sábado, fevereiro 28, 2009

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28/02/1904 - 28/02/2009

Brio

Pode não ter sido com muito brilho, mas foi com imenso brio que o Benfica esta noite conseguiu vencer o Leixões, num jogo que começou por parecer ter tudo para decorrer a nosso favor, mas que terminou de forma exactamente inversa.

Alguma surpresa logo de início na nossa equipa, com o Quique Flores a optar por jogar com dois alas bem abertos, colocando o Di María de início na direita e o Reyes na esquerda, e colocando para além disso o Ruben Amorim no meio, ao lado do Katsouranis. Conforme esperado, na defesa o Miguel Vítor ocupou o lugar do Sídnei, enquanto no ataque o Cardozo regressou à titularidade. E começou muito bem o jogo o Benfica. Com a linha de defesa muito subida, uma pressão bem executada sobre os adversários, e depois a sairmos rápido para o ataque assim que a bola era recuperada, o Benfica terá esta noite feito uma das melhores entradas num jogo em casa esta época. Com o Amorim a mostrar-se como peixe na água no centro, e com a preciosa ajuda dos alas e, sobretudo, do Aimar (quantas bolas terá ele recuperado ou roubado esta noite?) sempre que não tínhamos a bola, o Benfica não dava tempo nem espaço para o Leixões desenvolver o seu jogo. Aliás, ainda não tinha decorrido um minuto de jogo e já o Benfica criava uma situação de perigo, só que o Aimar não conseguiu controlar a bola nas melhores condições. Foi bonito ver-nos jogar a toda a largura do campo, aproveitando a velocidade do Reyes e do Di María nas alas. Não surpreendeu por isso que chegássemos ao golo, após mais uma incursão do Reyes pela esquerda, que terminou num autogolo de um defesa do Leixões quando tinha o Cardozo nas suas costas para marcar. Pouco após o golo, O Luisão esteve perto de fazer um golão, com um pontapé de bicicleta que passou muito perto. Embora continuando a controlar o jogo à vontade, fiquei com a sensação de que retirámos um pouco o pé do acelerador após o golo (pelo menos a pressão sobre os adversários para recuperarmos a bola já não parecia ser tão intensa), mas o pior veio pouco depois da meia hora de jogo, com a lesão do Ruben Amorim (que estava a fazer um óptimo jogo até então), tendo que ser substituído pelo Carlos Martins. Aí sim, a equipa recuou a linha defensiva de forma mais nítida, e já foi então possível ver o Leixões a conseguir fazer a circulação de bola a meio campo que lhe é mais habitual. Mas também não passou disso, já que lances de perigo nem vê-los, tendo o Leixões que optar por tentar rematar a distâncias consideráveis da nossa baliza. Pelo contrário, era o Benfica quem, em transições rápidas, conseguia dar maior sensação de perigo, pelo que a vantagem mínima ao intervalo pecava quando muito por escassa.

A segunda parte mostrou o mesmo pendor da primeira. Logo no início, uma oportunidade para o Reyes, desmarcado sobre a esquerda a passe do Aimar. Ainda durante os primeiros minutos, o Leixões teve aquela que foi, para além do lance do golo, a única oportunidade digna desse nome durante todo o jogo, mas o remate do seu jogador, que num contra-ataque recebeu a bola à vontade, foi perfeitamente disparatado. No Benfica, os nossos alas começavam a perder algum fulgor, e o Reyes acabou por dar o seu lugar ao Nuno Gomes ao fim de quinze minutos. Com o jogo controlado, faltava ao Benfica um golo que nos desse maior tranquilidade, o que acabou por acontecer poucos minutos após a entrada do Nuno Gomes. Na direita o Cardozo (que um minuto antes, desmarcado pelo Di María, tinha desperdiçado uma ocasião soberana por ter deixado a bola escapar) ultrapassou um defesa adversário e, da linha final e com o pé direito, centrou para que o Nuno de cabeça se antecipasse ao seu marcador para marcar. Em condições normais, e face ao que tinha visto até então, isto seria o suficiente para pensar que iria ter um final de jogo tranquilo. Mas sabendo o que se tem passado esta época, acabei por não ficar muito descansado, e em vez disso preparei-me para o que aí viria.

Só foi necessário esperar oito minutos. Depois, no mesmo minuto, o Carlos Martins lesiona-se e, num lance em que foi algo feliz num ressalto, o Leixões marca. Como já tínhamos esgotado as substituições (o Balboa entretanto entrara para o lugar do Di María) o cenário que se apresentava era jogar os últimos quinze minutos (mais os eventuais descontos) com dez, perante uma equipa motivada pelo golo. Só que os dez encheram-se de brio, e apoiados pelo público da Luz, valeram por onze ou mais. Porque a verdade é que o Leixões não conseguiu criar uma única oportunidade de golo até ao apito final do árbitro, apesar de, durante este período, ter conseguido finalmente um ascendente sobre o Benfica, jogando a maior parte do tempo no nosso meio campo e equilibrando um pouco a posse de bola. Felizmente desta vez não houve golpe de teatro, e o Leixões não conseguiu sair da Luz com um empate que seria, de todo, imerecido.

Como destaques na nossa equipa, começo por escolher o Aimar. Não sei se ainda há grandes dúvidas sobre a sua condição física, mas quem viu aquilo que ele correu esta noite deverá ter ficado esclarecido. Movimentou-se livremente pelo ataque, e soube sempre dar velocidade ao nosso jogo, tendo combinado com e desmarcado diversos dos seus colegas. Deu ainda uma ajuda indispensável no trabalho de recuperação da bola a meio campo, e acabou o jogo praticamente como médio defensivo, ao lado do Katsouranis. Na defesa, destaco o Miguel Vítor, pela disponibilidade que mostrou e pelos inúmeros cortes que efectuou. Se o Leixões raramente conseguiu ameaçar a nossa baliza, a ele (e ao Luisão) muito o devemos. Foi pena a lesão do Amorim, porque aquilo que produziu enquanto esteve em campo foi muito positivo, estando directamente ligado à boa entrada do Benfica em jogo. Quem esteve um pouco abaixo da regularidade que lhe tem sido habitual foi o Maxi, que se atrapalhou um pouco na defesa, e até esteve pouco feliz nos cruzamentos quando se aventurou no ataque.

Ultrapassado este difícil obstáculo - e roubada ao José Mota a glória de ser o primeiro a conseguir vencer em casa do Benfica e dos outros dois no mesmo campeonato - resta agora sentarmo-nos tranquilamente no sofá e esperarmos pelo resultado do encontro fratricida de amanhã, com a certeza de que esta jornada ser-nos-á sempre positiva.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Cabeçudos, o caraças!

Ainda em relação ao amigo Lucílio. Sempre que me falam nele, lembro-me logo de várias das suas actuações memoráveis em jogos do Benfica, como a expulsão do Ricardo Rocha depois da 'falta' sobre o Deco, o arraial de pancadaria que lhe passou despercebido na final da Taça ganha ao FCP de Mourinho (que depois ainda teve a lata de se queixar da arbitragem), os critérios disciplinares 'flutuantes' que exibe nos nossos jogos, etc. Mas a performance mais memorável dele, aquela que me surge sempre nos pensamentos quando contemplo este triste figurão da arbitragem portuguesa, foi aquela no jogo que disputámos em Alvalade em 7 de Maio de 2000, jogo esse que poderia dar o título pelo qual o Clube do Lumiar (des)esperava há dezoito anos. Esse jogo para mim foi o verdadeiro deixar cair da máscara, e a partir daí nunca mais consegui confiar neste tipo. E um dos motivos pelos quais eu também nunca esqueço essa exibição arbitral memorável é também o texto que a Leonor Pinhão escreveu sobre o assunto. Ao saber que o Lucílio nos vai arbitrar na próxima sexta-feira, recordei-me novamente desse texto, e fui soprar o pó aos arquivos para o reler. Voltei a rir-me com o texto, e voltei a sentir uma pontinha de emoção quando me recordei que "Eu estive lá! Eu vi!". Por isso acabei por decidir partilhar esse texto com aqueles que não tiveram ainda a oportunidade de o ler. Aqui fica então, com a devida enorme vénia à Leonor Pinhão:


"'Lucílio Baptista prejudicou o Sporting!'

Sousa Cintra, ex-presidente do Sporting à saída do Estádio José de Alvalade, no Domingo, 7 de Maio de 2000, às 21h58.

Extenuado, André Cruz ouviu o árbitro apitar. Incrédulo, passou a mão direita pela testa na tentativa vã de limpar o suor que caía em torrentes e que se misturava, sem glória, com as águas da extraordinária chuvada. A segunda parte ia já a meio e Cruz admitiu o pior quando, do seu campo, viu Acosta encostar-se a Sérgio Nunes e atirar-se para o chão em mais um momento agudo de crise ciática. «Oh não, outra vez não, este cara está a gozar comigo!» Mas a cara de Lucílio Baptista não enganava ninguém. Oh sim, outra vez sim! Perante meio conselho de vibrantes ministros, perante autarcas e dignitários religiosos, perante banqueiros e administradores dos capitais do Estado, cabia-lhe a ele, André Cruz, pela trigésima-quarta vez naquela noite, a responsabilidade de tentar marcar de livre um golo ao Benfica.

Lucílio Baptista apitara e agora apontava para o lugar onde a bola deveria ser colocada para a cobrança. Com dores musculares, em resultado do intenso treino a que Lucílio Baptista o obrigou, o brasileiro encaminhou-se para o local escolhido e, já sem forças para ajeitar o esférico, olhou para a baliza do Benfica. «Tem graça, daqui ainda nunca tinha rematado neste jogo», pensou. Os trinta e três livres anteriores tinham sido disparados de, praticamente, todas as partes do campo: de longe, de perto, de muito longe, de muito perto, sobre a esquerda, sobre a direita, ao meio, ligeiramente enviesados para qualquer um dos lados e sempre, sempre «bem ao gosto do pé de André Cruz», como gritavam ferventes de emoção os homens das rádios e das televisões de todo o mundo.

E nada. A bola não entrava. Na sua ânsia louca de prejudicar o Sporting, Lucílio Baptista interrompia sistematicamente todas as bonitas e eficazes jogadas do ataque leonino e convertia-as em livres. Recorde-se que, em todo o jogo, só por uma vez o árbitro deixou o Sporting concluir uma movimentação colectiva que terminou com um perigoso remate de De Franceschi. Era este o caminho para a vitória mas Lucílio Baptista não queria assim. Queria livres. André Cruz já estava farto de marcar livres e sempre que ouvia Lucílio Baptista apitar não conseguia deixar de sentir um calafrio pela espinha. «Mas porque é que este cara não marca um penálti igual ao que marcou ao Boavista no jogo com o Setúbal, o clube da terra dele, e resolve isto de uma vez por todas?»

Cruz tinha razão. A arbitragem estava a ser muito habilidosa. Veja-se, por exemplo, o caso dos cartões amarelos dados praticamente a toda a equipa do Benfica. Só os ingénuos não percebem que a ideia não era levar o Sporting a vencer o jogo por ausência de adversários mas sim queimar tempo com ninharias, tomar notinhas, enervar a plateia, desmoralizar, dar tempo aos jogadores do Benfica para se recomporem do cansaço de fazer barreiras atrás de barreiras. Por exemplo, quando o árbitro mostrou o cartão a Ronaldo até se enganou, de propósito, e em vez do amarelo tirou o bloco de apontamentos que exibiu peremptório e bem alto na direcção do atónito jogador do Benfica. Com isto passaram-se mais dez segundos.

O Benfica não passava do meio campo. Nuno Gomes já ia na sua vigésima-nona falta atacante, um predador este avançado do Benfica. Lucílio Baptista não queria que o Sporting tivesse espaço para atacar e, vai daí, empurrou a equipa visitante para a sua baliza, de modo a formar um bloco compacto e intransponível. Um manhoso, este árbitro. André Cruz esfregou os olhos antes de partir para a marcação do seu trigésimo-quarto livre da noite. Depois, a custo, correu e rematou. A bola fez um arco pífio e saiu ao lado do poste direito da baliza de Enke. Agora era Lucílio Baptista que estava farto. Caramba, tinha uma reputação por defender! A partir daí o seu apito não trinaria mais, acontecesse o que acontecesse.

Mas mesmo sem apitar Lucílio Baptista não deixou de beneficiar escandalosamente o Benfica. Já bem pertinho do fim, aos 82 minutos, Nuno Gomes, por pura maldade, entra com a bola pela área do Sporting, apronta-se para passar por Toñito e ficar sozinho frente a Schmeichel. Mas não foi nada disto o que o feroz avançado benfiquista fez. Estão certamente recordados: Nuno Gomes entrou na área, desinteressou-se da jogada e sentindo Toñito no chão (o que estaria Toñito a fazer no chão?), sem piedade desatou aos saltos por cima do corpo do seu adversário numa dança selvagem. Toñito gritava, Gomes saltava por cima dele, agora a pés juntos e mordendo, em transe, a, entretanto arrancada, fitinha para o cabelo, imagem de marca do talentoso e espezinhado jogador do Sporting.

E não é que Lucílio Baptista nem cartão amarelo mostrou a Nuno Gomes que, descarado, reclamou um penálti? Não queria mais nada, não sabe, se calhar, que há mais de quatro anos que nenhum árbitro marca um penálti ao Sporting no campeonato nacional de futebol e que essa era, aliás, a única razão para que a imprensa internacional tivesse invadido, naquela noite, Alvalade. Ver para crer! Francamente, Nuno Gomes, bem pode agradecer à RTP que, em conluio com o Benfica, descreveria o lance com estas bem lisonjeiras palavras se atendermos à gravidade do que se passou: «Nuno Gomes pisa a perna do jogador do Sporting e acaba por se desequilibrar.» Ah, valentes!

Heynckes, vendo o comportamento do seu jogador, que arriscava a expulsão se se atrevesse a entrar mais uma vez na área do Sporting, resolve substitui-lo por João Tomás. A dois minutos do fim do jogo, João Tomás foge pela direita do ataque do Benfica e encontra-se frente a frente com André Cruz. «Depois de marcar trinta e quatro livres ainda querem que eu tenha pernas para agarrar este cara...», lamentou-se em surdina o jogador brasileiro enquanto via o avançado do Benfica passar por ele e entrar na área. Mas Cruz, num assomo de profissionalismo, foi a custo atrás de João Tomás e, sem forças para mais, derrubou delicadamente o rapazola.

O que se passou a seguir vai entrar na história do futebol português no capítulo dos mistérios mais inexplicáveis. Se Lucílio Baptista já tinha prometido a si próprio que não apitava mais, que loucura levou o árbitro a marcar, pela primeira vez em todo o jogo, um livre perigoso contra o Sporting? Em bom juízo deveria ter marcado falta atacante a João Tomás. Falta atacante e cartão amarelo para queimar tempo e continuar, assim, a prejudicar o Sporting como fez em todo o encontro. Mal sabia Lucílio Baptista que os comentadores da RTP, em conluio com o Benfica, chegaram mesmo a admitir que a falta, a existir, poderia ter sido cometida dentro da área, de danadinhos que estavam por uma vitória do Benfica. Um dos comentadores, por certo irresponsável, não teve medo da violência avulsa das palavras e, contra todas as regras da mais elementar decência, disse que Lucílio Baptista estava a ser «caseirinho». Mas que falta de respeito pela tribuna vip de Alvalade. Árbitros e jornalistas em compadrio para prejudicar o Sporting...

Até ao momento só há uma explicação para aquela apitadela de Lucílio Baptista. Obnubilado pelo cansaço de uma noite inteira à chuva a orientar barreiras, o árbitro, já próximo do delírio, da alucinação, reconheceu em João Tomás alguns traços físicos de Jardel, o poderoso avançado do FC Porto. De perfil, o formato da cabeça, o corte de cabelo... são mais do que vagas parecenças do benfiquista com o goleador das Antas. E foi nesta confusão, neste êxtase de troca de identidades que Lucílio Baptista caiu inocentemente porque, é uma regra do futebol português, em caso de dúvida beneficia-se sempre os grandes. Livre, livre a favor do FC Porto! André Cruz suspirou de alívio: «Pôxa, este ao menos não sou eu que tenho de marcar!» Depois, Cruz viu um egípcio pequenino a beijar a bola e riu-se da infantilidade. Mas não se riram os duzentos adeptos do Benfica que no topo Norte do estádio assistiam ao jogo, sacrificados por amor ao seu clube à imolação programada, arriscando-se à suprema humilhação na esperança tão ínfima e tão sublime de tudo sair ao contrário e de, um dia, poderem dizer aos filhos e aos netos: «Eu estive lá. Eu vi!» E viram. Viram Abdelsatar Sabry marcar o livre virado para Meca, viram a bola a descrever um arco por cima da fresquíssima barreira do Sporting entrar direitinha no canto superior esquerdo da baliza de Schmeichel.

Este é um jogo para a lenda. Seria sempre, independentemente do resultado. Quem perdesse estava destinado a ser pasto de anedotas pelos próximos vinte anos. Cabeçudos, o caraças! Na segunda-feira, no regresso ao trabalho, os seis milhões de benfiquistas puderam entrar inteiros nas suas fábricas, escritórios, quartéis, centros comerciais, cafés, restaurantes e repetir o gesto redentor do egípcio, levando o dedo indicador da mão direita aos lábios e fazer sair um «shhhhhhhh» bíblico."

P.S.- Por acaso lembro-me bem que na segunda-feira, no regresso ao trabalho, também eu me virei para os colegas lagartos, levei o dedo indicador da mão direita aos lábios, e fiz sair um «shhhhhhhh» bíblico :)

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Mudança

Ontem fui surpreendido pela ausência do Fernando Seara no 'Dia Seguinte', programa da SIC Notícias. Depois vim a descobrir que a ausência é permanente, já que o nosso comentador deixou o programa de vez, e passou para a concorrência (TVI 24). Não querendo tecer considerações sobre a pessoa do Fernando Seara, e centrando-me apenas no seu papel de comentador, não sentirei saudades. O Fernando Seara é claramente demasiado educado e delicado para continuar a nadar no mesmo lago daqueles dois tubarões que o acompanhavam no programa. Quanto ao Sílvio Cervan, que o substituiu, não o conheço suficientemente bem para saber como se sairá. Mas sabendo da forma apaixonada como vive o Benfica, acredito que será capaz de fazer melhor. Pelo menos, espero eu que não deixe que algumas das barbaridades ditas pelos outros dois sobre o Benfica (em particular, pelo tubarão de águas profundas que representa o clube da ladroagem) sem resposta.

E já agora, se calhar também já era tempo de começarem a pensar na substituição do António Pedro Vasconcelos no outro programa. É que abanar a cabeça em silêncio e emular um ligeiro ataque de grand mal sempre que (mais uma vez) o representante do clube da ladroagem debita patacoadas sobre o nosso clube não me parece, de todo, uma forma eficaz de defesa das nossas cores. O Manuel dos Santos deixou saudades.

sábado, fevereiro 21, 2009

Péssimo

É verdade que custa muito perder estes jogos. Mas quando as coisas se passam como se passaram hoje, pouco mais há a fazer do que reconhecer a justiça do resultado e o mérito do adversário, e olhar para dentro de casa para identificar o que correu mal, de forma a corrigi-lo. Uma segunda parte paupérrima, má demais para uma equipa como o Benfica, em contraponto com aquilo que o nosso adversário conseguiu produzir durante esse período do jogo, acabou por ditar uma derrota inevitável.

A verdade é que a primeira parte não fazia antever este desfecho. Repetindo o onze do Estádio do Ladrão, o Benfica cedo se viu em desvantagem, pois sofremos um golo logo no primeiro remate que a lagartagem fez à baliza (na sequência de uma canto cedido devido ao primeiro do infindável rol de más decisões e erros do David Luiz ao longo de toda a partida). Só que a equipa não abanou com o golo, e pelo contrário, de forma personalizada soube manter a calma, assentar o seu futebol e levar o jogo para o meio campo adversário, enquanto que este ia tentando responder em contra-ataques. Não me surpreendeu por isso que tenhamos chegado ao empate ainda durante o primeiro tempo, a cerca de oito minutos do intervalo. Quer dizer, o facto de chegarmos ao empate não me surpreendeu, mas a forma como lá chegámos sim. É que, pela primeira vez em vinte e cinco anos, o Benfica teve um penálti assinalado a seu favor no Lumiar. Foi precisa uma falta clara sobre o Suazo, mas ainda assim foi o auxiliar quem teve que assinalar a infracção. O Reyes encarregou-se de a converter, dando justiça ao resultado. Olhando agora em retrospectiva, talvez os minutos finais da primeira parte devessem ter servido de aviso para o que aí vinha. É que fiquei com a sensação de que o Benfica, obtido o empate, abrandou, e o Recreativo do Lumiar voltou então a ver-se aparecer junto da nossa área, ainda assim sem criar grande perigo. Sentia-me ainda assim confiante ao intervalo, pela forma como conseguimos reagir bem ao golo sofrido, e jogar descomplexados.

Só que, a exemplo do que aconteceu o ano passado no jogo para a Taça, na segunda parte o jogo nem parecia o mesmo. Claro que sofrer um golo aos dois minutos (mais uma vez com o David Luiz no lance) não ajuda nada, mas bastou ver os poucos minutos que se seguiram ao golo para perceber que o Benfica não ia conseguir reagir ao golo da mesma forma da primeira parte, e que dificilmente evitaríamos a derrota. A lagartagem continuou a pressionar, o nosso lado esquerdo, onde ao jogo desastroso do David Luiz se juntou a desinspiração do Reyes, era uma auto-estrada, os nossos centrais não atinavam com a marcação aos avançados adversários, e no meio campo éramos incapazes de fazer três passes seguidos, perdendo bolas atrás de bolas. Em termos atacantes, a única ideia que tínhamos era enviar balões para as cabeças do Reyes, Aimar ou Suazo, com resultados nulos. Só foi mesmo surpresa o tempo que demorou aos nossos adversários para marcarem o terceiro golo, porque este já se adivinhava há algum tempo. Mais uma vez pela esquerda da nossa defesa, o David Luiz foi deixado aos papéis, para depois o cabeceamento do Mergulhador entrar junto ao poste, sem hipóteses de defesa para o Moreira. Só após o terceiro golo, num pequeno assomo de dignidade, a nossa equipa se dispôs a produzir um bocadinho mais, o que resultou num segundo golo, mesmo sobre o minuto noventa, com o Cardozo a cabecear bem um cruzamento do Maxi na direita. Este golo pelo menos garantiu mesmo que ficaríamos em vantagem no confronto directo com a Agremiação de Queques do Lumiar, e mostrou que, se é para jogar da forma que jogámos, faz todo o sentido e mais algum que seja o Cardozo o avançado escolhido para o onze titular. Andar a despejar bolas para a cabeça do Suazo não faz sentido nenhum. O jogo acabou pouco depois, com uma derrota que foi o desfecho natural para a péssima segunda parte que fizemos.

Por ser precisamente a imagem da segunda parte que perdura, é difícil não achar que toda a equipa esteve a um nível lamentável. Mas o David Luiz, em particular, teve um jogo para esquecer. Esteve ligado aos três golos adversários, e para além disso raramente conseguiu tomar uma decisão certa, ou ter uma acção positiva durante todo o jogo. Sabemos que ele joga naquela posição por adaptação, e que rende muito mais como central, mas é preocupante a falta de opções que temos para aquela posição. O Reyes esteve também muito desinspirado. Esperava bastante mais dele para este jogo, mas vi-o muito trapalhão, quase sempre com medo de arriscar no 1x1 com o adversário directo, e perdendo demasiadas bolas. Do naufrágio colectivo poucos se safaram, e podia agora estar aqui a bater no resto dos nossos jogadores, um por um. Gostei da entrada do Cardozo no jogo. Ainda foi a tempo de marcar, e julgo já ter dado provas mais do que suficientes de que é mais produtivo do que o Suazo. Na minha opinião, idealmente até gostaria de ver jogar os dois juntos, mas duvido que isso venha a acontecer. O Di María também veio agitar um pouco as coisas, e acabou por ter uma prestação decente.

Agora há que levantar a cabeça. As coisas ficaram mais difíceis, mas nada está perdido ainda. Custa perder estes jogos, mas é importante saber reagir à Benfica. E isso começa por ganhar já o jogo que se segue. Eu vou lá estar.

Canzoada

Embora isto de certeza não deva agradar aos defensores dos direitos dos animais, estava agora a pensar que a forma mais eficaz de ensinar truques aos cães ainda é com um pau numa mão e uma recompensa na outra. Há os cães de pedigree, com personalidade forte, que por mais vezes que levem no lombo não se vergam. E depois há os rafeiros, que só querem é um ossito raquítico para roer, e que ao primeiro aceno do pau metem o rabo entre as pernas e rastejam direitos à mão que acena com a recompensa. A partir daqui, de uma forma pavloviana, passam a rastejar sempre que alguém lhe sugere o ameaço do pau.

Mudando de assunto (ou talvez não), em mais uma das suas verborreias habituais, o jornalista (e aqui utilizo o substantivo de forma generosa, uma vez que alguém com um domínio tão superficial da língua portuguesa e uma ignorância tão profunda do código deontológico da profissão nunca deveria ser considerado um membro de pleno direito desta classe) Eugénio Queirós presenteou-nos com um texto do mais ordinário que alguma vez me foi dado a ver na imprensa portuguesa. Este senhor, autor do 'livro' mais parcial, mais mal escrito, e mais factualmente incorrecto sobre o processo Apito Dourado, consegue com um simples texto fazer o epítome daquilo que, infelizmente, tem sido a norma do jornalismo desportivo em Portugal nos últimos anos, onde o desrespeito e o insulto ao Benfica são lugar-comum, acompanhados quase invariavelmente pelas loas ao clube da ladroagem. E disto, também, se faz o maldito Sistema. Este texto não foge à regra: é mais um desfilar de insultos ao Benfica, acompanhados do lambe-botas ao patrão que segura a trela. O 'jornalista' em questão tem sido, como sabemos, um dos mais activos no estratagema de branqueamento do processo Apito Dourado pelo que, perante a decisão irrevogável e não passível de recurso das condenações ao Boavista e à Ladroagem pela Liga, viu-se na obrigação de mostrar serviço mais uma vez. E fê-lo da única maneira que sabe: latindo.

Noutras notas, a Ladroagem prossegue em mais uma das suas tentativas para inscrever o seu nome do Guiness. Desta vez, é pelo maior número de penáltis ridículos e roubados consecutivos de que há memória. Hoje foi o terceiro. Eu confesso que o nome do Olegário me fez temer o pior para o jogo de mais logo no Alvalixo. Mas face ao que tem sido visto, começo a prever que a 'incompetência' e 'inaptidão' vão é tender ao longo do jogo para o lado que for mais conveniente no momento, de forma a que no final o marcador se equilibre. Embora, claro, a vitória dos amigos da Ladroagem seja sempre vista como um mal menor. Vamos ter que saber ser muito, mas muito melhores em campo. Ou seja, vamos ter que ser Benfica.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Palhaçada

A palhaçada não tem limites. Então não é que ainda temos que agradecer o facto do Providência não ter marcado penálti na má simulação do Lixo González para que ele seja castigado com a nota negativa que merece? Ou seja, foi preciso ele tomar uma decisão correcta para que a sua nota passasse a ser negativa, sendo assim justamente castigado pela decisão grosseira que nos roubou uma vitória no Antro da Ladroagem.

É que para o observador do roubo perpetrado no Antro da Ladroagem, foi esta a justificação. Na simulação descarada do Malandro López, dá-se o benefício da dúvida:

"Aos 25 minutos do 2.º tempo, marcou grande penalidade contra a equipa B [Benfica], por suposta falta do jogador n.º 26 [Yebda] (...) Do local onde nos encontramos e uma vez o lance ter ocorrido no vértice mais distante da grande área, não nos foi possível vislumbrar com clareza o desenlace da jogada: se a queda é provocada por algum contacto dos pés ao nível do terreno ou em virtude do defensor ter colocado o braço à frente do tronco do adversário, impedindo/perturbando a sua progressão. Porque o árbitro se encontrava bem colocado e perto, cerca de 3/4 metros, e foi peremptório a assinalar a grande penalidade, aliado ao facto de não terem existido protestos de jogadores da equipa penalizada, que aceitaram pacificamente a decisão, com excepção do faltoso, único a esboçar contrariedade, damos-lhe o benefício da dúvida".

Mais, como os nossos jogadores se comportaram como devia ser, ou seja, não reclamaram da decisão nem pressionaram o árbitro
(o que, tendo em conta o historial de expulsões de jogadores do Benfica nas visitas aos gatunos - treze nas últimas vinte épocas - só pode ser uma atitude sensata), isso ainda jogou a nosso desfavor, dando assim o benefício da dúvida ao árbitro. Estranhamente, nenhum jogador do FC Ladroagem reclamou também do lance do Lixo, mas nesse caso isso já não serve de atenuante. É que, como sabemos, é sempre grave para a classificação de qualquer árbitro não apitar a favor dos batoteiros. Depois descem de escalão ou perdem o estatuto de internacionais, entre outras consequências nefastas. Caso o Providência tivesse apitado no lance do Lixo, a sua nota passaria imediatamente a ser positiva.

Já há muito tempo que sabemos que grande parte da força da podridão reinante no nosso futebol assenta precisamente no esquema de nomeações dos observadores e delegados. Mas já nem tenho palavras para descrever o nojo que esta farsa me causa.

domingo, fevereiro 15, 2009

Preocupante

É difícil dizer como me sinto após o jogo desta noite. Estou contente pela (merecida) vitória, mas estou triste pelas dificuldades que tivemos para a conseguir frente a uma das piores equipas que já vi esta época. Estou também contente pelos grandes golos que marcámos, mas por outro lado estou triste pelos que sofremos, sobretudo por causa das facilidades concedidas na defesa. Contente pela atitude na meia hora final, tristíssimo pela falta dela durante toda a primeira parte. No final o que fica é a vitória e os três pontos conquistados, mais uns cabelos brancos e menos uns anos de vida.

Nas alterações já esperadas à equipa, alguma surpresa na inclusão do Jorge Ribeiro no onze, passando o David Luiz para a direita, ocupando o lugar do castigado Maxi Pereira. No meio campo o Carlos Martins ocupou o lugar do Yebda que, em risco de ver um quinto amarelo, ficou no banco. E no ataque, regressou o Cardozo à titularidade, não tendo o Suazo sequer sido convocado. O jogo iniciou-se num ritmo que imediatamente fez prever mais uma primeira parte igual a tantas outras esta época. O Benfica este ano parece quase sempre ser uma equipa camaleónica, que ajusta a sua qualidade de jogo para um mínimo necessário consoante o valor do adversário em questão. Quer isto dizer que, quanto pior é o adversário, pior joga o Benfica. Ora o Paços de Ferreira foi, na minha opinião, uma das piores equipas que eu vi na Luz esta época, o que consequentemente quer dizer que a exibição do Benfica na primeira parte foi também uma das piores que vi ao Benfica esta época. Alinhando com uma linha de cinco defesas, em que alguém estava sempre solto para se dedicar à marcação individual ao Aimar, e recorrendo a estratagemas quase absurdos de queima de tempo, o Paços acabou por adormecer completamente o Benfica no primeiro tempo, e o Benfica deixou-se estar muito bem embalado neste ritmo que só ao Paços interessava. Uma única excepção: um cabeceamento do Luisão à barra, e uma grande defesa do guarda-redes à recarga do Aimar. De resto, nada mais perturbou a sonolência completa e o deserto de ideias que foi aquela primeira parte.

Depois de, certamente, o Quique ter falado mal dos jogadores ao intervalo, apesar disso não notei grandes diferenças de atitude na equipa no início da segunda parte. Foi preciso um susto para acordarem, já que o Paços, praticamente na primeira vez que se aproximou com perigo da nossa baliza, quase marcou, sendo o David Luiz a evitar o golo em cima da linha. Era necessário mudar alguma coisa, e o Quique fê-lo decorridos cerca de dez minutos, retirando o Carlos Martins para colocar o Di María em campo, indo este encostar-se à direita e, talvez pela primeira vez esta época, sendo dada a oportunidade ao Rúben Amorim de jogar no meio. Esta alteração mudou bastante a forma de jogar do Benfica, até porque o Di María entrou inspirado e com vontade de mostrar serviço. O Benfica começou finalmente a rondar com perigo a baliza adversária, e acabou por chegar ao golo a vinte minutos do final, num lance algo consentido pelo guarda-redes do Paços, que não segurou uma bola fácil e permitiu ao Cardozo, de ângulo reduzido, rematar para a baliza deserta e acabar com a seca de golos. Quase de seguida surgiu o segundo, um golo muito bonito em que o Rúben Amorim rematou de primeira de fora da área, colocando a bola junto ao poste mais distante. Parecia que iríamos finalmente ter um final de jogo descansado, mas já se sabe que com o Benfica nunca se pode ter essa ambição. Logo de seguida, o Paços lá se lembrou que era capaz de estar na altura de atacar um bocadinho, e reduziu logo para 2-1 num remate cruzado, num lance em que ficou patente a facilidade com que o jogador do Paços surgiu na área para rematar à vontade.

Já perto do final, veio então o momento mais alto da noite. O Di María, que já tinha tido alguns pormenores técnicos fantásticos, recebe uma bola de um lançamento lateral e, a uns bons trinta metros da baliza, com um remate fantástico faz a bola passar sobre o guarda-redes para marcar um golaço. Desta vez sem o Maradona na bancada. Faltavam dois minutos para os noventa, e agora sim, parecia que iríamos finalmente esperar pelo apito final descansados. Qual quê. Já quase no final do jogo, há um cruzamento para o lado direito da nossa defesa, e mais uma vez surge um adversário à vontade para rematar cruzado de primeira e reduzir. Houve aqui uma falha de marcação gritante, já que o autor do golo foi o lateral esquerdo do Paços, que subiu à área sem que ninguém (deveria ser o Di María, que provavelmente ainda estava demasiado entusiasmado com o golo) o acompanhasse. Aliás, ele esteve mesmo lá literalmente acampado, completamente sozinho, durante bastante tempo sem que algum dos nossos jogadores reparasse nele. E mesmo assim, ainda não estava tudo acabado. Aqueles segundos finais pareciam um filme com um desfecho anunciado. Era previsível que o Paços beneficiaria de um livre mesmo sobre o final, que aproveitaria para fazer subir toda a gente para a área e despejar a bola para lá. E isso aconteceu mesmo. Só faltava mesmo o golo ao cair do pano. Na sequência do livre, depois de um alívio do Luisão a bola acabou por ser rematada ao poste, para depois o Sídnei a evitar a recarga. Só depois deste momento que me causou uma breve paragem cardíaca é que o jogo terminou. O Paços, que praticamente fez quatro ataques dignos desse nome, teve uma bola aliviada sobre a linha, marcou dois golos, e atirou uma bola ao poste. O que é bastante preocupante no que diz respeito à nossa segurança defensiva.

Ultimamente tem-me sido difícil escolher alguém para destacar. Esta noite menciono o Di María, pelo efeito que teve no jogo. Só após a sua entrada é que passámos a jogar a toda a largura do campo, e com velocidade suficiente para causar estragos. Gostei também do Rúben Amorim após ter passado para o meio (enquanto esteve na direita passou completamente ao lado do jogo). Fiquei ainda contente com o facto do Cardozo ter marcado o golo que já procurava há algum tempo. Pela negativa, pareceu-me que o Aimar esteve bastante apagado, não se conseguindo entender com a marcação individual a que esteve sujeito durante todo o jogo. Para não ferir susceptibilidades não vou bater muito no Carlos Martins, ou no Jorge Ribeiro, senão acusam-me de perseguição aos rapazes. Mas digo que também não gostei do jogo deles. O Katsouranis também me pareceu estar menos bem do que costuma ser habitual.

Foi uma exibição sofrível do Benfica, abrilhantada por um golo bonito e outro excepcional, mas que me deixou preocupado. Sofrer dois golos em casa perante, volto a dizê-lo, uma das equipas mais fracas que vi jogar esta época na Luz não é propriamente brilhante. Só espero que para a semana, neste sobe e desce a que o Benfica nos vai habituando, a equipa volte a apresentar-se a um nível suficientemente alto para um jogo que queremos sempre vencer.

P.S.- E porque não há duas sem três, aos dois bonitos golos que marcámos hoje há a somar um terceiro marcado por um jogador nosso: o golão que o Coentrão marcou no Antro da Ladroagem.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Lixívia

Na crónica que fiz ontem ao jogo, afirmei sentir-me curioso em relação à forma como aquilo que se passou durante o mesmo seria branqueado. A minha aposta pessoal foi que o jogo seria revisto ao pormenor, e no final apareceriam, como que por magia, uns lances a favor da larapiagem que, de alguma forma, seriam utilizados como contrapeso para justificar que, afinal, o Benfica até nem teria sido claramente prejudicado. Ora, manda a honestidade que eu admita que não sou nenhum visionário, nem possuo dons extra-sensoriais, portanto esta aposta minha não foi nenhuma espécie de profecia. Foi sim uma conclusão lógica, resultante da observação da estratégia de branqueamento que, ao longo dos anos, é sistematicamente (e o advérbio não é escolhido ao acaso) aplicada sempre que o Benfica é claramente prejudicado por uma má decisão de arbitragem. Esta estratégia de branqueamento, a que poderíamos chamar de "Processo de Reequilibração da Balança", não mais faz do que alinhavar uma série de situações que, na sua grande maioria, não foram sequer visíveis durante o decorrer do encontro, tendo passado completamente despercebidas mesmo ao mais fanático, mas que têm em comum o facto de nelas, supostamente, ser sempre o Benfica o beneficiado. Colocando todas essas situações no mesmo prato da balança, acham eles então que reequilibram o peso do outro prato, onde está o erro grosseiro que prejudicou o Benfica. O resultado final é uma desdramatização do erro grosseiro que nos prejudicou, do género 'o árbitro errou para os dois lados', passando-se então à análise da justiça do resultado, obviamente como se o tal erro grosseiro com influência directa nesse mesmo resultado final não tivesse sequer existido.

A lógica deste processo assemelha-se em muito à lógica brilhantemente enunciada pelos Monty Python, que leva à conclusão evidente e insofismável de que uma bruxa deverá pesar o mesmo do que um pato (a referência aos Monty Python é obrigatória, já que eu considero que a sua obra contém todos os axiomas que ajudam a explicar os princípios básicos da existência humana e, em particular, o futebol português - além disso os homens eram visionários, já que conseguiram criar a personagem Luigi Vercotti, empresário da noite, muito antes de qualquer pessoa saber sequer quem era o Reinaldo Teles). Quando este processo é particularmente bem sucedido, chegamos mesmo ao ponto em que saímos do estádio plenamente convencidos de que fomos espoliados (parafraseando um comentador desportivo que até nem é das nossas cores, anteontem quando saí do Estádio do Ladrão a minha primeira reacção foi levar a mão ao bolso para ver se ainda lá tinha a carteira), e quando chegamos a casa umas horas depois descobrimos que não, e que afinal até fomos beneficiados. Isto acontece mesmo que seja necessário fazer equivaler o efeito de um elefante numa loja da Atlantis com o de um hamster no Continente (ou dizer que uma bruxa pesa tanto quanto um pato).

Voltando ao roubo de anteontem, verifico sem surpresa que o processo acima descrito já funciona a todo o vapor. Hoje descubro penáltis por marcar a favor da ladroagem, uma expulsão do Sídnei (o pisão do Malandro ao joelho do Katsouranis já não tem a mesma apreciação), outra do David Luiz porque entra de pé levantado a um lance, mesmo sem atingir ninguém (mas a tentativa de coice do Bruto Alves ao Suazo, logo no início do jogo, já não se enquadrará neste critério rigoroso), um braço do Yebda atingido pelo Malandro em pleno mergulho que afinal já justifica o penálti inventado ou, pelo menos, o erro do Pedrito Providência, e mais não sei quantos casos que tentam provar que afinal devemos é ficar calados, porque fomos beneficiados, e muito, isto porque os salteadores é que nunca são, nem nunca foram, ajudados (convém notar que este processo de revisão é bastante selectivo, e nunca inclui lances que possam ter sido decididos desfavoravelmente ao Benfica, que só iriam contribuir para um ainda maior desequilíbrio do fiel da balança para o nosso lado da argumentação). Ora ontem tive a oportunidade de assistir à gravação do jogo no Ladrão, e verifiquei que os avençados parecem estar cada vez mais solícitos e eficientes na aplicação deste processo. O branqueamento desta vez começou ainda durante a transmissão televisiva da SportTV, antes mesmo do Pedrito Providência bufar no apito para finalizar a partida. Segue-se uma transcrição das apreciações exactas do relatadeiro de serviço ao jogo (o nosso bem conhecido e imparcial Rui Orlando) ao tal lance entre o Reyes e o Lucho, que justificará a farsa despudorada a que assistimos depois. Na altura em que o lance ocorre, e assim que é mostrada a repetição:

"E a verdade é que Lucho González sofre uma entrada de Reyes, mas o primeiro impulso é positivo de... de... de Lisandro. Ele acredita que tem possibilidades de conseguir atirar à baliza do Benfica, ou fazer com que um companheiro... uhm... seja servido, e portanto não caiu na tentação que muitas vezes os jogadores têm de se deixarem cair e fazer-se... e fazer-se ao penálti, não é? Cá está o lance outra vez... ele tira o adversário do caminho, sofre um toque de... de Reyes... eventualmente, não suficiente para o derrubar, não suficiente para o retirar do lance, como de facto não foi, não é? A verdade é que em muitas destas circunstâncias os jogadores não... não... não ajudam nada à verdade do jogo e... e muitas vezes deixam-se cair. Portanto merecerá aqui um forte aplauso Lucho González, porque é uma atitude de fair-play, uma atitude positiva desportiva.(sic)"

Repare-se como é elogiada a atitude do Lucho não adulterar a verdade do jogo, ao não se atirar para o chão num lance que não é falta, dado que o toque do Reyes 'não é suficiente para o derrubar ou retirar do lance' - aliás, eu até acho que ele só não se fez ao penálti não por uma questão de desportivismo, mas apenas por achar que era descarado demais, já que as repetições mostram que o toque do Reyes é no pé direito, e quando o Lucho tem a tentação de cair fá-lo atirando a perna esquerda para trás (agora queria colocar aqui um link para as imagens desse lance, em que é possível ver precisamente isto, mas estranhamente esse vídeo não aparece no conjunto de vídeos oficiais existentes na net para este jogo - o que não deixa de ser interessante, dado este ser aparentemente 'apenas' um dos lances fulcrais do jogo... calculo que seja mais conveniente dizer-se que foi penálti e pronto, acreditaremos em quem nos diz isto). Assinale-se também o facto sempre interessante de se achar que um jogador é merecedor de um forte aplauso apenas por fazer aquilo que deveria ser normal, ou seja, não tentar enganar o árbitro.

Depois vem a roubalheira do minuto setenta. Após o alívio notório aquando do assinalar do penálti, é mostrada a repetição do lance, e depois um prolongado silêncio comprometido - ia dizer 'envergonhado', mas depois lembrei-me que vergonha é um sentimento desconhecido por aqueles lados - durante a segunda repetição lá se admite, de forma seca, que o Yebda não toca no Malandro, e que não há penálti. "Não toca. Não toca. Não há grande penalidade." E siga para a frente que é serviço, e não convém falar muito mais nisto.

Passados dez minutos o jogo é interrompido para assistência ao Reyes, e o realizador mete imagens dos dois golos da partida, o que inclui uma repetição da apoplexia do Malandro (seguida do olhar suplicante na direcção do árbitro assim que chegou ao chão, a ver se a batota tinha pegado). Isto não se faz. Ora o bom do Rui Orlando estava tão satisfeito tentando ignorar o lance, e vai o realizador e mostra uma repetição. Lá teve ele que balbuciar uma qualquer justificação, que teve que ser inventada ali, no calor do momento, e por isso não foi particularmente inspirada, saindo-se com esta (peço desculpa por algumas partes não parecerem fazer grande sentido, mas isto foi o que ele disse mesmo):

"E neste jogo... enfim... acaba aqui por emergir uma ideia que tem a ver... falámos nisso no momento em que Lucho González sofre uma falta... uhm... hmm... que era grande penalidade, no início da partida... segue a jogada... uhm... não a conclui e o árbitro... uhm... não... não marca a falta e portanto, no fundo... digamos... não ajuizou também em função da queda do jogador, e ajuizou mal. Agora ajuizou em função da queda, e ajuizou mal."

É de notar que as afirmações do Toni que se seguiram a este brilhante exercício de contorcionismo, em que ele diz que o Providência, a um metro do lance, viu claramente que era teatro do Malandro, foram olimpicamente ignoradas. Repare-se como, no espaço de uma hora, o que inicialmente era uma situação não passível de falta, em que é louvada a atitude do Lucho de não se atirar para o chão, não se fazer ao penálti, não tentar enganar o árbitro e não adulterar a verdade do jogo, passa de repente a ser peremptoriamente uma grande penalidade não assinalada e um consequente erro grosseiro do árbitro. Na mente tortuosa do bom do Orlando, está assim reencontrado o equilíbrio. Atinge um estado zen, e ele poderá então agradar à mão que acena com o osso, dizer para si mesmo que uma mão lava a outra, e passar a vender a imagem de que foi um resultado justo, porque fomos todos beneficiados e prejudicados em medidas iguais, e agora somos todos amigos e não se fala mais nisto. Continua, Orlando. Pode ser que um dia, com sorte, até consigas seguir as passadas do Cerqueira. Quanto a nós, continuem a tentar fazer-nos crer que eles são isentos.

Batota

É bom estar a escrever esta crónica passadas que estão algumas horas sobre a farsa a que assisti no Estádio do Ladrão. Não que o sentimento de revolta tenha desaparecido, mas pelo menos já estou suficientemente calmo para que não tenha que recorrer a um dicionário de vernáculo para me ajudar a escrever este post.

Este era um daqueles jogos que eu queria assistir ao vivo. Isto porque, desde há bastante tempo, que mantinha a fé quase inabalável que o venceríamos. A imprensa avençada bem pode levar nas palminhas a equipa dos ladrões, e tentar convencer-nos que são a melhor invenção desde o pão fatiado, mas eu sei que somos melhores. Eles são tão fantásticos que, em cento e oitenta minutos contra nós, só lá conseguiram chegar de penálti, mesmo quando chegaram a jogar praticamente contra sete dos nossos, como na primeira volta. Além disso (e quem já o tiver experimentado saberá do que falo), gosto de apoiar o Benfica quando tem jogos teoricamente difíceis fora - o que costuma ser o caso das deslocações ao Estádio do Ladrão - porque entre os adeptos do Benfica se vive o jogo de uma forma diferente. Há uma empatia total com a equipa, e um apoio incessante. Vive-se o Benfica, e esse benfiquismo flui da bancada para o relvado. Um passe falhado, uma jogada mal conseguida, nunca resultam num coro de assobios ou protestos, mas sim num aplauso ou em gritos de incentivo. Nestas situações sente-se sempre, mas sempre, que estamos ali todos por um ideal, por um clube. Et pluribus unum. O meu benfiquismo renova-se a cada saída destas. E esta noite, mais uma vez, fiquei com a sensação de que houve um apoio fantástico à equipa. Durante boas partes do jogo, naquele Estádio do Ladrão, o único som que se ouvia era o do sector benfiquista, enquanto que a ladroagem hipócrita se quedava muda nos seus lugares, provavelmente à espera da intervenção (nada) divina que acabou mesmo por aparecer, porque raramente costuma falhar naquele templo da vigarice.

Quando a equipa saiu para o aquecimento, ficaram esclarecidas as dúvidas que tinha em relação ao nosso onze (embora estas fossem as escolhas que julgava serem as mais óbvias). Sídnei, Reyes e Suazo foram os escolhidos, Miguel Vítor, Di María e Cardozo os preteridos. O que vale é que eu conheço muito bem os nossos jogadores, porque se não fosse esse o caso, e me fosse fiar nos serviços do Estádio do Ladrão, então estava tramado, já que anúncio da constituição do Benfica nem ouvi-lo, embora tenha visto a lista dos nomes passar num ápice pelo placard electrónico. Da parte da gatunagem não houve qualquer surpresa, sendo por demais evidente a esperança por eles depositada num golo ou qualquer malabarismo da Meretriz Uruguaia (eles, por algum motivo, parecem estar convencidos que nos 'roubaram' - acto este que, obviamente, os enche sempre de orgulho e satisfação - a Meretriz Uruguaia, e não que ela foi descartada da Luz, porque nós por cá não gostamos de gente dessa laia, adepta da aldrabice e da falta de palavra). A Camorra lá entrou a todo o gás na partida, com muita correria e chuto para a frente. A Meretriz Uruguaia conseguiu passar uma vez pelo Maxi no início do jogo, e a barraca quase veio abaixo. Infelizmente para eles, não voltou a conseguir fazê-lo durante o resto da partida.

Da nossa parte, vi uma equipa que soube manter-se sempre muito calma e organizada, com bastante personalidade. O que me aumentou a confiança, ainda para mais quando via que a bandidagem não conseguia jogar de forma organizada no ataque e entrar na nossa defesa, recorrendo por isso aos lançamentos longos para a área, e ao estratagema bizarro (dada a nossa superioridade no jogo aéreo) de despachar a bola para dentro da nossa área em cada livre de que beneficiavam - o que, graças à tendência irritante do Pedrito Providência para apitar de cada vez que um ladrão caía e pedia uma falta, acontecia com alguma frequência. Não importava se o livre era a quarenta metros da área. O Providência silvava, e os ladrões lá iam todos para dentro da área à espera do despejo. O balão de oxigénio dos salteadores deu para cerca de meia hora. Depois, foi visível a crescente dificuldade para se aproximarem sequer da nossa área, enquanto o Benfica ia assentando o seu jogo e trocando a bola cada vez mais à vontade. Esta não foi a primeira vez que fui ao Estádio do Ladrão, e antes disto também visitei diversas vezes o Estádio dos Sacripantas, mas raras foram as vezes (exceptuando, talvez, há três anos quando ganhámos com os dois golos do Nuno Gomes) em que me senti tão pouco preocupado com a possibilidade de um golo dos patifes. A confiança, aliás, parecia aumentar em toda a bancada benfiquista, de forma que, quando mesmo sobre o intervalo beneficiámos de mais um canto, muita gente parecia adivinhar 'É agora!'. E foi mesmo. Bola do Reyes para o Yebda saltar quase à vontade e provocar uma explosão vermelha na nossa bancada, enquanto que a bandidagem fitava o relvado em silêncio e, entre dois traques, um fio de baba escorria pelo queixo do ancião ladrão-mor.

Questão para a segunda parte: seriam os sevandijas capazes de cair em cima de nós e pressionar na busca do empate? Resposta rapidamente evidente: não. Foi, aliás, bem pior do que na primeira parte. Desta vez os bandoleiros eram mantidos bem à ilharga da nossa baliza, por uma equipa personalizada e imperturbável. Meio campo e defesa sempre a actuarem num bloco muito sólido, grande entreajuda entre os jogadores, de forma que aparecia sempre alguém para ganhar a segunda bola ou a terceira, se preciso fosse. O melhor que conseguiram foi um remate de fora da área por parte do herói Marvel. Era evidente, e não só para nós benfiquistas, a incapacidade deles chegarem ao golo, o que se expressava claramente pelo silêncio fúnebre que ia envolvendo as bancadas do Ladrão, entrecortado apenas pelos cânticos do sector benfiquista. Estava o jogo embalado neste ritmo, cheirando cada vez mais a vitória benfiquista, quando o Malandro Lopéz teve uma apoplexia ao passar junto do Yebda. Solícito, Pedrito Providência bufou no apito e, com um menear efeminado da cabeça coberta de gosma, indicou impante a marca de penálti. Assim. Caído literalmente do céu. Rejubilou a turba batoteira, fazendo-se ouvir pela primeira vez na segunda parte. Eu, na bancada oposta, a mais de cem metros do lance, e não sendo especialista de arbitragem, consegui ver que era um mergulho. O Pedrito Providência, em cima do lance, e supostamente especialista, não conseguiu ver o mesmo. Ou melhor, se calhar até viu, mas como tem amor às rótulas, ou à condição de internacional (que as insígnias da FIFA devem fazer furor entre a comunidade efeminada cheia de gosma na cabeça), decidiu silvar como se não tivesse visto.

O Chulo González, tal era o medo, marcou o penálti à cobarde (para o meio da baliza) e, mais do que um festejo de golo, o que se ouviu foi a gatunagem soltar um longo e prolongado suspiro de alívio. Mais uma vez, a providência tinha vindo em seu auxílio. Como tantas vezes o fez durante quase três décadas, quando foi preciso ela surgiu. Curiosamente, a gatunagem parece ter especial prazer nestas coisas. Eles parecem celebrar ainda mais intensamente as vigarices perpetradas pela sua equipa. Não são apenas desonestos, eles gostam e têm orgulho em sê-lo. Afinal de contas, estamos a falar de adeptos que assobiam os jogadores da sua própria equipa sempre que eles devolvem uma bola que foi atirada para fora para que um adversário fosse assistido. E com mais esta roubalheira, esta época já são nove os jogos (em dezassete jogados) em que sofremos erros grosseiros de arbitragem que nos prejudicaram, em contraponto a um jogo em que fomos beneficiados. Mas não, não podemos nem temos o direito de protestar com arbitragens. Mas alguém duvida que somos o alvo a abater desde o início da época? Poderíamos até ter uma equipa que começasse com o Buffon na baliza e acabasse com o Messi no ataque, que na esterqueira do futebol português uma equipa com Cissokhos e Fernandos conseguiria ganhar. E a imprensa avençada ainda nos tentaria fazer crer, com o maior desplante, que os Cissokhos e os Fernandos, bem vistas as coisas, até eram bem melhores do que o Messi. O jogo para mim acabou ali, apenas mais um assalto no relvado, a juntar à já longuíssima história das nossas visitas ao Ladrão e às Sacripantas.

Não me agrada, após um jogo destes, em que fomos uma verdadeira equipa, estar a fazer destaques. Digo apenas que gostei muito do Yebda, do Sídnei, e do Aimar. E antes que alguém venha reclamar, estou apenas a dizer que gostei muito do jogo que fizeram; não estou a dizer que foram melhores ou piores do que os outros, até porque no final do jogo estava demasiado irritado para estar a pensar quem é que tinham sido os melhores ou os piores.

A equipa foi despedida do relvado sob os aplausos dos benfiquistas como merecia, ou seja, como vencedora. Porque nós, esta noite, vencemos no relvado. Fomos melhores, fomos mais equipa, e marcámos mais um golo. E vencemos também nas bancadas, porque a minoria benfiquista presente no estádio foi muito, mas muito melhor do que a multidão desonesta vestida de azul. Perdemos, infelizmente, contra um homúnculo efeminado coberto de gel, que decidiu ditar ele próprio o rumo de um jogo. Agora tenho muita, mas muita curiosidade em ver duas coisas: primeiro, como é que vai ser feito o branqueamento de mais esta palhaçada (aposta pessoal: vão rever o jogo frame a frame, até encontrarem um lance qualquer em que supostamente o clube dos salteadores foi prejudicado); e segundo, se o Pedrito Providência virá pedir desculpa por aquilo que fez. Afinal de contas, a lagartagem, por exemplo, tem sempre direito a pedidos de desculpas. Aposto que se vai ouvir muitas vezes a justificação habitual sempre que o Benfica é prejudicado: "Era um lance muito difícil de ajuizar". Infelizmente, para o Pedrito Providência, nunca parece ser nada difícil ajuizar contra o Benfica. Por isso é-me mesmo muito difícil acreditar que foi um simples erro. E já agora, será que este tipo não poderá ser expulso de sócio? Afinal de contas, as suas acções já tiveram consequências demasiado nefastas para o nosso clube. Ah, aguardo também com alguma ansiedade o desfilar da idnignação por parte da nomenklatura da lagartagem, fiel à sua forma 'isenta e independente' de estar no futebol. Vá, o transformismo pode esperar um bocadinho; venha daí essa indignação.

Lá ficámos retidos dentro do Ladrão durante largos minutos após o fim do jogo, pelo que tivemos a oportunidade de ver a equipa regressar ao relvado para um ligeiro treino de recuperação. E mais uma vez, os jogadores foram recebidos pelos adeptos como vencedores. Foi também possível observar mais alguns comportamentos sui generis da parte da gatunagem, que me permitiram elaborar a seguinte lista:

Como ser provincianamente pequenino em seis simples passos:

1- Não anunciar a constituição da equipa adversária;
2- Omitir a bandeira do adversário nas bandeiras oficiais do jogo;
3- Fazer o emblema do adversário claramente mais pequeno do que o nosso no placard electrónico (e não, não é apenas uma questão de grafismo porque eu estive lá há três anos e na altura os emblemas tinham tamanhos semelhantes);
4- Colocar um speaker histérico a gritar 'E quem não salta é lampioum';
5- Após o final do jogo, quando os jogadores da equipa adversária efectuam a corrida de recuperação, atirar-lhes com os paus das bandeiras, numa clara demonstração de desportivismo;
6- Ainda após o final do jogo, numa altura em que apenas os adeptos adversários estão no estádio, aumentar desmesuradamente o volume da música, numa tentativa pífia de abafar os aplausos que esses mesmos adeptos dirigem à sua equipa.

Fomos roubados mais uma vez, e por mais voltas que dêem ou tentem disfarçá-lo, esta é a verdade incontornável. Mas saí do Estádio do Ladrão com a renovada confiança de que vamos ser campeões esta época. Mesmo que me tentem vender a ideia de que o prostituto de Mirandela é um grande treinador, que a Meretriz Uruguaia é uma grande contratação, ou que o herói Marvel é o melhor jogador do mundo (a seguir ao Harry Potter). Eu sei que somos melhores, e vão ser precisas muitas mais 'Providências' para nos afastarem do título. Pelo menos o dobro das que já nos ofereceram este ano. Hoje senti-me orgulhoso da minha equipa, e dos nossos adeptos. Fomos abalados, mas não derrotados, pela batota. Mas a batota terá que morrer um dia. E eu lá estarei, para escarrar sobre a sua lápide.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Quatro

Pode ter sido de uma forma pouco espectacular, mas a tarefa de nos qualificarmos para a final da Taça da Liga lá acabou por ser cumprida de uma forma realista.

Não se pode falar propriamente em poupanças da parte do Benfica para este jogo. Apenas o Moreira e o Maxi ficaram de fora do onze, tendo o Benfica iniciado o jogo com uma defesa constituída por quatro defesas centrais, já que foi o Míguel Vítor quem ocupou a direita da defesa. O Reyes também voltou à titularidade, tendo o Cardozo mantido o estatuto de titular. Foi uma entrada muito tímida do Benfica no jogo, para não lhe chamar algo pior. A equipa mostrava dificuldades para construir jogo e fazer a bola chegar jogável aos jogadores da frente. Por outro lado o Vitória, bem organizado e a jogar num bloco sólido, conseguia manter o Benfica dentro do seu meio campo, mostrando ainda uma boa circulação de bola. Mas como o Guimarães parecia mostrar sobretudo vontade em segurar o empate, não soube aproveitar este período de cerca de vinte minutos, em que foi claramente a melhor equipa em campo, para ameaçar seriamente a nossa baliza. Despertou o Benfica com o continuar do namoro entre o Cardozo e os postes e barras das balizas da Luz: após um livre do Reyes na direita, o bonito cabeceamento do paraguaio levou a bola a esbarrar na barra. Este despertar assentou sobretudo na mobilidade do Aimar, e no aumento da velocidade com que fazíamos a bola chegar ao ataque, em particular pelas acções do Carlos Martins. As oportunidades daí resultantes apareceram quase sempre pelo Cardozo, mas os seus remates resultaram num igual número de perdidas, a mais escandalosa mesmo em cima do intervalo, quando a um par de metros da baliza tentou encher o pé e acabou por enviar a bola para o Terceiro Anel.

A segunda parte, para a qual regressámos com o Maxi no lugar do Sídnei, voltou a mostrar um futebol sofrível da nossa parte, e um Vitória a parecer não ter grandes dificuldades para alcançar o objectivo pretendido, ou seja, manter o nulo. A presença do Maxi na direita veio dar-nos mais agressividade e objectividade por esse lado, já que as subidas dele criaram diversos desequilíbrios, mas os seus cruzamentos foram sempre mal aproveitados. E a meio desta enervante segunda parte, o Quique toma uma decisão estranha que fez os adeptos torcer o nariz, retirando o Cardozo para colocar o Di María no seu lugar, passando o Benfica a jogar sem ponta-de-lança fixo. Felizmente, nem deu tempo para o nariz ficar torcido por muito tempo. É que logo na primeira intervenção, o Di María ganha um canto, e na sequência do mesmo, marcado pelo Carlos Martins, o Grégory fez um autogolo. Este golo, que deu uma vantagem justa à equipa que mais procurou ganhar, mergulhou o jogo num período bastante monótono. Jogava-se mal, e tínhamos por um lado o Benfica satisfeito com a vantagem, e do outro um Vitória que tinha vindo à Luz para empatar e que agora via-se na contingência de tentar fazer algo para o qual não estava talhado, ou seja, jogar para ganhar.

Arrastando-se assim, o jogo chegou ao minuto oitenta e oito, e os seis minutos daqui até final, em emotividade, valeram pelo resto da segunda parte. Tudo começou com o segundo golo do Benfica, onde um passe do Katsouranis desmarcou o Aimar e o Di María, com o primeiro a colocar a bola no ângulo da baliza e assim, finalmente, a marcar o seu primeiro golo pelo Benfica. Parecia tudo decidido, mas como não podia deixar de ser, jogo do Benfica na Luz em que não acabemos com o credo na boca não é jogo que se preze, por isso, praticamente na resposta, o Guimarães reduziu, numa recarga a um primeiro remate que levou a bola ao poste. Depois, já em período de descontos, foi o Reyes quem, isolado pelo Aimar, falhou o chapéu ao guarda-redes. Finalmente, quase a acabar o jogo, o Carlitos teve uma boa ocasião, mas rematou para fora. Ficou o 2-1 no marcador, e ficou muito bem, obrigado. Já são quatro as vezes que defrontámos o Vitória esta época, e quatro são também as vitórias que temos nesses jogos.

Gostei muito do Aimar esta noite. Movimentou-se por todo o ataque, desmarcou os colegas inúmeras vezes (em particular, dois passes dele deixaram o Cardozo e o Reyes isolados em frente ao guarda-redes, mas nem um nem outro souberam aproveitar), foi travado em falta diversas vezes pelos adversários, e ainda conseguiu marcar o seu primeiro golo pelo Benfica, numa boa execução. Bom jogo do Carlos Martins, a inventar pouco e a jogar simples. Também bem o Miguel Vítor, em particular na segunda parte, quando jogou na sua posição, a efectuar várias dobras aos colegas da defesa e a desarmar os adversários em antecipação. O Cardozo também não esteve mal. Lutou muito e tentou marcar, mas um avançado vive de golos e esses continuam a fugir-lhe. E aquele falhanço sobre o intervalo, caramba, não lembra o diabo.

Lá teremos que defrontar a lagartagem na final, em local a anunciar. Agora é tempo de começarmos a pensar no próximo jogo, esse bastante importante para as nossas aspirações ao título de campeões.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Decisão

A Liga lá se decidiu, e resolveu ditar o Vitória de Guimarães para nosso adversário nas meias finais da malfadada Taça da Liga. Se eu estivesse na posição da Carlsberg, patrocinadora da competição, pensaria duas vezes antes de manter o meu nome associado a tão prestigiada prova. São clubes a apresentar equipas secundárias, a ameaçar não comparecer a jogos, a apresentar recursos, a jogar sob protesto, enfim, nada que surpreenda quem já esteja minimamente habituado ao lodaçal que é o futebol português.

Também nada surpreendente é a justificação da Liga para não dar provimento aos recursos do Belenenses: refugiou-se num detalhe técnico (a pessoa a quem foram dirigidos os recursos), fugindo assim a ter que tomar uma decisão. Ainda assim, e porque convém manterem as costas quentes uns aos outros, lá foram avisando que, caso tivessem que decidir alguma coisa, "
entendíamos que a expressão goal average significava a normal diferença entre golos marcados e sofridos. Portanto, seguiríamos a interpretação da Liga".

Não é que eu sinta qualquer tipo de simpatia pelos de Belém - afinal, um clube que exorta a sua massa adepta a aplaudir um sujeito condenado por corrupção não pode gerar simpatia em mim (embora, reconheça-se, se os próprios deputados da nação o recebem na Assembleia da República e organizam almoços em sua homenagem, o acto de lambe-botas do speaker dos pastéis até esmorece face a tamanho despropósito) - mas esta interpretação não deixa de ser curiosa. Quer ela dizer que, no futebol português, o que interessa não é a letra da lei, mas sim o espírito dela. O que, obviamente, depende da pessoa que a escreve e, naturalmente, significa que o que hoje tem escrito 'preto' pode ser amanhã interpretado como 'branco'. Percebe-se, portanto, a ténue linha que pode separar 'corrupção' de 'coacção', por exemplo, e consequentemente, 'palmadinha nos dedos' de 'descida de divisão'.

O nosso futebol é, de facto, único. Tão único é, que até já consegue redefinir a língua inglesa.

domingo, fevereiro 01, 2009

Luta

Debaixo de uma chuva que parece não querer parar, e num campo que tornou impossível jogar futebol com qualidade, o Benfica conquistou esta noite uma vitória difícil frente ao Rio Ave, mas inteiramente justa, sobretudo pelo muito que os nossos jogadores lutaram para a conseguir.

Sem Katsouranis, Miguel Vítor e Suazo, avançaram para os seus lugares Carlos Martins, Sídnei e Cardozo. Dado o estado quase impraticável do relvado, que certamente não favoreceria o seu jogo, o nosso treinador optou também por colocar o Nuno Gomes no lugar do Aimar, jogando assim num esquema mais próximo do 4-4-2. Logo de início adivinhava-se que não seria um jogo fácil. Não tanto pelo nome do Adversário, que neste momento ocupa o fundo da tabela, mas sim pelas condições do tempo, que tornaram o relvado da Luz quase numa piscina (nunca tinha visto o nosso relvado com tanta água). Por isso futebol bonito, trocas de bola, ou mesmo tentativas de correr com a bola controlada, nem pensar. Alguns dos nossos jogadores perceberam logo isso, outros demoraram mais tempo a percebê-lo, e alguns até pareceram nunca o terem compreendido até ao final do jogo. Apesar do natural ascendente no jogo, grande parte da primeira parte foi passada sem que conseguíssemos criar lances de grande perigo, o que ia servindo na perfeição os interesses do Rio Ave. Depositava alguma esperança num livre do Cardozo, mas quando isso aconteceu o Carlos Martins (parece ter herdado do Petit o cargo de querer marcar todos os livres, independentemente de haver situações em que se pediria outro marcador) encarregou-se de marcar e chutar por cima. Só nos minutos finais é que o Benfica conseguiu finalmente estar próximo de marcar. Primeiro foi o Cardozo que trabalhou bem, aproveitando um remate falhado do Carlos Martins, virando-se e rematando ao poste, para depois o Di María fazer uma recarga completamente disparatada. Depois foi o mesmo Cardozo a cruzar para o Nuno Gomes, mas este não conseguiu acertar na bola. Finalmente foi o Carlos Martins, num livre, a proporcionar uma grande defesa ao guarda-redes do Rio Ave. Não foi muito, mas foi o suficiente para, tivessemos tido um bocadinho mais de sorte, chegarmos ao intervalo em vantagem. Parece que o jogo com o Braga foi a excepção nesta maldição que temos esta época de chegar em branco ao intervalo.

A segunda parte trouxe um Benfica a conseguir empurrar mais o Rio Ave para junto da sua área. As oportunidades de golo eram poucas, e difíceis de criar, mas os nossos jogadores, louve-se-lhes a atitude, nunca baixaram os braços. Mais uma vez pelo Cardozo, estivemos perto de marcar. Primeiro num cabeceamento que acabou por ir ter com o guarda-redes, e depois mais um cabeceamento, com a bola a bater mais uma vez no poste. Considerando o jogo que víamos, com as dificuldades acrescidas do estado do terreno, e consequente escassez de oportunidades, as duas bolas no poste já me faziam temer o pior e pensar que esta não seria uma noite feliz. Quando o Quique, a vinte e três minutos do fim, lança o Mantorras para o jogo, deu-me uma certa sensação de déjà vu Trapattoniano. E da segunda vez que ele tocou na bola, marcou. Aproveitando uma bola ganha de cabeça pelo Cardozo, esperou que ela caísse para depois rematar cruzado para a baliza. É isto o Mantorras. Não tem explicação, tal como eexplicação não tem o facto de eu celebrar ainda mais o golo, primeiro porque foi golo do Benfica, e depois porque foi também golo do Mantorras (para além disso eu andava a dizer desde o início do jogo que iríamos ganhar com um golo dele). Estava convencido que este jogo seria decidido assim, com um golo só, mas isso não me impediu de ficar nervoso até ao final (não percebo porque razão fico mais nervoso quando o Benfica está a ganhar por um do que quando está empatado). Mas até final, só dois lances dignos de registo: um do Luisão, que se isolou pela esquerda após um ressalto e viu o seu remate defendido pelo guarda-redes, e o outro em que o mesmo Luisão cometeu a única falha em todo o encontro, deixando a bola passar entre as pernas e permitindo a primeira grande oportunidade de golo ao Rio Ave, que felizmente se saldou por um remate ao lado.

Falando dos melhores do Benfica, tenho que começar pelo Cardozo. Lutou muito, ganhou diversas bolas aos centrais adversários, pelo ar e pelo chão, e criou quase todas as situações de perigo do Benfica. Acertou duas vezes no poste, para pena minha, porque se alguém merecia o golo era ele. A defesa toda esteve bem, mas destaco mais um enorme jogo do Maxi Pereira. O patinho feio do ano passado está feito um senhor lateral, que faz todo o flanco direito (exactamente aquilo que ele sempre fez no Uruguai, antes de vir para o Benfica jogar a médio ala) com um ritmo quase inalterável do primeiro ao último minuto. Do outro lado, também o David Luiz esteve bem, apesar de ter demorado algum tempo até perceber que jogar a bola junto ao relvado não era uma opção. Esteve insuperável pelo ar, conseguindo ainda subir algumas vezes pelo seu lado. Depois, tenho sempre que falar no Mantorras. O Mantorras não tem explicação. Confesso que mais de uma vez já pensei que é um tanto ou quanto exagerada a festa que fazemos de cada vez que ele entra. Mas depois, na hora de aperto, ele entra e eu aplaudo também. Porque, de alguma forma, o Mantorras consegue trazer com ele uma esperança que por vezes parece estar completamente perdida. Ele entra e nós pensamos que é possível que as coisas mudem. A empatia que existe entre ele e os adeptos é muito difícil de explicar. Julgo que não haverá mais nenhum jogador no nosso plantel cuja felicidade nós desejemos tanto. A verdade é que ele, nos poucos minutos que vai jogando, consegue quase sempre aparecer no sítio certo para causar perigo. Ou então é a bola que parece querer ir ter com ele. Seja como for, hoje ele entrou e decidiu. Que ele possa voltar a ser pelo menos o talismã que foi na época do último título. Passando aos piores, até me custa mencionar alguém, porque pelo menos no aspecto da entrega ao jogo toda a equipa esteve bem. Mas o Yebda pareceu não ter capacidade para raciocinar que, estando o relvado alagado, passes curtos rasteiros ou sair a jogar não eram uma opção. Continuou a insistir nisto durante todo o jogo, e assim perdemos uma infinidade de bolas no meio campo. Depois há o Carlos Martins. Que é o Carlos Martins, e por aqui me fico.

Mesmo sendo um jogo contra o último classificado, foi uma vitória muito importante, especialmente pelas condições em que foi conquistada. Perder pontos antes da visita ao Porto poderia ser um rude golpe. Foi preciso um 'milagre' do Mantorras para que isso não acontecesse, mas a justiça do resultado é incontestável. E a atitude demonstrada, aliás, a exemplo do que tem acontecido nos últimos jogos, dá-me muita confiança. Nestas primeiras jornadas da segunda volta, muito poderá decidir-se.

Fotos da autoria de Álvaro Isidoro