar essas lacunas, mas também de no-las atirar à cara e esfregá-las bem esfregadas para que não nos esqueçamos delas. O homem foi um desastre! Teve no máximo um par de desarmes bem conseguidos. De resto foi de uma apatia confrangedora, e de uma burrice atroz. Coloca-se mal no terreno, tem mau tempo de salto e de entrada às bolas, perde a posse de bola facilmente quando está no ataque, e ainda por cima nem sequer consegue prever onde é que uma bola alta vai cair, deixando-a bater no solo e saltar-lhe por cima (mais do que uma vez, resultando uma dessas asneiras no segundo golo adversário). Não contente com isto, ainda conseguiu praticamente oferecer o terceiro golo. Foi mau demais!

Bem, acho que já escrevi demais sobre um assunto com tão pouco interesse, e começo a ficar cansado destes floreados. Tenho que deixar cair a máscara: na minha opinião, a verdade, verdadinha é mesmo que só perdemos por causa do gatuno do árbitro. Foi uma escandaleira a forma como ele nos empurrou para a nossa área, com uma arbitragem extremamente manhosa. Eu já vejo futebol há muito tempo, e sei reconhecer este tipo de tácticas. Agora com licença, que tenho um garrafão de cinco litros por esvaziar, e uns sopapos para distribuir pelo agregado familiar.

sábado, janeiro 28, 2006

Countdown

Faltam poucas horas para que se inicie o derby. Já estou neste momento a pensar na equipa que gostava que jogasse. Gostava que os laterais fossem o Nélson e o Léo, se calhar gostava que jogasse o Karagounis no lugar do Beto, gostava, sobretudo agora que o Miccoli ficou de fora por lesão, que o ponta-de-lança fosse o Geovanni, apoiado pelo Nuno Gomes (embora esteja convencido que o Koeman vai optar pelo Nuno à frente com o Manduca nas costas), etc.

Mas isto são pensamentos que são normais em mim antes de qualquer jogo do Benfica. Quanto às minhas expectativas concretas para o resultado do jogo, devo dizer que me sinto um pouco desconfiado. Não se trata propriamente de falta de confiança, mas tenho uma sensação estranha quando penso no jogo de logo. A verdade é que há muito tempo (talvez desde o final da década de 80/início da de 90) que não me lembro de um derby no qual o favoritismo do Benfica no papel fosse tão pronunciado. E isto deixa-me de pé atrás. Nem é tanto uma questão de recear excesso de confiança por parte dos nossos jogadores, porque a verdade é que mal os ouvi falar durante a semana, enquanto que do outro lado não faltaram declarações de que vinham cá para ganhar (misturadas com as tradicionais lamentações arbitrais proferidas por toda a estrutura do futebol, começando no roupeiro, passando por jogadores, treinador, administradores, e acabando no presidente). Quando penso em ambas as equipas, e as comparo posição a posição, é-me difícil imaginar mais que um jogador deles a ter entrada no nosso onze. Nós estamos num momento alto, com nove vitórias consecutivas, enquanto que eles vêm de um mau resultado em casa. Nós temos uma defesa muito sólida, enquanto que a deles mete água por todos os lados. Estamos com uma eficácia no ataque muito alta, enquanto que do lado deles até já o Liedson falha golos de baliza aberta. Nós temos um teinador com experiência internacional, e que tem múltiplas opções ao seu dispor no banco; eles têm um treinador que nem nível para treinar na Primeira Liga tem, e que ultimamente se tem visto obrigado a convocar juniores. Analisando tudo isto, a lógica diz, só pode mesmo dizer, que o Benfica deverá ganhar mais logo. E é isto que para mim é estranho. Porque a lógica não deve ter lugar num derby. É isto que os faz jogos especiais.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Rotina

Sem surpresas... Depois de classificarem a arbitragem do passado fim-de-semana de 'miserável' e 'manhosa', e de começarem a falar na do próximo ainda mesmo antes de saberem quem seria o árbitro, já que não podem pegar no Pedro Henriques - que é o árbitro português de quem eu mais gosto, devido ao seu estilo britânico de arbitragem - agora vêm com lamentações sobre o árbitro auxiliar. Isto vem na linha de comportamentos semelhantes adoptados sempre nas vésperas dos derbies, como aquela rábula do Pedro Proença ser um lampião fundamentalista (que resultou no mesmo a errar miseravelmente no derby, como aliás é habitual em quase todos os jogos nossos que ele arbitra). Se por acaso acabarem por perder já se sabe quem recriminarão. Deve ser uma espécie de reflexo pavloviano.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Hoje

Agora que este espaço começa lentamente a regressar à normalidade após um par de dias atípico, aproveito para não deixar passar este dia 25 de Janeiro sem uma simples menção. É que ele é marcante para os benfiquistas por dois motivos; um alegre:

e outro triste:

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Rivalidade

Nota prévia: Segue-se um post extremamente faccioso, parcial, e polvilhado de imagens que desde sempre povoaram o meu subconsciente associadas aos nossos vizinhos que moram no Lumiar. É apenas uma pálida tentativa de exprimir o meu desprezo por aquele clube. Sinto que falhei rotundamente neste objectivo, porque não consigo encontrar palavras suficentes para o fazer.

Esta é a pior semana para mim durante cada época futebolística. Conforme os visitantes deste espaço saberão, nesta coisa das rivalidades eu sou um benfiquista 'à antiga'. Para mim o FC Porto é um fenómeno recente, e considero-os apenas nossos concorrentes na luta pelas provas que disputamos. Não morro de amores por eles, é verdade, mas não me incomodam por aí além, salvo em ocasiões intermitentes em que vejo sair alguma declaração assassina da boca do seu presidente que nos é dirigida, e que é logo classificada pelo séquito de pseudo-jornalistas acólitos do 'papa' sob a forma da 'mais fina e tradicional ironia'. Mesmo assim a minha irritação até é mais com a pessoa Pinto da Costa do que com o clube. Analisadas bem as coisas, consigo fazer uma separação das águas e dizer que em relação ao FC Porto apenas não gosto da claque organizada deles (a mais conhecida, aquela que rebenta com estações de serviço) e do presidente do clube. O resto é-me mais ou menos indiferente.

Agora digo que sou um benfiquista à antiga porque para mim o rival do meu clube é aquela associação que mora lá para os lados do Lumiar. Aí sim, não há separação possível: meto tudo dentro do mesmo saco e odeio tudo o que lhes diga respeito por igual. Há uma ou outra excepção, claro, porque tenho amigos que escolheram passar pela vida carregando a cruz de apoiarem aquele clube, e são pessoas decentes de quem eu gosto muito, mas regra geral o adepto lagarto típico é bem retratado pelo Dias Ferreira. Imagine-se um estádio cheio de barbudos com ar de talibã, cabelo ensebado, espuma nos cantos da boca e olhos flamejantes de rancor enquanto não prestam atenção ao que se desenrola no terreno de jogo porque estão atentos a algum som que possa vir do outro lado da 2ª circular, e temos uma assistência típica de um jogo do clube do Lumiar. Aliás é exemplificativo disto o facto de muitos dos adeptos daquele clube que conheço verem a candidatura do Dias Ferreira à presidência como uma coisa positiva, achando que ele é a pessoa certa para rumar o clube a porto seguro.

Como eu não tenho tendências masoquistas, e não gosto mesmo nada de andar a irritar-me propositadamente, a minha maneira de lidar com este ódio ao clube do avozinho é pura e simplesmente ignorar que ele existe. É verdade: não quero saber nada sobre eles. Não vejo os jogos deles, não quero saber se foram gamados ou beneficiados, não vejo resumos dos jogos, quando leio os jornais desportivos passo à frente as páginas que lhes dizem respeito, quando vejo alguém ligado ao clube a ser entrevistado na televisão mudo de canal, etc. Inclusivamente passo duas vezes por dia em frente ao estádio deles, a caminho e de volta do trabalho, e faço sempre questão de olhar para o lado oposto da estrada. Por vezes, após fins-de-semana em que esta minha táctica é particularmente bem sucedida, consigo mesmo chegar a segunda-feira sem saber qual foi o resultado deles na jornada do fim-de-semana (ultimamente isto tem sido mais difícil porque o meu amigo Harry Lime tem o hábito de desabafar a sua irritação com o seu próprio clube via SMS para mim). Consigo assim criar um mundo artificial em que, para todos os efeitos, aquele clube não existe. Ora isso é impossível de atingir pelo menos durante duas semanas por ano, em que o Benfica tem que jogar com eles. Durante estas duas semanas não tenho hipóteses de ignorar a existência da agremiação do Lumiar, porque mesmo os nossos jogadores e técnicos têm que falar sobre eles.

Isto é particularmente doloroso durante a semana que antecede a visita deles à Luz. O Estádio da Luz é para mim um santuário, uma zona livre de lumiarices. Quando eles cá vêm é como se estivessem a dessacralizar este refúgio, onde eu estou habituado a estar livre de qualquer referência que perturbe o meu mundo virtual onde o clube do Lumiar não existe. É que não tenho hipóteses: vou ter que ver aquelas camisolas horrendas pisarem o relvado da Luz; vou ter que cruzar-me com aqueles adeptos que passam metade das suas vidas a olharem por cima dos nossos ombros para verem o que é que andamos a fazer, e que são incapazes de nos reconhecer qualquer mérito; que têm aquela memória selectiva que é capaz de os fazer afirmar convictamente e com o maior desplante que as nossas vitórias nos anos 60 e 70 foram oferecidas pelo Salazar, e depois convenientemente ignoram que durante os anos 40 e 50, em que chegaram a ganhar 7 campeonatos em 8 anos, o Salazar já cá estava; são aqueles que conseguem idolatrar jogadores reles e repelentes como o Sá Rafeiro e o Beto; são aqueles que nunca perdem: são sempre derrotados por factores extra-futebol, por detrás dos quais está invariavel e maquiavelicamente o Benfica a puxar os cordelinhos de um 'sistema' qualquer; são aqueles que berram mais desalmadamente um golo de um adversário do Benfica seja ele qual for, seja em que competição for (mesmo que nem estejam envolvidos nessa competição), do que um golo do seu próprio clube, são aqueles que chegam ao cúmulo de desejar a derrota do seu próprio clube contra um adversário directo do Benfica, de forma a alimentarem a esperança que o Benfica não ganhe uma competição.

Desde muito pequeno que me lembro de ter este desprezo pelo clube do avozinho. Recordo-me de algures nos anos 80, ainda adolescente, ir ao antigo estádio de Alvalade com o meu pai (era mais eu quem arrastava o meu pai até lá, já que o meu pai é academista apenas com alguma simpatia pelo Benfica), e de me dar a volta ao estômago quando, a meio do jogo, se começava a ouvir uma espécie de rougo vindo de debaixo da pala: 'Cepór... tém! Cepór... tém!'. Assim mesmo, dito num ritmo muito lento, como se tivessem que tomar fôlego entre as duas sílabas. Aquilo não chegava a ser um grito de incentivo: era como se uma multidão de múmias empoeiradas de repente, numa espécie de estertor, soltasse aquele rougo, aquela espécie de lamento que na sua própria entoação encerrava toda a desgraça e tristeza que era ser adepto daquele clube, e entre as duas sílabas tivessem que tomar fôlego para evitarem desfalecer. Normalmente um lançamento perto da nossa área ou dois pontapés de canto seguidos eram a fagulha que provocava esta manifestação de fervor clubístico. 'Cepór... tém!' - lamuriava-se a turba, no meio de uma nuvem de poeira e traças entretanto levantada. E o Gil Baiano, motivado com o incitamento, passava a mão pela carapinha alourada e executava o lançamento na direcção do Tony Sealy. Depois se o árbitro marcava um lançamento ao contrário, soltava-se um prolongado ulular lamentoso, como se os próprios Deuses tivessem despejado sobre eles toda a sua ira sob a forma de pragas de proporções bíblicas. Desde miúdo que a palavra 'Ceportém' criava na minha mente imagens cinzentas, cheias de bafio e poeira e gente velha com fatos escuros a cheirar a naftalina. O Benfica e o vermelho pelo contrário faziam-me pensar em alegria, emoção, paixão e gente entusiasmada. Até na forma como os golos são festejados os adeptos são diferentes. Um 'Golo!' gritado por adeptos do Benfica é diferente de um 'Golo!' gritado por adeptos do Lumiar. O nosso 'Golo!' é um golo alegre, que encerra em si uma espécie de ênfase, como se estivéssemos a expressar o contentamento por as coisas se passarem com a naturalidade da lei da vida: o Benfica marca golos, e os outros sofrem, porque nós somos mais fortes. Isto é o que é natural. O 'Golo!' deles encerra algo de gutural, uma espécie de surpresa e desespero, como se eles estivessem a convencer-se a eles próprios que o que acaba de acontecer é normal, e a tentar afogar a sua própria surpresa. Como se tivessem a esperança que aquele momento pudesse servir de prova insofismável da sua própria valia.

Até a história da formação da agremiação de Alvalade é para mim ridícula, nascidos que foram de uma birra entre queques chateados por não se organizarem mais bailaricos no Campo Grande Football Clube, e amuados por não terem sido convidados para um piquenique. Vai daí foram pedir dinheiro ao avozinho de um dos queques e lá fizeram o seu clubezinho privado. Deve ser daí que ainda hoje tiram a mania que são um clube 'diferente', e se sentem muito ofendidos quando não são privilegiados de alguma forma (na óptica deles, quando isto não acontece eles são 'roubados'). Podia ficar aqui o resto do dia a escrever, e não conseguiria destilar nem uma décima parte do desprezo que sinto por aquele clube. Detesto tudo neles, a começar pelos dirigentes, passando pelo estádio, equipamento, jogadores, e a acabar na massa associativa e respectivas claques. Os dirigentes parecem uma massa uniforme cinzenta, produzida em série em gabinetes bafientos e empoeirados, e cada um deles parecendo fazer parte de uma qualquer confraria de agentes funerários. Todos eles têm em comum o facto de trazerem instalado um mecanismo que apenas lhes permite olhar na direcção do Estádio da Luz, e constantemente observar e comentar o que por lá se passa. São capazes de estar a ser violentados a sangue frio por um qualquer padrinho e respectivos comparsas mais a norte, que entre duas bordoadas ainda arranjam tempo para erguer uma mão ensanguentada, apontar um dedo na direcção da Luz, e balbuciar uma acusação patética qualquer contra o Benfica mesmo antes de apanharem outra cacetada de fazer perder os sentidos. Depois quando acordam no hospital, dizem ao polícia que os interroga: "Não vi quem me bateu, mas o Benfica não pagou um rebuçado na mercearia!". Aquele clube nasceu, cresceu e vive alimentado no rancor. Porque apesar de desde sempre terem tido as melhores condições, nunca conseguiram o mesmo sucesso que nós.

Por tudo isto esta semana é horrível para mim. Eu não consigo apreciar os jogos do Benfica contra o clube do Lumiar. Para mim são uma experiência horrível, o culminar de uma semana em que apanho uma dose de clube do avozinho superior ao acumulado do resto da época toda. Chego a ficar agoniado ao olhar para o campo e ver aquelas camisolas horripilantes ao lado das nossas papoilas saltitantes. É um martírio que dura noventa minutos e que parece durar uma vida inteira. Revolvo-me na cadeira, fecho os olhos, cerro os maxilares, suspiro profundamente... o desconforto é total. Eu na minha vida chorei duas vezes num campo de futebol, e foram ambas em jogos contra o clube do Lumiar. Foram lágrimas mais de raiva do que de alegria. Raiva enquanto o JVP demolia aquela equipa arrogante que andou a semana toda a prometer humilhar-nos. Cada golpe desferido pelo JVP naquele farrapo verde e branco que se arrastava pelo relvado naquela noite chuvosa libertava a minha raiva pelo sofrimento que me tinham feito passar durante essa semana, remetia-os ao lugar deles. E da segunda vez chorei ainda mais. Porque andei a semana toda a ouvir a festa anunciada, as promessas de goleada, a antecipação do tamanho das nossas cabeças na festa deles. Ouvi, comi, e calei. E acumulei cá dentro. Por Amor ao meu clube sujeitei-me a mais. Sujeitei-me a ir lá, ao covil deles, a misturar-me com eles e cruzar-me com eles enquanto carregavam os foguetes para a festa. Sujeitei-me ao sacrifício supremo de estar no meio deles, de não poder conseguir de forma alguma ignorá-los quando eles festejassem um título há tanto esperado, ainda para mais num jogo contra nós. E quando desde o topo Norte vi a bola chutada pelo Sabry descrever um arco perfeito, as lágrimas soltaram-se ainda antes da bola tocar nas redes.

Aqueles que me vêm com histórias de que eu deveria era considerar o FC Porto como o nosso grande rival não fazem ideia do que falam. Rivalidade é isto. É ilógica. É odiar (sem violência, atenção!) o mais ínfimo pormenor do nosso rival, mesmo que pareça não haver explicação lógica para isso. No meu caso é odiar tanto que prefiro tentar esquecer que eles existem. E fazer o sacrifício supremo por amor ao meu clube, que é reconhecer a existência deles durante duas semanas por ano. Por isso é que para mim entramos hoje na pior semana futebolística do ano.

sábado, janeiro 21, 2006

Sete

E vão sete. Sete vitórias consecutivas no campeonato (nove no total das provas). Hoje só não deu para manter a inviolabilidade da nossa baliza, mas não se pode ter tudo.

Koeman voltou a mexer na equipa em relação ao último jogo. Dadas as diversas opções de que dispõe, ele quase que pode 'baralhar e voltar a dar' em relação a diversas posições na equipa. Na defesa entrou o Alcides para o lugar do Léo, passando o Nélson para a esquerda. Eu confesso-me dividido em relação ao Alcides. Por vezes tem intervenções brilhantes, conseguindo cortes em lances de antecipação que proporcionam contra-ataques rápidos. Outras vezes sobe no terreno como uma barata tonta, deixando um buraco do seu lado da defesa. Além de que às vezes tem uma tendência natural para descair para o centro da defesa, deixando muito espaço livre do lado direito. Mas no cômputo geral, a prestação do brasileiro neste jogo foi bastante positiva. Talvez por conhecer estes 'esquecimentos' do Alcides, o treinador do Gil Vicente colocou o Carlitos (que normalmente actua sobre a direita) do lado esquerdo do ataque, e a verdade é que ele foi sempre o maior perigo para a nossa baliza, aparecendo diversas vezes liberto de marcação. No centro, mais uma mudança com a entrada do Anderson para o lugar do Ricardo Rocha, mas isto é quase natural dado que ao nosso treinador parece fazer pouca diferença jogar um ou outro. Parece-me que ele opta pelo Ricardo em jogos onde sabe que o Léo vai ter mais liberdade para atacar, já que o Ricardo fecha melhor a esquerda.

No meio-campo, e face à suspensão do Beto, surgiu com naturalidade o Manuel Fernandes. Parece-me que ele deve estar um pouco nervoso com a perda da titularidade. Ele está um jogador quezilento, e sobretudo na fase inicial do jogo foi muito complicativo na participação no jogo ofensivo da equipa, para além de falhar alguns passes fáceis. Depois foi melhorando com o tempo, terminando o jogo em bom nível. Na frente entrou o Manduca para o lugar do Miccoli, e o Geovanni para o lugar do Robert. Ao contrário do que eu esperaria, o nosso treinador optou por adiantar o Nuno Gomes para ponta-de-lança, colocando o Manduca nas suas costas e o Geovanni na direita, embora os jogadores se mantivessem pouco presos às suas posições, efectuando diversas trocas durante o decorrer do jogo.

Perante uma equipa como o Gil Vicente que, como infelizmente nós sabemos pelo que se passou na primeira volta, sabe defender agressivamente com quase a equipa toda metida no seu meio-campo, e que se necessário utiliza o anti-jogo como uma arma temível, o pior que nos podia acontecer era mesmo o penalti concedido pelo Simão logo aos oito minutos, e que significou o fim da inviolabilidade da nossa defesa ao fim de 638 minutos. Só que a equipa reagiu muito bem e foi para cima do adversário, tendo chegado ao empate menos de dez minutos depois, também na conversão de um penalti. Desta vez o super Jorge Baptista da primeira volta não apareceu, e o Simão marcou mesmo golo. Ao fim de vinte e cinco minutos estava consumada a reviravolta no marcador: fuga do Nuno Gomes pela direita, centro atrasado para a entrada da área, e remate de primeira do Geovanni a marcar um golaço. Conforme já escrevi aqui algumas vezes, eu gosto muito do Soneca, por isso fico sempre particularmente satisfeito quando é ele a marcar. Em desvantagem no marcador o Gil Vicente assumiu uma estratégia de risco, optando por subir a defesa no terreno e defender em linha. Isto significou que o Benfica passou a dispor de imenso espaço nas costas dos defesas gilistas, onde podia solicitar as entradas dos rápidos homens da frente.

O reatamento do jogo deu-se praticamente com um golo (bem) anulado por fora-de-jogo ao Nuno Gomes (que já tinha tido uma situação em que ficou isolado no final da primeira parte, só que infelizmente o lance foi mal cortado por fora-de-jogo), a ilustrar os riscos que o Gil corria defendendo desta forma. Mas eles entraram com uma atitude muito pressionante, e com vontade de inverter o rumo dos acontecimentos. Felizmente a sorte sorriu-nos, e num lance infeliz do Marcos António vimo-nos a ganhar por 3-1, num autogolo em que o guarda-redes Jorge Baptista também não ficou bem na fotografia. Definitivamente o super guarda-redes que apareceu na Luz no jogo da primeira volta ficou em casa esta noite. Daqui para a frente limitámo-nos a gerir o resultado, tendo a nossa qualidade de jogo decaído bastante, principalmente depois das trocas do Manduca e do Geovanni pelo Robert e o Marco Ferreira (não quero no entanto com isto dizer que estes dois jogadores tenham jogado mal). O Gil Vicente teve maior iniciativa atacante durante este período, e até poderiam ter marcado, mas o Benfica também dispôs de boas oportunidades para aumentar a contagem, particularmente através do Nuno Gomes. No final mais uma vitória, e a pressão a passar para o lado do FC Porto, já que assumimos a liderança à condição. Não foi uma exibição brilhante, mas foi q.b. para atingirmos os objectivos propostos.

No Benfica os destaques do costume para a defesa, com sobretudo o Luisão em bom plano. O Nuno Gomes também jogou bem, esteve muito movimentado, mas esteve particularmente infeliz na finalização, tendo apenas conseguido marcar no lance em que estava deslocado. O Simão também já subiu bastante em relação ao último jogo, apesar de ainda não ter atingido o nível que lhe conhecemos. O que me agradou mais na equipa hoje foi a forma como pareceu não acusar o golpe de sofrer um golo tão cedo, ainda para mais com o 'trauma' do que aconteceu na primeira volta, tendo dado a volta ao resultado de uma forma aparentemente fácil. Ao contrário do que tinha acontecido nos últimos dois jogos, em que praticamente entrou a ganhar, desta vez vimo-nos na situação inversa, e se não estou em erro julgo que foi a primeira vez neste campeonato que começámos a perder um jogo e conseguimos inverter totalmente o resultado. A equipa mostra-se muito confiante, e por vezes até parece uma equipa italiana no 'cinismo' com que aborda os jogos: aparentemente está a ser controlada pelo adversário, e de repente cria uma oportunidade de golo flagrante, construida rapidamente e quase do nada.

Segue-se o derby (esta é a semana que eu mais odeio em toda a época, e posteriormente farei um post a explicar porquê), e reza a tradição que normalmente ganha a equipa que está pior. Não é difícil concluir quem é que está pior neste momento, pois não?

P.S.- Ainda bem que o Marcos António (que provocou um penalti e marcou um autogolo) pertence aos quadros do FC Porto. Senão ainda eram capazes de dizer que o tínhamos comprado. Mas não me surpreenderá que alguns alucinados venham afirmar que o Gil Vicente nos facilitou a vida em troca dos empréstimos do João Pereira e do Vilela ;)

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Conspirações

Tenho-me entretido com a imaginação fértil dos teóricos de conspirações, que conseguem encadear as ideias mais mirabolantes de forma a construirem os cenários mais inacreditáveis que, na mentalidade distorcida deles, demonstram uma infindade de tácticas subterrâneas utilizadas pelo Benfica de forma a alterar a verdade desportiva deste campeonato. Isto até começou a época passada, aquando do Estoril x Benfica, sobre o qual foram ditos dos maiores dislates de que tenho memória terem sido ditos sobre a alteração do local de realização de uma partida de futebol. Mas a estupidez não tem limites, e este ano os teóricos têm-se superado, e apresentado cenários ainda mais estapafúrdios.

Comecemos pelo caso do Vitória de Setúbal. Como toda a gente sabia, o problema com o atraso no pagamento de salários neste clube arrastava-se praticamente desde o início da época. Perto do jogo do Benfica, e depois de, se bem me lembro, dois ou três pré-avisos, os jogadores fartaram-se e começaram a rescindir os seus contratos. Houve três ou quatro que optaram por esta via, tendo ido jogar para outros clubes. Um dos que pediram a rescisão foi o José Fonte, que depois acabou por ir jogar para o Benfica (tendo o Benfica ainda assim optado por indemnizar o Vitória). Pronto, o caldo estava entornado. Porque obviamente o Benfica é que estava por detrás disto tudo. Tentando interpretar o raciocínio dos nossos acusadores, calculo que tenha sido o Benfica quem proibiu a direcção sadina de regularizar os ordenados, de forma a que os jogadores rescindissem precisamente naquela altura (devemos ter subornado o Chumbita para fazê-lo). Os jogadores não rescindiram por estarem fartos da situação, nem sequer pelo facto de se estar a aproximar a reabertura de mercado, altura ideal para encontrar um novo clube, ainda para mais com a vantagem de poderem ser adquidos a custo zero. Rescindiram porque o Benfica não deixou o Setúbal pagar-lhes os ordenados, e ainda por cima foi falar com os próprios jogadores, coagindo-os a rescindirem precisamente antes do jogo com o Benfica. E também fizeram o mesmo com o treinador Norton de Matos. Isto parece estúpido, é verdade, mas até o Miguel Sousa Tavares expôs este estratagema benfiquista na sua coluna semanal n'A Bola, para que todos pudessem ser brindados com as conclusões que a sua brilhante mente analítica tinha deslindado. Mas não nos ficámos por aqui: o próprio Moretto já jogou sabendo que vinha para o Benfica, tendo por isso facilitado. Toda a gente se recorda da exibição patética que ele fez contra nós (tentou inclusivamente oferecer um golo ao Miccoli, ao fintá-lo dentro da área, mas o italiano não devia estar avisado da tramóia). E depois deu aquele frango monumental que nos permitiu ganhar o jogo (mesmo no finzinho de forma a não dar muito nas vistas e a não permitir que os seus colegas - que não vinham para o Benfica - tivessem tempo de reagir ao golo).

A mafiosice continuou no jogo em que recebemos o Paços de Ferreira. Sim, porque depois de os termos derrotado por 2-0, num gambito brilhante do José Veiga pegámos no mesmo José Fonte que tínhamos roubado estrategicamente ao V.Setúbal e colocámo-lo a jogar na Capital do Móvel. Obviamente que há escutas telefónicas que provam o acordo feito entre o Veiga e o presidente pacense, em que o primeiro promete oferecer o Fonte ao Paços se em troca estes prometerem facilitar-nos a vida no jogo a realizar em breve. O que se verificou ter acontecido.

Isto por si só já seria motivo para despromover o Benfica à terceira divisão e atribuir o título a um dos arautos da verdade desportiva, mas como as autoridades desportivas em Portugal estão todas feitas com o Benfica, e são coniventes com estas práticas, pudemos continuar a nossa campanha triunfal de adulteração da verdade desportiva. A próxima vítima chamava-se Académica. Mais uma vez colocou-se em prática um estratagema semelhante ao de Setúbal: convencemos o melhor jogador da Briosa a deixar de aparecer aos treinos, e a recusar a representar o clube até que lhe fosse permitido transferir-se, prometendo-lhe uma transferência para o Benfica quando isto acontecesse. Como a dupla Vieira e Veiga é manhosa, fez tudo muito bem feito, convencendo o Marcel a tomar esta atitude mais de um mês antes do jogo contra o Benfica. Assim ele falharia ainda um jogo antes do nosso, e as coisas seriam muito mais discretas. Mas felizmente as pessoas não são estúpidas e toparam logo o estratagema. A Académica só perdeu com o Benfica porque o Benfica tratou de impedir que o seu melhor jogador e marcador o defrontasse. Mais um atentado à verdade desportiva.

E a escandaleira continua. O nosso próximo adversário é o Gil Vicente, e neste esquema alternado de estratagemas lá voltámos a repetir o que foi feito contra o Paços. Ou seja, já está anunciado que o João Pereira e o João Vilela vão ser emprestados ao nosso adversário de amanhã. Isto é uma óbvia compensação pelo facto do resultado já estar comprado, após mais um entendimento tácito entre o Veiga e o presidente do clube adversário. O facto de desta vez serem dois os jogadores a seguirem o caminho do adversário e não um, como se passou com o Paços, é apenas porque o presidente do Gil é melhor negociador, e muito mais difícil de comprar. Desta vez, e ao contrário do que se passou com o Paços, os jogadores foram cedidos antes da partida e não depois. Isto é só para baralhar. Mas de acordo com os teóricos o Benfica não pode negociar jogadores com adversários antes dos jogos contra eles. Nem depois. Ou seja, o Benfica não pode negociar jogadores. Ponto.

O próximo caso já se avizinha. A U.Leiria (clube com evidentes e tradicionais afinidades com o Benfica) está em conflito com a Leirisport devido a uma dívida da última, e ameaça realizar o jogo em que recepciona o Benfica na Marinha Grande caso essa dívida não seja regularizada. Mas alguém duvida que o Benfica está por detrás disto? Nós seríamos os grandes beneficiados com esta situação, portanto desconfio que devemos andar a pagar aos gajos da Leirisport para eles não regularizarem a dívida antes do nosso jogo, de forma a que possamos defrontar a União fora do seu estádio. É uma escandaleira!

E quer-me cá parecer que aquela vitória do Benfica nos Barreiros por 1-0 não deve ser muito alheia à transferência do Manduca, que concerteza já estava acertada na altura. É que o Manduca não jogou nada nesse jogo, e não nos marcou nenhum golo.

(Este texto é baseado nos variados comentários que tenho lido por parte de adeptos adversários em blogs desportivos, jornais online, ou até mesmo em opiniões expressas por alguns jornalistas e/ou comentadores - p.ex. JAL e MST)

terça-feira, janeiro 17, 2006

Marcel

E a contratação há tanto anunciada lá foi apresentada. O Marcel sempre acabou por assinar pelo Benfica, embora seja um pouco surpreendente que o acordo seja apenas de empréstimo até final da época, com direito de opção. Ao menos assim o risco do Benfica é menor, porque a verdade é que se o Marcel já provou ser um bom avançado, ainda tenho dúvidas se terá capacidade para se impor no Benfica. O Marcelo também marcava golos no Tirsense, o Hassan marcava-os no Farense, e depois foi o que se viu. Além disso não me agrada muito o comportamento do jogador neste processo. Quem de um momento para o outro decide não aparecer mais aos treinos num clube revela falta de profissionalismo, que pode sempre voltar ao de cima no futuro.

Com esta contratação o plantel deverá estar agora fechado. O treinador tem o ponta-de-lança que desejava, e agora ele que se entenda para decidir quem joga e quem fica de fora. Quanto mais competição por um lugar houver, mais o Benfica tem a ganhar.

domingo, janeiro 15, 2006

Cruzeiro

Foi em ritmo de cruzeiro que o Benfica esta noite venceu a Académica por três golos sem resposta, num jogo que não foi fácil, mas que também nunca se afigurou complicado.

Do lado do Benfica regressaram os dois laterais 'naturais' do plantel, saindo o Alcides do onze. Também alguma surpresa na escolha pelo Ricardo Rocha em vez do Anderson. Este ano estamos muito bem servidos nesta posição, e julgo que o nosso treinador quer fazer ver ao Ricardo que também conta com ele. E, verdade seja dita, o Ricardo correspondeu à aposta. Do meio campo para a frente, única referência à aposta do treinador no Robert para a direita do ataque, relegando o Geovanni para o banco de suplentes. Do lado da Briosa, uma aposta de Nelo Vingada num 4-1-3-2. Ultimamente tem sido frequente vermos os nossos adversários apostarem ou num terceiro central, ou num elemento do meio campo mais recuado que têm sempre a missão de fazer uma marcação individual praticamente a todo o terreno ao Nuno Gomes.

A exemplo do que se passou a semana passada, o Benfica marcou cedo. Desta vez ainda mais cedo, porque aos três minutos já estávamos a ganhar graças a um penalti do Simão, após um jogador da Académica ter jogado a bola com a mão dentro da área. Tal como a semana passada, o golo não serviu para espevitar a equipa. A diferença é que a Académica foi um adversário mais aguerrido que o Paços, e tentou sempre reagir a este resultado. Pouco tempo depois do golo já obrigavam o Moretto a uma defesa espectacular, mas a verdade é que não dispuseram de mais boas oportunidades para marcar na primeira parte. O Benfica revelava-se pouco imaginativo, e a colocação do Robert na direita uma má opção, porque na prática ele foi um jogador a menos. Além disso a organização do nosso jogo ofensivo anda a revelar uma dependência excessiva do Petit: quase todos os lances parece que têm que passar por ele, e por vezes esta não se revela a melhor opção, dado que se perde algum tempo precioso. A qualidade de jogo do Benfica na primeira parte atingiu níveis tais que, pela primeira vez em muito tempo, chegaram a ouvir-se alguns assobios na Luz (hoje com uma assistência menor - 37.044 espectadores).

Na segunda parte, nada de novo. O Benfica manteve a mesma formação e atitude, e a Académica continuava a dar sinais de inconformismo, mesmo sem conseguir pressionar verdadeiramente o Benfica. Mas notava-se que tinha superioridade no centro do terreno, ganhando quase todas as segundas bolas. Demorou pouco até que o nosso treinador resolvesse alterar um pouco as coisas, fazendo entrar o Manuel Fernandes para o lugar do Beto (não sei se terá recuperado totalmente de um entrada muito dura que sofreu na primeira parte), e pouco depois o Geovanni para o lugar do Robert. Esta segunda alteração teve efeitos bem positivos, pois o Geovanni veio dinamizar o ataque do Benfica (para além de colaborar muito mais com o Nélson nas tarefas defensivas, o que imediatamente se fez notar ao permitir que este participasse muito mais no ataque). O Benfica começou a aproximar-se mais da baliza adversária, e acabou mesmo por chegar ao golo da tranquilidade pelo Luisão na sequência de um canto. Esse mesmo canto já era resultado de uma defesa incrível do Pedro Roma a negar o golo ao Nuno Gomes quase em cima da linha. Daqui até final a Académica perdeu praticamente quaisquer cautelas defensivas, e o Benfica parecia capaz de ampliar ainda mais a vantagem. Conseguiu-o pelo Nuno Gomes, a cabecear um centro excelente do Manduca (que também entrou bem no jogo, substituindo o esforçado Miccoli).

Conforme disse, na minha opinião o Benfica não jogou particularmente bem, mas alguns jogadores estiveram em bom nível. A começar pelo Moretto, que nas poucas vezes que foi chamado a intervenções mais difíceis fê-lo com muita segurança. A dupla de centrais esteve bem, e destaco em particular o Ricardo Rocha, que fez um jogo muito bom na segunda parte, ganhando praticamente todos os lances, fazendo uso de uma muito boa colocação no terreno (em vez de estar mal colocado e entrar à bruta à bola, como por vezes costuma fazer). O Nuno Gomes também esteve bem, e o Geovanni e o Manduca entraram muito bem no jogo. Continuo contente com o grande leque de opções à disposição do nosso treinador. Basta pensar nos jogadores que hoje ficaram de fora para nos sentirmos confiantes.

E assim somámos a sexta vitória consecutiva na Liga, e o sétimo jogo sem sofrer golos. Para a semana veremos se conseguimos 'vingar' a única derrota que temos na Luz neste campeonato, frente ao Gil Vicente.

P.S.- Entretanto acabei de saber que o FC Porto perdeu na Amadora, em parte devido a um belíssimo frango do Baía. Voltámos assim a depender apenas de nós mesmos para chegar ao primeiro lugar.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Taça (II)

Parece que a síndrome da desculpa do colo (mais conhecida por 'mau perder') que afecta os adversários do Benfica está a tomar contornos de uma verdadeira epidemia. Até agora julgava-se estar circunscrita à Primeira Liga, mas pelos vistos já escapou ao controlo e começou a atingir clubes da 2ªDivisão. Sim, porque ontem, após a derrota frente ao Benfica, o treinador do Tourizense atirou-se ao árbitro, com esta declaração linda:

"A partir do momento em que mandámos uma bola à barra o árbitro deixou de marcar faltas a nosso favor. Além disso, dois jogadores foram expulsos de forma pouco justa. Se já é difícil jogar contra o Benfica com 11..."

Ou seja, o sacana do árbitro, de forma vil e reles, depois de ver o Tourizense a perder por 2-0 resolveu expulsar dois jogadores deles aos 84 e 85 minutos, tornando o jogo muito mais difícil e assim impedindo a brilhante reviravolta que estava planeada desde o início. Esta reviravolta iria ter lugar durante os últimos cinco minutos, altura em que o Benfica, sobranceiro e demasiado confiante devido à vantagem confortável no marcador (estrategicamente concedida pelo Tourizense) estaria mais vulnerável. Provavelmente um dos jogadores expulsos seria o encarregado de marcar o sensacional hat trick que tombaria o campeão nacional. Será que esta gente não se apercebe do ridículo da situação? Ou a ânsia de aproveitar os quinze minutos de fama cega-as?

Ainda na Taça, o grande Prof.Neca (sim, é verdade, descobri agora que ele tem um site oficial, que assim que tiver tempo vou explorar, na esperança de deslindar alguns dos segredos tácticos deste monstro sagrado do futebol nacional), de regresso ao futebol indígena depois do sucesso que foi a sua experiência como seleccionador das Maldivas, deu um recital na arte tradicional da velha escola portuguesa de treinadores. O seu Desp.Aves foi massacrado (e massacrado ainda é um termo meigo para o que se passou durante o jogo) durante 120 minutos, com um guarda-redes abençoado que defendeu quase tudo, jogadores a cortar bolas em cima da linha de golo, etc; marcou um golo praticamente no único remate que fez à baliza durante as duas horas de jogo; venceu no desempate por penalties (com o guarda-redes a dar sequência à exibição incrível durante o jogo e a defender dois penalties), e no final veio dizer que a vitória era justa. Brilhante. Nunca consegui perceber o que é que estes treinadores tomam antes dos jogos, que lhes permite ver jogos que mais ninguém presente no estádio consegue ver.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Taça

Missão cumprida, com passagem à proxima eliminatória após vitória sobre o Tourizense por 2-0, com os golos a serem marcados já na segunda parte por Robert e Nuno Gomes. Obviamente que não posso falar sobre o jogo, pois não o vi (mas aposto que, a exemplo do que se passou com a Oliveirense o ano passado, isso não impedirá certa gentinha de falar sobre o jogo, particularmente depois de saber que houve dois jogadores do Tourizense expulsos...). De assinalar a estreia a marcar do Robert a partir de um livre, ele que tem como principal cartão de visita a fama de bom executante destes lances.

Nervosos

Tendo em conta o que escrevi no meu post sobre o jogo de Domingo acerca da titularidade do Moretto, obviamente que, a ser verdade, não estou nada surpreendido com a reacção do Quim. Conforme escrevi, parece-me uma má estratégia de gestão do plantel, e se o Koeman ainda por cima diz que compreende que a situação tenha sido um choque para o Quim, então ele estava consciente daquilo que estava a fazer, o que não torna a coisa mais fácil de engolir. Não se trata de dizer que o Quim é melhor que o Moretto ou vice-versa. Mas a posição de guarda-redes é um posto muito específico, e quando aquele que joga está num bom momento é sempre difícil trocá-lo, mesmo quando o guarda-redes que está no banco tem valor para isso. O Quim estava num bom momento, como o atestam os quatro jogos consecutivos sem sofrer golos (e não cinco, como escrevem nos jornais, já que no primeiro desses jogos, com o Belenenses, quem jogou foi o Rui Nereu). E não me venham dizer que um jogo em casa com o Paços era assim tão difícil ou com características tão específicas que seria necessário colocar imediatamente o Moretto a jogar, devido à sua enorme superioridade sobre o Quim. Nenhuma destas premissas é verdadeira. A interpretação que o Quim faz desta atitude é a interpretação normal perante o que se passou: o treinador não confia nele.

O plantel do Benfica tem agora diversos jogadores de qualidade equivalente, pelo que a luta pela titularidade afigura-se mais renhida. Ainda para mais, normalmente em ano de Mundial os jogadores costumam andar mais nervosos com questões destas, por isso é necessário saber gerir estas situações quer do ponto de vista desportivo, quer do ponto de vista humano. Para já esta situação do Quim, a que se juntam as entrevistas do Karyaka e do Mantorras já deixam antever um cenário complicado de gerir. Até porque jogadores como o Karagounis ou o Robert, por exemplo, não devem apreciar ficar de fora das opções do técnico durante muito tempo. Para não falar do Manuel Fernandes, que se continuar a ser preterido pelo Beto e a ver uma possível presença no Mundial a andar para trás também não deverá ficar muito satisfeito. Se vier mais um avançado, como se anuncia, os problemas neste aspecto ainda aumentarão mais. O treinador terá que ser muito inteligente e um óptimo gestor de recursos humanos para evitar que tenhamos um ambiente de guerrilha no balneário, e para já esta história do Quim não me deixa bons augúrios.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Regresso

Eles voltaram! Após um ano de interregno, o blog que foi o meu primeiro contacto com a blogosfera regressou à actividade, para grande alegria minha. Que os seus textos gabrielalvescos venham para ficar, é o meu desejo.

domingo, janeiro 08, 2006

Boring

Quinta vitória consecutiva, sexto jogo sem sofrer golos, mas sinceramente o jogo desta noite não me agradou. Não está em causa a superioridade do Benfica, que foi incontestável ao longo de toda a partida, mas a qualidade de jogo exibida não foi por aí além, e confesso que para mim foi um dos jogos mais aborrecidos que vi esta época na Luz.


Confirmaram-se as expectativas, e na baliza do Benfica estreou-se o Moretto. Independentemente do valor ou não do guarda-redes, a minha opinião sobre isto é que foi uma sacanice que o Koeman fez ao Quim. A equipa estava há cinco jogos sem sofrer golos, quatro deles com o Quim na baliza. Sempre que foi chamado, o Quim nunca comprometeu, e até se sacrificou pela equipa ao jogar sem estar a 100%. Agora perde logo o lugar para um guarda-redes que nem uma semana chegou a treinar? Eu até nem sou um grande defensor do Quim, pois quem visita este espaço sabe que sou um 'moreirista' convicto, e que nunca digeri bem a entrada do Quim na equipa feita pelo Trapattoni o ano passado, precisamente em condições injustas para o guarda-redes que perdeu o lugar. Mas sinceramente isto não me parece que seja uma boa forma de gerir o plantel. Enfim. De resto, e ao contrário do esperado e anunciado, não foi o Nélson quem saiu da equipa, mas sim o Léo, passando o Nélson para a lateral esquerda e mantendo-se o Alcides na direita. Pessoalmente prefiro o Léo na esquerda e o Nélson na direita. O posicionamento defensivo do Alcides neste jogo foi um absoluto desastre, e felizmente o Paços não soube aproveitar a autêntica avenida que havia daquele lado da defesa. De resto jogaram os esperados, com o Geovanni a voltar à direita, lugar onde já sabemos não render tanto.


Desta vez aconteceu aquilo que de melhor pode acontecer ao Benfica quando defronta equipas que vêm com a intenção de jogar fechadas na defesa, que é marcar cedo. Antes dos dez minutos já estava feito o 1-0, num lance feliz em que um defesa pacense marcou um autogolo ao desviar um remate cruzado do Nélson na esquerda. Só que em vez de embalar a equipa para uma exibição descontraida, o que eu vi foi uma equipa quase amorfa, e sem apresentar um futebol de qualidade, com quase tudo feito aos repelões. Como do outro lado estava uma equipa muito pouco ambiciosa, resultou daí um jogo extremamente desinteressante, que ia sendo animado de vez em quando com alguns rasgos individuais de jogadores do Benfica, a fazerem brilhar o guarda-redes Peçanha. Foi o caso de um remate de longe do Simão, que ainda bateu no poste depois de uma defesa incrível do guarda-redes, e de uma cabeçada do Nuno Gomes. Com um bocejo, chegou o intervalo.


E veio a segunda parte, em que a tendência do jogo não se alterou. O Benfica atacava (se se pode chamar de 'atacar' manter a posse de bola trocando-a entre os seus jogadores dentro do meio-campo adversário, enquanto os onze jogadores oponentes se mantêm atrás dela). Houve mais duas boas oportunidades de golo: uma pelo Miccoli, em que chutou pouco ao lado do poste após passe do Alcides, e outra numa cabeçada colocada do Ricardo Rocha, a que correspondeu o Peçanha com mais uma boa defesa. Ainda não foi desta que o Ricardo se estreou a marcar em jogos oficiais pelo Benfica. A noite deu para estrear mais dois dos reforços, sendo que o primeiro a entrar foi o Robert, substituindo o apagado Miccoli. Foi colocar-se sobre a esquerda, vindo o Simão para a direita e o Geovanni para o centro do ataque. E esta alteração 'resultou' cinco minutos depois, quando a um centro do Simão o Geovanni correspondeu com um desvio de primeira para a baliza. Depois de passar quase todo o tempo até então despercebido, bastaram cinco minutos a jogar na posição que prefere para que o Geovanni desse logo nas vistas. Pouco tempo depois foi substituido pelo Manduca, e o único lance digno de registro até ao final foi mesmo no último segundo do jogo, em que o Moretto fez a primeira defesa de toda a partida, que foi ao mesmo tempo uma grande defesa a evitar o golo do Paços.


Volto a dizer: não gostei da exibição. A vitória nunca esteve em causa, até pelo golo madrugador, mas acho que o Benfica tem a obrigação de apresentar uma qualidade de jogo muito superior ao que apresentou hoje. Fico mais contente pelo resultado do que pela exibição. Fico também contente por, mais uma vez, se ter ultrapassado o número dos 50.000 espectadores na Luz (53.145 é o número oficial). E desta vez não houve promoções nem convites a escolas. É também positivo o facto de o nosso treinador ter agora várias escolhas possíveis para formar a equipa. Um banco com Quim, Léo, Manuel Fernandes, Karagounis, Manduca, Robert e Mantorras é de facto um banco a sério, que permite várias opções. E até nos dá a nós, treinadores de bancada, mais motivos de discussão, porque deixa de ser tão evidente qual deve ser o onze titular. Por mim, até posso dizer que em relação ao onze de hoje, preferia pelo menos ver o Léo em vez do Alcides, o Manuel Fernandes em vez do Beto, e o Karagounis em vez do Miccoli, passando o Geovanni para a posição dele. Pelo menos enquanto o italiano estiver tão apagado.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Robert (II)

Para aqueles que ainda não tiveram oportunidade de ver, fica aqui um cheirinho daquilo que o nosso mais recente reforço é capaz de fazer (particularmente no aspecto das bolas paradas).

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Robert


Mais um reforço. Conforme se esperava, Laurent Robert assinou por três anos e meio com o Benfica, e foi apresentado. Fico contente pela qualidade do jogador em questão. Tem um pé esquerdo fabuloso, é óptimo a centrar (qualidade que rareia nos jogadores do Benfica), e é perito em lances de bola parada (é desta que o Petit perde o estatuto de 'especialista' do plantel deixa de uma vez por todas de marcar os cantos e os livres quase todos). Por outro lado fico preocupado. Porque o mau feitio do jogador é conhecido de todos, e sabe-se que aceita muito mal não ser titular. Ora se o contratam precisamente para a posição mais cativa que existe no Benfica, que é pertença quase exclusiva do Simão, isto para mim é uma indicação muito forte que podemos estar em vias de perder o nosso capitão. Apesar das declarações do nosso presidente em contrário, não deixo de ficar muito desconfiado. Pode-se sempre argumentar que o Simão poderá passar para o lado direito, uma vez que até é dextro, mas eu acho que o Simão rende sempre muito menos desse lado.

Uma coisa é certa: o Benfica está de facto a reforçar-se nesta reabertura de mercado, e o nosso treinador passa a ter muito mais opções para formar a equipa titular. Claro que, sob um prisma mais negativo, ele também passa a ter muito mais hipóteses de dar largas às tendências de inventor que por vezes o assaltam...

Frango

Sim, não tem a ver com o Benfica mas eu não resisto. Estava eu há pouco a folhear A Bola quando me deparei com declarações interessantes do Filipe Soares Franco que me puseram a rir logo pela manhã. Como se sabe, o Deivid e o Polga resolveram seguir o bom exemplo dado pelo Liedson o ano passado, e de livre iniciativa auto-prolongaram a sua estadia no Brasil. Quando lhes apetecer, regressam. Pois segundo o presidente da SAD de Alvalade, a culpa disto é... da Liga. Não é dos indisciplinados jogadores, nem do próprio clube, incapaz de impor disciplina. A Liga é que não deveria fazer uma pausa de Natal, permitindo assim que os jogadores tenham um pretexto para fugirem para o Brasil.

É bom verificar que, apesar da grande perda que foi o afastamento de Dias da Cunha, há alguém disposto a carregar o facho da demência e do nonsense por aquelas bandas.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Moretto

E pronto, o Moretto lá assinou por cinco anos e meio com o Benfica, e já foi apresentado em conferência de imprensa na Luz, à uma da tarde.


Já o disse aqui: não me parece que este jogador tenha assim tanta qualidade que justifique todo este escarcéu em volta da sua contratação. Não o imagino a tirar o lugar ao Quim, mas dados os elogios que lhe foram feitos pelo Koeman, nunca se sabe. A verdade é que agora é que se podera aquilatar a verdadeira qualidade deste guarda-redes, porque jogar nesta posição num clube grande é completamente diferente da mesma situação num clube mais pequeno. Ali um guarda-redes passa o jogo quase todo sempre em acção, com diversas solicitações, enquanto que no Benfica é chamado a intervir muito menos vezes, passando largos períodos de tempo quase inactivo, o que o obriga a ter níveis de concentração mais altos. Temos o exemplo do Yannick, que era um excelente guarda-redes no Alverca, e que no Benfica não deu nada.

O processo todo em redor da contratação do Moretto foi uma vergonha. Para todas as partes envolvidas. Por um lado não compreendo este empenho do FC Porto na sua contratação, a não ser pela pura má vontade de chatear o Benfica. Eles dão-se ao luxo de ter o melhor guarda-redes do campeonato sentado no banco de suplentes, pelo que o Moretto seria no mínimo uma terceira opção. Depois não percebo muito bem a posição do Moretto no meio disto tudo. Pelo que ouvi e li até agora, dá-me a impressão que, sem ter no entanto assinado nada, ele acabou por dar a palavra aos dois clubes - não me interessa se foi influenciado ou não. Caramba, às vezes parece que quando se referem a jogadores de futebol estão a falar de crianças, incapazes de tomar decisões e mantê-las. Ou será que ser íntegro é um óbice ao enveredar por uma carreira de futebolista profissional, levando à escassez desta qualidade pessoal entre os jogadores? Dizem que 'Sim senhor, eu jogo por vocês' a um clube, e depois esse clube tem que manter uma ama-seca ao lado do jogador, caso contrário pode aparecer uma outra pessoa a dizer 'Psst! Ó puto! Dou-te um caramelo se vieres jogar para nós!' e o tipo muda alegremente de opinião? Tenham juízo: quando tinha 14 anos e decidi que queria jogar futebol no Faro e Benfica, depois de ter ido lá treinar e já me ter apalavrado com o treinador, sem no entanto ter assinado, surgiu a oportunidade de jogar pelo Farense. E até eu que era um puto não voltei com a palavra atrás (OK, confesso que o facto de cada um dos clubes ser filial de quem era, e de eu não ter quaisquer ambições numa carreira futebolística também ajudou, e muito, a manter a minha posição).

Também não fiquei muito satisfeito com o comportamento do nosso presidente. Sim, ele esteve bem ao tomar a decisão de ir em pessoa ao Brasil para assegurar um interesse do Benfica, e reconheço-lhe mérito por isso. E eu sou até um admirador do trabalho dele. Mas mandar fazer uma espera ao parolo que o agrediu no aeroporto ainda no Brasil, e depois vir com aquelas declarações estilo fotonovela à saída do avião, e mais tarde já na conferência de imprensa, sinceramente, isso já não são atitudes que eu considere muito dignas. Não gosto de ver a figura do presidente do Sport Lisboa e Benfica envolvida directamente em peixeiradas destas.

A maior surpresa no entanto acabou por ser a apresentação do Marco Ferreira como jogador do Benfica, quando estava convencido que ele iria para o At.Madrid. Não sei o que esperar desta contratação. Vem para uma posição em que, de facto, estamos necessitados (médio-ala direito). Quando, há um par de anos, ele jogava no V.Setúbal fiquei muito desiludido por o termos perdido para o FC Porto, mas a verdade é que depois ele não demonstrou lá as qualidades que eu lhe reconhecia enquanto jogador do Setúbal. E isto debaixo das ordens do Mourinho, que por norma tira sempre o melhor rendimento de cada jogador. Por isso não sei mesmo o que pode sair daqui. O facto mais interessante neste processo é mesmo o secretismo com que a operação foi feita: nunca se ouviu falar de qualquer interesse do Benfica neste jogador, e de repente a sua contratação aparece como facto consumado. A exemplo do que aconteceu, por exemplo, com o José Fonte. Só isto mostra que, de facto, as coisas mudaram com esta direcção, e que há lá quem saiba como fazer as coisas, tendo mesmo estancado todas as fugas de informação que durante anos eram típicas no Benfica. Acho também interessante esta aposta clara no mercado nacional, coisa que durante muito tempo sempre foi apanágio do nosso clube. Será que o ponta-de-lança desejado ainda acaba por vir de cá (mais propriamente, ali dos lados de Coimbra)?